Correntes de Andrômeda escrita por Virgo


Capítulo 8
Livre


Notas iniciais do capítulo

Estou dormindo dentro do ônibus e não é legal :( Não recomendo, é muito ruim, principalmente quando tá lotado e parece que as suas costas viram pecinhas de LEGO que foi montada errada :( Sério... Não durmam no busão.
Enfim. Vou tentar manter a constância prometida no início, mas esta fic ainda vive com a ameaça do famoso HIATUS, ou seja, não estranhem sumiços :P
Bem, eu me esforcei bastante com esse cap, porque até agora eu acho que foi o mais difícil de passar pro "papel" já eu tinha a ideia, só não tinha ideia de como começaria a transcrever. O resultado é esse e espero que tenham uma boa leitura :)



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A vida como escravo jamais seria fácil. O difícil para muitos seria dizer o que era pior, ser um gladiador ou ser um mero escravo doméstico. Pobres almas. Mil vezes o escravo doméstico, cuja liberdade pode ser readquirida, do que um gladiador, cuja vida pode se limitar a um único dia.

Estranhamente a voz demorou para aparecer em seus sonhos, o que era muito estranho, ela estava sempre lá. Será que isso tinha alguma relação com a partida de sua sobrinha? Bem... No momento isso não lhe importava tanto.

Foi surpreendente ver o rei etíope visitar os gladiadores antes de outro espetáculo, mais surpreendente foi vê-lo afirmar que desejava comprar alguns dos gladiadores e entregar uma grande soma ao dono, Telemaco, antes de começar a procurar as mercadorias de seu interesse.

A atenção de Argos e Andrômeda não se manteve com o rei após esse fato curioso, agora eles apenas conversavam de coisas banais e o rei continuava caminhando a procura de seus novos pertences.

¬ Eu quero aqueles. - a voz do rei reboou de forma estranha, atraindo a atenção dos dois.

Quando se deram conta do que estava ocorrendo, já estavam sendo acorrentados a liteira do rei e rumavam para o palácio de Esparta. Estavam confusos e não paravam de procurar respostas no olhar um do outro, mas estavam completamente perdidos. A solução era esperar que o amanhã chegasse, e com ele a boa sorte.

Alguns dias mais tarde, ao amanhecer, foram presos juntos com outros escravos e animais ao convés do navio etíope. Uma linda embarcação de boca larga com grandes velas de lona colorida, atravessava a água como uma faca em brasa e nada no mundo parecia capaz de pará-la, nem mesmo piratas, que deviam temê-la justamente por pertencer a um reino tão poderoso.

¬ Já viajou assim? - perguntou Argos depois de um longo tempo em silencio, a voz um tanto rouca pelo desuso.

¬ Sempre caminhei. - respondeu. - Mas tenho certeza de que poderia aproveitar mais essa viagem se estivesse solta. - o comentário fez o outro rir.

¬ Não se preocupe. - disse confiante. - Logo não teremos mais correntes nos prendendo.

¬ Espero que esteja certo nesse caso.

Dias vinham e dias iam. O clima não ajudou muito nos primeiros dias de viagem, mas agora a maré estava alta o suficiente, se continuassem a tirar proveito dela e do forte vento do norte, que enfunou rapidamente as velas, logo chegariam ao seu destino.

Navegaram pela costa para o sul, mantendo a margem a cerca de um quilômetro e meio a bombordo. O sol cintilava nas ondas azul acinzentadas e a brisa quente tocava seus cabelos. Só que Andrômeda não conseguia relaxar, e mesmo que estivesse solta, ela não conseguiria.

Tinham alcançado um ponto logo ao sul da ilha de Creta, quando aconteceu. Avançaram mar adentro para tirar o máximo de vantagem do vento, e a água tinha se tornado mais escura e revolta. O sol mergulhava na direção do poente e não se podia ver qualquer coisa sem que se mantivesse os olhos semicerrados. Os marinheiros jogavam uma barquilha a estibordo para medir a velocidade, e ambos, Argos e Andrômeda, os observavam como podiam.

Depois, não saberiam dizer o que lhes atraíra a atenção. Talvez uma ave marinha, mergulhando ao longo da lateral do navio, tenha atraído seus olhares. Mas não era uma ave. Era uma vela. Duas velas. Duas galeras de alto-mar, saindo do sol, pegando-os de surpresa e já encima deles. Os corsários haviam emparelhado quase antes de o capitão ter tido tempo de chamar a tripulação às armas e aos postos de combate. Os piratas jogaram arpéus presos a cordas sobre a lateral do navio e logo subiram a bordo, ao mesmo tempo em que Eri – até então no mais completo silencio e calma – mordia as cordas de Argos e as de Andrômeda logo em seguida. Felizmente, logo os dois estavam armados, a morena com correntes enroladas nos braços, abrindo caminho através dos marinheiros berberes.

Saltaram para o meio da confusão, e a sua volta percebeu o familiar estrépito de armas e o já presente cheiro de sangue. Um incêndio havia começado adiante, e o vento, que escolhera aquele momento para rondar, agora ameaçava arrastá-lo em direção à popa por toda a extensão do navio. Andrômeda gritava para que dois marinheiros pegassem baldes e fossem até o reservatório de água do navio. Naquele momento, um pirata atirou-se do cordame para os ombros dela.

¬ ERI!! KEN!!

Logo o cão havia pulado na direção do pirata sobre o comando de Argos. Os dois só tiveram tempo de recuar para permitir que o corpo que ainda caía passasse por eles e desabasse no convés com o enorme cão o destroçando antes de arrumar outras vitimas.

¬ Encham depressa e apaguem as chamas antes que se espalhem! - berrava o rapaz em etíope. - Perderemos o navio se as chamas atingirem o casco!

Abriram caminho a golpes de gladio e cimitarra por entre seis ou sete berberes que haviam corrido em sua direção, já percebendo que eram as únicas pessoas a bordo a serem detidas para que o ataque deles fosse bem-sucedido. Agora, até mesmo o capitão corsário, um brutamontes com uma cimitarra em cada mão, tentava derrubá-los.

¬ Rendam-se, cães de Esparta. - rosnou o homem.

¬ Seu primeiro erro. - retrucou Andrômeda. - Nunca insulte uma ateniense confundindo-a com uma espartana.

A resposta do capitão pirata foi desferir um golpe brutal com a mão esquerda armada zumbindo na direção da cabeça de Andrômeda, que o aguardava, logo erguendo o braço esquerdo e deixando que a lâmina deslizasse inofensivamente pela extensão dos grilhões ali enroscados até o vazio. O capitão não esperava aquilo e se desequilibrou. Andrômeda lhe deu uma rasteira e o arremessou de cabeça no reservatório do porão abaixo.

¬ Melhor aprender a nadar. - disse Argos vendo o pirata gorgolejar desesperado.

Com o canto do olho, viram que os marinheiros tinham conseguido baixar os baldes com as cordas para o reservatório e, agora, com mais companheiros que tinham se juntado para ajudar, equipados do mesmo modo, começaram a controlar o incêndio.

A luta mais feroz, porém, tinha se concentrado na parte de trás do navio, e ali os etíopes estavam levando a pior. Argos percebeu que os berberes não queriam que o navio se incendiasse, pois o perderiam como posse no futuro; portanto, estavam deixando que os marinheiros continuassem a apagar as chamas enquanto se concentravam na tomada do navio.

Estavam em uma grande desvantagem numérica, e o rapaz sabia que os tripulantes etíopes, por mais corajosos que fossem, não eram combatentes treinados. Dirigiu-se às chamas e arrancou um pedaço da amurada, transformando-a em uma tocha. Jogou-a com toda a força no mais distante dos dois barcos berberes que permaneciam lado a lado. Andrômeda não demorou para compreender seu intuito e repetiu o gesto. Quando os berberes a bordo se deram conta do que estava acontecendo, cada um de seus navios estava em chamas.

Foi um risco calculado, mas valeu a pena. Em vez de lutar pelo controle de sua presa, e percebendo que o capitão não estava em qualquer lugar à vista, os piratas entraram em pânico e recuaram para a amurada ao mesmo tempo que os etíopes, enchendo-se de ânimo, renovaram os próprios esforços e lançaram um contra-ataque, investindo com paus, espadas, machadinhas, cimitarras e o que mais estivesse à mão.

Algum tempo depois, finalmente os deuses pareciam lhes sorrir. Tinham empurrado os berberes de volta aos seus próprios navios e se afastaram, cortando as cordas dos ganchos com machados e usando estacas para empurrar para longe as galeras em chamas. O capitão etíope vociferou um grande número de ordens rápidas, e, em pouco tempo, o navio estava livre. Assim que a ordem foi restabelecida, a tripulação se dedicou a limpar o sangue dos conveses e empilhar os corpos dos mortos. Andrômeda não achava tal ato o dos melhores, no entanto, sabia que era contra a religião deles jogar um cadáver no mar.

O capitão berbere era um amontoado encharcado e foi içado do reservatório. Ele ficou no convés, desprezível e gotejante para ser jogado ao mar pouco depois. O respeito se limita ao sangue.

¬ É melhor mandar desinfetar aquela água. - comentou com Argos enquanto voltavam para junto dos escravos e animais sobreviventes.

¬ Temos água potável suficiente para as necessidades de todos... Ela vai durar até a Etiópia. - respondeu se sentando.

Logo seus olhares foram novamente atraídos. Dessa vez não era nenhuma vela ou ave, mas sim ricas vestes adornadas com maravilhosas joias e dois marinheiros bem armados para protegê-las, se aproximavam calmamente. Não conseguiram deixar de se perguntar o que desejava o rei entre os escravos, tinham suas teorias, mas esperavam que todas estivessem erradas.

¬ Os dois. Levantem-se. - obedeceram, sabiam que eram para si aquelas ordens, mais nenhum outro escravo poderia se levantar amarrado como estava. - Quem são de verdade?

Se entreolharam por um instante. Se nem mesmo eles se conheciam em sua totalidade, como poderia o rei etíope querer conhecer? Mas abandonaram tais pensamentos, concluindo que o melhor seria responder ao soberano.

¬ Somos humildes viajantes que por truques e graças do destino acabaram terminando neste navio como escravos. - pronunciou-se Argos ainda na língua mãe da Etiópia. - Mas nossos nomes no momento não importam, meu senhor. Um escravo não tem voz e nem vontade, nossos nomes realmente não tem valor.

¬ Seus nomes me tem valor. - rebateu o soberano. - Ainda mais agora que salvaram meu navio, minha tripulação e minha vida. Como posso agradecer e recompensar pessoas das quais desconheço nome e origem?

¬ Eu sou Argos de Delphos. E esta é Andrômeda de Atenas. - respondeu depois de um curto tempo. - Mas se me permitir questionar, meu senhor, porque desejas tanto saber nossos nomes?

¬ Porque como os farei parte de minha corte sem saber vossos nomes?

Argos entrou em choque, esperava por muitas respostas possíveis, menos aquela. Andrômeda, por outro lado, sentia-se perdida, só sabia que o assunto devia ser muito sério pela forma com que o rapaz se comportou durante o dialogo e, tinha de admitir, estava bastante curiosa para saber do que se tratava.

¬ Desculpe, meu senhor. - disse Argos. - Mas eu não entendo. Não merecemos tanto por ter apenas feito hoje o que sempre acreditamos ser o certo.

¬ Eu não comprei vocês por nada e nem dou tamanha honra por nada. - explicou o rei. - Somente os deuses entenderão minhas reais razões, talvez eles próprios sejam os árbitros de minhas escolhas, mas eu quero e vou torná-los membros de minha corte. - o rei chamou um tripulante e o capitão, dispensou-lhes algumas ordens e logo prosseguiu. - Sigam este rapaz até seus novos aposentos, lavem-se e vistam-se. Merecem depois do trabalho que tiveram. - e se retirou, provavelmente para seus aposentos particulares.

Argos ainda se sentia perdido quando segurou o pulso de Andrômeda e começou a guiá-la pelo navio, apenas seguindo o tripulante ordenado pelo rei.

¬ Argos. - chamou a morena. - O que houve? O que o rei falou?

Argos a olhou completamente perdido, abrindo e fechando a boca sem sair som algum, não sabia o que dizer. Ele parecia esperar e não esperar por aquilo, e essa confusão se refletia em seu olhar.

¬ Ah... E-Estamos... - a demora do rapaz em dizer o que acontecia em definitivo estava deixando-a cada vez mais aflita. - Livres... Estamos livres...

Andrômeda ficou muda e nem mais conseguia pensar direito. Depois de longos meses estava livre? Livre mesmo? A perspectiva lhe agradou de tal forma, que ela só conseguiu sorrir pelo resto do dia.

Conseguiu ver o que seria uma bela mulher antes de acordar. Pena que ela estava muito distante, impedindo-o de contemplar sua beleza como se devia.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)
E até a próxima vez em que os estudos me largarem :)

Bjs. L :3



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