Perdão escrita por Virgo


Capítulo 1
Capítulo Único - Perdão


Notas iniciais do capítulo

Tenham uma boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/586700/chapter/1

Não sabia bem o que pensar. Estava agradecido, é claro, mas em seu intimo tinha a impressão de que estava tudo errado. Ele era um traidor. Não devia estar ali. Nunca devia ter estado ali.

Athena era muito bondosa. A deusa pode ver que, mesmo após a morte, seus Cavaleiros ainda lhe prestavam lealdade e que eles estavam dispostos a defendê-la até as últimas consequências. Em muitas de suas outras encarnações a deusa não pode viver para ver o amanhã, porém, agora que o via e vivia, decidiu que seus prestigiados Cavaleiros eram mais do que merecedores de uma segunda chance.

Toda uma geração de Cavaleiros que havia sido morta na batalha contra Hades fora trazida de volta. Aos mais antigos, remanescentes de uma guerra passada, foi permitido o descanso eterno e a glória de serem exemplos para as próximas gerações.

Toda essa geração que voltara a viver agora dedicava sua existência à uma nova geração e seus membros esperavam que quando suas missões vitalícias estivessem finalmente concluída a paz lhes fosse conferida. Porém, ele ainda não se sentia merecedor dessa paz.

Logo quando voltaram, se isolou. Não se achava digno, não se achava merecedor de coisa alguma. Porém, a deusa parecia ter bem mais do que certeza sobre suas escolhas, tanto que o nomeou como Patriarca assim que conseguiu reunir todos os guerreiros que serviam-na.

Segunda a própria deusa, sua escolha era fundada no fato de que, mesmo não estando no caminho mais iluminado, ele soube muito bem administrar o Santuário, também tinha o fato de que ele realmente havia se arrependido de seus pecados e de que se mostrou um valoroso Cavaleiro, merecedor de todas as honrarias, responsabilidades e confiança agora depositada sobre seus ombros. Sua culpa era tanta de ocupar um lugar tão importante depois de tudo o que fez, que chamou aquele a quem o lugar realmente deveria pertencer para ajudá-lo e este, para sua surpresa, aceitou apoiá-lo como se nada tivesse acontecido, como se a amizade de anos nunca tivesse sido abalada. Parecia que somente ele mesmo não se permitia o luxo do perdão.

Fazia meses que estava andando entre os vivos novamente, mas sempre procurou evitá-los a todo custo, menos seu ajudante e amigo, do qual não tinha como escapar. No entanto, existia um vivo que não mais conseguia ignorar, não mais conseguia se manter distante.

Qual seria seu maior pecado?

Não mais conseguia ignorar o irmão. Mas não tinha ideia do que fazer ao encontrá-lo.

Era noite e andava pelo Santuário em meio a penumbra. Tinha apenas lembranças para atormentá-lo. Para onde quer que olhasse, lá estavam elas. Chegou a parar várias vezes, apenas para negar com a cabeça e dizer para si mesmo que aquilo era ridículo, que era tudo passado, que tudo se acertaria. Porém, sabia que era um esforço infrutífero.

Sua consciência não era em nada clemente. Sabia que havia corrido demais e derrapado, sabia que tinha ambicionado demais e deixado escapar, se apegado à palpites tolos e teorias sem sentido para depois perceber que se enganou. Suas intenções não foram as melhores e, mesmo que fossem, o estrago era grande demais para que ele simplesmente esquecesse.

Seus pecados, seus erros, eram grandes demais para serem simplesmente esquecidos. Acreditava que devia se redimir e todos insistiam que ele já o fizera, mas seu coração ainda pesava. Talvez fosse por conta de seu maior erro, de seu maior pecado. De seu erro, de seu pecado, com o irmão.

Antes não compreendia, mas agora entendia perfeitamente. Existe a Luz e existe a Sombra. A Luz, não é nenhum segredo, deve ser o exemplo, o justo, o bom. A Sombra deve ser o ruim, o maléfico, o vergonhoso. Mas parecia que essa simples matemática tinha uma aplicação diferente no caso dele, a Luz, do irmão, a Sombra, e de todos os seus antecessores.

A Sombra não é ruim, não é maléfica, não é vergonhosa. E a Luz não é inteiramente boa, não é inteiramente justa, não é inteiramente exemplar. Não. Nunca. Jamais.

Segundo muitos, ele, que era a Luz, era um homem muito bom, um verdadeiro exemplo a se seguir. Porém, havia um lado negro em si, um lado que devia ser constantemente controlado e, principalmente, ocultado. Antes acreditava que esse controle que tinha sobre este lado era fruto de sua própria força, mas agora sabe que o verdadeiro merecedor de méritos é seu irmão, a Sombra.

Seu irmão nunca foi um homem mal, nunca. Sempre acreditou que ele era até melhor do que si, mas com o passar do tempo foi se tornando um ser desprezível. Antes acreditava que era reflexo de tudo que o irmão foi obrigado a suportar, de tudo que ele foi obrigado a não ter, de tudo que ele foi obrigado a fazer, mas agora consegue compreender que o irmão nada mais era do que um sacrifício.

O irmão, de alguma forma, “absorvia” esse seu lado ruim e, como ele já era uma existência que devia permanecer oculta, o escondia dentro de si. O irmão estava sacrificando a si mesmo, talvez sem saber, para que ele permanecesse na luz, para que ele fosse a Luz, e em troca, era sua obrigação segurar a mão do irmão com firmeza e ajudá-lo a se manter no mesmo caminho. Mas por não entender, acabou afastando-o, acabou prendendo aquele que sempre foi a verdadeira Luz.

Quem é o monstro e o homem quem é?

Lembrou-se da primeira vez que brigou com o irmão depois de se tornar Cavaleiro. Sentiu os olhos queimarem, o passado era odioso e o presente doloroso.

Lembrava-se muito bem como o irmão estava chateado de existir “apenas” para ser mais uma sombra naquele lugar. O irmão não queria viver em vão, mas eles não sabiam que isso nunca foi viver em vão. Odiava forçar o irmão, odiava. Adquiriu muitas cicatrizes dessa forma, tentando forçar o irmão a fazer algo que não queria. Eles eram crianças com responsabilidades grandes demais, responsabilidades que não compreendiam.

Ver o irmão naquele estado era horrível. Sentia-se ferir toda vez que era atingido por um golpe dele, um golpe que o fazia voar longe e cuspir sangue. E sentia-se pior ainda quando via lágrimas de ódio e tristeza brotarem dos olhos tão iguais aos seus. Mas só se sentia um monstro, quando via o irmão sair correndo para longe, onde poderia martirizar-se sem vergonha de mostrar sua “fraqueza” condensada.

E mesmo assim, depois de horas de busca, encontrou o irmão sentado no topo de uma pilastra quebrada que havia em sua Casa, balançando as pernas de forma displicente e de olhos fechados, apenas apreciando o vento fresco. O irmão abriu um sorriso com sua chegada – como sempre fez –, lhe dando as boas vindas como se nada tivesse acontecido. Depois daquilo, apesar de algumas desavenças, o irmão nunca mais deixou que alguma briga evoluísse ao ponto de se tornar algo físico ou que ficassem sem se falar, fazia de tudo para não haver brigas ou desentendimentos.

Ainda sim, ambos falharam nisso. E o que aconteceu, aconteceu.

Sempre amou o irmão e este o amava de volta. Eram a família um do outro, a vida um do outro, o lar um do outro. Porém, aquilo que lhes foi imposto era muito presente em suas vidas e, ele acreditava, nem todo o amor do mundo seria capaz de reatar o laço fragilizado e rompido que um dia os unia.

Ainda amava o irmão de todo o coração, ainda o tinha como sua família, ainda o tinha como sua vida, ainda o tinha como seu lar. Mas sentia que era incapaz de fazer algo quanto ao seu pecado. Deixar de amar o irmão, ou melhor, tentar deixar de amar o irmão por acreditar que ele finalmente tinha se mostrado como o que era, uma sombra, sendo que a culpa era sua, sendo que a verdadeira sombra vivia em si, era o pior crime que ele poderia ter cometido em toda sua vida, pois isso contribuiu para que ambos se desviassem quase que permanentemente do caminho correto. Seu pecado era ter acreditado que não havia salvação.

Sentia vergonha. Nunca antes se deu conta do quão importante o irmão era, nunca antes lhe dera o valor que merecia e agora tinha vergonha de fazê-lo por temer a reação daquele que mais lhe valia.

De quem é o perdão que tanto deseja?

Precisava de coragem. Desde que voltaram dos mortos procurava não ver o irmão, mas agora sentia essa necessidade. Depois de tanto tempo finalmente o veria, mas ainda sentia vergonha, ainda tinha medo.

Conseguiu chegar frente a majestosa Casa, mas não conseguia entrar nela. Um misto de medo e admiração o impediam. Medo pelo que aconteceria. E admiração pelo que o irmão vinha fazendo, pois a Casa parecia ter sido erguida no dia anterior. Mas algo chamou-lhe a atenção. Havia uma única pilastra quebrada e nela o irmão estava sentado.

Sentiu as lágrimas, há muito tempo presas, escorrerem. Como nos dias em que ainda eram meninos, lá estava seu irmão sentado na pilastra, balançando as pernas de olhos fechados, apenas apreciando a brisa. Este pareceu notar sua presença, virou-se para si com um grande sorriso e logo se encontrava no chão, frente a frente consigo.

Palavras não foram trocadas, o olhar era tudo o que lhes bastava. Somente pelo olhar conseguiram dizer o que jamais conseguiriam colocar em palavras. Esperava não ser aceito, esperava ser desprezado, mas os braços abertos do irmão diziam-lhe o contrario, assim como as lágrimas e o sorriso do mesmo.

Chorava. Não mais por medo, não mais por vergonha. Chorava de felicidade. O que julgava antes não merecer, agora chegava a considerar. O perdão que antes pensava ainda ter de conquistar, agora já tinha. E o irmão que pensava ter perdido, agora o recebia em seus braços.

Seu coração não mais pesava pelo passado odioso. Ele agora sorria para o futuro que lhe aparecia.


Não há mais nada que fará seu coração pesar.

Sombra e Luz. São apenas nomenclaturas para se adornar.

Não dizem nada sobre o que são ou deixam de ser,

Mas dizem o elo que vocês sempre vão ter.

A Casa de Gêmeos é oculta em sombras e banhada em luz,

Seus mitos e lendas são canções que seduz.

Mas seus donos são os verdadeiros complementos a se adorar,

Pois não há mais bela união do que a de irmãos capazes de perdoar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai, ai... O duro é que essa sempre foi minha verdadeira opinião sobre essa história do Saga ser a "Luz" e o Kanon a "Sombra". As vezes eu comparo essa minha teoria com o anime e o mangá e penso: "Será que esse não seria mesmo o rumo escolhido pelo autor? Será que eu tô certa?". Mas ai eu penso que é loucura minha porque quase nunca eu tô certa XP
Enfim. Espero que tenham gostado :)

Bjs. L ;3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perdão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.