O Portal. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 1
Único - O portal.


Notas iniciais do capítulo

Um dos "contos que um dia ouvi", com salpiques de Goethe.



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(...)
O homem cujo ideal se deve as palavras desta estória não está mais entre nós a fim de responder por ela. Cabe a cada leitor julgar-lhe credibilidade.
(...)

Eis que um dia ela veio, silenciosa como poderia ser, a beleza idealizada na simplicidade, calma e serena. A paz. Vi-a de relance, seu vulto de sobressalto exaltou-me e, impetuosamente, busquei por seus passos.
Nunca deixei de ser sonhador: a vida, árdua e repleta de pesares, supriu minhas dívidas. Porém, não sou ingrato a ela, nunca! Ingratidão é uma forma de fraqueza, e jamais conheci homem de valor que fosse ingrato. Apeguei-me àquele que sonha o impossível, mas só conhecemos aquilo que nos faz sofrer.

Pensei em desistir, diversas vezes, mas sabe-se que pensar é fácil, agir é difícil, e agir conforme o que pensamos, isso ainda o é mais. As dificuldades crescem à medida que nos aproximamos de nosso objetivo, e por hora eu sabia que estava prestes a alcançar o meu. No final do caminho, havia um portal: velho, rústico e maltrapilho, não diferente de mim, abarrotado de flores da época, nada atraente e pouco hospitaleiro. Pareceu-me insólito diante de toda aquela jornada e, quando o interesse diminui, não se dá diferente com a memória... As pessoas felizes não acreditam em milagres.

Apostei minha sorte à morte, uma impossibilidade que, subitamente, torna-se realidade. Diante da ladeira que subi prontamente, a beira de um abismo urtigante, olhei para baixo, e vi em meus próprios olhos refletidos toda a minha falta de fé. A todos é dado o direito de recomeçar, mas crede, sejais um tolo caso tenda ao futuro desconsiderando o passado... viver, sim, é a mais viável das façanhas. Apenas é digno da vida aquele que todos os dias parte para ela em combate.

Aquele que aguardava exasperadamente um resquício de mudança viu que lhe cabia, e apenas, o direito, e quando terminei de considerar suspeita a minha decisão, parti para frente do portal, ainda em seu péssimo aspecto. Do outro lado, maravilhei-me: o mundo parecida cintilar. E ainda consciente percebi que, mesmo estando num paraíso escultural de meus próprios anseios, o lado realístico do portal ainda estava aberto para mim.

Pensando em desistir, desisti de pensar, e atravessei-o uma última vez. Minha busca pela paz se encerrara e, mais do que a descoberto, deu-me de presente a fé, cujo milagre é filho prodígio. Por diante ostentei em meu coração apenas a verdade, a retórica, de ser incapaz de possuir aquilo que não compreendia, o conhecimento, contemplando que o saber é diretamente proporcional à dúvida, e vivi! O tempo rende quando é bem aproveitado. Aquele que muito conserva em seu interior pouco precisa do que há além.

E quando parti, o fiz na paz, correto de que a fé alimentaria todas as minhas esperanças. Nem todos os caminhos são viáveis para todos os caminhantes, alguns apenas precisam acreditar que são capazes.


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Notas finais do capítulo

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