A Ponte dos Cadeados escrita por Sophie S Sagesse


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Bonjour Messieurs! Agradeço por lerem minha história... É minha primeira de Death Note... Mas antes de continuarmos irei avisá-los para de que muito da personalidade do L não estará bem presente neste primeiro capítulo. Até agora eu me foquei no L do passado, ele possuí muitos defeitos e faz muitas coisas que o L que nós conhecemos jamais faria. Mas não se preocupem, depois de certas situações que iremos descobrir logo a baixo ele se tornará ainda mais cauteloso e inteligente. Oh sim, antes que eu me esqueça, muitas coisas aqui ficaram mau resolvidas tanto para os leitores quanto para nosso L, posso dizer que ao longo da história as coisas vão se resolver. Creio que agora eu deva calar-me e deixar meu leitor ou leitora prosseguir com a história... Nos vemos lá em baixo!



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A noite chegara envolvendo o céu em seu véu negro, a lua minguante era um brilho solitário no breu da madrugada britânica. A brisa fria e o sereno obrigavam os admiradores da lua a vestir casacos e meios de se proteger do frio. Contudo, o famoso detetive que ninguém jamais conhecera, não parecia se importar com o clima congelante. Sentado ao seu modo na sacada de seu quarto na Wammy's House estava um jovem de olheiras fundas, mais fundas do que o habitual, com a chegada da sombria data cuja qual gostaria de esquecer. Os cabelos negros e lisos, emaranhados e bagunçados de maneira um tanto selvagem, completava a imagem do detetive que, com um dedo na boca, observava o reflexo da lua nas águas cristalinas do lago da Wammy's House.

Lawliet lembrava-se com clareza daquela noite. Geralmente, costumava se orgulhar da infalível memória e do fato de observar e arquivar as coisas com total clareza em seu cérebro. Porém, todo o dia 23 de janeiro arrependia-se totalmente de suas habilidades. Lembrava, em detalhes, da fatídica noite na Pont des Arts... A famosa Ponte dos Cadeados.

E, naquela noite, assim como em todas as outras noites de 23 de janeiro. Lawliet submergiu nas lembranças que o transportavam para o passado.

Na época eu estava resolvendo um caso em Paris, o roubo de uma grande joalheria. Na verdade aquele era apenas um pretexto para treinar as habilidades de meus atuais sucessores. Estávamos hospedados em um hotel de luxo com Watari, BB e A. Por insistência de A, uma jovem de argumentos extremamente convincentes devo acrescentar, Watari, BB e eu fomos visitar uma das mais famosas pontes do Rio Sena, a chamada Pont des Arts. A, tinha uma mania peculiar, assim como todos na Wammy's House creio eu, ela gostava de somar, algo tão corriqueiro na matemática e na vida devo dizer também. Entretanto, A resolveu tentar decifrar quantos casais de enamorados haviam depositado seus cadeados naquela ponte. Naturalmente, eu não duvidaria de que ela conseguisse o fazer. Afinal, A era capaz de resolver problemas matemáticos que nem Gauss seria. Em todo caso, fomos com ela até lá onde Watari a acompanhou ao inicio do lado direito da ponte.

Fiquei á sós com Beyond, que já naquela época possuí a mania de me copiar. Lembro-me, de forma culpada, de que naquele tempo chegava a achar isso engraçado. Eu tinha tanto carinho por ele e por A... apesar da quase insignificante diferença de idade entre nós ele era - respirei fundo - como meu irmão mais novo para mim...

Ele parecia tentar disfarçar algo, apoiado na beirada da ponte, se mexia inquieto, talvez pelo fato de várias pessoas nos observarem com visível asco nos olhos, coisa que eu sinceramente não me importava. Não era de meu fetio sair em público, mas não por ser antissocial ou me sentir incomodado com o jeito que olham para mim, mas sim porque era mais uma questão de segurança. Talvez quem não me conheça tenha a péssima impressão de que não gosto de pessoas. Um equívoco com toda certeza.

Desde bem pequeno decidi abdicar de minha liberdade pessoal em prol de uma liberdade maior, para com minha consciência e para o resto do mundo. Em minha adolescência me agradava muito pensar em mim mesmo como um “Paladino da Justiça”, um jovem cavalheiro cujo único amor era ela – veja bem, como o destino nos prega peças– a Justiça, e eu juraria preserva-la, honrá-la e respeita-la, para todo sempre. Bem, creio que em minha adolescência a falta de contato com o sexo feminino me tornou um bom romântico. Mas meu maior objetivo com isto tudo era livrar as pessoas da triste experiência de passar por uma das mais comuns loucuras, a impotência. Ah sim, a impotência! Quer você considere isto uma loucura ou não, permita-me dizer que qualquer sentimento que atormente sua consciência corre grande risco de ser, nada mais ,nada menos, que uma miserável loucura. Quando meus inocentes olhos de criança pairaram sobre a imagem de meus pais de mãos dadas, seus rostos sendo devorados pelas chamas e seus olhos sem vida iluminados apenas pelo brilho do fogo cruel, eu soube. Ninguém deveria passar por isso. Ter de fugir para se salvar sem poder salvar quem realmente gostaria. Sentir a culpa te dominar e abraçar sua consciência, planejando te derrubar e se alojar por ali para todo sempre. Respirei fundo e fechei os “parênteses” em minha mente, a fim de espantar os tremores que se espalhavam pelo meu corpo. O fato era que eu realmente gostava das pessoas, e gostava de decifrá-las, a maioria era tão previsível que chegava a ser divertido de prever exatamente o que fariam ao me ver. Comecei a olhar em volta, observando as pessoas. De repente percebi um suspiro irritado vindo de alguém ao meu lado.

BB também observava as pessoas ao nosso redor, mas, de maneira contrária, aquela situação era de completo desconforto para ele. Beyond olhava com raiva para cada pessoa que os encarava.

– Se sente desconfortável? – Perguntei deixando transparecer um pouco de curiosidade a BB que parecia estar a ponto de ter um ataque.

Na época o grande detetive L não era tão cuidadoso sobre sua máscara de indiferença para com seus sucessores.

– Eles não param de olhar para cá! Isso me irrita muito! – Disse, desistindo de esconder suas emoções, como sempre fazia.

– Bem, em geral as pessoas são completamente movidas pelas emoções e pelas aparências. Elas agem como a sociedade classifica como normal, e em beneficio próprio. No momento, as pessoas estão nos olhando com olhares atravessados porque quebramos as regras, por assim dizer. Não nos encaixamos no padrão de normalidade da sociedade. – Resumi.

– É desprezível o jeito com que tratam o desconhecido, somente porque nunca virão pessoas se portarem assim antes... Acham ter o direito de... – BB estava uma pilha de nervos, o interrompi antes que ele atacasse a senhora que fofocava com sua amiga dando olhares furtivos para nós.

– Realmente as pessoas não agem certo quanto a isso, mas também não é por causa de uma futilidade dessas que os indiscretos merecem morrer não é mesmo? Eles são imperfeitos, assim como você e eu, assim somos nós, os humanos. – Falei com calma, botando a mão no ombro de BB, o que chama a atenção do jovem.

– Não L. Você é perfeito não é? Por isso eu tento me parecer com você, nós dois somos perfeitos. – Disse Beyond, me deixando sem palavras. BB tinha apenas 14 anos na época. Eu sempre soube de sua certa obsessão por mim, mas nunca havia pensado que era tanta.

Antes que pudesse responder a Beyond algo se chocou contra as minhas costas. Me virei rapidamente e dei de cara com uma jovem de olhar preocupado.

“Depuis longtemps mon c? ur

Etait à la retraite

Et ne pensait jamais

Devoir se réveiller”

Foi a primeira vez que a vi, a primeira troca de olhares.

Sua grande curiosidade por tudo fez com que engajássemos em uma deliciosa conversa. Cada movimento ou suspiro daquela doce jovem despertava meu interesse. Acabamos por nos dar muito bem, descobrindo diversos pontos em comum. Seu nome era Isabelle. Ao final do passeio a jovem saiu apressada dizendo que sua família não a perdoaria caso se atrasasse para o jantar.

Isabelle era uma pessoa doce, agradável, animada e muito curiosa, eu me sentia bem quando estava com ela. Depois daquele dia, uma semana se passou. Tínhamos acabado de terminar o caso, e resolvemos (A nos obrigou) a sair e comemorar. Fomos jantar em um restaurante, desde aquele dia em que conheci a menina B parecia estranho, geralmente ele fazia de tudo para ficar próximo de mim, mas agora parecia evitar falar mais que o necessário.

Depois de jantarmos os outros voltaram para o hotel. Mas eu resolvi sair um pouco, sozinho, com meus próprios pensamentos.

Já era tarde da noite, em plena madrugada parisiense não havia mais nenhuma criatura viva na ponte. Estava observando a lua quando percebi os olhares de alguém em mim. A princípio não estranhei, era sempre assim quando as pessoas viam minha pessoa. Mas de repente alguém me cutucou. Um risinho infantil tilintou aos meus ouvidos, virei-me e dei de cara com aqueles olhos azuis... Isabelle.

“Mais au son de ta voix

J'ai relevé la tête

Et l'amour m'a repris

Avant que d'y penser”

Ela sorriu, ficamos conversando por um bom tempo, depois marcamos de nos encontrar ali mesmo, na próxima noite. Eu me sentia tão feliz. No dia seguinte, A e BB voltaram ao orfanato, mas eu resolvi ficar. Watari os deixou no aeroporto e pediu a Roger para que os fossem buscar em Londres.

“Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle

Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Comme on passe le doigt

Entre l'arbre et l'écorce”

Desde então nos encontrávamos todas as noites. Já estávamos na metade do mês de novembro. Era dia 24 e eu estava completamente apaixonado. Há noite me declarei, a lua foi nossa testemunha, a pedi em namoro e ela aceitou. Naquela noite, prendemos na nossa ponte, mais um cadeado, apenas mais uma costumeira promessa para as velhas grades daquela ponte... a promessa de um amor eterno. Ele era de bronze, tinha nossas iniciais e o formato de coração, a letra florida de Isabelle ao lado da minha tinha um contraste lindo. A chave foi jogada no Sena, tendo o rio como guardião, para que ninguém fosse capaz de desencadear nossos corações.

“L'amour s'est infiltré

S'est glissé sous ma peau

Avec tant d'insistance

Et avec tant de force”

Olhei novamente para a lua, nem de longe era tão brilhante como a daquela noite... E o desespero mais uma vez explorava meu coração, eu sabia o que iria aconteceria a seguir.

“Que je n'ai plus depuis

Ni calme ni repos

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle

Isabelle Isabelle Isabelle mon amour”

Eu estava tão inebriado pelo sentimento da primeira paixão que me desliguei completamente do mundo. Quando Watari me informou que A havia se suicidado me assustei, não imaginava o caos que estava o Wammy's House. E depois que BB sumiu, não dei a devida atenção ao caso. Não me concentrava em mais nada, Watari estava muito preocupado comigo.

“Les heures près de toi

Fuient comme des secondes

Les journées loin de toi

Ressemblent à des années”

Era dia 23 de janeiro... Eu estava um tanto atrasado, quando cheguei percebi muitas faixas bloqueando a passagem, um grande buraco atravessava a ponte, alguns materiais de construção ainda espalhados pelo local e uma placa em francês e inglês sugeriam que a ponte estava fechada para reformas. Olhei ao redor, procurando ver Isabelle, mas já era tarde da noite, sempre nos encontrávamos neste horário por preferirmos a calada da madrugda ao tumultuado de gente que a ponte era durante o dia. Eu estava levando flores, um buquê de rosas, as suas favoritas. Sorri lembrando-me do motivo de ter de segurar o buquê com cuidado, Isabelle achava que “não se deve cortar os espinhos das rosas, pois todos possuem qualidades e defeitos e devemos aceitá-las como elas são” apenas mais uma das várias lições que Isabelle me ensinou com seu jeito de ser. Olhei mais uma vez, ao longo da ponte, e percebi uma silhueta feminina, parada ao centro da mesma, um pouco a frente de onde estava o buraco, a observar as estrelas, logo reconheci os belos cachos de Isabelle.

“Qui donnent à mon amour

Un goût de fin du monde

Elles troublent mon corps

Autant que ma pensée”

Olhei pra os lados, não havia ninguém na rua naquela hora e os que estavam provavelmente não iriam lembrar nem mesmo do próprio nome na manhã seguinte. Resolvi entrar lá e chamar aquela teimosa para não termos problemas maiores. O vento da noite acariciava seus cabelos... Com um rápido beijo roubado Isabelle me convenceu há ficar um pouco mais por ali, afinal, que “linda vista do céu nós temos desta ponte, não é?” Conversamos um pouco sobre astronomia, Isabelle era muito inteligente, adorava ouvir suas opiniões sobre o mundo. Estávamos tão distraídos um com o outro naquela ponte pouco iluminada, que mal percebi a pessoa que se aproximava sorrateira pelas minhas costas. Quando a expressão Isabelle mudou para medo foi que me toque dos passos. Passos que aproximavam minha desgraça. Quando me virei, vi a face que menos esperava ver naquela noite, naquele lugar. Beyondy Bhirtday me encarava com seus olhos cor de sangue ardentes e repletos de malícia, o sorriso torto de quem se divertia por arrancar de mim a expressão de surpresa... Oh, sim... Depois vieram as palavras. As palavras que a mim foram despejadas, as palavras que de verdades e maldades eram feitas, e me enterravam nos meus erros, sufocando-me na culpa.

– Então, L, pelo seu nada habitual espanto devo chegar à conclusão de que sequer lembrava-se de minha existência, correto? Pois bem! Acho que é meu dever recordar-te do que seu pequeno desvio de foco causou aqueles que te admiravam. – Beyond falou por entre os dentes apontando sua faca acusatoriamente para mim, como se ralhasse com um cachorro mal criado com um pedaço de jornal - Sabe L, desde que eu e A voltamos para Inglaterra o Wammy's House começou a passar por mudanças... Você deveria se lembrar L! Nunca faltava a visita semanal ao orfanato. Mas vejo que desde que conheceu essa puta você tem tido outras prioridades não é? Desde que passou a ter outros... Afazeres... – Beyond lambeu os lábios avaliando Isabelle da cabeça aos pés, a puxei para trás de mim, fazendo Beyond gargalhar-se sozinho. A ponte quebrada nos deixava sem saída, precisava abrir caminho. Pensei.

– Ora L, não seja tão ciumento! Mas queira desculpa-la, sua putinha me fez perder o foco da conversa. Onde estávamos? – fingiu refletir girando a faca entre os dedos para depois voltar a me acusar com a mesma.

– Oh sim! Você nos abandonou, L! Você achou o que? Que cartas escritas às presas com desculpas esfarrapadas iriam nos enganar? Justo nós que fomos treinados para suceder o “gênio”, o “trunfo” da justiça? Você nos subestimou L, você ME subestimou! Os dias passaram, você aqui se divertindo com a vadia e eu e A lá, nos esforçando, sobre a pressão de talvez não sermos bons o bastante para te suceder. Mas quer saber L? Nesses meses eu andei estudando e descobri algo novo. Descobri que quem não é bom o bastante para algo aqui é você. Você que se diz a justiça, mas não fez jus a admiração e carinho que tinha. Você L, você era meu herói. – sua voz abaixou alguns oitavos e uma lágrima escorreu pelos meus olhos... - A entrou em depressão. Você não faz ideia de como foi, à noite eu a ouvia, do quarto ao lado, gritando, chorando e gemendo de dor. Ela passou semanas assim, trancada, dizia estar estudando mas não comia mais, as refeições que eu trazia para ela continuavam intocadas apodrecendo aos cantos de seu quarto. Quando ela parou de dar sinal de vida e o idiota do Roger resolver se dar conta de que ela não estava “apenas estudando” já era tarde demais. Quando entramos no quarto A estava deitada no carpete que já não era mais branco, os pulsos roxos abertos sangravam rios da vida que uma vez foi dela. Suas muitas calculadoras quebradas e jogadas ao longo do quarto. – Beyond me encarava com aqueles olhos escarlates e neles eu podia ver os detalhes da morte de A que Watari havia me omitido. Aquilo era culpa minha, eu tinha consciência, sentia-me imundo – A pressão em cima de nós dois era tanta... E você sequer lembrou-se de pensar em como estávamos, uma palavra, um conselho, estávamos nos empenhando para dar continuidade aquilo tudo que VOCÊ nos ensinou! – BB golpeou o ar com força, os olhos perfuravam minha alma e minha mente - E você simplesmente nos esqueceu por uma vadia francesa. Foi sua culpa, parabéns “meu herói”, você cometeu um trabalho sujo pior do que o de todos aqueles criminosos que você levou á “justiça”. – Seu olhar recaía sobre mim como se estivesse olhando para o inseto mais repugnante da face da terra, meu coração doía com a culpa de continuar bombeando sangue por alguém tão miserável quanto eu. - Mas agora, – Beyond riu-se com escárnio –agora eu sei que de nada adianta essa justiça podre que você representa. É como lhe digo, se quer uma tarefa bem feita, então faça você mesmo. Essa coisa ridícula intitulada justiça que só sabe dizer “sinto muito” e ficar sentada atrás de uma escrivaninha, não serve. Essa justiça podre que ainda não puniu o culpado pelo assassinato de A.

Limpei a garganta e ergui os olhos, precisava mantê-lo falando.

– A se suicidou BB, você precis...

– Ela não se suicidou! – Beyond gritou em um gesto brusco encostou a faca em meu pescoço, sem me ferir, apenas me ameaçando - você, e seu egoísmo a mataram. – ele retirou a faca e Isabelle me puxou para trás, ela tremia. - E agora, eu irei fazer o que nenhum dos miseráveis da policia fez. Eu irei fazer justiça, só dessa vez, te garanto, - Beyond falou, num tom divertido – não pretendo mais seguir seus rastros. Logo você verá como a minha inteligência é superior a sua, e o mundo há de reconhecer a verdade. Vamos L, mostre o quanto é cavalheiro e dê passagem à putinha, na falta de alguém para chamarmos de dama. – Meus músculos travaram, eu precisava fazer algo, não tinha muitas chances contra um Beyond armado. Um vislumbre de uma lembrança saltitou pela minha mente, era BB ainda pequeno, vestindo minhas roupas e tropeçando nelas enquanto tentava aprender a lição de artes marciais que eu lhe passava com carinho. Não. Não teria grandes chances. Mas talvez consiga tempo para Isabelle fugir. Vendo que não me movimentei Beyond suspirou, parecendo decepcionado. – Pois bem então.

Eu não conseguia pensar em nenhum lance, não podia jogar esse jogo, Beyond abaixou os olhos e respirou fundo, vi ali uma chance. Chutei sua mão que estava segurando a faca. Agilmente Beyond bloqueou e segurou meu pé com a mão esquerda fazendo um corte fundo em minha panturrilha, ele girava a faca cravada em minha pele como uma criança que gira a manivela de uma caixa de surpresas, dilacerando minha carne. Eu rugia de dor. Isabelle chorava, pelo canto dos olhos pude ver que seus dedos sangravam enquanto ela os apertava contra os espinhos do buquê de rosas. Não conseguia fazer nada para impedir. Beyond tirou sua faca de dentro do ferimento atirando-me para longe, para o buraco da ponte. Nos últimos instantes consegui me segurar em uma das tábuas. As farpas penetravam em meus dedos, aquela tábua não aguentaria muito tempo. Minha perna sangrava e ardia fazendo minha mente rodar e meus sentidos falharem, a dor era tanta que temia a inconsciência. Tentei me balançar na esperança de conseguir impulso de voltar para cima, mas era impossível, o menor movimento de minha perna direita poderia me levar a um desmaio.

“Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle

Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Tu vis dans la lumière

Et moi dans les coins sombres”

Isabelle estava desesperada, partiu em minha direção tentando me ajudar, entretanto Beyond foi mais rápido. Ele a abraçou por trás a arrastando para longe de mim a faca suja do meu sangue agora era levada ao encontro do dela. Beyond virou-se de costas para mim com Isabelle agora de frente para ele. Eu não poria ver, mas sabia, de algum modo eu sabia, seus olhos escarlates sorriam quando ele finalmente enterrou a faca em seu peito, lentamente, vendo a luz e o brilho da vida deixar os belos olhos azuis de Isabelle, Isabelle mon amour.

“Car tu te meurs de vivre

Et je me meurs d'amour

Je me contenterais

De caresser ton ombre”

Eu gritei, deixei de lado todo meu treino psicológico para não demonstrar emoções e chorei: de dor, de raiva, de ódio. Esquecendo-me da dor física em minha panturrilha, lancei-me para cima escalando com as unhas como pude até alcançar a superfície da ponte. Beyond, que agora já havia se virado para mim com o corpo inerte de Isabelle nos braços, agora me encarava surpreso. Afastou-se alguns passos e sorriu. Jogou o corpo de Isabelle ao rio, esquecendo-se de antes retirar a faca. Agora éramos apenas nós dois, o que antes era a culpa deu um breve lugar ao ódio. Antes que Beyond se iniciasse a luta me precipitei em um chute com a perna machucada na boca de seu estomago, o lançando para trás, meu corpo reclamou, fazendo com que eu caísse em cima dele. Beyond me deu um soco que eu revidei, joguei minhas duas mãos em seu pescoço, a fim de alcançar o ponto frágil de suas vértebras, quando o encontrei o apertei com força, deixando-o inconsciente. Eu também já não podia segurar a dor, busquei em meu bolso um celular já ultrapassado e chamei a policia. Com minhas ultimas forças sussurrei onde estava a atendente para depois desfalecer ao lado de um jovem que já não era mais meu irmão mais novo, sequer era conhecido para mim de outro modo a não ser como o sanguinário assassino de Isabelle.

Isabelle mon amour.

“Si tu voulais m'offrir

Ton destin pour toujours

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle

Isabelle Isabelle Isabelle mon amour”

Um ano depois, após muitas sessões de fisioterapia e um bom tempo no hospital finalmente pude voltar aos meus afazeres. Mas já não era o mesmo jovem que se encontrava com a namorada em uma ponte do amor. Olheiras fundas e roxas cresceram abaixo dos meus olhos, eu já não dormia mais, temia voltar àquelas lembranças... E meu corpo sequer reagia a tal fato. Pude voltar a andar, ainda que com dificuldades. Mas jamais pude recuperar o fato de que sempre que fechava os olhos via os olhos azuis e inocentes de Isabelle. Ouvia sua leve gargalhada distante... seus cachos tão longes que meus dedos jamais poderiam alcançar. Ao longo dos anos Watari marcou diversos psicólogos para mim. Jamais compareci a qualquer consulta. Para policia inventei uma história qualquer, que foi muito bem aceita por sinal, frustrei a mídia com a falta de entrevistas até que o caso perdeu seu destaque para uma nova celebridade qualquer. Não fui convidado ao enterro de Isabelle. Creio que sua família me culpe tanto quanto eu mesmo pelo evento. Mas mesmo assim podia escutar... Eu podia ouvir o badalar triste dos sinos anunciando seu enterro. Pois eram os mesmos sinos que anunciaram o de meus pais e que poderiam muito bem, estar anunciando o meu, ou invés do dela.

“Car tu te meurs de vivre

Et je me meurs d'amour

Je me contenterais

De caresser ton ombre”

O que doía o detetive era saber que, de certa forma, BB tinha razão. Fazia cerca de três dias que Beyond havia fugido da prisão de segurança máxima, e por isso e pela data que se encontravam suas palavras rondavam a mente de Lawliet mais do que deveriam. Quando me apaixonei deixei que os sentimentos se sobreporem à razão. E esse foi meu pior erro, por isso deixei de dar a devida atenção os meus deveres, eu fui culpado por A ter se suicidado e BB ter se tornado um assassino. Por minha culpa o coração palpitante e alegre de Isabelle... já não bate mais.

Os sinos badalavam, lembrando-me de mais uma morte que não fui capaz de evitar.

“Si tu voulais m'offrir

Ton destin pour toujours

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle

Isabelle Isabelle Isabelle mon amour”


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Notas finais do capítulo

A música que me ajudou a compor o capítulo se chama "Isabelle" interpretada por Charles Aznavour. Aqui em baixo eu irei colocar a tradução e o link para que vocês possam ouvi-la ^^. Mas vou dizer que acho melhor não escutar a música enquanto lê o capítulo, creio ser melhor fazer uma coisa de cada vez para poder apreciar ambos... Mas, o risco é seu.

Isabelle

Por muito tempo o meu coração
estava aposentado
E não pensava nunca
de se ver desperto

Mas ao som da tua voz
aumentei a cabeça
E o amor retomou-me
antes que pensar

Isabelle, Isabelle, Isabelle, Isabelle
Isabelle, Isabelle, Isabelle, meu amor
Como passamos os dedos
entre a árvore e a cortiça

O amor infiltrou-se
deslizou-se sob a minha pele
Com tanta insistência
e com tanto força

Que não tenho mais desde
nem calma nem descanso
Isabelle, Isabelle, Isabelle, Isabelle
Isabelle, Isabelle, Isabelle, meu amor

As horas perto de você
fogem como segundos
Os dias distante de você
assemelham-se à anos

Quem dão ao meu amor
um gosto de fim do mundo
Perturbam o meu corpo
tanto quanto o meu pensamento

Isabelle, Isabelle, Isabelle, Isabelle
Isabelle, Isabelle, Isabelle, meu amor
Vives na luz
e eu nos cantos sombrios

Porque você morre de viver-se
e eu me morro de amor
Satisfar-me-ia
acariciar a tua sombra

Se quisesses oferecer-me
o teu destino para sempre
Isabelle, Isabelle, Isabelle, Isabelle
Isabelle, Isabelle, Isabelle, meu amor

Link: https://www.youtube.com/watch?v=XIawTVFgGAo