Impregnada escrita por Mary


Capítulo 7
30 de Janeiro :capítulo 7




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Nunca entendi por que estava ansiosa para aquele dia. Talvez porque fosse o último dia das provas daquele bimestre, talvez porque estava prestes a ver o Dave de novo. Mas às vezes o importante não é o por quê e sim o fato. Eu estava ansiosa. E ponto.

Mas não me arrependi disso. Aquele dia, nunca irei esquecê-lo – pelo menos espero.

Estava com a caneta preta sobre o papel da prova, tentando lembrar qual era a data. Respirei fundo, sem coragem alguma de perguntar para alguém, com medo de ser repreendida. Acabei por fim tentando contar os dias desde a última que lembrava e escrevi o que imaginei ser.

Contudo, o desafio da data mal foi o começo. Eu entendia as perguntas, consegui me concentrar nelas; mas não fazia ideia de como responder. Minha cabeça começou a doer e meu coração a acelerar. Passei todo o tempo seguinte passando mal, sem conseguir completar a prova de maneira alguma. Só deixei meu nome, turma e a suposta data, então entreguei e saí da sala o mais rápido possível.

Fiquei no banheiro, respirando alto e fundo, tentando encontrar algum vestígio de sanidade na minha mente, algo que ainda pudesse ter esperança de salvar. Era como se eu estivesse morrendo por dentro, acabando com toda a minha humanidade. Eu não me sentia mais viva.

Sabia que estava perdendo meu ano e que precisava recuperar, logo. Estava determinada a conseguir estudar, não importava o que acontecesse. Não ia deixar um mísero garoto que roubava minha atenção destruir toda a minha vida, mesmo que ela já estivesse praticamente detonada.

Enquanto me recuperava da crise, alguém entrou no banheiro. Pude ouvir seu leve respirar e seu pesado pisar. Inspirei todo o ar possível e saí da minúscula cabine.

Olhei Kandice nos olhos. Ela ainda era linda, mesmo que não pudesse reconhecer minha ex-amiga. Seus olhos castanhos estavam mais provocantes, seu cabelo loiro caía pelas costas graciosamente. E não irei falar das suas curvas.

Eram os mesmos olhos, o mesmo cabelo, o mesmo corpo. Mas não era a mesma Kandice Hindney com quem havia dividido minha infância e o início da adolescência. Ela parecia... diferente.

Retribuía o meu olhar com fogo, como se estivesse me fuzilando mentalmente. Tentei não me apavorar diante daquela situação; sabia que as coisas não ficariam boas dali por diante.

– Olá, Alyson – ela disse.

Fazia tempo que eu não ouvia sua voz. Geralmente quando a via ela estava agarrada com o Dave, beijando-o na maioria das vezes.

– Olá, Kandice.

– Saudades de mim?

– Dave terminou com você para voltar a falar comigo?

Ela riu, alto. Sua risada parecia um tanto forçada, mas com gosto. Não sei se por ser uma boa atriz ou por estar se divertindo.

Sua expressão mudou subitamente. Kandice olhou para mim com fúria no olhar e se aproximou rápido. Segundos depois, me vi presa contra a parede com a sua mão no meu pescoço, quase sufocando-me.

Disse:

– É o que você quer, né? Que eu e o Dave terminemos para que possa voltar com ele. Pois bem, saiba que mesmo quando terminarmos, ele nunca – escute minhas palavras, Alyson Brunner, – ele nunca voltará com você. Dave não te ama, nunca te amou e não te amará.

Seus olhos estudavam cada centímetro do meu rosto, suas unhas apertavam com mais força a minha garganta. Por pouco eu conseguia respirar, mas a alta pressão fazia com que tivesse náuseas.

Mesmo que estivesse olhando tudo, eu só conseguia ver seus olhos. Percebi que estava prestes a acabar comigo ali mesmo, como se eu tivesse feito algo de errado. Mas a minha mente estava vazia, não conseguia me lembrar de nenhum erro cometido no passado.

– Saiba, Brunner, que você não pode arrastar meu namorado para um lugar qualquer e beijá-lo. Ele é meu namorado, não mais seu. Perdeu, a fila anda.

Por alguns segundos permaneci estupefata, até que todas as peças do quebra-cabeça se encaixaram. Então pude relaxar um pouco, o suficiente para meu coração desacelerar.

– Dave me beijou – falei – Eu não pedi que fizesse isso, não obriguei. Ele, por livre vontade própria, me beijou do mesmo modo que te beija. Não sei quais eram as suas intenções, mas foi ele quem me beijou.

Seu rosto murchou. A raiva não parecia mais estampada ali. Afrouxou a mão do meu pescoço e pude sair de lá. Sentou-se no chão e abraçou os joelhos. Fiquei ao seu lado, acariciando seu cabelo como fazia antes.

Por um momento, acreditei que tinha minha melhor amiga de volta. Por um momento, imaginei que não fosse mais estar sozinha, que aquela guerra não era só minha. Por um momento, eu realmente achei que ela fosse aceitar tudo.

Esse momento passou. Ela deu um tapa no meu braço e levantou-se. Quando fiz menção de me levantar, deu outro tapa no meu ombro, obrigando-me a permanecer sentada. Então olhou para mim e disse:

– Não acredito nas suas palavras. Você beijou o meu namorado, você fez as mãos dele percorrerem o seu rosto, mesmo que não tivesse usado as palavras. Você quase destruiu meu relacionamento e eu nunca te perdoarei por isso. Ele estava certo, todos estavam certos. Você é mesmo uma vadia.

E deu um chute com força no meu rosto, acertando o meu nariz em cheio. Minha cabeça voou para trás, batendo na parede, e senti o sangue escorrendo pela minha face. Uma dor aguda acentuou-se na parte de trás do crânio e tentei tocá-la, sem sucesso.

Ajoelhou-se na minha frente, passando a mão pelo líquido que escorria. Então me deu outro tapa na cara com um estalar alto. Quis me defender, realmente quis, mas não soube o que fazer. Ela poderia me matar ali mesmo, e eu precisava aceitar isso. Eu estava prestes a morrer.

As pessoas sempre falam sobre “sua vida passar diante dos seus olhos”. A minha não passou. Não fiquei pensando no passado, imaginando como seria o futuro. Para mim, era apenas os olhos de Kandice e a dor na minha cabeça.

Ao se levantar, ela bateu com o joelho no meu peito, talvez propositalmente. Encolhi-me no canto, esperando o próximo golpe.

– Você vai ficar aí, é? Tá pronta pra receber o seu castigo? É geralmente isso que as vadias fazem?

Vi seu braço voar em sua direção, mas antes de me atingir, ouvi uma voz.

– Vocês não cansam disso? – ela perguntou.

Ergui o olhar e percebi que Kandice havia parado no meio do caminho, virando-se para ver a dona da voz.

– Quem é você? – perguntou Kandice.

A garota revirou os olhos e, de braços cruzados, respondeu:

– Clary Bingers.

– Bem, Clary Bingers, você não tem que se meter nisso.

– Olha, eu acho que vocês podiam simplesmente parar de chamá-la de vadia. Tá ficando chato. Arranjem outro apelido. Ou simplesmente estão sem criatividade? Porque se for, eu ajudo.

Tentei esconder o sorriso que apareceu no meu rosto quando a vi piscar o olho esquerdo na minha direção.

Kandice aproximou-se dela, devagar. Clary não demonstrava o pingo de medo em seus olhos, como se já estivesse acostumada a tudo aquilo. A loira atacou, atingindo a bochecha. Então a expressão de Clary mudou. Desferiu socos em cada parte do corpo de Kandice que estivesse ao seu alcance, até parar alguns segundos depois.

– Saia – ela gritou.

E Kandice saiu.

Clary chegou perto de mim e me estendeu a mão, me ajudando a levantar. Quando fiquei de pé, tive vontade de abraçá-la mas algo dentro de mim me fez parar. A agradeci com um sorriso e ela riu.

– Geralmente quando as pessoas te salvam, ela esperam um “obrigada”.

– Obrigada – sussurrei.

– Ah, de boa. Eles são uns idiotas. Ela estava prestes a te matar, cara. Pela sua cara de lerda, duvido que tenha feito algo tão grave assim.

Quando viu minha expressão, riu mais uma vez.

– Cara, para com isso. Eu tava te zoando.

Ri baixo.

Clary segurou na minha mão e disse:

– Preciso cuidar de você. Venha.


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Notas finais do capítulo

Se eu demorar a postar de novo, é porque tô assistindo TWD/TW/OUAT :3



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