Música: Dentro de um Abraço

Banda: Jota Quest

O melhor lugar do mundo

É dentro de um abraço

Pro mais velho

Ou pro mais novo

Pra alguém apaixonado

Alguém medroso

Eu era um cara sozinho. Com meus cabelos pretos e a cara com algumas espinhas que se escondiam na minha barba raspada, eu nunca foi um cara que faz sucesso com as garotas.

Romântico, isso eu era. Mas não adiantava. Sofri bullyng minha vida toda por minha aparência geek. Para piorar tudo, meus pais me abandonaram em um orfanato aos três meses de vida, segundo me dizem.

Minha vida sempre foi triste, mas eu geralmente tento melhorá-la na medida do possível. Quase nunca dá certo.

Um abraço amigo, ou um conforto, ou quem sabe um beijo de amor, tudo isso sempre me fez falta. . .

O melhor lugar do mundo

É dentro de um abraço

Pro solitário ou pro carente

Dentro de um abraço é sempre quente

Mas, no dia em que me formei na faculdade, saí de Indiana, EUA, e fui viver em Veneza, na Itália. Achei que tudo fosse melhorar, construí minha vida na cidade mais romântica do mundo.

Passei a trabalhar em um vinheiro, um lugar bom, excelente, aliás. Meu patrão, o dono do lugar, me deixava degustar dos queijos e vinhos.

Mas foi quando conheci o amor de minha vida, que tudo ficou melhor do que nunca. . .

Tudo o que a gente sofre

Num abraço se dissolve

Tudo o que a gente espera ou sonha

Num abraço a gente encontra

Seu nome era Laura. Aliás, nossos nomes formavam uma harmonia perfeita. John e Laura. Claro, não começamos a namorar de cara.

Lembro quando suas bochechas coravam ao dizer um simples “Oi”. Eu beijava carinhosamente o canto de sua boca, um mero beijinho de três segundos, mas os três melhores segundos da minha vida.

Gostávamos muito de abraço. Vivíamos abraçados, mas quando demos o mais fofo e quentinho deles, aquele foi o momento que eu pensei: “Ela é a mulher certa para mim.”.

Quando nos abraçávamos, o mundo parecia parar. Tudo de ruim que estava acontecendo parecia demolir, os piores momentos da nossa vida se dissolviam em uma única junção de corpos.

No silêncio que se faz

O amor diz compromisso

Oh baby, dentro de um abraço

Tudo mais já está dito

Mesmo que nossos beijinhos de três segundos sempre aconteciam, nunca tínhamos dado um beijo de verdade, porque na verdade não éramos namorados. Não sabíamos direito o que éramos, talvez amigos coloridos.

Mas nosso primeiro beijo de verdade aconteceu no decorrer de um de nossos encontros, ao som de música clássica, torradas e vinho tinto. Laura era linda, radiante e seu sotaque típico da Itália era sexy. Eu falava italiano muito bem, raramente com dificuldade, o que nos facilitava ainda mais.

Quando saímos do bar, ela escorregou e eu a segurei. Estava nervoso por nunca ter passado por aquilo, mas não a beijei. Fiquei suspirando perto de seu rosto, nos aproximamos mais, mas nenhum indício de beijo. Laura, agarrou minhas costas com mais força e me tascou um grande beijo, longo, meio babado, mas foi perfeito.

Eu fiquei seguro e continuei beijando-a forte, mesmo com todos no bar olhando, achando aquilo forçado. Mas, quer saber, dane-se eles.

Aquele não foi meu primeiro beijo de língua, mas com certeza foi o melhor. Mas, aos 23 anos, eu nunca tinha feito sexo. Por mais surreal que fosse.

Perdi minha virgindade naquela noite, no meio de uma enorme cama redonda, com pétalas de rosas vermelhas em torno, à frente, duas taças de champanhe e um pote de morangos com creme.

Foi uma noite agradável, em que eu estava nu, mergulhado em lençóis brancos, na cama de uma garota que eu conhecia há pouco tempo. Mas foi naquele dia que nossa relação andou.

O melhor lugar do mundo

É aqui, é dentro de um abraço

É tudo que não maciou

É tique-taque nos relógios

Se faltar a luz

Fica tudo ainda melhor

Seu rosto contra o peito

Dois corpos num amasso

Os corações batendo juntos

Em descompasso

Eu e Laura saíamos todos os dias após um longo trabalho, nossos abraços, nossas junções de corpos, tudo era perfeito, ou pelo menos quase perfeito.

Seu ex-namorado, Reynaldo, começou a nos perseguir, especialmente a mim. Ele me procurava, para “acertar as contas”.

Reynaldo me procurou. Seus argumentos eram fracos, que pareciam ter saído de um roteiro de filme estilo Bruce Lee. Realmente, foi uma conversa chata, até ele começar a me agredir.

Eu não era bom de briga, e com certeza os filmes do Bruce Lee seriam bem úteis para aquela ocasião. Realmente terminei aqueles cinco minutos, roxo, sangrando, com o nariz quebrado e olhos lacrimejando.

Laura foi me ver no hospital. Eu achava fofo a maneira que ela se preocupava comigo, porque realmente eu era um fracote digno de pena. Ela beijou minha testa dolorida e conversou horas comigo, o que me deixou quase animado. Me contou que Reynaldo foi preso por ter me agredido e também porque já era um foragido da polícia.

Tudo o que a gente sofre

Num abraço se dissolve

Tudo o que a gente espera ou sonha

Num abraço a gente encontra

Após dias internado, fui ver Laura. Estava com algumas marcas roxas no corpo, mas bem melhor.

Nos beijamos e demos um carinhoso abraço, o nosso sinal de amor, que fazia nossos problemas sumirem. Meus lábios caminhavam devagar pelo seu rosto. Dei uma leve mordida em sua orelha. Nos agarramos e demos mais um beijo.

Tiramos a roupa e escrevemos frases de amor com caneta pelo corpo, uma brincadeira infantil, mas bem divertida, que melhorou o clima.

Entramos na banheira completamente nus e colocamos espuma. Mergulhei em meio de sabonete líquido, pétalas de rosas amarelas e sais e banho. Acariciei os lindos cabelos loiros de Laura.

Desde minha chegada na Itália, eu estava bem diferente. Meu cabelo curiosamente estava levemente mais escuro, formando um preto intenso ao invés de fosco, estava sem espinhas, minha barba estava bonita e macia.

Na chegada ou na partida

Raio de sol ou noite fria

Na tristeza ou na alegria

Após dois anos de namoro, decidimos nos casar. Acharam uma loucura nos dias de hoje, nos casarmos com apenas 25 anos e dois anos juntos. Ignoramos e nos casamos radiantes na Igreja.

Nossa festa foi divina, mas não pela quantidade de convidados, pelo repertório musical ou pelo Buffet ser chique, mas por estarmos ali, entregando a todos a prova que nos amávamos de verdade, e dane-se quem discordasse. Deus era a prova viva do nosso amor.

Nossa lua de mel foi por todos os cantos da Europa. Conhecemos tudo. Fomos à Rússia (a parte europeia), França, Polônia, Ucrânia, Portugal, Espanha entre outros belos países.

Tudo que a gente sofre

(Na chegada ou na partida)

Num abraço se dissolve

(Raio de sol ou noite fria)

Tudo o que se espera ou sonha

(Na tristeza ou na alegria)

Num abraço se encontra

Após muito tempo casados, veio a notícia. Laura estava grávida. Eu seria pai! Fiquei sem reação, mas beijei sua barriga e pedi a Deus que nosso filho tivesse alguém para amar, como foi o nosso caso. Mas será que eu seria um bom pai? Bem, só o tempo dirá. . .

Tudo que a gente sofre

(Na chegada ou na partida)

Num abraço se dissolve

(Raio de sol ou noite fria)

Tudo o que se espera ou sonha

(Na tristeza ou na alegria)

Num abraço se encontra