O coração de Nicollas escrita por Sweet Cherry Pie


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá chuchus!!
Como citado antes, essa one faz parte de um concurso que estou participando e o tema era ano novo. Alguns devem me conhecer porque postava outra estória: Café LeBlanc, mas devido a problemas pessoais, a excluí, assim como meu perfil. Estou a um bom tempo sem escrever e espero que não tenha ficado tão ruim. Prometo que agora voltei de vez. Alguns trechos da estória estão em francês, portanto, farei um pequeno glossário para que não se percam (perdoem se algo estiver errado. Usei o Google Tradutor)

Calmez-vous, mon amour: Acalme-se, meu amor.
Ange: Anjo
Ce serait um péché veulent um ange immaculé comme vous? : Seria um pecado desejar uma anjo imaculado como você?
Mon cher: Meu querido
Notre affair: Nosso caso
Promettre: Promete
Au revoir: Adeus
Merde: Merda

Espero que gostem.
Boa leitura!!



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França, 31 de dezembro de 1922.

Isaac Miller.

A casa estava fria. Não deveria estar dessa maneira porque havia acabado de colocar mais lenha na lareira. Por mais que eu negasse, sabia que essa sensação não era proveniente do clima daquela residência. Sentia-me assim sempre que tirava a vida de mais um belo rapaz.

E sempre na mesma data e da mesma forma, por causa da mesma pessoa.

Por que ele ainda me afetava depois de tanto tempo? Esse sentimento não deveria passar depois da minha vingança ter sido completada? Não deveria superá-lo? Por que esse maldito não sai da minha cabeça? E por que tenho que machucar pessoas inocentes devido a essa situação mal resolvida?

Precisava beber. Precisava me esquecer do corpo daquele homem no segundo andar da minha casa.

- Por que me tornei esse monstro? – me perguntava assim que as primeiras lágrimas passaram a brotar em meus olhos.

Caminhei em direção ao mini bar e despejei um pouco de alguma bebida que não me dei ao trabalho de ler o rótulo no meu copo e tomei tudo em apenas um gole. A queimação típica se fez presente em meu corpo e por alguns minutos me senti vivo, bem, como se nada daquilo fizesse parte da minha realidade. Mas logo depois que o efeito passou, me senti ainda mais podre e desumano e comecei a chorar como um bebê. A cada ano ficava mais difícil, mas não conseguia parar. Coloquei a mão em meu bolso e de lá tirei uma foto. Para alguém de fora, aquela seria apenas uma foto típica de dois rapazes felizes, mesmo contendo um cenário de destruição por trás, mas ainda assim felizes. Havia muitos outros vestidos com uniformes sujos e surrados, como o dele, mas uma alegria, mesmo que temporária, iluminava seus rostos e estavam todos ao redor de uma fogueira.

Como disse, para alguém de fora seria apenas isso, porém não para mim.

Aquela foto significou o início da minha ruína.

França, 31 de dezembro de 1917.

A noite estava fria e a temperatura caía rapidamente. Mesmo com o grosso casaco que tinha à minha disposição, ainda sentia os efeitos das rajadas de vento geladas em meu corpo. Tremia tanto que mal conseguia segurar minha arma e meus dentes se chocavam tanto um contra o outro que aposto que deveriam ter se desgastado. Muitos companheiros haviam passado pelo meu posto dizendo para que eu relaxasse, já que no ano novo havia uma trégua, no entanto eu não conseguia.

Não dava para confiar nos inimigos.

Não desviava meu olhar da trincheira inimiga, mesmo que essa aparentasse estar calma. Estava tão concentrado que não senti uma mão quente tocar o meu ombro, resultando em um baita susto da minha parte.

- Calmez-vous, mon amour*. Você está muito tenso.

- Mas é claro que estou tenso. E se os inimigos resolverem nos atacar? Estamos com a guarda baixa.

Nicollas riu, na verdade, gargalhou enquanto eu fechava a cara por alguns segundos, mas não consegui manter a pose de durão. O fato era que nenhum ser humano conseguiria ficar muito tempo sério perto de alguém como Nicollas Chevalier. Ele era, de longe, o homem mais encantador que eu conheci em toda a minha vida. Desde a primeira vez que o vi, na concentração das tropas, não pude deixar de notá-lo, além de sua beleza evidente, ele possuía um jeito único de tratar as pessoas. Era quase como um magnetismo natural que atraía qualquer um. Sempre tive facilidade em conseguir novos amigos, entretanto por algum motivo ele me intimidava, me desconcertava. Tanto que fiquei muito surpreso quando, na hora do almoço, ele sentara na minha frente. De início, fiquei um pouco assustado e depois meio envergonhado porque ele não parava de me encarar.

“- Tem algo no meu dente ou coisa parecida? – perguntei.

- Tu es um ange*.

- O que? E-eu não entendo francês. Você fala a minha língua?

Ele apenas riu da minha expressão confusa e se levantou.

E antes de sair, apoiou-se na mesa, inclinando seu corpo para que seu rosto estivesse bem próximo do meu e disse:

- Ce serait un péché veulent un ange immaculé comme vous*?

E depois disso saiu como se nada tivesse acontecido.

Meu rosto deveria estar pegando fogo porque um dos rapazes que estava ao meu lado lançou um sorriso sacana para mim.

- Já vi que o Nicollas conseguiu te fisgar, meu jovem. Mas te aviso uma coisa: tome cuidado.

- Me fisgar? Como assim? E-le não fez nada. Eu não entendi o que ele disse!!

- Mas eu entendi. E te digo novamente: tome cuidado. A facilidade com que ele arrebata corações é a mesma que ele tem para destruí-los.

Aquilo trouxe uma sensação estranha no meu coração, porém não entendi o porquê do aviso. Eu não o conhecia e como eu havia dito, não entendi o que ele havia me dito. Mesmo assim, por que essa inquietação não me abandonava?”

- Isaac? Está me ouvindo, mon cher*?

- Me desculpe, Nick. Estava distraído.

- Sabia que eu amo quando me chama de Nick? Essa palavra sai de forma tão sensual dos seus lábios que me deixa louco.

Ele nem me deu chance de responder, pois prontamente atacou meus lábios de forma um pouco feroz para os seus próprios padrões. A arma que segurava foi retirada da minha mão e meu corpo foi inclinado ao mesmo tempo em que o corpo dele se encaixava em cima do meu. Eu não sei como, contudo, a temperatura parecia ter subido uns 30 graus. Começava a suar debaixo do meu uniforme e percebi que aquelas roupas se tornaram incômodas. É claro que Nicollas também percebeu isso.

- Aqui não, Nick. E se alguém aparecer? – tentava inutilmente me opor aquilo, ainda que meu corpo implorasse por seus toques.

- Você fala como se ninguém soubesse do notre affair*. E preciso receber meu presente de ano novo.

As mãos habilidosas dele e o seu hálito de cigarro e vodka estavam tornando qualquer resistência simplesmente impossível, mas não teria coragem de transar com ele naquele local tão exposto.

- Olha, eu saio daqui e vamos nos confraternizar com os outros. Depois, eu prometo que teremos um tempo a sós.

- Promettre*?

- Prometo.

- Está bem. Então vamos.

Ele se levantou e estendeu a mão para mim e eu sorri. Gesto que foi retribuído no mesmo momento, e assim que demos as mãos, Nicollas fez questão de entrelaçar os seus dedos aos meus. Surpreendi-me com essa atitude e não pude deixar de depositar um beijo em seus lábios.

Logo ouvimos nossos nomes sendo chamados por Philip Carter, cujo estava completamente bêbado e rindo bastante e fomos de encontro aos demais soldados

Aquela festa resultou em muita bebida, cantoria, confraternização com soldados rivais que apareceram no meio da nossa comemoração e a noite de amor mais intensa que tive em toda a minha vida.

E foi naquela noite que eu disse que o amava.

Quis me desfazer dessa foto por tantas vezes, mas alguma força sempre me impedia de fazê-lo. Era quase como se ouvisse aquela voz melodiosa me mandando parar, como se sua mão me impedisse de tacar a foto no fogo ou rasgá-la, como tantas vezes desejei e ainda desejo.

Com raiva de mim mesmo por ser tão fraco, coloquei a foto em meu bolso novamente e sentei no sofá. Como tudo teria sido mais fácil se ele ainda estivesse comigo. Ou se ele tivesse sido sincero desde o início. Por que as pessoas gostam de nos machucar? O que elas ganham com o sofrimento alheio? Por que sempre escolhem o caminho mais complicado?

No dia seguinte ao ano novo, fomos surpreendidos com a notícia de que alguns dos homens voltariam para suas casas. O clima era de animação, todos desejavam ser escolhidos para voltar e rever seus entes queridos.

Quando o comandante responsável por nós chegou com a lista indicando os nomes, Nicollas se aproximou de mim e me abraçou. Podia ver o brilho de excitação em seus olhos, o mesmo estava nos meus. Retribuí seu abraço e aguardamos a convocação.

Quão foi a nossa surpresa ao ouvirmos nossos nomes sendo anunciados!!

Eu estava nas nuvens, finalmente poderia ter uma vida com Nicollas longe de todo aquele cenário de desolação e dor. Poderíamos comprar uma pequena casa em Paris ou Londres, nossas cidades natais, e vivermos nossas vidas tranquilamente.

Enquanto arrumávamos nossas coisas para sairmos dali, percebi que Nicollas havia ficado subitamente estranho. Tentei perguntá-lo sobre o porquê de sua seriedade tão repentina e atípica, mas ele não me respondia.

Até que, em um momento de angústia, virei o seu corpo bruscamente em direção ao meu e gritei:

- Qual o seu problema? Há algumas horas atrás estava tão feliz por voltar para casa e me levar junto com você e agora nem olha nos meus olhos? O que aconteceu?

Nicollas suspirou e puxou o ar de uma vez só. Como se o que ele fosse falar para mim me atingisse de uma forma negativa e avassaladora. E eu estava com medo de que fosse assim.

- Não podemos ficar juntos, Isaac.

- O-o quê?

Senti como se o chão esfarelasse debaixo dos meus pés, então perdi o equilíbrio e caí de joelhos. A forma como ele disse e seu olhar frio para mim foi mais doloroso do que qualquer ferimento adquirido naquela guerra.

- Isso mesmo que ouviu, não podemos ficar juntos. Tenho uma noiva em Paris e prometi que se voltasse vivo, casaria com ela. Foi divertido o que tivemos, mas não nos veremos mais depois daqui. Não me procure, é o que lhe peço.

- Ma-mas e quanto a mim? E os meus sentimentos? Eu te amo!!

- Mas eu não amo você. Nunca amei. Você foi apenas uma distração, um alívio para o meu tesão que, você deve ter percebido, é intenso. Sinto muito por você ter desenvolvido sentimentos por mim, mas quanto a isso nada posso fazer. Espero que siga com sua vida e me esqueça. Au revoir*.

Ele ainda teve a audácia de depositar um beijo em minha testa, antes fosse melhor não fazê-lo. Era como se tivesse sido beijado por uma criatura podre e repugnante.

Assim que Nicollas saiu, deitei no chão e me rendi às lágrimas.

Chorava sem parar e esfregava minha testa de forma tão agressiva que só parei quando vi o sangue em minhas unhas. Não entendia o porquê de ele ter feito aquilo comigo.

O que eu havia feito para merecer todo esse sofrimento?

Não o vi na volta para casa e achei melhor dessa maneira. Não suportaria ter de encará-lo sem querer voar em seu pescoço e esganá-lo até ele dizer que tudo aquilo era uma brincadeira de mau gosto.

Nos dias seguintes após ter retornado à minha amada Londres, um único pensamento não saía de minha cabeça: vingança. Desejava fazer Nicollas sofrer tudo o que eu estava sofrendo por ele, não conseguia parar de pensar em como estava levando sua vida com sua noiva, ou esposa, não sei. Não era justo que ele vivesse feliz para sempre enquanto eu definhava em minha casa.

Um dia, resolvi que era hora de agir, juntei meus poucos pertences e vendi a pequena casa onde morava. Não planejava mais voltar. Peguei um trem para Paris e me estabeleci na primeira pocilga que encontrei. Tinha de encontrá-lo a qualquer custo, mas antes, necessitava de um emprego para me manter ali.

Com as habilidades médicas que adquiri durante a guerra, consegui um emprego altamente requisitado no momento: legista. Devido aos conflitos e doenças, nunca me faltava trabalho e recebia um bom salário. Logo pude comprar uma pequena, entretanto aconchegante casa de dois andares e passei a pensar em como colocar meu plano em prática.

Como não tinha muitos homens jovens na cidade, foi fácil localizá-lo. Encontrei Nicollas em um dos bares mais movimentados da capital, aparentava estar feliz e estava acompanhado de dois homens, pareciam ser seus amigos. Não permiti que ele me visse, mas acompanhava cada movimento que fazia. Não pude deixar de notar, ele estava ainda mais lindo. Seus cabelos foram cortados e tirara a barba, havia rejuvenescido uns cinco anos. Seu sorriso era o mesmo e lembrar que este fora direcionado para mim tantas vezes, trouxesse-me uma onda de nostalgia e por alguns segundos quase me fez esquecer todo o plano que tinha em mente.

Contudo o meu coração não me permitiu esquecer.

Principalmente quando ele levantou a mão esquerda e pude ver o brilho dourado proveniente da sua grande aliança. Pensava que ver aquilo não fosse doer tanto, mas doeu. Doeu muito. E não pude impedir as lágrimas, minhas inseparáveis companheiras nos últimos meses.

Quando Nicollas e seus amigos saíram do bar, eu os segui a uma distância segura e observei quando chegaram na casa dele, que uma bela mulher foi recepcioná-los. Deduzi ser a esposa de Nicollas e tive de me conter muito para não aparecer ali e matar os dois.

Respirei fundo e voltei para minha casa, agora sabia onde ele morava. Restava-me apenas decidir como matá-lo.

Decidi que o faria na véspera de ano novo.

Por quê? Porque foi nesse dia que eu tive a certeza de amá-lo e dei meu coração a ele quando externei esse sentimento. E seria nesse mesmo dia que Nicollas daria o coração a mim.

As ruas de Paris estavam agitadas, muitas pessoas optaram por jantar mais cedo com suas famílias e agora estavam nas ruas à espera da anual queima de fogos. O clima era de confraternização e esperança, todos sorriam e se abraçavam, desejavam um bom ano uns aos outros. Eu também estava muito feliz, era o dia de colocar meu plano em prática. Plano esse que me consumira por quase seis meses.

Não parava de pensar em Nicollas por nem um segundo. O sorriso parecia estar congelado em meu rosto e muitas pessoas me desejavam felicitações e eu as respondia educadamente. Estava ansioso demais para lhes dar a atenção devida.

Estava na rua da casa de Nicollas e aguardei atrás de uma árvore. Sabia que uma hora ele e a esposa iriam sair para assistir à queima de fogos.

Não demorou muito e os vi. Estavam acompanhados de mais um casal e quando chegaram ao portão, Nicollas pareceu esquecer de alguma coisa e falou algo para sua esposa e o casal, como se fosse para eles seguirem na frente que iria encontrá-los. Quase pulei de alegria. Não teria outra chance mais perfeita do que aquela.

Quando vi que estava sozinho na rua novamente, corri em direção à sua casa e pulei o baixo muro. A porta da frente estava aberta, o que deduzi que estaria, pois Nicollas não esperaria que ninguém entrasse. A casa não era muito grande e logo ouvi passos indicando que ele estava no andar de cima. Subi as escadas silenciosamente e vi uma porta aberta no fim do corredor, olhei para dentro do quarto e vi que este estava revirado, Nicollas procurava algo e estava nervoso por não conseguir encontrar.

- Merde*!! Onde está o maldito relógio??

- Procurando alguma coisa, Nicollas?

Fitei-o parar ficando com o corpo rígido, ele demorou uns bons segundos para virar na minha direção e quando o fez, me encarou como se estivesse vendo um fantasma.

- Por que está olhando assim para mim? Tem algo no meu dente? – meu tom de voz era sarcástico.

- O que... Como... O que está fazendo aqui, Isaac?

- Queria te ver, oras!! Ver se tinha esquecido de mim. Vejo que conseguiu. Sua esposa é muito bonita.

- Isaac, saia da minha casa agora!!

- Por quê? Está intimidado com a minha presença? Eu, um homem tão franzino. Um “ange”, como você disse na primeira vez que nos encontramos?

- O que quer? – ele rapidamente se afastou de mim. Como se sentisse que eu pudesse ser um perigo para ele. O que na verdade eu pretendia ser.

- Nada, já disse. Só estava com saudades. Queria te ver.

- Agora que já me viu, pode sair. Passar bem, Isaac.

Então foi de encontro a mim, tentando me empurrar para fora do quarto, mas fui mais rápido e o puxei para um beijo. No entanto Nicollas, se afastou de mim no mesmo momento, horrorizado com o que eu tinha acabado de fazer.

- Não me olhe assim, Nick. Não me olhe como se nunca tivéssemos nos beijado antes. Como se você nunca me desejasse. Você ainda me deseja? Sua esposa ainda o satisfaz como eu? Ela geme como eu ou não aguenta quando você é mais bruto? Hein?

- Não fale essas coisas, Isaac.

- Vejo nos seus olhos que ainda me deseja, Nick. Vejo cada parte do seu corpo arrepiada quando toca no meu corpo. Deixe-me ser seu. Só mais essa noite.

Notei a batalha interna que ele enfrentava no momento, mas sabia que aquilo estava ganho a meu favor. Não esperei que ele tomasse uma decisão e avancei contra seus lábios num beijo sôfrego. Por mais que odiasse admitir, eu sentia falta do corpo dele, dos seus beijos, da sua voz deliciosamente pervertida soando em meus ouvidos. Eu sentia falta de Nicollas Chevalier. Meu corpo precisava do dele e não podia recusar essa necessidade.

Nick me jogou bruscamente na cama e começou a rasgar minhas roupas sem a menor piedade e o fato de que eu teria que voltar vestido para minha casa era a menor de suas preocupações.

Pela primeira vez desde que começara esse relacionamento com o Nick, nós fizemos apenas sexo. Não havia amor envolvido naquilo, pelo menos não da minha parte, porque sabia que ele nunca me amara de verdade, foi apenas um momento de pura satisfação carnal e tenho de admitir, aquele homem sabia me levar à loucura. Quando acabamos, desabamos exaustos na cama e sabia que aquela era a hora perfeita para agir.

Aproveitei que estava recuperando suas forças e rapidamente peguei as pequenas cordas que estavam na bolsa que carregava. Deitei-o de barriga para cima e sentei em seu quadril. Comecei a rebolar para que nossas ereções encostassem e pude ver pelo sorriso sacana em seu rosto que esperava uma segunda transa naquela noite, porém não podia me distrair do meu plano. Amarrei seus pulsos na cabeceira da cama e seus pés na outra ponta. Ele não resistiu porque achou que era algum tipo de fantasia. Quando Nicollas estava preparado, peguei a faca e mostrei a ele.

Assim observei seus olhos se arregalarem e percebi que tremia ao sentir a navalha gelada percorrendo seu peito.

- O que pensa que está fazendo, Isaac?

- Apenas retribuindo tudo o que me fez sofrer.

- O-o que...

- Calado!! – desferi um tapa em sua face. – Você não sabe o que me fez sofrer. Eu me declarei a você. Eu disse que te amava e o que você fez? Nada!! Pegou todo o amor que senti por você e jogou no lixo. Disse que eu era só um alívio para o seu tesão intenso, não é mesmo? Então agora você vai pagar!!

- O que vai fazer? – o desespero que saía de cada palavra que pronunciava era como música para os meus ouvidos.

- Eu entreguei meu coração a você naquelas trincheiras, quando disse que te amava. Nada mais justo do que você me dar o seu coração agora.

- Co-como assim? O que vai...

Não esperei que ele terminasse de falar e comecei a cortar seu peito. Seus gritos eram maravilhosos e as lágrimas que banhavam seu rosto fizeram com que seu rosto adquirisse um brilho intenso. Quase angelical.

Ele era o meu anjo naquele momento.

O seu sangue passou a molhar minhas mãos e cravei ainda mais a faca em seu peito. Quando vi que o corte estava de um tamanho considerável, abri seu peito com minhas mãos e pude vê-lo. Aquele órgão do tamanho de uma mão fechada, mas que era tão importante para ele e para mim, pulsava de forma linda e ritmada e estava louco para pegá-lo. Os gritos, antes intensos, estavam cessando e sabia que Nicollas estava morrendo. Não demorou muito para que ele desmaiasse e precisava ser rápido. Os berros dele poderiam ter chamado muita atenção, já que aquela não era uma rua muito movimentada.

Aproximei meu rosto ao seu e beijei ternamente sua testa para depois beijar seus lábios, sua respiração estava fraca e saber que ele estava se despedindo desse mundo era excitante demais.

Estava na hora do golpe de misericórdia.

Segurei seu coração e o retirei de seu corpo. Ele ainda batia em minha mão. Aquele órgão quente e macio era meu. Finalmente meu.

O beijei ternamente e pude sentir o gosto de seu sangue. Era tão doce. Lambi como se saboreasse o alimento mais delicioso do mundo e era, porque tinha o gosto dele, o gosto do meu Nicollas.

Sabia que sua esposa e amigos dariam pela falta dele e precisava sair dali o mais rápido possível.

Juntei minhas coisas e saí do quarto, não sem antes beijar seus lábios novamente e contemplar seu belo corpo e seu rosto tão sereno, mas ao mesmo tempo envolto em dor. Sorri e saí daquela casa sem olhar para trás.

Quando cheguei em casa depois de matá-lo, coloquei seu coração em um pote cheio de formol e o coloquei na cômoda localizada na frente da minha cama. Assim, nunca poderia esquecê-lo.

Achei que esse sentimento passaria, achei que um capítulo da minha vida havia se fechado no momento em que aquele coração passou a me pertencer. Mas não. Três meses depois que aconteceu, a morte de Nicollas não era o principal foco dos jornais, até porque a Europa estava se recuperando de uma guerra e tinham coisas mais importantes para se anunciar.

Estava no mercado e acabei esbarrando em um rapaz, quando meu olhar se encontrou com o dele, quase desmaiei. Ele era muito parecido com o Nick. O mesmo sorriso safado, o olhar repleto de malícia, até a forma de andar, como se ele tivesse encarnado no corpo daquele rapaz. Descobri que ele trabalhava ao lado do IML parisiense porque ele foi até lá me convidar para um encontro. Iniciamos um relacionamento e mesmo que eu gostasse muito dele, sua semelhança com Nicollas desencadeava em mim sentimentos muito ruins, os mesmos sentimentos que tinha quando desejava a vingança. Tentei repeli-los de todas as formas possíveis, mas não conseguia. Optei por terminar com ele, entretanto Pierre disse que me amava e não conseguia mais viver sem mim.

No dia 31 de dezembro de 1919, Pierre fez um jantar surpresa para nós em sua casa, tudo foi maravilhoso e acabamos na cama. Assim que vi Pierre exausto ao meu lado depois de fazermos amor, uma vontade enorme de ir à cozinha me dominou e quando cheguei ao cômodo, minhas mãos foram quase que atraídas magneticamente para a gaveta de facas. Peguei uma semelhante à que usei há um ano antes e subi as escadas. Pierre tinha cochilado e estava tão belo quanto um anjo. Um anjo. O coração daquele anjo deveria pertencer a mim, foi a única coisa que pensei.

Algumas horas depois, estava colocando outro pote com outro coração ao lado do que pertencia ao Nick, e desde então esse se tornou o meu segredo.

Respirei fundo e levantei do sofá. Precisava por um fim naquilo. Não aguentava mais a culpa que carregava por matar homens inocentes apenas por carregarem traços semelhantes ao Nicollas. Subi lentamente as escadas e entrei no meu quarto, encarando novamente o corpo de Oliver. De todos, ele era o mais novo, o que fez com que a culpa fosse ainda maior. Ele tinha tantas ambições, uma longa vida pela frente e eu acabei com tudo isso por causa de um impulso doentio e egoísta. A faca que usei para tirar sua vida ainda estava em cima da cama. Deitei-me ao seu lado e peguei em sua mão que ainda estava quente, seus lábios estavam entreabertos e imploravam por um beijo. Beijo esse que não consegui recusar. Beijei-o e coloquei a faca em sua mão. Cobri-a com a minha e direcionei navalha para o meu coração. Quando vi que estava na direção do meu coração, olhei mais uma vez para seu rosto doce e inocente e enterrei a faca em meu peito. De todos, ele era o que deveria vingar a morte de todos os inocentes depois do Nicollas. Ele era puro o suficiente para carregar esse fardo. Não sei se foi a minha resignação, mas não doeu tanto quanto esperava. Apenas me senti sonolento enquanto minha camisa era ensopada por meu próprio sangue.

Agora estava pronto para pagar por meus pecados.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Ficou ruim?

Me alegraria muito vê-los nos comentários :)

Até a próxima!!



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