The Paths escrita por Plastikeh


Capítulo 7
Lucidez


Notas iniciais do capítulo

Juro que tentei escrever o capítulo o mais rápido possível! Vou entrar em semana de provas daqui poucos dias e não sei quando poderei postar o próximo... Então prometo ter me dedicado de corpo e alma.
Eu me incomodei bastante com os capítulos anteriores porque fui obrigada a fazer pouca narrativa e muitos textos compridos... Porém, de agora em diante conseguirei desenvolver melhor isso.
Espero que gostem s2



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Todos aqueles belos sonhos, certamente eram o motivo de Katara ter continuado forte durante o tempo em que permanecera trancafiada. Recordava-se da voz daqueles que amava, da brisa gélida, porém nostálgica do Polo Sul e de como era sentir os raios de sol ardendo em sua pele. Apesar de ter se habituado com tantas incertezas e alucinações, Katara se sentira extremamente confusa naquele seu ultimo sonho. Tudo havia acontecido em uma velocidade além do que sua mente pôde seguir; Tulimaq a ameaçando, os barulhos estrondosos e o toque confortável que a retirara de todo aquele inferno.

Apesar de estar em um estado semelhante ao despertar pela manhã, porém em tempo constante, a jovem tentava assimilar o que estava acontecendo a sua volta. Não sabia há quanto tempo estaria naquela situação, perdida nas horas, ou talvez no dias que se passavam ao seu redor. Sentia apenas mais acalentada do que jamais sentira-se em toda a sua vida, apesar de seu corpo no exterior demonstrar algo diferente.

Aos que obsevavam a jovem do sul, seu corpo chacoalhava desesperadamente, buscando o calor impossível de ser alcançado, afinal nada mais era do que apenas uma sequência de tremeliques involuntários causados pela utilização consecutiva das drogas. Porém, apesar daquele estado ter se tornado constante, não deixava de alamar os três pares de olhos que a acompanhavam em uma pequena sala, iluminada por meia luz vinda da fresta de uma janela semi aberta.

– Ei! - Gritou o primeiro par de olhos - Acho que agora ela está despertando!

Apesar da animação expressa pela pessoa, aqueles que o acompanhavam pareciam ignorá-lo.

– Sokka, a única coisa que deve ter despertado, pela milésima vez, foi o seu estômago - Disse uma voz em tom de repreensão, enquanto uma risada ao fundo vinda de outra pessoa pôde ser ouvida - Não aguentamos mais seus alardes. Ela está assim há tempos.

O comentário do companheiro de espera havia deixado Sokka extremamente vermelho, há tempos que o jovem Senhor do Fogo o repreendia por tudo o que ele dizia, quase como vetando sua liberdade de sentir-se animado pela recuperação de sua irmã.

Apesar da discussão que se formou após o comentário infame, a pessoa deitada no meio do quarto se remoia novamente em pensamentos. Katara havia sido colocada em um leito baixo o bastante para que alguém ajoelhado pudesse se debruçar sobre ela, algo que acontecera mais de uma vez desde que chegara ali. Certamente de que Aang havia sido a pessoa a cuidá-la quase em tempo integral, entretanto, havia sido substituído naquela tarde por Zuko e Sokka, que passaram a se preocupar também com a saúde do garoto.

"Apenas um Sonho" era a frase que girava ao redor da cabeça de Katara que, apesar de não sentir o cheiro de fumaça adocicada se misturando com o ar, não poderia acreditar na veracidade das vozes que a rodeavam. Podia identificar duas delas, seu irmão falando como sempre em tom de ironia e Zuko, sempre nervoso e frio em relação ao sentimento alheio. Estranhamente as vozes não eram nada parecidas com as que sonhava, uma vez que seus sonhos resgatavam as lembranças da infância, mas aqueles tons eram mais maduros, graves e certamente mais velhos.

– Eu sinceramente não aguento mais vocês gralhando por aqui! - Vociferou a voz desconhecida - Ao menos o careca sozinho não tinha com quem discutir. Vocês vão atrapalhar a desintoxicação dela assim, intoxicando-a com essa poluição sonora.

– Me poupe! - Retrucou Sokka - Aang não parava de perguntar um segundo como ela estava. Você mesmo o expulsou daqui, seu velho maldito.

O homem sentado em frente a uma mesa levantou-se para ficar de frente a Sokka. Era notável a diferença de altura de ambos, fazendo com que Sokka parecesse novamente três anos mais novo perto do homem de cabelos grisalhos escondidos por um estranho chapéu alto e barbas da mesma tonalidade, trançadas sob o queixo.

– Garotinho, você me irrita mais do que eu imaginava - Disse olhando para baixo, em direção de Sokka - Queira fazer o favor... De se retirar da merda do quarto!!

Ao dizer sua ultima frase, o senhor mudou sua expressão séria para uma que claramente causara espanto em Sokka e Zuko. Antes mesmo que o jovem do bumerangue pudesse contestar, já era arremessado porta afora batendo de cabeça na parede do corredor em frente ao quarto. O homem sorriu satisfeito e virou-se em direção de Zuko, que permanecia no local, temendo que sua própria cabeça fosse arremessada a dois metros dali, assim como Sokka, que saíra resmungando e batendo o pé.

– Você pode ficar, gosto da sua utilidade. - Confessou - Me parece que seu tio lhe ensinou alguma coisa boa. Talvez eu precise de você por aqui para quando essa jovem abrir os olhos.

Zuko olhou com confusão para o velho a sua frente.

– Mas ela ainda está desacordada... - O garoto disse sem esperanças.

– Bom, ela está acordada - Comentou enquanto andava em direção de Katara, segurando uma pequena caixa verde - Mas não deve saber disso ainda.

Após a revelação de quase todas as vozes que estavam no cômodo, Katara tivera quase a certeza de que havia encontrado a morte. Talvez não fosse tão ruim falecer, uma vez que havia sido direcionada a um paraíso pessoal criado por sua imaginação. Entretanto, sabia que mais cedo ou mais tarde deveria averiguar o que estava se passando ali, sendo assim, ignorando todos os receios que adquirira em abrir os olhos, Katara forçou as pálpebras afastando-as, entreabrindo os olhos. Era estranho a forma como a pouca claridade tocou em sua visão, não estava habituada a receber qualquer que fosse o tipo de iluminação se não a de tochas dançantes. Estava certa que aquela luz só poderia ser o sol, entretanto, parecia muito mais claro do que de costume.

Em meio à conversa que se formara, o aparecimento dos belíssimos orbes turquesa surgira, iluminando o quarto ao refletir a fresta de luz que batia convenientemente no rosto de sua dona. Zuko fora o primeiro a vê-la despertar, havia pregado seu campo de visão em Katara desde que fora incumbido de ser seu cuidador, logo após Aang desmaiar exausto em uma poltrona na casa onde residiam aqueles dias.

– Finalmente... - Suspirou o homem

Era sem dúvidas admirável a quantidade de rugas que se desfizeram no rosto gasto do idoso. Qualquer um que ouvisse sua história certamente que iria admirar-se mais ainda com sua perseverança em meio à guerra dos cem anos. Dificilmente alguém em sua idade se opusera tão veemente a Ozai como o homem fizera e foi capaz de viver para ser reconhecido. Enquanto o velho se movimentava era possível visualizar em suas mãos e torço desnudos queimaduras que formavam cicatrizes em formatos tatuados em sua pele. Por algum motivo que em detalhes poderia ser descoberto, sua cabeça fora poupada das lambidas de fogo, entretanto, aparentemente todo o restante de seu corpo não tivera a mesma sorte.

– Senhorita, sei que pode estar em choque após tudo o que houve. Mas você está segura e rodeada por aliados - Disse aproximando-se.

Katara não conseguia sentir-se confortada por aquelas palavras, há algum tempo que apenas uma expressão bondosa e palavras calorosas não lhe pareciam confiáveis o bastante para que se deixasse levar. No entanto, com o decorrer em que ia percebendo a realidade do momento, notava que seu corpo parecia agitar-se tão rapidamente tornando impossível o controle sobre seus membros, dificultando sua atenção para o que estavam lhe dizendo.

– Onde estou? - Ousou perguntar, enquanto tremia os lábios.

O senhor, que já se encontrava ao seu lado na cama, abaixou-se para manter os ombros na altura do colchão que balançava no ritmo formado pelos tremores de Katara.

– Uma coisa de cada vez, sim? - Respondeu.

Enquanto a cena ia se passando no local, Zuko apenas permanecia em silêncio, observando atônito no canto oposto do quarto, sentado em uma cadeira de madeira estofada. Podia ver o homem abrindo a caixa verde em sua mão, já conhecida para aqueles que acompanharam a recuperação da jovem. Tratava-se de uma grande quantidade de agulhas feitas em cobre tão finas quanto uma linha, usadas pelo velho para realizar sua habilidosa acupuntura.

– Por favor, tente não se assustar. Eu irei utilizar estas agulhas para aliviar estes seus sintomas de tremores. - Disse escolhendo um punhado de agulhas, analisando cada uma - Se te fizer sentir mais calma pode olhar para o outro lado, creio que irá lhe fazer sentir mais confiança em mim.

Katara olhou para as mãos do homem, selecionando os objetos pontiagudos ao aproximá-los bem perto de seus olhos para ter a visão ideal. Estava claramente confusa com o que ele quis dizer sobre olhar para o lado oposto, entretanto, sucumbiu à sua curiosidade virando o pescoço com dificuldade para onde fora-lhe recomendado. Seus olhos pousando nos de um jovem, assustando-se ao reconhecê-lo. Fora tudo real, todo o sonho que tivera estava mesmo acontecendo à sua volta, seu irmão estivera ali, Zuko e também Aang. Sentiu seu corpo vibrar mais violentamente ao formar a imagem de Aang junto a si, fazendo com que o homem ao seu lado se apressasse com o que estava fazendo.

– Você está bem? - Zuko levantou-se ao perguntar.

Katara não sabia respondê-lo. Apenas o seguiu com os olhos enquanto ele aproximava de si, ajoelhando-se ao seu lado. O Senhor do fogo segurava o ímpeto de se jogar sobre ela e demonstrar toda a satisfação que sentia ao vê-la acordada, porém concentrava-se apenas em encarar a seda se sua pele que suava enquanto tremia.

– Eu... Estou confusa - Sussurrou Katara - Você-

A jovem da Tribo do Sul se esforçava para fazer algum sentido em suas palavras, entretanto sem sucesso algum. Então, Katara virou-se novamente para o homem em seu outro lado, que já segurava as agulhas com delicadeza nas pontas dos dedos. Sabia do que se tratava aquilo, já havia feito algumas sessões de acupuntura enquanto viajavam pelo Reino da Terra, porém, nunca vira agulhas tão finas e frágeis quanto aquelas aparentavam ser, além de serem bem mais compridas, algo que não havia a incomodado uma vez que começara a trabalhar como curandeira na Tribo do Norte.

– Enquanto fica confusa, por favor olhe para cima. Vou tentar melhorar essa sua tremedeira - Pediu o homem friamente.

As sessões de acupuntura haviam se tornado uma das rotinas mais comuns. Entretanto era comum demais para Zuko suportar, o dobrador de fogo escondia sua repulsa por agulhas desde que ficara doente quando mais novo e lhe obrigaram a fazer os mais diversos tipos de tratamento, até descobrirem que seu problema não passava de uma alergia aos pêlos de rinocerontes nas vestes da irmã, que costumava se pendurar neles noite e dia, tentando irritá-los. Sendo assim, Zuko desviara os olhos, pesarosamente por não conseguir encarar a jovem por mais tempo.

Fazendo o possível para tornar aquilo menos difícil para o homem que tentava ajudá-la, Katara encarava o teto. Apesar de parecer naquele momento tranquila e compreensiva, esperava ansiosamente que alguém pudesse ser caridoso e deixá-la a par do que estava ocorrendo por ali. Não podia mostrar-se mal-agradecida, afinal graças a toda aquela situação pudera ouvir a voz de seu irmão novamente, fato que a levara rapidamente ao seu lar, à sua aldeia. Tentou mergulhar naquelas lembranças cheias de neve, arrependendo-se ao notar que elas a levaram até o grande e brilhante Iceberg. Recordou-se de como ele explodiu em um jato enorme de vento, e dando lugar a uma inofensiva criança que caíra em seus braços.

Agradeceu à dor das agulhas sobre sua pele por tirá-la daquele mar de pensamentos. Há pouco tomara conhecimento de que Aang estava ali, talvez a poucas portas de distância. Sentiu o peso de tê-lo abandonado, ter escolhido um caminho diferente, sentiu o peso da saudade que havia escondido sobre toneladas de gelo quando decidiu ir morar no Polo Norte.

– Sudhir... - Disse o homem ao seu lado, repentinamente - Você pode me chamar de Sudhir, garota.

Katara virou-se para ele sentindo um repuxão de uma das agulhas que o homem ainda segurava em sua pele. Seu ato fez com que o velho a lançasse um olhar de repreensão.

– Ao que parece, minha jovem, você foi sequestrada por um bando de rebeldes burros e inconsequentes. Foi mantida durante algum tempo em uma fortaleza subterrânea, localizada nas ilhotas abandonadas do Reino da Terra. - Explicou Sudhir, terminando de colocar as agulhas em Katara e fechando sua caixa verde - Deveria chamá-los de algo muito além de inconsequentes, só pelo fato de terem te sequestrado. O Avatar não me parecia nada feliz ao chegar aqui.

Novamente a imagem de Aang assustou Katara, formando um nó em sua garganta. Seu susto atrapalhou a jovem que ousou perguntar novamente ao barbudo.

– Onde exatamente é aqui?

– Bom, estamos na costa do Reino da Terra. Acredito que você ter chegado até aqui não foi apenas por sorte, então creio que você deve agradecimentos a esse jovem ao seu lado - Sudhir referia-se a Zuko.

O Senhor do Fogo engasgou-se com sua própria saliva ao ser citado. Com certeza não podia levar os créditos por algo assim. Por menos que gostasse, a gratidão deveria ser inteiramente a Aang. Zuko apenas recordou-se de um velho amigo de seu tio, algo que ele referia-se como "Parceiro de Guerra", além de ser convenientemente um honorável membro da Lótus Branca¹.

– Sou de longe a pessoa que merece agradecimentos. Sudhir é um dominador de terra habilidoso, e um médico mais habilidoso ainda.

O homem riu de forma esganiçada.

– Imaginem só, o garoto julgando minhas habilidades. - Esnobou Sudhir - Mas pode-se dizer que eu seja mais um pensador do que lutador. Foi o que trouxe a vitória na minha vida.

Katara perguntou-se mentalmente qual fora a sua vitória mencionada, agradecendo Zuko mentalmente, novamente, por ter respondido mais uma de suas dúvidas.

– Sudhir foi o maior responsável pela defesa de Ba Sing Se - Explicou Zuko - Tornou-se um herói de guerra e foi condecorado.

Apesar de Zuko o congratular sem escrúpulos, Sudhir trajava uma expressão amarga em seu rosto. O maior motivo por ter se mudado de Ba Sing Se para aquela vilela pesqueira fora para fugir do seu passado e de uma vida repleta de guerra e sangue.

– Ser um assassino não é exatamente meu tipo de heroísmo. A melhor batalha é aquela que nunca será travada - Sudhir virou-se de costas, indo em direção a sua escrivaninha.

– Sabe que meu tio jamais o culpou pela morte de Lu Ten², não sabe? - Exclamou Zuko.

Katara estava atônita em meio a conversa, era mais informação do que sua cabeça ainda poderia suportar. Lutava contra uma parte de si que ainda mantinha a impressão de que aquilo não era real, enquanto tentava assimilar o que havia acontecido nos últimos dias. Aquelas informações sobre o que ocorrera anos atrás era demais para ela, fazendo assim com que se sentisse exausta e com um incômodo enjoo. Enquanto isso, os companheiros no quarto discutiam sobre seu próprio passado, que estava incrivelmente entrelaçado por um toque do destino.

– Tirei muitas vidas naquele dia, mesmo que a dele não tivesse entrado para a minha lista, não posso deixar de me culpar por ter derramado o sangue do filho de Iroh - Concluiu Sudhir - E já te informo que este é meu desfecho sobre tudo isso. Não tenho nenhuma intenção de prolongar esta conversa... Se você deseja ser útil, pare de trazer fantasmas e traga as pessoas vivas do outro lado desta porta para que contemplem a volta desta jovem senhorita.

Zuko assentiu com um aceno de cabeça. Derrotado em sua vontade de trazer a paz na mente daquele senhor, atravessou o quarto estreito, cabisbaixo e deixando o cômodo sem fechar a porta às suas costas. Voltaria dali pouco mais de um minuto, trazendo a horda de pessoas ansiosas por ver Katara. Apesar de seu pouco tempo ao lado dela não ter sido tão exclusivo quanto ele desejara, sabia que quanto mais só ao lado dela ficasse, mais doloroso era para ele. Como gostaria de, assim como Sudhir, apagar seu passado maculado pela ignorância e ódio, fazendo com que aquela amiga sentisse o mesmo carinho por ele que o mesmo sentira pela primeira jovem que o tocara respeitosamente. Lembrou-se de Mai, a mestra Shuriken que havia se apaixonado por ele desde que era uma criança... Era fácil amá-lo em uma época de prosperidade, porém ela jamais o vira tanto tempo com o ódio no rosto ou fora caçada por ele. Mesmo assim, não deveria deixar de respeitá-la por segui-lo e noivar dele.

Aqueles que remanesceram no quarto aproveitaram o silêncio. Apesar de Katara não gostar de situações constrangedoras ou tensas, sabia que aquele momento era necessário para sua recuperação. Dali a poucos segundos seria obrigada a interagir com Aang, algo que temia desde a ultima vez que o vira. Sudhir, por outro lado, apenas organizava suas coisas. O quarto era um cômodo comum de sua própria casa, transformado por ele em um centro de emergência quando os jovens chegaram. Pode ter sido cautela demais não levar a garota a um centro especializado para que pudesse tratá-la por lá, porém, todo o cuidado em mantê-la escondida naqueles dias não era demais.

– Ka-ta-ra! - Gritou Sokka

A voz do não-dobrador pôde ser ouvida tão bem que parecia estar sendo liberada no meio do quarto. Entretanto, poucos segundos depois de proferido o som ensurdecedor, o dono da voz chegou se debatendo pelas paredes até chegar derrapando por dentro do quarto e se debruçando sobre a irmã, tampando seu campo de visão.

– Eu sabia que ela tinha acordado! - Dissse Sokka presunçoso - Mas não acredito que você realmente abriu os olhos, minha irmã! Eu lamento muito por tudo, foi minha culpa! Não acredito como eu posso ter feito isso... Gostaria mais do que tudo poder me desculpar, o que fazer?

Sokka chacoalhava de leve o corpo da irmã ao chorar, derramando grossas gotas de água sobre o pescoço de Katara, que não buscava responder às dúvidas do irmão. Se havia alguém a quem culpar, certamente este alguém jamais seria Sokka. Talvez devesse por a culpa em sua distração, em Ozai ou em qualquer homem que a levou para longe, mas jamais no irmão.

– Você pode começar a ajudar parando de parecer um abutre carniceiro - Respondeu Sudhir, cruzando os braços - Acabei de colocar as agulhas nela, deixe que melhore.

Tamanha fora a comoção de seu irmão e a discussão que se seguiu, que Katara havia esquecido sua preocupação inicial. Mesmo após uma conversa de alguns minutos e do homem retirar as agulhas de sua pele, encorajando-a para que se levantasse, Katara permanecia absorta em suas distrações. Apenas deu por si quando, seguindo as instruções do médico, usou os cotovelos e antebraços para apoiar seu peso, livrando-se de Sokka que obstruía sua visão de qualquer distância maior que poucos centímetros.

Não precisou de tempo algum para identificá-lo. Katara focara a visão sobre os olhos castanhos do garoto. Não, não deveria mais chamá-lo de um simples garoto. A aparência de Aang, mostrava que havia se tornado um jovem muito mais encorpado que uma vez imaginara que se tornaria. Era certo de que seu corpo não havia desenvolvido muito mais músculos que o de Sokka, entretanto, sua altura havia finalmente alcançado a do irmão, significando que pela primeira vez teria de olhá-lo de baixo para cima, para poder encontrar seu rosto.

Aang encontrava-se encostado no batente da porta, seu medo era o mesmo da jovem a sua frente. Como deveria agir após tanto tempo sem encontrá-la? Após tê-la abandonado? Culpava-se mais do que Sokka culpava a si próprio. Se estivesse seguido ela, ou dito algo que a fizesse acompanhá-lo, as lembranças ruins formadas na história da garota jamais aconteceriam.

– Ah, por favor! Vocês vão se cumprimentar ou vão continuar se encarando desse jeito? - Disse Sokka com irritação na voz - Não é como se fossem estranhos um ao outro.

As palavras de Sokka não foram de muita ajuda para o casal que ainda teimava em se encarar. Ambos admiravam a aparência de cada um. Apesar de Aang ter passados os últimos dias cuidando da jovem e ousando sentir a textura de sua pele e de seu cabelo sempre que seu corpo implorava por aquilo, vê-la despertada era algo muito além do que imaginara que seria. O único contentamento para o Avatar era notar que Katara, assim como ele, travava uma batalha interna ao vê-lo.

– Olá, A-Ang - Gaguejou Katara

Sokka, já incomodado com a situação levou a palma de sua mão em direção à testa, marcando-lhe a face, tentando conter a indignação com o reencontro desajeitado de ambos. Apesar de ter um breve conhecimento sobre a predileção de um pelo outro, Sokka não havia sido informado sobre o adeus dado pelo casal³.

Enquanto o jovem-bumerangue segurava-se para não estourar Zuko, que ainda permanecia em um canto do quarto, suspirou inaudivelmente e retirou-se do quarto em passos curtos. Passou o mais discretamente por Aang na porta, que fazia o caminho inverso traçado por ele, tentando se aproximar do leito no meio do quarto. Mesmo sem perceber, o Senhor do Fogo fora acompanhado por Sudhir e Sokka, o ultimo acompanhando-nos involuntariamente, sendo arrastado pela gola da roupa enquanto cuspia palavras indignadas sobre Aang e Katara.

Ao contrário do que era o esperado por aqueles que deixaram o quarto, o casal não agradecia por terem permanecido sozinhos do ambiente. Era certamente constrangedor e provavelmente traria sequelas nos próximos dias que ficassem sozinhos, simplesmente por poder trazer uma conversa indesejada. Aang, que no momento se encontrava o mais próximo que podia se permitir da jovem, tremia sem poder controlar seu corpo, sabendo o quão vergonhoso era vê-lo naquele estado, apoiou a mão sobre um dos braços, tentando conter os arrepios que passavam por ele, sem muito sucesso.

– Ahm... Como você está se sentindo, Katara? - Era o máximo que conseguira dizer.

Aquela voz... Aang possuía um tom mais maduro assim como Zuko, apesar do Senhor do Fogo ter uma voz mais grave por ser mais velho desde que o conhecera. Entretanto, certamente ouvir seu nome sendo dito por Aang a causou um reboliço no estômago, já sensível.

– Estou bem - Respondeu com a voz trêmula - Eles me contaram tudo o que houve. Obrigada por cuidar de mim... Eu lamento ter lhe causado tanto trabalho. Afastei você do templo, não é?

O Avatar sorriu ao ouvir a preocupação que causava tanta tensão em Katara, perceber que algo tão trivial como aquilo a trazia incomodo o deixou de certa forma mais tranquilo por não ser algo mais sério, além de perceber que a jovem se preocupava com ele. Sentindo-se mais relaxado, Aang acabou com a distância que ainda restara entre eles, dando um ultimo passo em direção da cama, achando engraçada a forma como Katara involuntariamente afastara o corpo para trás. Se apenas sua aproximação trazia reflexos como aquele, seria interessante descobrir com o tempo tudo o que ele poderia causar na dobradora de água.

– Poder vê-la bem jamais me causaria qualquer trabalho. - Disse tranquilamente - Mas posso te dizer, trabalho será o que eu vou dar à todos aquelas pessoas que estavam na fortaleza.

A voz de Aang se tornara mais grave, enquanto seu rosto se transformava de um relaxado para uma expressão ameaçadora, deixando sua ruga entre os olhos bem visível enquanto contraía a face. Katara, entretanto, buscou interromper os pensamentos do careca com uma pergunta que a incomodava desde que descobrira onde estava. Talvez fosse oportuno questioná-lo naquele momento, uma vez que descobrira que odiava ver Aang angustiado tanto quanto odiava nos anos que passaram juntos, era como se aquilo a perfurasse junto com ele. Além de tudo, gostaria de buscar uma distância saudável de Aang, para que a sua mente pudesse raciocinar direito. Era incrível, mal havia deixado os efeitos de torpor de seus últimos dias e o garoto lhe parecia causar a mesma confusão em sua mente de quando estivera drogada.

– E quanto às pessoas que também estavam presas no local? Eu não era a única, certo? - Perguntou Katara, afobada - Ouvia sempre que me traziam comida os gritos nos corredores.

Aang assentiu com a cabeça, enquanto suspirava pesadamente.

– Sim, infelizmente haviam muitas pessoas presas lá. Nós fomos acompanhados por uma frota da tribo do norte - Explicou-se o jovem - Depois que eu, Zuko e Sokka fomos na frente e pudemos retirá-la de lá, não antes de todos os rebeldes escaparem, os soldados da tribo seguiram até o local e resgataram os sobreviventes.

Katara transformara sua confusão em terror ao ouvir a palavra "sobreviventes".

– Você quer dizer que muitos morreram no lugar? - Perguntou assustada.

O jovem fechada os olhos, temendo responder à pergunta. Sabia que poderia deixar Katara ainda mais assustada e isso era a última coisa que desejava naquele momento. Sentiu-se culpado por ter dito aquilo logo naquela hora, pensou que talvez não tivesse sido o melhor momento para informá-la da real situação em que se encontrara.

– Katara, eu realmente acredito que seja melhor para você não descobrir os detalhes tão cedo. - Acalmou-a - Te asseguro que todos os sobreviventes foram resgatados. E digo mais... Vou contar tudo em detalhes assim que você se recuperar. A última coisa que você precisa no momento é imaginar uma cena de horror como aquela.

A ignorância lhe trazia desconforto, entretanto, Katara sentiu-se na obrigação de concordar com o que Aang decidira. Provavelmente não fazia muito mais de uma hora que havia despertado e apesar de odiar se sentir impotente, sabia que aquele momento era crucial para a sua recuperação mas não podia deixar de sentir falta de sua dobra, algo que havia sido privada quando mantida em cárcere.

– Ah... Aang? - Chamou a jovem

Era incrível como o simples ato de ter o seu nome saindo pelos lábios dela o deixava desnorteado. Sonhara noite após noite em meio a seu treinamento em poder ouvi-la novamente, mas agora que tudo havia se tornado tão real, desejava que o momento nunca acontecesse. Era preferível ela segura no Polo Norte, do que deitada em um leito após ser destratada.

– A-Algum problema? - Respondeu ainda atônito.

Katara pigarreou, antes de voltar a dizer algo.

– Eu poderia me levantar para tomar um copo de água ? - Perguntou quase num sussurro - Há tempos não sei a sensação de sentir água molhando minha garganta.

Uma pergunta que se formara desde que Aang a viu em sua cela lhe veio à cabeça novamente. Como Katara havia sido mantida em um local como aquele sem nem sequer se rebelar contra os que a aprisionaram. Porém, assim como ele lhe devia explicações em detalhes de como os demais prisioneiros escaparam junto com a Tribo do Norte, ela provavelmente deveria querer esperar algum tempo a mais para conversar sobre seus detalhes também.

– Você acha que consegue levantar? - Fez uma pausa - Eu digo... Você já está deitada a algum tempo, não seria melhor comer algo? Sei que Sudhir planta deliciosas papayas.

A ultima frase obviamente fora uma tentativa de animar Katara. Porém, ao contrário de sentir-se animada, Katara arremessou seu travesseiro mirando a cabeça de Aang, que caiu no chão com o impacto causado pelo arremesso, segurando-se para não gargalhar com a situação.

– Acho que isso resume bem minha resposta! - Disse Katara emburrada - Prefiro eu mesma sair daqui, plantar algo e esperar até crescer do que comer papaya.

Havia acertado. Aang buscava com suas palavras mandar a tensão alojada entre eles para algum lugar a ser analisada em um momento futuro. Sabia o quanto a jovem detestava papaya, sendo assim, pensou que só de mencionar a fruta poderia ter o resultado que desejava. Certamente funcionara melhor do que ele esperava, pois ao terminar de apontar o dedo indicador em sua direção, desferindo alguns xingamentos, Katara levantou-se claramente tonta, apoiando a cabeça sobre os dedos, lutando contra a vertigem que havia tomado conta dela, fazendo com que cambaleasse.

Antes mesmo que a dobradora de água tivesse a oportunidade de ser jogada em direção ao chão pela própria falta de destreza sentiu-se sendo ancorada. Ao se recuperar da repentina perda de visão causada pela pressão baixa, formando estrelas negras em seus olhos, Katara foi capaz de ver o antebraço direito de Aang sustentando-a pela barriga para que não caísse para frente. Aquilo era muito mais do que qualquer um dos dois haviam se preparado para suportar, uma aproximação desnecessária sem dúvidas. Sendo assim, o movimento impensado do Avatar trouxera o constrangimento, que antes ele lutara para abandonar, mais cedo do que imaginavam.

Ambos tiveram que agradecer mentalmente a intromissão de Sokka que, num estrondo desnecessário, chutara a porta deixada entreaberta. A primeira frase proferida pelo jovem não fora audível para o casal, que ainda tentava se recuperar a situação constrangedora que haviam formado. Apesar de terem se separado o mais rápido possível num só pulo ao ouvir o baque na entrada do cômodo, qualquer um que ali entrasse perceberia o clima pesado que inundava o quarto.

– Qual o problema de vocês? - Repetiu Sokka, tentando chamar a atenção para si - Eu disse que precisava de Aang na frente da casa, ao que parece Appa comeu o feno que cobria a casa da vizinha e a velha não está nada contente.

A jovem dobradora sentiu-se na necessidade de se esconder em qualquer canto que ocultasse sua face, agora tão corada quanto poderia imaginar. Talvez conseguisse usar como desculpa algum tipo de febre repentina, afinal, supostamente não estava bem o bastante para qualquer que fosse a ação tomada por ela.

– Eu... Definitivamente não estou pronta para isso - Suspirou Katara, sentindo-se nostálgica pela situação que a lembrava tanto seus tempos de aventura.

Aang, fazendo uma careta cômica, tentava assimilar a sensação de possuir Katara em seus braços, com a repentina notícia de que seu bisão de 10 toneladas estaria comendo casas pela vizinhança. Observou com o canto de olho a jovem voltando a sentar-se sobre o colchão fofo e não pôde conter o ímpeto de sorrir. Apesar de tudo ter sido desajeitado, estava feliz em ter uma desculpa para vê-la novamente.

– Irei pedir para que Zuko colha um cantil com a água salgada na praia, além de te trazer água e papayas - Disse rindo enquanto se desviava de algum objeto que Katara arremessara contra ele novamente.

Curvando levemente o corpo para despedir-se, Aang saiu do cômodo, seguindo o caminho que Sokka traçava pela pequena casa afora.

๑ﺴﺴﺴﺴﺴﺴ〠ﺴﺴﺴﺴﺴﺴ๑

Era certo que detestava qualquer tipo de locomoção. A garota fizera todo o trajeto resmungando as piores ofensas que já puderam ser ouvidas por alguém. Não suportava o fato de o seu redor ser extremamente barulhento, com os estalidos do metal e o murmurar das pessoas que por onde fosse que andasse, apontavam os dedos em sua direção e sussurravam mais alto do que imaginavam.

Sentindo suas articulações falharem após uma longa caminhada pela costa contornada por água, parou em frente a uma pequena residência em formato torto. Ao longe, podia ser capaz de ouvir algumas vozes que lhe pareciam conhecidas. Não... Era certo que aquelas vozes lhe eram muito habituais. Sorriu com o canto da boca e olhou em direção ao sol divertindo-se com suas lembranças.

– Idiotas! Novamente eu vou ser obrigada a lidar com essas maricas - Esnobou a garota, enquanto dava meia volta indo em direção do grunhir de bisão próximo a ela.


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Notas finais do capítulo

¹. Aos que não se recordam, a ordem da Lótus Branca é uma sociedade formada por mestres e pensadores que se unem não importa sua nação.

². Lu Ten é o filho de Iroh, morto no combate de Ba Sing Se

³. Na realidade nos livros da promessa Sokka viu Aang e Katara se beijando, mas como eu não gostaria de fazer nada semelhante ao final dado, preferi colocar desta forma.

Primeiramente eu devo agradecer aos muitos leitores que estou tendo! Agradeço de coração todo o apoio enviado pelas reviews... Sei que comentei minha tristeza ao descobrir que várias partes da minha história foram plagiadas! Então gostaria de deixar o recado aqui para ressaltar:
A forma como eu descrevi o começo da minha história, tanto os acontecimentos, quanto as personagens originais foram exclusivamente criados por mim!
Inclusive eu fiquei muito feliz com o Sudhir, foi a personagem que eu mais gostei de ter escrito e gostaria de ter a oportunidade de colocá-lo em mais capítulos que se seguirem.
Quanto ao final, não sei se deixei claro quem surgiu, posso ter terminado de uma forma a desejar, mas não encontrei forma melhor do que deixar no ar a próxima visita!

Então é isso aí! Espero suas mensagens e até a próxima.



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