A Única Inocência escrita por Laís Bohrer


Capítulo 4
Eu não sou um cachorro


Notas iniciais do capítulo

*Lay: Estava sem ideias pro título então usei mais uma vez uma frase do próprio capítulo. Então essa é a última semana de férias e isso me deixa depressiva, mas esse sentimento não serve para absolutamente nada, então vamos lá? Animação 120%? Não? Okay '-'
Não tem tanta coisa nesse capítulo, quer dizer, um pouquinho...
Ah, leiam...
Boa leitura



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Noah não conseguia se concentrar.

O episódio do dia anterior ainda se passava na sua mente e não parecia que esqueceria tão cedo. Em sua mão estava uma caneta e no caderno uma explicação incompleta que deveria estar copiando do quadro negro há cadeiras de distância.

Seu professor de ciências do sétimo ano era assustador: o cabelo era negro e seu rosto sempre tinha uma expressão zangada como se ele estivesse irritado na maior parte do dia - e pelo o que Noah havia presenciado desde a volta as aulas, o professor realmente vivia estressado com as coisas... Principalmente com ele. Brigava com Noah por causa de sua caligrafia garrancho, brigava com Noah por causa de seu cabelo rebelde, brigava com Noah pela organização de seu material em mesa, brigava com Noah por causa dos tênis surrados, brigava com Noah por causa do pequeno rasgo em seu uniforme, brigava com Noah por ser o Noah...

E quando o loiro se esforçava para não chamar atenção de professores, logo aquele professor resolve conflitar com o universo pela mera existência de Noah Andersen.

Fala sério! Ele pensou.

Tentou ao menos fingir que estava concentrado para não chamar mais ainda a atenção daquele homem que parecia o perseguir. No entanto não conseguia pensar no que havia concordado no dia anterior:

Após a estranha reação de Ryan – Noah admitia que tivesse agido bem estranho também – ambos se recompuseram e sentaram-se na beira da calçada observando os carros passando. Às vezes as pessoas lançavam olhares para a estranha dupla, Noah estava costumado e Ryan não parecia se importar.

O moreno ainda tentava secar os olhos.

– Você disse que meu sorriso era falso – lembrou Ryan olhando para as nuvens. – Quando estou perto de outras pessoas sinto como se devesse sorrir para satisfazê-las.

– Não precisa fazer isso – murmurou Noah.

Ryan virou o rosto para encarar o amigo.

– Se for pra sorrir em vazio é o mesmo que não sorrir – continuou o loiro. – Só que dá mais trabalho.

E então Ryan sorriu, sorriu de verdade – Noah reconheceu. Ryan sentia-se feliz por alguém entende-lo e Noah não sabia o que pensar. Estava realmente dando conselhos para a pessoa que mais odiara em sua infância. Havia chorado na frente dele e o viu chorar. Compartilhou seu sofrimento e solidão pela primeira vez com alguém.

Não é coisa que um inimigo deveria fazer.

É como se ele fosse...

– Tem razão. – Ryan interrompeu seus pensamentos. – Você tem razão.

Então eles se entreolharam e repentinamente o riso escapou por entre seus lábios.

Um amigo.

Ser amigo de Ryan Cross. De repente a ideia não fazia Noah ter vontade vomitar como há alguns minutos atrás. Noah estava rindo com Ryan até que o moreno parou repentinamente:

– Nade comigo no revezamento! – implorou.

– De novo você com isso – Noah fingiu-se de irritado – Eu já disse que...

– Só uma vez, Noah! – interrompeu Ryan. – Somente essa vez e não te peço mais nada...

Noah olhou para Ryan.

– Promete?

Ryan cruzou os dedos atrás de si.

– Prometo.

O garoto desconhecido respirou fundo.

– Tudo bem – disse desanimado. – Mas só essa vez.

Ryan assentiu abrindo um sorriso.

Uhum! – disse. – Eu prometo que vai ser legal.

Que ia ser legal Noah não tinha certeza, mas que queria vencer isso ele podia confirmar. Até que Ryan se lembrou de mais um pequeno detalhe.

– Mesmo assim, ainda precisamos de mais alguém pra nadar peito – lembrou Ryan com um tom decepcionado. – O torneio é daqui a cinco dias...

Noah deu um sorriso um pouco exagerado.

– Não se preocupe – disse. – Eu conheço alguém que é bom nisso... Quer dizer, não o conheço de verdade, mas já o vi nadar e...

– Quem? – Ryan interrompeu.

A expressão de Noah ficou rígida repentinamente:

Ewan Thompson

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– Ela é esquisita.

– E aquele cabelo estranho... Parece de velha de tão claro...

– Ei, você soube? Ela perdeu a voz.

A garota desconhecida tinha vontade de gritar: “Eu sou muda e não surda!” e se pudesse realmente escolheria subir em uma das mesas e berrar alto o suficiente para que até mesmo pudesse se ouvir nos andares mais altos. Infelizmente no momento isso era impossível.

Não sabia se era para sempre ou se podia ter alguma esperança, mas nos últimos dias a garota Laurent tem estado desesperada. Como as palavras lhe faziam falta! E que diferença elas faziam! Nem todo mundo poderia entender a linguagem dos sinais que estivera aprendendo com uma professora particular.

Andava de um lado para o outro com um pequeno bloquinho para escrever o que precisasse falar, mas ninguém tinha paciência de conversar com ela daquele jeito.

De uma hora para a outra sua voz havia enfraquecido até se tornar um guincho irritante, agora não sobrou nada. Era uma situação miserável, ela pensava. Nada poderia fazer para mudar isso, bem, pelo menos não tinha tido nenhum plano de fuga até então e duvidava que conseguisse pensar em algo.

Agora ela realmente estava sozinha, afogada nas palavras que não podia dizer e ninguém parecia querer salvá-la disso. Aprendera a conversar com si mesma em pensamentos, procurava se comunicar com as pessoas em seus desenhos e todos eles ultimamente obtinham a mesma mensagem – o garoto de cinco anos atrás, as mãos e pés acorrentados enquanto gritava um mudo “socorro”.

Não havia mais diálogos para a garota desconhecida.

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Derek Thompson não acordou na manhã seguinte com o barulho do seu despertador.

A claridade invadiu seus olhos mesmo que fechados, irritando-os. Ao abrir os olhos viu apenas a silhueta de sua mãe em contraste com a claridade matinal, ela tinha um sorriso gentil no rosto que fazia Derek se perguntar como alguém poderia estar tão feliz as...

Mas que horas eram?!

– Acorda seu molenga! – ouviu a voz de seu irmão mais novo. – São nove da manhã, pague vinte flexões!

Derek deu um mínimo sorriso ainda sonolento.

– Bom dia, Ewan.

O mais velho se sentou pondo os pés no chão gelado, sua mãe deixou o quarto depois de cumprimenta-lo e Derek desviou o olhar para o seu irmão mais novo – tinha doze anos naquela época, a pele era escura e o cabelo ralo, olhando para ele de um jeito que Derek achava engraçado, como se estivesse irritado. O menor usava apenas uma sunga roxa.

Então Ewan sorriu desafiador.

– Hoje eu vou bater o seu record! – ele disse apontado para o rosto do irmão.

– Aham – disse Derek tampando os olhos. – Eu sei que vai...

Ele passou pelo mais novo pousando a mão em sua cabeça, Ewan fez uma careta com o gesto e afastou a mão.

– Ei, estou falando sério! – exclamou.

– Eu sei... – gemeu Derek. – Ewan, apenas me dê um tempo para acordar e eu vou nadar com você.

O mais velho ergueu o mais novo com os braços e o botou para fora do quarto, fechando a porta no momento em que Ewan abria a boca para protestar. Derek não ouviu, apenas suspirou enquanto tentava não olhar para a cama com vontade de deitar e adormecer novamente.

Derek estava em seu último ano na faculdade onde aprendia a ensinar. Ultimamente ele tem ajudado o Sr. Porter dando aulas de natação no clube, conseguira até mesmo fazer Ewan se interessar em entrar para um clube. Ele não poderia deixar de reconhecer o talento do irmão.

Um campeonato estava perto e seu clube infantil iria participar, esteve tentando convencer Ewan a participar do revezamento – afinal o time de revezamento do clube precisava de alguém pra nadar peito. Como poderia haver uma oportunidade melhor que aquela? No entanto Ewan parecia preferir nadar sozinho.

Derek não admitia, mas isso o irritava – o fato de Ewan gostar de agir sozinho e sem pensar como poderia ser divertido trabalhar em equipe. No entanto, não conseguira resultados na ultima semana, exceto claro no dia anterior quando Derek o desafiou:

– Muito bem, então vamos fazer uma aposta – ele se agachou diante do irmão para ficar em sua altura. – Vamos ao seu melhor nado, mas se eu vencer você vai participar do revezamento, se eu perder... Arrumo seu quarto o resto do ano e faço seu café da manhã.

Foi um pouco exagerado, admitia mentalmente naquela manhã, mas precisava atrair Ewan para a aposta que seria naquele dia, faltavam quatro dias para o torneio, tinha que convencê-lo a tempo, mas se tinha uma coisa na qual os irmãos eram parecidos era o fato de Ewan ser incrivelmente cabeça dura.

Antes do almoço lá estavam eles, correndo em direção à piscina do condomínio. Eles contaram três segundos, mas Ewan pulou primeiro. Mesmo assim, Derek não estava preocupado, apenas com sono, mas nunca deixaria que isso o impedisse de proteger seu orgulho de irmão mais velho.

Ele pulou na piscina quando Ewan estava virando na outra ponta. Não foi difícil alcança-lo. A piscina não era tão grande quanto a do clube. Derek saiu na frente e sua mão bateu na lateral da piscina. Ewan chegou depois com uma expressão nada boa.

Ambos se sentaram na beira.

– Não faça essa cara – disse Derek com um sorriso gentil. – Um dia você ainda vai conseguir me vencer.

– Tsc... – Ewan deu um sorriso convencido. – É claro que vou.

– Então, eu venci e trato é trato... – acrescentou Derek.

– Não vou participar do revezamento – Ewan se levantou.

Derek suspirou, imaginando que aquilo ocorreria.

– Ewan, é divertido – prometeu.

– Natação não é divertida – murmurou o garoto. – Eu não sei aqueles outros, mas eu não brinco na água. Eu jogo pra vencer, não pra me divertir.

E então Derek ficou ali, olhando enquanto o menino de pele escura se distanciava com os punhos cerrados. Não sabia o que estava acontecendo, mas o irmão parecia cada vez mais distante. Cada vez que nadavam juntos era assim: Derek vencia e Ewan se distanciava.

Derek olhou para o próprio reflexo na água de um jeito melancólico.

Ele chutou a água.

– Fala sério... – e foi tudo o que ele disse com um mínimo sorriso de frustação.

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As folhas secas caiam lentamente com a leve brisa da época. Os raios de sol pareciam frágeis no rosto de Noah que caminhava com as mãos unidas atrás do pescoço. Seu cabelo cor de palha caia em um de seus olhos o irritando. A mochila pesava um pouco em suas costas. Algumas nuvens deslizavam pelo firmamento azul acima de sua cabeça.

Onde passava recebia estranhos olhares, as pessoas cochichavam atrás de suas mãos sobre a coragem que Ryan e Sora tinham. Isso tudo irritava Noah que se perguntava o porquê aquelas pessoas não simplesmente calavam a boca. Seria mais fácil se elas vivessem as próprias vidas ao invés de se preocuparem com a sua existência medíocre.

Mais importante, por que Noah ligava pra isso? Por que estava se queixando mentalmente daquelas pessoas? Nunca fez isso... Não desde aquele dia, quando expandiu seus horizontes e chegou até a realidade. Foi um choque, mas finalmente percebeu o que estava acontecendo. Finalmente concordou com aqueles olhares, apesar de sentir isso da pior forma.

No enquanto ele sabia que agora não estava mais tão sozinho. Apesar de Sora aparentar ter bastante medo dele – o que deixava o garoto realmente estressado -, Ryan não parecia que ia largar de seu pé tão cedo... Pelo menos, era isso o que Noah queria no fundo, mesmo que reclamasse da personalidade do moreno.

Os dois estavam um pouco mais na frente enquanto Noah caminhava logo atrás com um semblante pensativo.

– Ei, Noah! – mais a frente, a voz de Ryan interrompeu seus pensamentos. – Vamos tomar sorvete!

– Não. – Noah respondeu de imediato.

Ryan contorceu o lábio e fez uma expressão chorosa, erguendo os braços em direção a Noah. Sora ao ver aquela expressão, se desesperou com medo de que o garoto começasse a chorar.

– Noah, eu quero sorvete... – reclamou o Cross. – Por favor, eu até trouxe dinheiro pra pagar o de vocês...

– Vá com Sora, me deixe longe disso – dizia Noah irritado.

Ryan o puxava pela aba do casaco como uma criança teimosa.

Noaaaah, eu quero que você vá também... – choramingava Ryan. – O time todo junto.

Uma veia saltou na testa de Noah. Ele realmente não estava acreditando naquilo. Quantos anos Ryan achava que tinha?

– Me chame quando o time estiver completo – disse se livrando de Ryan.

– Que cruel, Noah – reclamou Ryan. – Eu quero sorvete... Eu quero sorvete...

Então o garoto começou a segui-lo. Sora estava se mordendo de pena do mais velho, foi quando Noah finalmente ouviu sua voz:

– Noah, por favor – pediu. – Ryan é seu amigo, não é?

– Tsc, ele não é meu amigo – mentiu.

Mas mesmo assim Ryan o seguiria até sua casa, Noah previa e a ideia lhe dava calafrios na espinha. Então ele parou no meio do caminho. A mochila pesava um pouco em suas costas. Apesar do sol não estar tão forte naquele dia, estava quente de mormaço.

Ele virou-se para os dois.

– Por favorzinho... - Ryan juntou as mãos em suplicas.

– Fala sério... – resmungou Noah. – .

Então seu estado mudou repentinamente. Em um piscar de olhos Ryan estava sorrindo de orelha a orelha e saiu correndo na frente gritando:

– Quem chegar por último vai casar com o padre! – ele pulava.

Sobraram Sora e Noah para trás, Noah não acreditando que tinha sido enganado por Ryan, fechava seu punho.

– Aquele Cross... – rosnava.

– Hm... – Sora disse.

Noah olhou para o moreno de feições orientais, tentando controlar sua raiva.

Naquela manhã, descobriu que Sora era um ano mais novo que eles. Mas era realmente da escola que tinha ouvido falar dele. O garoto que foi criado naquele país com seus pais japoneses.

Passaram-se três segundos de silêncio.

– Se tem algo a dizer, diga – Noah se exaltou. – Tem algum problema comigo?!

– Não! – se apressou Sora. – Eu só... Só...

Noah cruzou os braços esperando impaciente até que o garoto finalmente falou:

– Eu... Não quero casar com o padre.

A expressão do loiro relaxou e então sentiu uma enorme vontade de rir da inocência de Sora que o encarava confuso. Noah lhe deu um tapinha nas costas.

– Então corra o mais rápido de puder. – disse com um sorriso.

Noah saiu na frente e Sora corria logo atrás dele com um fato carregado na mente, rodeado de indubitáveis certezas.

Afinal, Noah não era nada parecido com o que diziam por ai.

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Ewan não queria, mas foi sem discutir com o irmão.

Ele salvou da bicicleta de Derek que a deixou ao lado da sorveteria. Ainda estava muito irritado de ter perdido novamente para o irmão mais velho. Estava pensando em como mudar aquilo. Reconhecia que Derek estava em um nível completamente diferente: primeiro, era mais experiente e segundo, era muito mais rápido.

Seus pais lhe diziam depois de um tempo, Ewan poderia ser como Derek, só precisava se esforçar e não querer essas coisas na hora.

– Eu vou querer de baunilha – disse uma voz na sua frente.

Um trio de garotos mais ou menos da sua idade faziam o pedido. Um deles tinha feições orientais, outro era moreno de olhos verdes claros e que parecia... Feliz demais. Por último havia um garoto de cabelos cor de palha que tinha a mesma expressão que a sua – a de que preferia estar em qualquer lugar, menos ali.

– E você, Noah? – perguntou o moreno para o loiro.

– Chocolate. – resmungou em resposta o chamado Noah.

Que nome esquisito... Pensou Ewan.

– Certo, tio, eu vou querer o sorvete azul – disse o garoto moreno, pendurando-se no balcão.

E nisso, Ewan se desconcentrou do trio e voltou-se para o irmão mais velho. Murmurou algo sobre ir procurar um lugar para eles. No mesmo instante, o trio dava as costas para o balcão.

Alguns metros depois, Ewan ergue os olhos procurando uma mesa vazia pelo canto do local quando esbarra em alguém.

– Ei! – ouviu uma voz um pouco brava.

Ewan abaixa os olhos para o menino loiro chamado Noah. Um pouco de sorvete havia caído no uniforme escolar do mesmo. O tal Noah não parecia nada feliz.

– Ficou bom assim. – Ewan resmungou sem pensar duas vezes.

Mas não contava que o garoto tivesse ouvido o seu estúpido comentário.

– O que disse, maldito? – Noah segurou a gola do casaco dele.

Esse ato pegou Ewan de surpresa. Mas não estava irritado.

– Nada, senhor cabeça quente – ironizou com um sorriso um tanto convencido, se livrando da mão de Noah – Escute, é só um pouco de sorvete. Mães são especialistas em lidar com essas coisas. Não fique tão irritadinho.

Ewan – Derek o chamou. – Vamos? O que foi? Seus amigos?

– Não – negou Ewan. – Apenas pessoas.

O garoto moreno de olhos verdes se alarmou.

– Ewan? – repetiu. – Você se chama Ewan?

Ewan sorriu.

– E o que isso tem haver com você? – perguntou.

O garoto moreno se encolheu um pouco e o tal Noah fuzilou Ewan com os olhos.

– Você deveria cuidar do seu amigo – disse para o moreno. – Uma coleira, talvez funcione.

Então deu as costas.

– Ewan! – Derek chamou, mas foi ignorado. Voltou-se para o trio com um sorriso gentil. – Desculpem meu irmão.

Então foi atrás do mais novo com duas casquinhas em mãos.

– Ei! – Noah chamou irritado, porem não foi ouvido.

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Um trio ocupava uma mesa na calçada de frente para a sorveteria. Eram Noah, Sora e Ryan depois do infeliz acidente com o garoto de pele escura, o chamado Ewan. Aquele moreno realmente deixou Noah irritado. Tanto que Sora ficou preocupado do loiro se erguer da mesa e ir socar a cara daquele estranho garoto.

Afinal, era isso o que Noah dizia que queria fazer.

Talvez fosse isso que assustava tanto Sora, o comportamento violento de Noah. O jeito que ele quer resolver tudo “quebrando” como ele diz.

Sora estava sentado entre Ryan e Noah, tomando hesitante seu sorvete de baunilha com medo de que derretesse. Era a primeira vez que saia com seus amigos. Sora era reconhecido por seus colegas, era apenas muito tímido, tanto que ao falar com as pessoas desconhecidas travava totalmente. Mesmo com seus colegas, ele chegava a gaguejar.

Mas aos poucos sentia a mudança – estava se acostumando lentamente a Noah e Ryan, talvez por que ambos pareciam mais estranhos do que ele.

– Ryan, se você continuar comendo rápido assim, vai congelar o cérebro – alertou ao amigo.

– Não se preocupe – disse Ryan. – Eu tenho um cérebro resistente.

– Um cérebro idiota – corrigiu Noah.

Ryan sorriu sem graça.

– Que cruel... – ele reclamou, mas continuava devorando seu sorvete azul, sua língua já adquirira a coloração. O moreno pôs as mãos na cabeça. – Ai!

– Eu disse – alarmou-se Sora.

Noah deu uma risada curta.

– Ouça quando as pessoas estão falando com você, cabeçudo. – zombou o loiro.

Ryan apenas sorriu.

– Não foi nada demais – ele disse e então pareceu se lembrar de algo. – Ah, Noah...

– Hm?

Ryan hesitou.

– Aquele Ewan era... Aquele que você tinha falado? – perguntou.

– Que Ewan? – Sora perguntou.

– O nosso futuro quarto membro do time – explicou Ryan.

Noah enfiou uma quantidade de sorvete de chocolate na boca.

– Não sei, só ouvi falar desse cara por parte do Sr. Porter – admitiu. – Uma coleira... Eu não sou um cachorro. Mas de qualquer jeito eu espero que seja apenas coincidência.

Sora não achou que deveria abrir a boca, mas tinha a leve impressão de que o desejo de Noah não se realizaria, até porque a familiaridade lhe atingiu quando bateram de cara com o estranho garoto. No entanto desejou o mesmo que o amigo, afinal de contas, não haveria chance de trabalharem juntos com alguém que possuía rivalidades com Noah.

Por alguma razão, ele pensava que aquilo não iria dar certo.


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Notas finais do capítulo

Eu consegui imaginar o Ryan fazendo carinha de gato de botas e... TuT
TÃO FOFINHO. TÃO FOFINHO *U* -parei.
Já tenho uma ideia do que vai ser o capítulo cinco, espero que o Ewan caia na real. E sobre o seis... Até lá nós já devemos estar na fase da adolescência... Mas eles são tão bonitinhos assim que eu não quero que cresçam... T-T
Bom, espero que tenham gostado.

Essa música aqui combina um pouco com o Ryan, digo, quando se aprofunda mais na história dele. A frase que eu mais achei que combinava da música é: "... Sendo obrigado a passar o tempo com os outros." e "Eu quero existir".
https://www.youtube.com/watch?v=KUv-spHFr50

Beijos Azuis