Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 16
Família




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Ofelia:

Ofelia sentia muitas coisas naquele momento. Raiva? Definitivamente. Brandon entrou e saiu do Instituto sem vê-la. Muitos achariam impressionante ele ter entrado e saído daquela maneira, especialmente pela fantasia de Jax. Ela? Ela tinha algumas broncas para dar e a primeira certamente seria “não se age como culpado quando não se é”. Ela suspirou, pensando sobre aquilo.

As ruas do Instituto estavam um caos. As pessoas comentavam com empolgação o “acontecimento do século” enquanto trocavam relatos e imagens da estadia de Brandon e seu novo grupo. Bob Nashahago com certeza ganharia o dia no seu Jornal da Justiça. Para ela, só restava uma coisa a se fazer, o que sempre fazia quando estava inconsolável ou furiosa (e ela estava ambos): Visitar Doran.

Ofelia não lembrava desde quando eles eram amigos. Na época, ele falava sobre galinhas de gelo voadoras enquanto construía algum aparelho incomum. Ela só se preocupava com o Instituto, havia sido incumbida de uma tarefa importante e não se sentia digna o suficiente. Doran ajudou a provar o contrário. Fosse criando as máquinas que geravam o mapa de batalha da Liga, ou a cura para o vírus ZAC. Ainda assim, ela não conseguia se lembrar de quando começou a considerá-lo um amigo.

Ela sabia como se lembrar dele, pelo menos. O garoto sorridente que ficava na margem do rio de Piltover, construindo algo. Sempre construindo algo. Muitas vezes, embora ele nem se desse conta, construía esperança para a Liga. Não aquela Liga de superpoderosos (“ou nem tanto, como Brandon provou”, pensou) que o Instituto exibia nos dias atuais, mas a Liga que vivia espremida no laboratório na área 12 como uma verdadeira família. Ela não sabia como ou por quê, mas a família tinha sido destruída.

Era mais fácil visitar Doran. Vê-lo dormindo tão serenamente quase a fazia esquecer os próprios problemas. Era só uma amiga visitando um amigo, sem conspirações, bruxas de gelo, gosmas verdes gigantes, exércitos de trolls ou torres em dimensões paralelas. Sentir-se normal para variar.

– Senhorita Heins. – Ofelia ouviu aquilo já se sobressaltando. A voz era como água gelada escorrendo por sua pele e por mais que fosse calma, não a fazia se sentir dessa forma.

– Warlock. – Ela concluiu, sem sequer se virar. Algo nele a assustava muito.

O ioniano puxou a cadeira vazia mais próxima e se sentou ao lado dela, na frente da cama de Doran. A roupa roxa, a cor que ele bizarramente tinha adotado, assumia um tom escuro no canto pouco iluminado do quarto hospitalar. A tensão no ar era quase palpável.

Era óbvio para ela que Warlock tinha passado por mudanças. Seus cabelos longos e negros caiam pelos lados do rosto, reforçando seus traços orientais. O bigode, que Brandon ridicularizara na época, tinha desaparecido. Mas essas não eram as mudanças mais notáveis. Era a atitude. Ela sentia algo muito diferente nele, embora não soubesse como explicar.

– Você não é bem-vindo aqui. – Ela o repreendeu, dando o pior olhar que podia. Em retribuição, o ioniano ergueu uma sobrancelha com uma expressão indecifrável.

– E nem o seu amigo. – Replicou, antes de pigarrear, imitando comicamente a voz do cientista. - “Saia da sua caverna! Venha conhecer o mundo real e ver como ele é feliz”. Como isso funcionou para ele?

– Ele é inocente. – Retrucou, se dirigindo até a porta e abrindo-a em um gesto claro para que Warlock saísse. – O que é muito mais do que eu posso dizer de seu grupo rebelde em Ionia.

– Pode um homem que luta contra a escravidão ser chamado de rebelde? – Questionou calmamente, se levantando não para a porta, mas para perto de Doran. – É ele, não é? – Seus lábios sussurraram um nome. – Doran.

– Warlock… - Advertiu, chegando ao limite da raiva já acumulada por tudo que acontecia com Brandon.

– Não entendo o motivo de tantas homenagens. – Murmurou, com o olhar vazio. – Poderia um criador de armas esperar qualquer destino menos trágico do que esse? O mesmo vale para o seu amigo. Eu vi os olhos dele na Ilha de Doran. Não são olhos de um médico, de um cientista ou de um salvador. São olhos de um guerreiro.

– Espere, na Ilha de Doran? – Ela hesitou por um momento, então se lembrou de quando os sistemas do Instituto caíram e como a Ilha de Doran dizimou Piltover. – Você… Você não…

Ele se limitou a abrir um sorriso para ela enquanto se aproximava da janela: - Oh, eles chegaram, venha ver.

Cautelosamente, ela se aproximou da janela, tomando uma certa distância dele. Por fora, ela esperava, seu semblante estava calmo, mas sua cabeça estava a mil. Ela conseguia fugir e avisar alguém? Provavelmente não. E não era o que Brandon faria. Ele ficaria, e descobriria mais.

– O que você pretende? – Perguntou, tentando soar o mais desinteressada possível, como quem pergunta que horas são. “Você viu um monstro devorador enorme, trolls e uma bruxa de gelo. Não fique assustada agora!”, se repreendeu.

– Eu perdi a minha família para o exército de Noxus. Preciso de uma nova. – Explicou calmamente.

Ela olhou pela janela. Centenas de pessoas paradas do lado de fora do hospital. Ionianos, invocadores, até mesmo campeões da Liga. Todos com os olhos brilhando em roxo.

“Certo, agora você pode se assustar. Muito.”, pensou consigo mesma enquanto tentava gritar para as próprias pernas se mexerem e levarem-na para longe daquela loucura, mas elas não obedeciam nada além do próprio medo, se limitando a tremerem como nunca antes.

– Ovelhinha. – Warlock se dirigiu a ela com um olhar de piedade. – Não há espaço para você no coração de Brandon Beck, mas Warlock, Warlock ama todo o seu rebanho.

Então, ele tocou a testa da invocadora e tudo fez sentido para ela. Warlock era o seu deus e nada mais importava, exceto aquilo.

Antes de partir, ele olhou para Doran uma última vez:

– Uma nova era está vindo. Você não viverá para vê-la.

Brandon:

Sair do Instituto tinha sido mais fácil do que entrar. Obviamente, eu era muito grato ao Reginald por isso. Não faço ideia de onde ele tinha tirado todo aquele estilo “clube da luta” com a pose de “quem vai encarar o campeão?”, mas estava funcionando para ele. Ok, eu também precisava agradecer aos meus amigos que se deixaram nocautear facilmente. E a Isabel. Devo muita gratidão, pelo visto.

Só relaxamos quando chegamos nas terras neutras, entre o Instituto e o pântano de Kaladoun. Ninguém nos procuraria ali. Pelo menos, eu esperava que não. Meu único consolo em tudo aquilo era poder finalmente retirar aquela fantasia ridícula que destruía os meus pés.

Antes que eu pudesse me livrar das roupas e do poste, Riven avançou sobre Kristofer:

– Agora, você já pode começar a falar. – Exigiu, erguendo a espada de forma ameaçadora. Eu não gostaria de ser Kristofer naquele momento.

– Calma, essa coisa pode furar o olho de alguém. – Ele gesticulou com as mãos um sinal de rendição, caindo sentado no gramado. A paisagem era bonita, isso eu precisava admitir.

– Parem. – Sussurrou Vayne. Todos olhamos para ela, eu nunca a tinha visto tão alarmada. – Não estamos sozinhos.

No milésimo de segundo em que ela acabou de falar, nos vi rodeados de pessoas encapuzadas. Riven virou a espada em todas as direções, tentando ameaçar todos eles ao mesmo tempo. Kristofer se pôs de pé em um salto, em uma posição estranha de kung fu. Vayne encaixou uma flecha na sua besta de pulso, e eu caí desequilibrado, enquanto tentava arrancar uma das botas.

Um homem esguio, de terno e gravata, era o único que se destacava no círculo de indivíduos ao nosso redor. Ele também foi o primeiro a falar:

– Doutor Beck. Doutor Lindner. Senhorita Vayne e senhorita Riven. – Recitou, em um tom agradável, enquanto confirmava com o olhar quem éramos. – Por favor, venham conosco. A senhorita LeBlanc os aguarda.

– Você. – Kristofer murmurou na direção do desconhecido, extremamente surpreso.

Mas eu o conhecia melhor do que aquilo. Não era apenas surpresa. Era um aviso claro “estamos com problemas”.


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