Correntes de Andrômeda escrita por Virgo


Capítulo 3
Viajantes


Notas iniciais do capítulo

Eu já desisti do meu cérebro... ¬¬
Tenham uma boa leitura ;)



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Você se lembra do que foi dito naquela noite triste? Você lembra das lágrimas derramadas? Você lembra da promessa feita e que é mantida até hoje?

Mais uma vez a voz se fez presente, estava cada vez mais frequente ouvi-la, no entanto, ela estava mais tristonha dessa vez. O que mais o surpreendia naquela voz, era que suas palavras se tornavam realidades.

Estavam sozinhos no mundo. Irmão e irmã. Ave e donzela. Perdidos, abandonados e esquecidos. Nem homens e nem deuses viam seu sofrimento. Seus pais faleceram de cólera e não havia mais razões de ficarem naquela casa contaminada pela doença. Não tinha mais porque teimar em ficar no lugar que um dia chamaram de lar e que agora estava destruído pro um monstro invisível.

A garotinha seguia o irmão entre soluços, mal conseguia ver o caminho por conta da vista embaçada, doía muito deixar o lar, doía demais deixar tudo o que amava. O garoto segurava a mão pequena com firmeza, seus passos também eram firmes, sua postura era firme. Ele estava tentando se manter forte. Ele tentava ser forte pela irmã.

¬ Irmão... - chamou chorosa. - Para onde iremos?

¬ Não sei. - o tom era pesado. - Somente iremos.

¬ Mas eu não quero ir... Essa é nossa casa... Não quero ir embora...

Ela parou no meio do caminho, como uma forma de se rebelar contra a decisão do irmão. Este, por sua vez, suspirou e voltou para de junto da irmã, abraçando-a como se temesse que ela fosse sumir.

¬ Aquele não é mais nosso lar, Andrômeda. - sentiu algo molhar seu vestido, o que seria isso? - Nossa casa foi tomada pela doença e todas as casas ao redor também. Nossa casa se tornou foco de uma doença, não podemos mais ficar lá. Não podemos nos arriscar a ficar doentes. Não podemos nos arriscar a ficar sozinhos. - ele estreitou ainda mais o abraço.

¬ E para onde iremos então? - não conseguia parar de chorar, a ideia de perder o irmão fazia o peito doer ainda mais.

¬ Não sei. - respondeu. - Mas enquanto tivermos um ao outro, teremos um lar para onde voltar, não importa onde estejamos, nosso lar é um ao outro.

¬ Só nós? - como poderiam sobreviver sozinhos?

¬ Só nós. - respondeu. - Ao menos até que possamos forjar nossas próprias correntes.

O menino segurou sua mão e voltou a guiá-la pelas ruas pobres da gloriosa cidade em que viviam. Ainda chorava, porém, o irmão disse algo que ela não conseguiu entender.

¬ Que correntes?

Ele estancou no lugar e começou a tremer. A pequena não entendia o motivo do irmão estar tremendo se não estava frio, também não entendia o que era aquela som engasgado que parecia sair da garganta de seu irmão. Passou longos minutos esperando a resposta.

¬ Laertes, nosso pai, dizia que todas as pessoas no mundo são como os elos de uma corrente. - começou a explicar com a voz ainda mais pesada. - Alguns elos são fortes e outros elos são fracos. Os elos então começam a se unir e formar correntes, correntes familiares, correntes de amizade, correntes de irmandade, e muitas outras. Essas correntes vão se unindo através dos elos, ligando tudo e todos, e assim todos os elos, até mesmo os elos fracos, se tornam fortes. - explicou com a voz cada vez mais pesada. - No momento somos dois elos fracos, mas um dia faremos uma corrente, Andrômeda, um dia seremos fortes e teremos um lar novamente.

¬ Vamos ter uma casa nova? - o mais velho confirmou. - Você promete?

O garoto virou-se para a menor, tinha algo em seu rosto, só então a pequena percebeu que eram lágrimas. Estava em choque, nunca antes vira o irmão chorar, ele sempre foi muito forte e corajoso aos seus olhos, mas ali estava ele, chorando como a criança que ainda era.

¬ Eu prometo lhe proteger, Andrômeda. - o olhar dele era perfurante. - Mas só você pode construir sua nova casa, só você pode forjar as suas correntes, assim como eu forjarei a minha. - ele segurou a mão da pequena. - Mas eu juro, pelo sangue de Atena, jamais quebrar a nossa corrente, a corrente pequena que nos une como família. Eu sempre vou estar com você.

A pequena pulou nos braços do irmão. Abraçando-o com toda a força que tinha, estava dominada pelo medo de perdê-lo e pelo carinho que tinha pelo mesmo.

¬ Eu também sempre estarei com você, Phoenix.

Desde então a vida deles foi assim. Os irmãos eram muito unidos, não importava a distancia e nem quão ruim fossem os tempos, eles só desejavam ficar juntos novamente. Eram uma família e tal como uma família, eles desejavam estar sempre juntos, porém, a necessidade exigiu uma separação. Ficaram separados por anos, cada um traçou seu caminho e seguiu por ele, mas o destino quis uni-los novamente e os meses que se seguiram foram-lhes os mais felizes.

No entanto, a corrente havia sido quebrada. Seu irmão havia morrido de uma maneira um tanto egoísta. Ele morreu porque aquele que amava estava morto e assim morreu para ficar com ele, mas esqueceu-se da irmã que tanto o amava. Por um tempo ela sentiu ódio e muita tristeza, o irmão não tinha o direito de abandoná-la daquela forma depois do que prometeu, mas com o tempo compreendeu que se fosse para ver o corpo do irmão viver enquanto alma e coração estavam mortos, foi melhor que ele tivesse morrido mesmo. Sabia o quanto o irmão amava aquela pessoa, nunca a conheceu, mas para o irmão amá-la tanto não era qualquer um e ele merecia continuar ao lado dessa pessoa.

Abandonou o lugar em que viveu todos esses anos. Abandonou o lugar onde forjou suas correntes. Abandonou tudo por saber que não mais se sentia em casa, não mais possuía um lar, e precisa encontrar um novo. Agora era uma viajante, uma nômade em busca de um lugar onde se assentar.

Vivia como mercenária, não gostava disso, ainda mais depois de ter servido uma deusa e por não gostar de fazer uso da violência, culpava a violência de todas as desgraças que ocorrera ao irmão, mas era assim que conseguia se manter e seguir com sua busca. No momento estava indo de Tirinto para Micenas, havia escutado que um grupo de ladrões estava atormentando os fazendeiros e que eles estavam pagando um bom preço para quem desse um jeito neles.

Começou a ouvir alguns latidos, logo estava em um trecho da estrada em que havia uma encruzilhada e bem no meio dela havia um cachorro bem grande rodeando um rapaz, este estudava um pequeno mapa. O rapaz possuía uma aparência singela e carregava uma única sacola do ombro.

¬ Eri. - chamou o rapaz ao que o cão atendeu. - Sa.

O cão se silenciou e sentou-se do lado esquerdo do dono, ao menos presumia que fosse o dono. Não demorou muito até que o cachorro a notasse e começasse a rosnar baixo, o que atraio a atenção do rapaz.

Se assustou ao mirar-lhe os olhos de ametista. Eles eram muito semelhantes ao do irmão, o que é muito raro de se encontrar, poucas pessoas tinham aquele olhar. O olhar de quem viu muita coisa ruim, mas que ainda possuía um bom coração. O rapaz lhe sorriu aliviado.

¬ Eri. Shizuka. - o cão parou de rosnar na hora, ficando visivelmente mais calma. - Desculpe o meu cachorro, ele é muito desconfiado.

¬ Tudo bem. - respondeu.

¬ Eu não quero atrapalhar seu caminho, pois vejo que é uma viajante no mínimo atarefada, mas eu não consigo entender esse mapa velho. - continuou. - Poderia, por favor, indicar-me em que direção fica Argos?

¬ Siga a estrada do Leste. - apontou para estrada. - Em dois dias estará em Argos.

O rapaz se levantou, guardou o mapa e tirou uma fruta da sacola, estendendo-a para ela, que ergueu uma sobrancelha em arco, bastante desconfiada do ato.

¬ Por favor. - estendeu um pouco mais. - Pegue. Eu não tenho coisas de muito valor, apenas um pouco de comida, mas gostaria de retribuir o favor, pois é a terceira pessoa a passar por essa estrada e a primeira a me dar atenção.

Pegou a fruta e guardou-a em sua própria sacola. Era um rapaz solidário e que desejava apenas retribuir o favor, mas agora estava curiosa quanto a ele.

¬ Quem é você?

¬ Argos. Argos de Delphos. - ela levantou novamente a sobrancelha. - Eu sei. Eu, Argos, quero ir para Argos. Soa estranho mesmo. - riu um pouco do próprio comentário. - E tu?

¬ Andrômeda de Atenas.

Estendeu-lhe a mão em cumprimento, que foi aceito com um certo receio. Curioso. O rapaz a cumprimentou e por um segundo travou, depois voltou a relaxar e sorriu novamente.

¬ Já tomei muito de seu tempo, Andrômeda. - ele firmou sua sacola no ombro e fez um carinho no cachorro. - Um dia, eu sei, vamos voltar a nos ver, mas até esse dia. Adeus. - acenou e saio andando na direção indicada, sendo seguido de perto pelo cachorro.

Suspirou e deu um pequeno sorriso. Não era o primeiro viajante que encontrava em suas andanças e muito menos o último, mas era o primeiro que lhe deixou intrigada e feliz de alguma forma. Logo imaginou que era besteira, era apenas um viajante como qualquer outro, só era mais educado que o normal.

Dois viajantes, com caminhos tão diferentes e destinos tão iguais.

A última coisa que viu antes de acordar foram olhos de um verde muito vivo e a cauda de um vestido branco.


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Notas finais do capítulo

Agora eu vou demorar um pouquinho pois vou trabalhar em uma outra fic :( Sorry...
Espero que tenham gostado :)

Bjs. L :3



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