The Road Behind Us escrita por Ethereal Serenade


Capítulo 6
Capítulo 6 — A new friend


Notas iniciais do capítulo

OLHA QUEM VOLTOU DOS MORTOS: EUZINHA O/

Depois de um banimento mucho loco de 60 dias do Nyah! (fruto de um mal entendido, mas tudo bem, estamos suscetíveis a situações semelhantes o tempo todo), cá estou de volta!

Esses 60 dias de ban foram úteis para muitas coisas — afinal, temos que saber tirar proveito das coisas boas e ruins que nos acontecem, não é mesmo? Pude organizar as ideias, reler algumas coisas, enfim, essas coisas que fazem a diferença na qualidade da história. uma coisa que eu errei FEIO, foi nos pensamentos da Ellie no primeiro capítulo. Não sei se vocês se lembram, mas lá no finalzinho a Ellie ponderava sobre todos os acontecimentos que rolaram e tal. Passava uma ideia de que ela sabia que o Joel mentiu, e aceitava isso de uma maneira muito passiva. E a premissa que eu quero não é exatamente essa. Erro concertado, se vocês puderem, releiam o cap que agora tá ok! =D

E agora, vamos falar sobre o cap: uma das coisas que eu acho FODA em The Last Of Us são os itens colecionáveis. Perdia muito tempo lendo tudo o que achava, e creio que uma das minhas histórias favoritas de lá seja a do Ish. Esses detalhes davam uma riqueza sem igual para a história do jogo! E para manter esses aspectos do jogo fiéis na fic, criei um item colecionável, e eu espero que gostem dele tanto quanto eu!

Essa será centrado na Ellie. O próximo, será inteiramente no Joel.

Sem mais delongas, eis o cap! Boa leitura o/



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A manhã começou fria por conta das chuvas do dia anterior, e uma neblina densa pairava sobre a floresta, estendendo-se até a cidade. Quando Ellie acordou, sentiu as pontas dos dedos das mãos extremamente frios, vendo-se obrigada a vestir um moletom surrado para pôr as mãos nos bolsos e amenizar a sensação de baixa temperatura.

Joel já tinha se levantado; Ellie deduziu que ele estaria na cozinha, preparando o café da manhã. Esticou os braços, e em seguida as pernas, livrando-se da letargia matinal. Levantou-se e saiu do quarto.

Os acontecimentos da noite anterior ainda vagueavam em sua mente. Ver Joel daquela maneira, à mercê das próprias memórias e fantasmas do passado, a deixara perturbada. Entretanto, o que realmente a prendia naqueles fatos eram as palavras que Joel havia murmurado. A quem ele teria tido aquilo? Discorreu inúmeras possibilidades que poderiam ser a resposta, porém nenhuma delas se apresentou fidedigna o suficiente.

No fim das contas, sequer fizeram algum sentido.

Ia descer as escadas quando notou algo que não reparara até então; uma portinha, da mesma cor que as paredes, ao lado do banheiro. Quando ela e Joel chegaram à cidade e Tommy os mostrou a casa, não fizera nenhuma menção àquele cômodo. Levou às mãos a maçaneta e viu que se encontrava aberta.

A sala que se revelou estava totalmente escura. Ellie tateou as paredes, a procura de um interruptor. Uma única lâmpada se acendeu em um estalo, amarelada e bruxuleante. O cômodo era consideravelmente maior do que um armário comum para casacos. Vários caixotes de papelão se amontoavam pelos cantos, muitos estavam caídos no chão, espalhando seu conteúdo que em sua maioria eram roupas velhas comidas por traças.Alguns outros objetos como brinquedos, cadernos escolares e mochilas estavam uns sobre os outros em pilhas recostadas à parede. O lugar fedia a poeira e mofo, e se encontrava incrivelmente abafado, considerando o frio que fazia.

Ellie contornou as roupas espalhadas, se agachando em um pequeno espaço vazio. Uma das caixas chamara sua atenção — que era a menor das demais; uma velha caixa de sapatos, revestida com folhas de jornal, com os dizeres 'Músicas do Atticus', em letras grandes e chamativas.

Seu conteúdo consistia principalmente em fitas VHS com os títulos escritos à mão com caneta esferográfica, e muitas das letras estavam borradas pelo tempo. Em meio as fitas, encontrou alguns CDs. Apesar do provável tempo que deveriam estar ali, pareciam estar em boas condições. The Times They Are a-Changin' – Bob Dylan, Biggest Hits of Johnny Cash, The Very Best Of Frankie Valli And The Four Seasons e The Seekers - Live at the Talk of the Town eram alguns dos títulos. E haviam mais, muito mais ali.

Talvez Joel conhecesse algum deles. Pegou um dos CDs — o do Johnny Cash — fechou a caixa novamente e desceu as escadas.

Joel estava colocando dois pratos com comida sobre a mesa; omeletes acompanhadas de leite e algumas frutas secas. Ele também vestia uma jaqueta de couro marrom, igualmente desgastada pelo tempo. Joel tinha a aparência abatida, e ligeiramente tensa.

Talvez fosse mera impressão de Ellie, porém no momento em que ele a olhou descendo as escadas, suas olheiras pareciam ainda mais escuras e profundas. Ela se perguntou se na noite anterior ele não teria voltado a ter pesadelos ou simplesmente a passou em claro, perturbado à sua maneira, bem como ela mesma estava antes de retornar ao quarto. Após cumprimentá-lo, sentou-se à mesa, dando uma rápida olhada no CD em suas mãos antes de estica-lo em direção a Joel.

— Ei Joel, você sabe quem é?

Ele pegou o CD, perscrutando-o por algum tempo. Ao contestar de quem era, sentiu uma sutil onda de nostalgia.

— Sei. — Disse por fim, estendendo o CD de volta para Ellie.

— É bom?

— As poucas músicas que ouvi dele, eram.

— Teria como a gente ouvir? — Ellie perguntou, enquanto mastigava avidamente a omelete.

— Acho que não. — Respondeu, depois de pensar por alguns instantes. — Onde você achou isso?

— Tem um quartinho lá em cima, tipo um quarto só ‘pras’ coisas velhas. Tem um monte desses.

Joel anuiu. Enquanto os dois comiam, Ellie não pode deixar de reparar que Joel tinha — além do semblante cansado, que parecia muito mais evidente. — a postura tensa. Embora desejasse veementemente perguntar sobre aquelas palavras na noite anterior, Ellie optou por manter o silêncio no que se referia àqueles acontecimentos. Algo dentro de si sinalizava que a possível resposta que poderia vir a escutar não seria agradável, além de que Joel não parecia muito disposto para aquele tipo de assunto.

Na verdade, ele não parecia muito apto para qualquer coisa que tangesse o passado de ambos.

Outro dia, quem sabe, prometeu a si mesma.

— Sabe quando aquela cara, o Houser, falou sobre uma busca no aeroporto? — Ellie perguntou de repente.

Joel assentiu.

— Se você for, pode conseguir algo que dê para ouvir música? Seria legal. ‘Pra’ passar o tempo.

— Passar o tempo? — Joel ergueu uma sobrancelha, curioso.

— É. Tipo, a gente podia jogar xadrez à noite, ouvindo os CDs. Deve ter muita coisa boa lá.

A ideia era boa, ele tinha que admitir.

— Verei o que posso fazer.

Quando acabaram de comer, Joel pegou os pratos e copos e os levou ao balcão. Ao coloca-los, percebeu que a torneira da pia começara a gotejar, e o fluxo ia se intensificando rapidamente.

— Ei, Ellie. Olha isso.

A garota se aproximou. A água descia transparente, embora houvesse alguns minúsculos pedacinhos verdes se movendo em meio ao fluxo, e outros vermelhos escuros; lodo e ferrugem, provavelmente presentes sabe-se lá há quanto tempo na tubulação inutilizada.

— Água corrente...?

— É isso aí. — Joel sorriu.

Rapidamente, ela saiu da cozinha, correndo em direção as escadas. Joel só pode ouvir os passos apressados de Ellie ecoando no assoalho, indo até o quarto, e provavelmente vasculhando as cômodas a procura de uma toalha. Podia ouvir alguns de seus resmungos impacientes, embora não discernisse exatamente ela dizia. No instante em que ele ouviu o som do chuveiro sendo ligado, quase seguidamente escutou um grito agudo de Ellie.

— Porra! — Ellie grunhiu. —Essa merda 'tá fria!

— Você tem de regular a temperatura. — Joel respondeu entre risos, divertindo-se com a situação.

— Eu sei, droga! — Gritou de volta. — Tinha esquecido.

Joel lavou os pratos, tantos os utilizados no dia quanto dos anteriores. A água da torneira descia extremamente fria, mais parecia gelo.

Minutos depois, Ellie saiu do banheiro com agradável sensação de se estar limpa, como já não se sentia... há quanto tempo? Sequer se lembrava de ter se sentido assim nos colégios militares, pois os banheiros eram imundos e a água tinha um odor bastante desagradável. Sem contar que não havia privacidade alguma, e tudo era regulado. Como praticamente tudo era naquele lugar.

Encontrou uma barra retangular de sabão sobre a pia do banheiro, coberta por uma camada de poeira e com pequenos insetos mortos grudados. Removeu toda aquela sujeira para poder usar, e gostou do cheiro muito semelhante a flores que havia em sua pele. Vestiu uma muda de roupas limpas, o último conjunto das que recebera de Maria; uma calça jeans preta, um pouco desfiada nas bordas e com visíveis remendos pela lateral e uma camiseta bege xadrez. Colocou o moletom, e saiu do banheiro enxugando os cabelos, indo em direção ao seu quarto.

Ouviu passos na escada, indo rapidamente ao quarto ao lado e em seguida ao banheiro. Depois de meses lavando apenas as mãos e o rosto, ela sabia que Joel não iria adiar aquela oportunidade de um banho de verdade. Sentou-se na cama, tentando pentear os cabelos com os dedos, sem muito sucesso. Deu um suspiro, resignada, desistindo daquilo.

Sua atenção se voltou para o criado-mudo próximo, onde vários papéis — panfletos médicos e pedaços de jornais de anos atrás. — se encontravam espalhados. Dobrado com cuidado e debaixo do pequeno vasinho de cacto morto, estava a carta de sua mãe.

Desdobrou com cuidado, como se o papel estivesse prestes a se desfazer a qualquer instante. Quando era muito mais nova, não foram poucas as noites em que dormira agarrada àquela folha. Dava-lhe a sensação de segurança, de que alguma forma sua mãe estava ao seu lado.

Entretanto, os anos passaram e Ellie percebeu aos poucos que a sensação de ter sua mãe por perto foi se esvaindo, como use fosse uma imagem feita de fumaça, que se desfaz sem perceber até desaparecer totalmente sem se dar conta. Naquele momento, sabia que ela nunca esteve lá de verdade, e tudo tinha sido pura imaginação sua, devido ao constante medo do desconhecido que era o dia porvir naquele tempo.

Ainda assim, gostaria de ser capaz de senti-la de novo, como se um pedacinho dela realmente vivesse naquelas palavras, e aquilo fosse capaz de abrandar qualquer inquietude que tivesse. Por que por mais que tudo estivesse bem, que ela e Joel estivessem em paz na cidade, Ellie ainda guardava muitas dúvidas, dúvidas que lhe roubavam o sono, a serenidade, e sua tranquilidade. Perguntas que não tinham resposta. Sobre Joel. Sobre ele ter contado mesmo a verdade. Sobre os Vagalumes. Sobre ela estar vida, e não outras pessoas. E a razão para tudo aquilo.

Faça com que eu sinta orgulho, Ellie!

— Ellie, eu tenho que ir e... Hey, o que é isso?

Ela não percebera Joel aparecer na porta, e ao ouvir sua voz deu um ligeiro sobressalto.

— Ah... — Se sentiu um tanto sem jeito ao responder sobre aquilo. — é uma carta. Da minha mãe. Ela... também o deixou ‘pra’ mim.

A atmosfera se tornou um pouco desconfortável com a resposta de Ellie, pelo menos para Joel. Ele sabia que Ellie era muito sucinta ao que se referia a sua mãe e qualquer relação que tivera após isso, e quando involuntariamente adentrava naquele terreno, sentia uma pontada de culpa por acabar agindo inconvenientemente. Sabia que deveria dizer alguma coisa, no entanto nada muito produtivo lhe viera à mente. Comentou, por fim, o que lhe soou menos invasivo ou incômodo.

— Isso deve ser muito... especial para você.

— É — Ela dobrou a carta novamente. — É a única coisa que me deixa perto dela, pelo menos um pouco.

Joel não disse nada, incerto se haveria algo a ser dito naquela circunstância. Limitou-se a fitar Ellie, que passeava os dedos pelo papel com delicadeza. Ela então colocou a carta sobre o criado-mudo novamente, e, com um soltando um suspiro discreto, voltou-se para Joel.

— Você vai sair com o Tommy?

— Ah, sim. — Por um instante, Joel acreditou que ela o interrogaria sobre qualquer coisa em relação à noite anterior. Sentiu a tensão que o dominava se dispersar. — Vou. Vamos até a usina.

— Tudo bem. Ah, não se esqueça do eu pedi. Sabe, ver toda aquela música sem ninguém ouvir é meio deprimente.

* * *

Com a saída de Joel, Ellie seguiu para o pequeno quartinho que encontrou pela manhã. Guiada pela curiosidade, desta vez deixou de lado as caixas com fitas VHS e CDs para vasculhar as outras.

A primeira caixa que pegou estava coberta por panos, e lacrada com fitas, o que não demonstrou ser nenhum grande obstáculo para obstruir o acesso ao seu conteúdo. Ao abri-la, encontrou pequenos objetos recobertos por jornais já amarelados. Ao rasgar as embalagens improvisadas, Ellie descobriu que eram diversas caixinhas escuras com colares dourados com pingentes de cruz e muitos anéis com pedras coloridas. Eram bonitos, mas não via razão para que alguém tivesse guardado aquelas coisas com tanto zelo. Deveria ter sido algo de extremo valor no mundo de antes, ponderou, devolvendo o conteúdo à caixa e a fechando novamente. Como combinar blusas com saias, ou como impressionar garotos, ou escolher qual o filme para o próximo fim de semana.

Num canto assombreado, uma pilha de livros empoeirados tombava rente a parede, próxima a um cabide cheio de casacos próprios para o inverno. Se esticou para alcançar um caderninho sobre os livros, cheio de manchas, poeira e rasgaduras. Limpou a capa com as mãos, e, a julgar pelos desenhos na capa desbotada, tinha sido um diário de uma criança que vivera ali. Virou a capa, e a primeira página, em letras garranchosas, lia-se Diário de Jeremy Morrison. As primeiras páginas estavam preenchidas com desenhos e palavras ininteligíveis. Até que, em um enunciado datado de agosto de 2013, as palavras dali em diante eram possíveis de se ler. Encostando-se na parede, Ellie iniciou a leitura.

13 de agosto de 2013

Meu pai me disse que eu não iria para escola hoje. Achei estranho, por que minha mãe não falou nada sobre isso, e nem mesmo reclamou por ele deixar eu ficar me casa. Mas fiquei muito feliz, pois minha irmã está em casa, então posso passar o tempo com ela.

15 de agosto de 2013

Depois do jantar, papai e mamãe conversaram sobre alguma coisa chamada Pã-de-mia. Apareceu na televisão, e eles pareciam preocupados com isso. Papai me falou que é quando uma doença afeta muita gente. Mamãe disse para que ele não me falasse essas coisas, senão eu não iria dormir. Ele disse que eu deveria saber, que já estava ficando quase um adulto. Dormi cheio de orgulho pensando nisso.

20 de agosto de 2013

Papai tem que trabalhar na cidade grande. Ele vai para Boston. Disse que precisa ajudar as pessoas de lá. Mamãe pareceu muito preocupada, mas o papai disse que tudo ficará bem. Mas Tracey não parece ter gostado disso.

27 de agosto de 2013

Mamãe tem rezado muito ultimamente. Disse que anda tendo pesadelos horríveis envolvendo a gente. Tenho rezado bastante por nós, a pedido dela.

02 de setembro de 2013

Papai ligou. Tudo está bem. Ele vai voltar para casa semana que vem, e com alguns presentes para mim e Tracey. Mas a mamãe parecia preocupada no telefone, eu não sei por quê. Eu disse a ela que Deus o protegeria, e mamãe me abraçou.

09 de setembro de 2013

Papai deveria ter chegado hoje. Estranho.

Acho que ouvi Tracey chorar no quarto dela.

11 de setembro de 2013

Ele mandou uma mensagem para o celular da mamãe. Disse que houve um problema. Ele vai estar chegando logo. Tracey e a mamãe conversaram baixinho na cozinha, e depois a mamãe começou a chorar muito. Tracey me viu, e disse para ir dormir. Eu tentei perguntar o que ‘tava’ acontecendo, mas ela disse para que eu fosse para cama. Passei a noite inteira acordado, ouvindo a mamãe rezar muito no quarto ao lado.

As folhas conseguintes ao dia onze estavam cheias de manchas escuras. Ellie aproximou o diário do nariz, e, mesmo que muito sutilmente, pode reconhecer o odor férreo de sangue. Virou mais páginas, a procura de alguma que se encontrasse legível. A que datava no dia vinte e sete de outubro estava razoavelmente limpa, possibilitando a continuidade da leitura.

27 de outubro de 2013

Tio Julian tem feito a mamãe comer um pouco, mas ela ainda está muito fraca. Tracey não para de falar de que devemos ir embora, que temos que ir para Providence. Tio Julian diz que não, que nosso lugar é aqui, em Jackson Hole. Eu nunca vi Tracey gritar tão alto, ainda mais com alguém como o titio, que é enorme como um armário. Não consigo dormir quando eles gritam. Tenho que ir escondido ‘pro’ quarto da mamãe.

30 de outubro de 2013

O corpo do papai começou a feder, e o cheiro é tão nojento que eu começo a lagrimar quando chego perto d’onde ele está. Tio Julian disse que acha melhor queimá-lo. Mamãe chorou muito por causa disso. Tracey não falou nada. Eu só chorei. Tem uma coisa no meu peito que doí muito quando penso no papai quando vivo. Acho que é saudade. Doí. E muito.

31 de outubro de 2013

Tiros lá fora. Titio diz que são militares matando pessoas doentes. Por quê? Ele diz que ficaram loucas. Como o papai. Eu começo a chorar ao pensar nele.

Esperamos a manhã chegar para nos escondermos no porão. É dia das bruxas, mas lá fora há apenas monstros. Sem doces, apenas travessuras.

04 de setembro de 2013

Ouvimos um homem pedir ajuda na nossa casa. Nenhum de nós foi até a porta.

06 de setembro de 2013

Finalmente tio Julian conseguiu encontrar uma frequência na rádio.

Temos que ir para a zona de quarentena mais próxima.

08 de setembro de 2013

Vamos para a zona de quarentena, eu, Mamãe, Tracey e o Tio Julian. Eu não sei como ele mudou de ideia sobre ir embora tão rapidamente. Ele diz que vamos voltar em breve, que as coisas vão se ajeitar com o tempo.

Não consigo acreditar nisso.

* * *

(Vanishing Grace)

Batidas rápidas contra a porta do andar de baixo interromperam a leitura de Ellie. Num ligeiro sobressalto, a garota fechou o diário, colocando-o em um canto e se levantando em seguida. Saiu do quartinho e desceu as escadas, acelerando seus passos ao ouvir as batidas um pouco mais intensas.

Ao abrir a porta, deparou-se com Missy, trazendo consigo a mesma caixa de madeira com seu jogo de xadrez do dia anterior. Estava com os cabelos loiros presos numa trança malfeita, vestia uma calça jeans desbotada e um casaco amarelo com capuz. Manteve o olhar pregado no chão, e parecia um tanto acanhada, como se sentisse alguma vergonha injustificada de estar ali.

— Hey.

— Oi. — Missy a cumprimentou, baixinho. — Eu vim jogar.

— Ah, claro. — Recordou-se do pedido da menina no dia anterior. Deu alguns passos para o lado, fazendo menção para que ela entrasse. — Entra aí.

Ellie fechou a porta assim que Missy entrou. Ela permaneceu parada olhando a casa com atenção, virando-se muito discretamente para observar outros ângulos e pontos do ambiente que lhe era novo. Sua curiosidade era evidente, embora tentasse não transparecer. Quando percebeu o olhar de Ellie sobre si, abaixou a cabeça, apertando a caixinha sobre o peito com mais força.

— Bem, ahn... sinta-se em casa. — Ellie colocou a mão sobre os ombros de Missy, indicando o cômodo ao lado. — Vem, vamos jogar.

As duas garotas se dirigiram até a sala de visitas. Missy se sentou no chão, abrindo a caixinha e jogando as peças próximas de si. Ellie sentou-se à sua frente, arrumando as peças escuras da mesma maneira que Missy arrumavas as peças claras.

Com as peças em seus devidos lugares, Missy deu início ao jogo movendo um peão. Ellie não tinha noção alguma de como jogar, ou de bolar estratégias; os movimentos eram muitos, e provavelmente se confundiria quando chegasse o momento de mover torres ou bispos.

No entanto, lembrava-se bem do que sua pequena oponente lhe dissera no dia anterior. Tentaria então, ao seu modo, jogar com mais prudência. Limitou-se a mover os peões com cuidado, sempre os mais distantes dos já movidos por Missy. Até aquele momento, não perdera nenhuma peça, e aparentemente nenhuma das demais se encontrava em risco de ser levada.

— Posso te perguntar uma coisa? — De maneira tímida, Missy perguntou, com a mão parada sobre o peão que planejava mover.

— Claro. — Ellie respondeu, um tanto curiosa sobre o que ela iria perguntar.

Movendo o seu peão, Missy perguntou baixinho:

— Como é lá fora?

Ela lhe perguntou de maneira acanhada, como quem tenta perscrutar sobre algo desconhecido ou até mesmo proibido para si. Por um instante, aquela postura por parte de Missy fez Ellie sorrir, porque não deixava de ser minimamente curiosa a maneira que ela parecia se conter em determinados momentos.

— Lá fora, além da cidade?

— É. — Ela ergueu o rosto, recolhendo a mão para junto do corpo, movendo os olhos em direção aos de Ellie. Talvez fosse mera impressão, mas parecia haver discretas olheiras embaixo de seus olhos. — As cidades, as cidades grandes — houve uma grande ênfase na palavra “grande”. —, como elas são?

— Bem, — Ellie lembrou-se das cidades grandes em que estivera durante sua jornada. Bom, Boston era uma delas. Resolveu usar o que se recordava da cidade de Massachusetts como resposta. — Elas eram grandes, enormes. Os prédios eram imensos, mas era difícil encontrar algum que não estivesse destruído. Acho que antes disso tudo, devia ser bem bonito.

— Haviam pessoas lá fora? — A pergunta de Missy veio rapidamente, como se ela estivesse com aquela interrogação na ponta da língua há algum tempo.

— Havia, mas...

— E essas pessoas — Missy interpelou com uma repentina auspiciosidade. — Elas eram... boas?

— Boas? — Ellie arqueou as sobrancelhas, sem compreender claramente o que ela queria dizer com aquele adjetivo.

— É... Elas... algumas delas ajudavam as outras?

Relembrou-se, então, de todas as pessoas boas que conheceu durante a trajetória até Jackson. Em Boston, houvera Riley, e também tivera Tess. Em Pittsburgh, Henry e Sam. Eles foram pessoas boas. Ajudaram, cada um à sua maneira, para que Ellie e Joel estivessem onde estavam naquele momento. Mas aquilo tivera um preço para eles, amargo demais para ser digerido com facilidade, mesmo com o dimanar do tempo transmutando-os em memórias distantes; eles estavam mortos.

— Ajudavam. — Respondeu com a voz baixa. — Alguns ajudavam.

E, por muito tempo, tivera Marlene. E os Vagalumes.

— Mas havia muitos que só pensavam neles próprios. — Completou, num tom de voz quase inaudível. Não era apenas uma resposta para a pergunta de Missy, era uma verdade que Ellie tentava, todos os dias, acreditar. Porque alguém que se importava com ela havia lhe dito.

Tinha lhe jurado.

— Mas... — Hesitou por alguns segundos. Missy parecia muito mais interessada do que o que se delimita em mera curiosidade infantil, principalmente nas pessoas do mundo exterior. Por um momento, ela pareceu ponderar sobre o que perguntar, com a cabeça baixa, encarando as peças de xadrez. Até que, rapidamente, ergueu a cabeça e encarou Ellie com clara ansiedade. — Essas pessoas eram muitas?

— O quê?

— As pessoas ruins, eram a maioria?

— Bem... — Naquele momento, fora impossível não se recordar dos militares e dos bandos de caçadores que encontrara. Em Pittsburgh, Lakeside... Ao lembrar-se deste último, e do inverno passado naquele lugar, sentiu um calafrio desconfortável percorrer sua espinha. Respirou fundo antes de responder. As memórias vividas naqueles lugares passaram rapidamente em sua mente, e Ellie fez o máximo de esforço que pode para não se fixar em nenhuma delas. — Tinham muitas.

Não houvera mais perguntas por parte de Missy diante daquela resposta sucinta. A garotinha permaneceu em silêncio, com os olhos fixos nas peças de xadrez. Nenhuma das duas meninas parecia mais interessa em dar continuidade ao jogo. Missy, de cabeça baixa, pegou o rei do seu lado do tabuleiro e o apertou em sua mão e depois contra si.

Ellie a observava, silente. Era mais do que claro que aquelas repentinas perguntas por parte da garota à sua frente não eram motivadas por um anseio comum de curiosidade. Se já havia considerado isso, com aquele gesto que ela fez, teve certeza.

— Acha que... — Missy murmurou, deslizando os dedos pela peça em suas mãos com curioso carinho. Sua voz parecia ligeiramente instável. — Outras pessoas apareceram na cidade?

Quando ela perguntou aquilo, havia erguido seu rosto. Tinha a face ligeiramente rosada, e, — talvez fosse mera impressão de Ellie, mas parecia que discretas olheiras obscureciam as áreas orbiculares da menina. — Seus olhos castanhos estavam marejados, encarando-a de um jeito esperançoso. Dolorosamente esperançoso.

— Acho que sim.

A resposta pareceu aquiescer a menina, pelo menos naquele momento. Abaixou a cabeça, devolvendo a peça em suas mãos ao seu lugar. O silêncio entre ambas não era incômodo, mas gerava uma ligeira ansiedade em Ellie.

— Você ainda quer jogar? — Missy indagou, levantando o rosto novamente.

— Acho que nenhuma de nós quer. — Ellie concluiu.

As duas garotas recolheram as peças, devolvendo-as a pequena caixa. Encerrado jogo, Ellie sentou-se no sofá, fazendo menção para que Missy fizesse mesmo — considerando que ela permaneceu de pé, agarrada ao seu jogo e com a cabeça baixa, ficaria ali até que alguém lhe chamasse. Ela se sentou e se agarrou as próprias pernas, e não nenhuma palavra fora trocada entre as duas por um bom tempo.

— Ellie? — Missy a chamou baixinho.

— Hum?

— O mundo lá fora é tão cruel assim?

De início, Ellie não respondeu. Uma resposta sucinta e afirmativa estava na ponta de sua língua, no entanto a conteve, reconsiderando algo melhor para responder.

— O mundo não é cruel. — Disse pausadamente. Antes de prosseguir com sua resposta, vertiginosos vislumbres de lugares e pessoas que passaram em sua vida passaram em sua mente. Sentiu um desconfortável aperto no peito ao recordar-se dos rostos de algumas pessoas que foram próximas, que da mesma maneira abrupta que entraram em sua vida, a deixaram, sem avisos prévios. — As pessoas nele que são.

Mais uma vez o silêncio se instalou entre as duas, embora não fosse desconfortável ou incomodo de alguma maneira para ambas. Missy bocejou algumas vezes, e sempre tentava disfarçar levando a palma à boca. Ellie percebeu que, pela postura curvada, os ombros caídos e os olhos com olheiras visíveis demais para uma criança, mais alguém deveria ter tido uma noite de sono nada agradável.

— Ei, — Ellie a chamou. — Dorme aí.

— Eu posso? — Missy perguntou, como quem pergunta na intensidade esperançosa de eu posso mesmo fazer isso?

— Você não foi a única que teve uma noite ruim. Não se preocupa, pode dormir.

* * *

Com Missy dormindo, Ellie decidiu continuar suas descobertas no pequeno cômodo. Deixando o diário para ler mais tarde, optou por vasculhar outras coisas. Encontrou uma pasta azul abarrotada de papéis — pelo conteúdo que transbordava pelas beiras, notou que eram jornais, algumas folhas com escritos e outros documentos com símbolos que pareciam ser importantes. Levou a pasta consigo para o andar de baixo.

Sentando-se ao lado de Missy — Encolhida, já suspirava profundamente. Parecia ainda menor naquele jeito. —, abriu a velha pasta e se deparou com recortes de jornal com notícias que abordavam principalmente a infecção em seu início. Havia também fotos, velhas fotografias que considerou ver depois o que retratavam.

Folheando os papéis, percebeu que as manchetes seguiam uma ordem — os primeiros recortes traziam informes sobre a infecção no que parecia ser seu estado já incontrolável, com o primeiro noticiando uma taxa altíssima de pessoas doentes no sul do país. Em seguida, outro pedaço de jornal informava que uma cidade em Ohio estava em estado de quarentena. Outro dizia que uma doença misteriosa preocupava os dirigentes da OMS — Aquela sigla lhe era familiar, embora não recordasse seu significado no momento. — Começava a se espalhar rapidamente nos centros urbanos. “Doença misteriosa causa histeria em algumas cidades da Pensilvânia”, dizia mais um. E os recortes seguintes pararam de informar sobre a infecção, trazendo notícias acerca de ‘eleições presidenciais’ e outras coisas que não faziam muito sentido.

Era estranho e curioso ler algo sobre o mundo antes da infecção. Para Ellie, o mundo anterior àquele que vivia parecia, por vezes, irreal. Houvera um tempo onde as pessoas pareciam ter tudo, e, no entanto, aquele tudo de nada serviu para evitar a calamidade do mundo de agora. E ali estava ela, uma sobrevivente num mundo que deveria ser a consequência de algo impensado. Teria alguém a noção de que aquilo poderia acontecer? Se alguém tivesse, provavelmente negligenciou a possibilidade.

Aquelas ponderações acerca do mundo de antes, das pessoas de antes tinha uma carga um tanto quanto melancólica para Ellie. Olhou para a pequena garota que estava imersa em um sono profundo — Missy respirava devagar, com os lábios entreabertos e os olhos agitados. Parecia dizer algo enquanto dormia, mas nenhum som escapava de sua boca.

Ligeiras e discretas batidas contra a porta ecoaram novamente. Ellie se dirigiu a entrada da casa com passos rápidos, para que quem quer que fosse, não tivesse que bater novamente, e assim aumentar a possiblidade de acordar Missy com o barulho. Ao abrir a porta, se deparou com Hansel, vestindo um grosso casaco militar e um boné. Trazia consigo um semblante notoriamente cansado, e preocupado.

— Hey Ellie. — Hansel a saudou com um sorriso rápido. — Missy está aqui?

— Está. Lá na sala.

Ellie o levou até a sala, indicando onde a garota estava, num sono profundo. Quando a viu, Hansel esboçou um sorriso discreto, embora parecesse um tanto... triste.

— Essa garota não ‘toma tento’ mesmo. — Comentou, soltando um suspiro cansado. — Desculpe por isso. Ultimamente ela não anda dormindo muito bem.

— Tudo bem, não tem problema.

Hansel sentou-se ao lado da irmã, tomando cuidado para que ela não despertasse com sua aproximação. Fitou-a por alguns instantes, e então aproximou lentamente sua mão em direção ao rosto da menina, e entre delicadas carícias com a ponta dos dedos, afastava algumas mechas de seu cabelo que caíam sobre seu rosto. Vê-los ali, naquele momento de pura e simplesmente afetuosidade, Ellie sentiu-se uma completa intrusa. Cogitou se retirar do cômodo, pois deixá-los a sós parecia a coisa certa a se fazer no momento. Quando abriu a boca para comentar que ia até a cozinha fazer alguma coisa, Hansel voltou-se para Ellie e se adiantou:

— Escute, Ellie — Falou baixinho, com cuidado para que não despertasse a irmã ao seu lado. —, sei que minha irmã veio até aqui com o pretexto de jogar com você, e eu não duvido que em partes tenha sido por isso. Mas eu a conheço, e sei que ela não viria até aqui somente para ‘umas’ partidas de xadrez, não com alguém que ela acabou de conhecer. Ela lhe fez algum tipo de pergunta?

— Bem... sim.

Ah, droga. — Reclamou consigo mesmo, crispando os lábios ligeiramente. — Ela foi muito inconveniente?

— Não. Ela só me perguntou sobre como era lá fora. As cidades grandes, essas coisas.

— Ainda bem. — Pausou brevemente, como se estivesse escolhendo as palavras certas para dar continuidade ao que desejava falar. — Sabe, apesar dela ser bem quietinha perto de quem não conhece, mas não hesita quando o assunto é algum estranho na cidade. Ou qualquer pessoa que tenha andado pelo país mais do que a gente.

Ellie assentiu. A ideia de sair dali naquele instante de repente pareceu ser desnecessária. Sentou-se na poltrona, e, interrompendo o silêncio, perguntou:

— Não é só por curiosidade — Disse lentamente, tomando cuidado para que não parecesse inconvenientemente incisiva. —, não é?

Ellie gostaria apenas de entender o lado de Missy, mas temia acabar se apresentando como uma intrusa. Hansel a fitou por alguns instantes, e não parecia incomodado ou irritado com a pergunta que lhe fora feita, o que diminui consideravelmente o temor de Ellie.

— Não. — Respondeu por fim. — Sério, me desculpe por ela ter vindo aqui, te perguntado um monte de coisas e ainda dormir na sua casa. É só que... — As palavras soaram como um lamento profundo. — Missy é o tipo de pessoa que tem esperanças demais para o mundo que vivemos.

— ‘Tem problema nenhum, de verdade. E ela é criança, acho que isso é meio natural. — Ellie comentou, compreensiva. — Mas ela está esperando por alguém. — As palavras não eram inquisitivas, e sim de valor afirmativo. Embora sua última sentença tenha soado um pouco dura, não era sua intenção. O que Ellie disse era para ser algo próximo de um aviso, ou melhor, um lembrete sutil, de que aquela menina nutria esperanças que, naquele mundo, não se sustentavam em bases sólidas, e nem deveriam ser alimentadas. Caso contrário, a realidade cairia como chumbo sobre os ombros da garota, e ela não aparentava ser do tipo que suportaria aquele tipo de realidade; a desilusão.

Hansel não disse nada no momento. Abaixou a cabeça, encarando o chão. Tudo pareceu silencioso naquele ínterim; era possível ouvir, muito discretamente, os suspiros profundos de Missy. Ellie a olhou, e viu que as pálpebras da garota estavam ainda mais agitadas. Esperava que ela estivesse ao menos em um bom sonho, embora considerasse mais a possibilidade oposta.

— Está. — Hansel enfim proferiu, e Ellie voltou sua atenção para ele. Ele a encarava de uma maneira dolorosamente triste. De relance, Ellie vislumbrou em seu rosto um ar de desamparo, como se, de um momento para o outro, Hansel se sentisse totalmente perdido. Ele respirou fundo, como se se preparasse para dizer as palavras conseguintes. — Ela está esperando pelo nosso pai.

Aquelas palavras acertaram Ellie como um soco no estomago. Sentiu-se tola por não ter assimilado algo do gênero antes, além da culpa que começara a pesar em seus ombros por ter sido tão intrometida, fazendo com que Hansel tivesse que dizer em voz alta algo que doía muito mais nele no que na irmã.

— Eu nunca teria coragem de contar a ela. — O rapaz continuou, desta vez com a cabeça baixa. — Sou um idiota covarde.

A maneira como Hansel dizia aquelas palavras parecia mais como uma confissão há muito tempo resguardada dentro de si. Ellie acreditava que era a primeira vez que ele comentava sobre aquilo, e de certa forma, sentiu-se na obrigação de ajuda-lo, de contribuir de alguma maneira para abrandar o que ele sentia. Não sabia o que dizer, no entanto.

— Me desculpe por isso. — Hansel murmurou, erguendo o rosto e tentando sorrir. — Ninguém merece ouvir essas coisas logo depois de chegar na cidade na esperança de uma folga dessas tragédias todas. — Riu, embora de um jeito melancólico.

— Não tem problema. — Ellie garantiu. Se não podia ajudar dizendo algo, sabia que escutar a outrem também era um grande auxilio. — Acho que a gente precisa botar algumas coisas ‘pra’ fora algum momento.

Hansel anuiu, sorrindo levemente.

— Acho que vou levar a Bela Adormecida aqui. — Disse, desta vez com a voz mais estável. Apontou para Missy com o polegar. — Sabe, fazia tempo que eu não a via dormir tão bem quanto aparenta agora. Mas ela tem uma casa, e seria muito mais educado ela dormir nela.

— Não tem problema de ela ficar aqui. — Ellie se adiantou. E era verdade; não se incomodava de maneira alguma. — Sério, ela pode ficar aqui até acordar, se você quiser.

— Agradeço a proposta. Mas acho que nós dois já fomos inconvenientes demais por um único dia.

Ellie iria retorquir prontamente, entretanto Hansel se adiantou, levantando-se e, com excessiva vênia, pegou Missy no colo, ajeitando-a em seus braços. A garota se remexeu um pouco no colo do irmão, porém não demonstrou sinais de que despertaria naquele momento.

Ellie se pôs de pé, caminhando até a saída para abrir a porta para Hansel. Ela se sentia ligeiramente mal por ele estar levando-a, achando que era uma inconveniência Missy dormir ali. Realmente não se importava, nem um pouco. Reconheceu, todavia, que se voltasse a insistir, ele manteria a mesma opinião.

Despediram-se brevemente, e Hansel mais uma vez pediu desculpas pelo inconveniente. Ellie nada disse, ciente de que independente do quanto ela reforçasse de que não fora incomodo algum, ele não concordaria. Quando ele já estava há alguns poucos metros da casa de Ellie, Hansel se virou, chamando a garota, que estava prestes a fechar a porta.

— Ei, Ellie.

Ela se virou para encará-lo.

— Obrigado.

— Não tem de quê.

Hansel sorriu mais uma vez, e então virou-se, indo embora.

Naquele momento, uma sutil relação entre os dois tinha se firmado — por um lado, tanto Missy quanto Hansel segredaram particularidades suas para Ellie. E se os dois irmãos se inclinaram em confidenciar a ela sem razões aparentes para tal, ela sabia o que aquilo significava; eles confiavam nela. E, mesmo Ellie estando ciente que confiança era algo arriscado naquele mundo, sabia que, naquele garoto, o sentimento seria reciproco.

Em muito tempo, Ellie sentiu que ganhara um amigo.


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Notas finais do capítulo

YEAH, finalmente tirando a poeira da fic! Gostaram? Espero que sim :B
E até mais, pessoal!

o/



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