Correntes de Andrômeda escrita por Virgo


Capítulo 6
Rei


Notas iniciais do capítulo

Gente... Desculpe a demora absurda... É que eu comecei o meu cursinho pré-vestibular e, não vou mentir, tá muito difícil. Eu mal paro em casa! Eu não vou abandonar nenhuma fic minha, eu vou conclui-la de qualquer jeito, mas eu não garanto uma constância tão grande quanto eu tinha antes, ou seja, a fic, infelizmente, vai ficar em Hiatus (algo que eu nunca pensei em fazer na vida) por necessidade, porque eu realmente não tenho muito tempo para relaxar, escrever, ler, ver filme, eu não tenho tempo.
Bem... Eu peço desculpas pelas coisas ficarem apertadas, mas espero estar sempre os compensando com capítulos dignos da espera.
Enfim. Tenham uma boa leitura :)



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Um reino forte possui um comercio forte, um exercito forte, um líder forte e um povo forte, porém, o reino é somente dado como forte e poderoso quando ele passa a ter aliados poderosos, reinos tão fortes e poderosos quanto ele próprio.

A voz estava meio entediada, ela não parecia tão entusiasma, na verdade, ela nunca ficou entusiasmada, mas parecia era bastante desinteressada. O que deixava-o um tanto agoniado, porque ao contrario da voz, ele queria muito saber o que acontecia.

Cada cidade grega possuía aliados fortes, muitas tinham alianças entre si, pois, apesar de falarem o mesmo idioma e constituírem o mesmo povo, elas viviam em constante disputa e guerra. As maiores disputas eram travadas entre Esparta, uma cidade cuja população vivia para a guerra, e Atenas, uma cidade cuja população se dedicava ao conhecimento. Ambas possuíam aliados poderosos, mas o maior aliado pertencia à Esparta.

O reino da Etiópia era um reino unificado de grande poder e, certamente, o aliado mais cobiçado. Muitas outras cidades desejavam ter alianças com a Etiópia, no entanto, o rei etíope jamais romperia sua ligação com Esparta, ainda mais por possuir laços de sangue com alguns membros de sua nobreza.

Uma aliança tão forte precisava ser reforçada a cada mudança de estação e para isso os reis sempre organizavam grandiosas festas regadas a vinho, música, teatro e bacantes.

Naquele dia em especial o convidado era o rei etíope, que estava deveras ansioso para desfrutar da festa organizada por seu primo, o rei espartano, mas ainda faltava muito tempo para que as festividades fossem estreadas. Logo o rei decidiu se divertir junto da plebe, mesmo que fosse de uma forma que ele não compreendesse direito.

Um grande estrondo de címbalos e uma fanfarra de trombetas anunciaram que as lutas na arena iam começar. Em todo o anfiteatro, houve um silêncio súbito e um espichar de pescoços. Mais uma vez as trombetas soaram. As portas duplas do outro lado se abriram e, de seus abrigos subterrâneos, uma fila dupla de gladiadores veio marchando para a arena, alguns portando as armas que mais tarde usariam no espetáculo ou simplesmente de mãos nuas.

Gritos e mais gritos saudaram seu surgimento. Aquele era um lote bastante bom, bom demais, embora provavelmente fossem todos escravos.

O rei etíope era um tanto herege no que dizia respeito às apresentações na arena. Gostava bastante de assistir às exibições de feras ou às lutas combinadas quando benfeitas, mas pôr homens e mulheres, ainda que escravos, para lutar até a morte para a diversão do público lhe parecia um desperdício.

Nisso os escravos pararam diante da plateia e, nos poucos instantes em que ali ficaram, toda a atenção do rei foi atraída para os favoritos: a mulher conhecida como Persa e o homem, sempre acompanhado de um cão, conhecido como Lupos.

¬ Eles estão cansados... - dizia o rei para o vento. - Cansados... cansados...

Uma vintena de armas relampejou na luz invernal quando, com um grito, foram jogadas para o alto e recuperadas, e os gladiadores giraram e fizeram a grande curva que levava de volta ao ponto de partida. Mas o olhar que vira nos olhos dos favoritos ficaram com o rei.

O primeiro item do programa era uma luta entre lobos e um urso marrom. O urso não queria lutar e foi forçado ao combate pelos chicotes compridos dos auxiliadores. Finalmente, entre os berros da plateia, ele foi morto. Seu corpo foi arrastado e, com ele, o corpo dos dois lobos que matara. Os outros animais foram levados de volta para a jaula com rodas até outra ocasião e os auxiliadores espalharam areia limpa sobre o sangue na areia.

O item seguinte era uma luta combinada, com poucos danos além de alguns machucados. Depois uma luta sem armas, apenas cestos pesados nas mãos, que tiraram muito mais sangue do que qualquer outra arma. Veio uma pausa, quando a arena foi limpa mais uma vez e recebeu nova camada de areia; em seguida, uma longa inspiração de expectativa perpassou a multidão.

Outro clamor de trombetas, as portas duplas se abriram novamente e dois personagens saíram, lado a lado, para o imenso vazio da arena. Era a verdadeira atração: uma luta até a morte entre os favoritos.

Um bom mercador de escravos sempre teria como lema: Escravo bom é aquele que traz dinheiro, especialmente se este for um gladiador.

O rei etíope sabia da fama de Persa e Lupos há algum tempo, e sabia que os dois eram os gladiadores mais lucrativos da arena espartana, no entanto, fazia algum tempo que ambos não traziam tantos lucros quanto antes. O povo afirmava que eles vinham estragando as lutas, se recusavam a matar seus oponentes, soltavam os animais, saiam da arena sem lutar, abriam mão de tudo, mas não lutavam mais. Eles se recusavam a continuar fazendo parte daquelas lutas dispares.

À primeira vista, os dois pareciam desigualmente armados, pois enquanto um portava espada e escudo, além de ter um cachorro o acompanhando, a outra só portava correntes enroladas nos braços. Era ridículo acreditar que Persa ganharia.

O rugido que recebeu o par de lutadores transformara-se num sussurro sem fôlego. No centro da arena, os dois gladiadores se posicionaram a cerca de dez passos um do outro, sem vantagem de luz ou de vento para nenhum dos dois. Os dois então jogaram suas armas ao chão, o que surpreendeu um pouco os espectadores.

¬ Eri. - a voz de Lupos reboou pela arena. - Sa.

O cão então se afastou, ficando sentado ao lado das armas que o gladiador descartara.

Por um tempo que pareceu longo, nenhum dos dois se mexeu. Momento após momento e os dois ainda permaneciam imóveis, o centro de todo aquele grande círculo de rostos atentos. Então, bem devagar, Persa começou a se mover. Sem nunca tirar os olhos do adversário, deslizou um pé à frente do outro; agachando-se um pouco e erguendo os braços. Centímetro a centímetro, ela avançou, todos os músculos tensos para pular na hora certa. Lupos continuou parado.

A guerreira parou por um momento longo e excruciante e depois pulou. A luta ficou tão pessoal e tão rápida em tão pouco tempo que nem mesmo ao cosmo eles recorriam, simplesmente se atacavam com os punhos.

A batalha foi dura e cruel, repleta de chutes brutais e socos seguidos pelo som doentio de ossos se quebrando. Durante algum tempo, poderia pender tanto para um lado quanto para o outro; então Persa, com a visão ligeiramente comprometida pelo sangue que agora escorria de sua testa, só pode ver a chegada de golpe que a fez cuspir sangue e dentes, além de cair de joelhos, totalmente desnorteada.

Lupos estava para dar o golpe final quando foi derrubado. A outra ainda estava um tanto desnorteada, mesmo assim conseguiu segurar as pernas de seu oponente e puxá-las, derrubando-o de forma brusca.

Se afastaram ofegantes e cuspindo sangue. Ficaram parados novamente, tornando a luta cada vez mais estratégica do que simplesmente truculenta. Voltaram a se engalfinhar tal como aves que lutam em pleno céu. O guerreiro teve sua mandíbula atingida por um soco poderoso, logo sentiu seu estômago ser acertado por um chute. Estava perdendo, por mais incrível que fosse, estava perdendo e cão ali perto parecia cada vez mais tenso.

A plateia gritava e urrava alucinada. Não era a luta que tanto esperaram, mas estava tão boa quanto o imaginado e até mais interessante.

Persa e Lupos tinham maneiras diferentes de lutar. Os dois eram excepcionais na arte do combate, porém, cada um tinha sua vantagem. A de Lupos era com as armas. E a de Persa era com as mãos nuas. No momento em que Lupos soltou suas armas, a Morte o espreitava.

Suas costelas eram castigadas com socos incessantes. Logo caio, arfando de maneira sofrida. Persa então sentou-se sobre si, tão exausta quanto, mas continuou a acertar-lhe diversos socos, fazendo o sangue jorrar de seus cortes e de seus lábios feridos.

O cão de Lupos estava cada vez mais tenso, nem mais sentado se encontrava. Era contado nos dedos o momento em que o cão avançaria, o dono permitindo ou não; tal fato não demorou a chegar.

O cão havia retirado Persa de cima de seu dono e agora a prendia no chão. O cão era enorme, quase do tamanho de um lobo e com o dobro da força de um; seus dentes e garras pareciam adagas prontas para rasgar tecido, músculos e ligamentos. Não tinha escapatória. Qualquer movimento e o cão rasgava-lhe a face.

Persa apenas tombou a cabeça e virou o rosto, um claro sinal de desistência e de que já aguardava seu encontro com o senhor do reino dos mortos.

¬ Eri! - a voz fraca, mas ainda bastante grave de Lupos soou. - Sa.

O cão se afastou e sentou ao lado do dono, que agora segurava o gladio que descartara antes. Lupos se aproximava da guerreira caída um tanto cambaleante e esta não saia de seu lugar, apenas esperava.

A expectativa calou o público. Aguardavam o derramamento do sangue e a morte daquela mulher como quem aguarda as primeiras palavras de uma criança. Horrível. Para não dizer Desprezível.

O guerreiro então se abaixou e ajudou Persa a se levantar, deixou o gladio em suas mãos e se ajoelhou penitente. O verdadeiro perdedor tinha sido ele, quem merecia o fim era ele.

A multidão voltou a gritar e urrar. Não em protesto pelo verdadeiro vencedor daquela luta, mas sim em aclamação pelo sangue do guerreiro rendido. Degole-o. Degole-o. O desejo do povo, era um desejo dos deuses, um desejo que Persa deveria atender. A guerreira apenas disparou um olhar de desafio para as camadas apinhadas de bancos, para a turba indizivelmente estúpida e sedenta de sangue, e atirou a arma para o lado.

Abaixou-se para sustentar seu oponente, destruiu as portas duplas de madeira com um chute e saio da arena, o levando sobre os ombros de volta ao ventre da terra. O povo ficou chocado por algum tempo, mas logo começou a clamar o feito desafiador dos guerreiros.

¬ PERSA, A PIEDOSA!! - bradavam – LUPOS, O JUSTO!!

O rei etíope respirou fundo e relaxou. Não ousou olhar novamente para arena. Acabara de testemunhar a vergonha de dois guerreiros, e à isso ele não tinha o direito.

Naquela noite, após as festividades, enquanto jogava Senet – um jogo de tabuleiro trazido do Egito – o rei etíope perguntou ao seu primo, o rei espartano:

¬ Sei que os criados lhe contaram de minhas andanças, então sabes tudo o que acontecera em meu dia. - expressou-se. - E por isso eu quero lhe perguntar, meu primo, o que acontecerá com aqueles gladiadores?

O rei espartano moveu uma peça de marfim depois da devida consideração.

¬ Os favoritos você diz? Provavelmente serão vendidos ou mortos de alguma forma. - explicou. - O povo pode amá-los o quanto for, mas seus donos não vão gostar de ver quanto dinheiro perderam em uma única luta.

¬ Era o que eu pensava. - disse o rei, erguendo os olhos antes do próximo movimento. - Qual é o preço por aqui? 3 Mil dracmas seriam o bastante para comprá-los?

¬ É bem provável. Por quê?

O rei sorriu e moveu a última peça, derrotando seu adversário e primo.

¬ Pois pretendo fazer algumas aquisições ao meu palácio.

Um sorriso radiante e uma risada melodiosa foi tudo o que ouviu e viu antes de acordar para mais um dia.


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Notas finais do capítulo

Para quem não sabe: Címbalo - http://mlb-d2-p.mlstatic.com/6840-MLB5111611513_092013-O.jpg - e Cestos - http://3.bp.blogspot.com/-nwTHvZ4a4X4/TlRWIzgFkII/AAAAAAAAAS8/XsuoPgtygns/s1600/011%25282%2529.jpg
Então... Até quando der e espero que tenham gostado :)

Bjs. L :3



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