O fim...?
Eu havia entrado num caminho sem volta alguma.Um ciclo vicioso tomava conta de mim.Eu não conseguia parar,não podia parar.Talvez,só talvez isso um dia pudesse chegar ao fim.
Hoje fui maltradada denovo por meus colegas de classe.Dessa vez fui chamada de "Quatro olhos" e "Esquisita".Eles não se cansam de me fazer triste,e essa tristeza que eu carrego vem desde minha infancia.Eles fazem isso comigo desde pequena.Então meu escudo foi me tornar anti-social e manter minha melhor cara séria e assustadora.Meu olhar cortante era a minha melhor arma para mante-los distantes de mim.Pelo menos isso diminuiu o ataque cruel,mesmo que não tivessem acabado.
Minha vida foi de mal a pior,quando os únicos amigos que eu tinha me deixaram na mão e se esqueceram de mim.E isso é mais um peso em meus ombros,pois é horrível se lembrar tão nitidamente de alguém quando essa pessoa não lembra nem que voce existiu.
Suspiro pela enésima vez,enquanto me olho no espelho.Eu tinha chegado em casa fazendo meu melhor papel como atriz,com meu melhor semblante radiante e feliz para não magoar e preocupar os que eu ainda acho que me amam.Isso é um sacrificio para mim a cada dia que passa.Pois nada está bem.Nunca está bem.
Por dentro eu sou um vidro frágil,que em mais um toque,mesmo que suave,pode destroçar em minusculos cacos que afundam num vazio profundo.Mas minha aparencia é a de uma pessoa forte e com inteligencia adulta,que não demonstra medo.Mesmo que eu tenha apenas 12 anos.Isso é fonte de risada para os outros,e descontento com a minoria.
Ainda de frente ao espelho,começo a me observar melhor.Meus cabelos negros e cheios que cobriam parte do meu rosto cansado.Meus olhos escuros,deliniados por volumosos cílios,não continham mas brilho.Eram duas esferas de infinita tristeza,que todos não se atreviam a olhar por muito tempo.Elas carregavam mais que tristeza.Isso já é uma coisa que eu não consigo explicar.É impossivel de se explicar.
Suspiro mais uma vez.Pensar tanto sempre fora meu forte,mas todos esses pensamentos inúteis sempre ficavam presos no mesmo lugar.Isso é cansativo,sempre é.Pensar pode ser bom em algumas situações,mais na maioria é muito,muito ruim.Como eu queria que isso parasse.
Tirei meu olhar do reflexo da eu que nunca era reconhecida,direcionando-o para a pia.No balcão de mármore tinha uma navalha,um pote com remédios e um caderno e lápis.Peguei primeiro esse caderno,me sentando na tampa fechada do vaso sanitário.Comecei a escrever tão agilmente,expondo da melhor maneira possivel como me sentia,como se fosse a último coisa que eu fazia.Talvez fosse.Ou talvez não fosse.
Parei de escrever,e na página seguinte,fiz um desenho.O rosto de uma garota de cabelos repicados,com seus olhos inchados por conta das lágrimas que desciam em abundancia.Essa era minha retratação da minha realidade.Coloquei o caderno em seu devido lugar,e comecei a encarar a navalha,que repousava fria e brilhante.Apenas o ato de tocar meus olhos nela,conseguiram me fazer lembrar e buscar na memória tudo de bom e ruim.Gritei um sonoro "Chega!",segurando firmemente aquela lamina.Tão forte,que conseguiu cortar a palma da minha mão,fazendo uma fina gota de sangue cair.
Voltei a sentar,só que dessa vez no gelado mármore branco,que mais tarde seria pintado com minha cor.Sorri,encostando a lamina em meu braço branco e pálido.As veias apareciam tão facilmente,que não era preciso prende-las.Senti uma pontada de dor,quando a finquei no pulso.Puxei-a para o lado,criando um corte pequeno,mas profundo.
A mesma ação foi feita por todo os dois braços.Em minha volta já se encontrava uma poça vermelha,manchando minha roupa.Comecei a chorar.Um choro desesperado,onde as lágrimas pareciam levar toda a dor,junto com o sangue.Os dois se misturaram,parecendo refletir todos os meus pensamentos,e todos os segredos dolorosos do meu coração.Que até para mim,eram desconhecidos.Era uma imensidão de tristeza.Maior do que eu realmente sentia.
Então minha visão escureceu e minha cabeça começou a pesar,tombando no chão.,que agora carregava uma mistura de vermelho do sangue e o transparente das lágrimas.Fechei meu olhos com força,deixando a inconsciência me levar.
"Por que vida,porque ser tão cruel?"