Cara pessoa cuja qual me falta pronome de tratamento adequado,

Percebi que a vida é injusta no momento em que nossos caminhos se cruzaram. Se fosse justa, eu nunca teria ouvido sua voz, nunca teria olhado na direção do som e nunca teria te conhecido.

“Te conhecido”, porque duvido muito que saiba quem sou! Talvez saiba meu nome, de tanto que foi gritado por aqueles corredores; talvez saiba dos sentimentos que nutri — talvez ainda nutra — por você, mas jamais me conheceu verdadeiramente. E suponho que jamais o tenha conhecido também.

Afinal, o que sabemos um sobre o outro? Sei um pouco dos esportes que pratica — embora eu não aceite o fato de Skateboarding ser considerado esporte... E que os skatistas que eu gosto não ouçam/leiam isso... Enfim, acho que futebol você joga bem —, sei que não atualiza o instagram na mesma proporção que qualquer ser humano normal faz — o que me faz crer que, talvez, você tenha quebrado o padrão dos geminianos e não se ame tanto assim. Ah, isso é outra coisa que sei: como nasceu no dia 28 de maio, sei que é do signo de gêmeos; mas não sei qual a lua e qual o ascendente: para isso precisaria da hora de seu nascimento. E ainda acho que esse pouco que sei, é muito se comparado ao que sabe sobre mim: talvez saiba que gosto de ler — eu vivia na biblioteca daquela escola e vivia com um livro em mãos — e acho que sabe de quem sou amiga naquele lugar... Se não percebeu o quanto uma de minhas amigas surtava quando você estava perto, talvez precise procurar por um oftalmologista...

Enfim, é muito pouco para se afirmar que se sente algo, mas acho que eu errei ao pensar ter quebrado os padrões de leoninos, e continuei sendo sensível. Talvez eu tenha me apaixonado por você, talvez eu tenha te amado e talvez eu nunca tenha tido coragem de me aproximar, quando o destino parecia querer isso imensamente: sempre estávamos nos mesmos lugares, nas mesmas horas, como se tudo tivesse sido perfeitamente cronometrado... Inúmeros encontros não desejados ao sair de sala para ir beber água, ou para pegar determinado livro na biblioteca.

Pensando agora, eu deveria ter aproveitado a oportunidade e ter falado com sua pessoa naquele dia na biblioteca, quando sua amiga tentava me ajudar com a impossível lista de matemática financeira, e você estava sentado na mesa ao lado, se sentindo tão entediado quanto eu estava. No fim das contas — literal e metaforicamente falando —, a lista não era tão impossível e talvez você não fosse tão inacessível! Mas eu sempre serei temerosa demais para acreditar que sou capaz de algo...

Para ser totalmente honesta, tramei um milhão de planos para falar com você, e descartei todos eles: acho que sou racional demais para deixar-me guiar pelo coração; apostei até mesmo em planos mais audaciosos — deixei duas loucas amigas perguntarem sobre você para um amigo seu — e recebi deles respostas que só fizeram meus medos aumentarem: diziam que você era insensível, sem coração, e um conjunto de expressões, repetindo-se sempre a mais clássica “ele é um galinha”

Claro que eu não deveria ter me surpreendido tanto — e que me perdoem os geminianos ao redor do mundo, mas conto apenas com a experiência própria ao dizer tais linhas... E nem sei por que tal aviso: quem mais leria essa carta?! — geminianos são assim, da mesma forma que nós, leoninos, temos nosso lado narcisista! Ah e me perdoe — ou foda-se, pra mim tanto faz: não irá fazer diferença alguma a essa altura do campeonato —, mas esse seu jeito é/era muito pouco para o que eu almejo em vida... Eu nem sei o que é, mas almejo.

Sinceramente: eu posso continuar a ter sentimentos profundos por você, mas acho que o meu lado racional, o que transforma sentimentos em palavras, se decepcionou e agora sussurra: quer mesmo isso para você, pequena poetiza? Não acha que merece algo melhor?

Não! Eu não acho! Não creio que mereço nada, pois nenhuma de minhas ações me levou a merecer, mas acho que, talvez, você não seja mesmo o meu caminho!

E talvez, esse excesso de dúvidas contidas nessa pequena palavra (talvez), seja uma forma de mostrar o quão injusta é a vida... Pois, se justa fosse, certamente eu não mais o teria em mente.

Se/quando nos esbarramos por aí, eu tenha coragem para falar com você... Nem que seja para socá-lo...

Qualquer coisa que seja certo lhe desejar,

A menina da sala ao lado.