Impregnada escrita por Mary


Capítulo 5
28 de Janeiro :capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouquinho, né? I'm so sorry. Mas espero que se contentem com esse capítulo :3



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Eu já estava cansada de tudo. Não tinha certeza do que fazer, de como prosseguir. Minha vida certamente não era a mesma, todas as coisas estavam mudando. E eu não sabia como seguir em frente.

Ia pra escola cansada, desleixada, esquecida e largada. Não conseguia mais prestar atenção na aula, mal olhava para a cara dos outros. Eles já tinham parado de me encarar, mas eu não me sentia capaz de lembrar que ainda estavam lá.

Passava as tardes jogada na cama, ouvindo música. Tinha viciado muito em uma, não conseguia ficar sem ouvi-la. E, quando não o fazia, a cantava mentalmente.

Usava casacos mais longos e frouxos, os óculos ficavam tortos e o cabelo completamente bagunçado. Em todos os lugares, carregava um livro grosso debaixo do braço. Quando parava para ler, minha mente não conseguia processar uma única linha. Acabava me perdendo toda vez.

Mas, o pior de todos: antes de dormir, ligava a música bem alta para tentar não ouvir nenhum ruído da casa e pegava a gilete. Me jogava na cama e ali me cortava, entre lágrimas. Deixava o braço jogado em cima do travesseiro, o sangue escorrendo pelas feridas e sujando todos os panos de sangue.

Não me importava mais. Com nada. Nenhuma coisa conseguia me entreter.

Durante o recreio, enquanto ficava sozinha lá com alguma comida na mão e os fones no ouvido, via todos. Surgiam várias ideias de crônicas que poderia escrever, mas não sabia mais como fazê-lo. Eu tinha desistido e isso acabava com meu talento.

Via Dave em um canto com Kandice em seus braços, a envolvendo livremente. Arrependia-me por nunca tê-lo deixado fazer aquilo comigo. Nosso relacionamento era um monte de abraços inocentes, beijos suaves e alguns quentes, mensagens de textos loucas e sorrisos trocados. Mas sempre que ele tentava ir mais fundo, eu não conseguia. Algo dentro de mim se remexia, eu não me sentia... Aquilo não parecia certo.

Mas também vê-los daquela forma fazia com que eu me lembrasse de Henry. Mesmo que Dave tivesse me marcado de uma forma inesquecível, Henry também tinha sido especial. Ele tinha feito com que eu me sentisse meio especial. Sei que parecia difícil de acreditar na história da garota no cinema, mas é como se quisesse acreditar, como se precisasse acreditar. Sentia falta dos seus abraços, beijos e elogios. Eu estava sendo iludida, mas tinha que ser iludida. Ou então tudo parecia ainda mais sem graça.

Ele também já tinha começado a namorar, mas não tão urgente quanto o Dave. Pelo que parecia, não era uma garota da escola. Então eu não seria obrigada a vê-lo abraçando outro corpo do mesmo jeito que me abraçava.

Acho que era isso que me incomodava mais. Ser substituída. Sonhava em deixar minha marca, por isso todas as coisas. Escrever, tirar boas notas, dar aula de português; eu queria que as pessoas se lembrassem de mim. Claro, ainda acho que seria maravilhoso se acontecesse, mas tenho coisas um pouco mais urgentes em que pensar.

E o fato de eles já estarem com outras garotas, beijando outras garotas, sendo de outras garotas que poderiam roubar meu lugar me destruía. Eu precisava ser notada por eles, por qualquer coisa que fosse. Queria que em alguns anos eles lembrassem de mim como uma garota legal com quem tinham namorado e não uma vadia que tinham beijado.

Bem, em um certo dia, normal como qualquer outro dia deprimente que eu vivia, ao fim de mais uma aula perdida, saía da escola devagar sem querer chamar atenção. Mas isso nunca acontecia quando era essa a minha intenção. Antes de dobrar a esquina da rua da escola com uma outra qualquer, senti uma mão agarrar meu ombro por trás. Antes de virar-me para trás rodeei a área com os olhos e vi que não estava, nem tão cheia, nem tão deserta. Então girei com os calcanhares e surpreendi-me quando deparei com o rosto que me encarava.

Dave estava lindo. Mesmo que assustador de certa forma, estava lindo. Podia não ter o sorriso que usava para dirigir-se a mim nem o mesmo olhar penetrante e estudioso que antes era reservado à minha pessoa. Mas eram os mesmos olhos , a mesma boca, a mesma pele, o mesmo cabelo.

– Olá, vadia – ele disse.

– O que você quer? – respondi, tentando não parecer muito ansiosa.

– Nossa, posso nem mais dar um “olá” para você. Então tá.

– Espera.

O silêncio predominou entre nós por alguns instantes enquanto eu escolhia com cuidado cada uma das palavras que deveria dizer. Então elas saíram antes que pudesse pensar uma última vez.

– Dave, olhe o que nos tornamos. Acho que não precisamos de nada disso. Sei que fui mesmo uma idiota, mas por favor, volta a falar comigo, cara. É... estranho.

Meus olhos imploravam. Ele deve ter percebido isso.

Por muito tempo, tentei não chorar. Mordi os lábios e arregalei os olhos. Fiquei encarando-o, tentando identificar alguma coisa na sua expressão mas sem sucesso. Ele parecia... lívido.

Então senti suas mãos na minha cintura e seus lábios nos meus. Ele me puxava com força para junto de si e me beijava como se não significasse nada. Aquele nosso momento parecia não lhe ser nada.

Mas, naquele instante, ignorei aquilo. Eram os lábios dele, as mãos dele, o peito dele. Eles pertenciam a mim e me entreguei totalmente àquilo. Deixei que me beijasse daquela forma que sempre demonstrou querer fazer quando estávamos juntos. O que tínhamos perdido estava sendo reparado. Dave estava comigo, me grudando junto dele, dividindo seu tempo comigo.

Quando a ficha finalmente caiu e eu comecei a retribuir, uma chama se acendeu no meu peito e me fez inflar e começar a flutuar em pensamento. Nada mais existia; era só eu e Dave e nossos lábios e nossos corações. Senti seu cabelo entre os meus dedos e lembrei o quanto sentia falta daquela sensação. Senti novamente aquele leve incômodo no pescoço por ter ficado tanto tempo com ele erguido. Senti seu calor e sua pele tão grudada na minha.

Era o Dave. Com certeza era o Dave.

Mas ele se separou de mim. Olhou nos meus olhos com aquele quê de repugnância e nojo e se afastou. A chama se extinguiu no meu peito, deixando um vazio enorme dentro de mim. Meus pés tocaram o chão novamente e a realidade caiu sobre mim como um tijolo.

Ele tinha me usado. Ele sabia que eu estava desesperada e faria qualquer coisa para conseguir o que queria: suas mãos no meu corpo. E tinha conseguido.

Afundei em silêncio enquanto o observava se afastando sem nem ao menos olhar para trás. Senti uma grande dor e tentei não chorar mas parecia impossível. As lágrimas precisavam sair, precisavam ser soltas. Eu estava sozinha novamente. O Dave não voltara a ser meu e deixara claro que não o faria tão cedo.

Enquanto chorava sozinha no chão, ouvi uma notificação vinda do meu celular e o busquei na mochila. A ansiedade fazia com que parecesse que ele estava enterrado no chão.

Era uma mensagem de um número desconhecido. Não tinha nada de familiar a mim, mas a abri mesmo assim.

Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo, vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo!

Eu venci o mundo.”

João 16:33


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *-*



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