Believe in Yourself escrita por Murasaki


Capítulo 6
Sincero




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A arrogância era uma das características mais marcantes de Eggman. Provavelmente causada pela grande confiança em si mesmo, esse traço era responsável por gerar outros fortes aspectos como impaciência, individualidade, e um ego que não cabia dentro de seu próprio corpo. Aquele brilho orgulhoso no olhar de quem cantava vitória antes do tempo não parava de crescer a cada encontro com o Team Sonic, mesmo fracassando várias e várias vezes.

Esse era Dr. Ivo Robotnik. Altivo, inconfundível, e desastrado. Era o humano enorme que estava naquela sala, mas, ainda assim, havia algo muito diferente.

O homem sentado na grande poltrona parecia ser mais cauteloso e menos presumido. Não houve uma provocação debochada sobre a esperteza dos seus inimigos ou um chilique acompanhado de um punhado de robôs fracassados. Blaze analisou tudo isso desde que anunciaram sua presença ali. - Será que é um truque?

O cientista demorou, mas finalmente falou:

— Perguntas? Sobre o quê?

— Eggman, não seja ridículo, sabe do que estamos falando. Você nos vigia 24h por dia. Já deve ter percebido. – Retrucou Amy.

E era verdade. Eggman já sabia o motivo. Afinal, como não saber? Ele delongou um pouco antes de prosseguir novamente:

— Sim. Eu sei. O ouriço não está com vocês. Mas eu não sei de nada.

— Eggman, eu tenho uma proposta. – Se o cientista parecia confiante em suas próprias palavras Tails aparentava estar dez vezes mais. Até Blaze e Amy se impressionaram com o tom de voz do raposo. – Você deve estar se perguntando como foi possível chegarmos até aqui em cima. Quando passávamos pela região, antes de entrar na base e rodeando-a várias vezes, percebemos que não havia janelas. Todo prédio completamente fechado tem que ter alguma central de ar, e esse não foi diferente, porque encontrei com bastante facilidade os tubos de ventilação. Entramos por ela.

Eggman ouvia as palavras de Tails em silencio. Blaze ainda pareceu desacreditar que aquele era mesmo o doutor. A maneira silenciosa de agir ainda lhe era muito estranha.

— Afinal, o que vocês querem? – Perguntou Eggman, dessa vez com mais firmeza.

— Nós vamos fazer algumas perguntas para você. Se você nos deixar interrogá-lo sobre o desaparecimento de Sonic, será libertado.

O cientista gordo pareceu rir sutilmente após última frase do raposo. Mas resolveu continuar em seu jogo:

— E se eu recusar?

Tails não se admirou com a pitada de sarcasmo na voz de Eggman. Se ele realmente havia sequestrado Sonic, não revelaria seu verdadeiro local assim tão fácil. - Chega de pensar, é hora de rebater e partir para ameaça pesada.

— Enquanto eu andava pelos compartimentos da sua central, instalei algumas pequenas bombas de uma coisa que eu chamo de Antox, abreviação para Anti-oxigênio. Obviamente, o objetivo não é destruir o prédio, seria tolice. Mas ainda assim, essa explosão é fatal, apenas para para humanos, não para nós, pois a fumaça reage diretamente com o ar. Tenho certeza que ela vai se espalhar rapidamente pela ventilação por toda a base blindada. Se você interromper a central, irá morrer sufocado, sem ar. E se tentar sair sem a proteção devida, pode correr o risco de não chegar nem até a porta. Ah, e não me espere para te salvar, porque não irei.

Caramba. — Amy e Blaze se assustaram em pensamento. Tails não havia contado esta parte do plano para as duas. Tails apenas colocava aqueles pequenos dispositivos e quando ambas perguntavam o motivo, ele apenas prosseguia sem mencionar uma palavra.

Amy logo entendeu que para resgatar Sonic, era preciso colocar tudo à prova, até mesmo seus próprios conceitos. Ela também mudaria sua atitude drasticamente para conseguir salvar Sonic. Será que ele está falando sério?— Amy mordeu os lábios inferiores. Torcia para que estivesse errada e Tails estivesse apenas fingindo. Era por isso que ela tinha medo de mudar. Achava que isso poderia afetar a relação com as pessoas que interagia. - Mudar é muito complicado.

— Elas podem ser detonadas a qualquer momento com um simples comando. E então, Eggman? O que será? – Perguntou o raposo.

O cientista não via saída. Estava mesmo encurralado, mas também impressionado com a capacidade do raposo. Ele superou os próprios limites.— Pensou Eggman. O mesmo acontecia com a sua atitude. Se esta ameaça tivesse sido feita em outra ocasião, não acreditaria que ele seria capaz de fazê-lo. Mas agora, o cientista não queria testá-lo, mas também não ficaria de braços cruzados. 

Alguns segundos depois ele respondeu:

— Tudo bem, eu aceito.

...

O posicionamento foi rápido. O moderno detector só precisava de um leitor de batimentos cardíacos, e estar em um ângulo adequado e próximo do questionado.

Tails estava pronto para começar as perguntas. Amy e Blaze observavam, receosas com o resultado das respostas. Poderiam avançar um passo no mistério daquele desaparecimento, ou então, voltar à estaca zero.

As questões começaram:

— Quando foi a última vez que viu Sonic?

— Há dois meses. Depois disso, nunca mais.

— E Silver? Tem visto-o?

— Não.

— Tem mantido contato com Eggman Nega?

— Não.

— Você viu Sonic antes de desaparecer? – Perguntou Tails.

— Já disse que não.

Tails respirou profundamente e olhou para a ouriça rosa. Amy acompanhava os resultados. Por incrível que pareça, viu que o polígrafo apresentava uma constância absoluta, o que só podia significar uma coisa: Verdade.

— Verdade, Tails.

— Você chegaria a sequestrar Sonic? – Era a vez de Blaze fazer uma pergunta.

— Sim, óbvio. Faço de tudo para tirar aquela peste do meu caminho.

Amy segurou-se para não correr e dar uma martelada na cabeça de Eggman. - Preciso me controlar.— Agora, mais do que nunca, era a hora de pensar com cautela em cada movimento. A resposta de Eggman, verdade.

— Verdade de novo. – Anunciou a ouriça.

— Eggman, se você não sequestrou Sonic, sabe quem faria isso? – Mais uma vez Tails perguntou.

— Não. – Sempre com o mesmo tom e a mesma face. Parecia que nenhuma das perguntas o afetava ou gerava algum tipo de empatia nele. Mais uma vez era verdade.

Amy já estava perdendo as esperanças. Já não aguentava mais, e então pulou para a última pergunta:

— Você sequestrou Sonic, Eggman?!

— Não. – Verdade novamente! A ouriça rosa não parecia acreditar no que acabava de ver.

Eggman percebeu o tom de espanto de Amy. Apenas inclinou um pouco sua face para visualizá-la, antes de dizer palavras mais fortes:

— E mesmo que eu soubesse ou dissesse onde ele está, vocês não teriam capacidade para ir atrás dele, nem muito menos salvá-lo.

Antes que Tails pudesse revidar, viu Amy sair correndo até o elevador sem avisar a ninguém. Vislumbrou uma lágrima cair ao chão. Ela estava chorando amargamente. Aquelas palavras realmente feriram seu orgulho. Precisava encontrá-la.

— Acho que não temos mais perguntas a fazer. Blaze, vamos sair daqui, não aguento mais.

— Certo.

Tails desativou o detector em silêncio e andou até o elevador junto com a felina. Apertou o botão que levava ao térreo e a única frase que disse a Eggman foi:

— Vejo você em breve.

...

Amy corria sem rumo pelo andar térreo do prédio. Suas lágrimas a impediam que enxergasse. Mas ela parecia não se importar com isto. Seu pensamento estava longe dali e tudo que queria era se afastar fisicamente daquele lugar terrível, agora lembrado por aquela declaração terrível de Eggman.

Assim que saiu pela entrada da base, correu pelas dunas de areia limpando seus olhos encharcados com sua luva. Por causa disto, acabou tropeçando em uma das pedras. Ajoelhou-se e começou a fazer perguntas a si mesmo com violência. - Por que isso tá acontecendo? Por que logo comigo?

Ela demorou um pouco na solidão, antes de sentir um toque em seus ombros. Olhou para trás e viu os seus amigos com uma expressão de conforto e acolhimento. Tails não sabia o que dizer, porém, vendo que estava na mesma situação que a ouriça estava, só teve tempo de repetir o que seu amigo azulzinho sempre dizia:

— Não se preocupe, tudo vai ficar bem. Sorria. – Amy sorriu. Blaze e Tails levantaram Amy e todos voltaram ao Cyclone.

...

O clima do planetoide era realmente impressionante. As condições do lugar eram praticamente impossíveis para que houvesse chuva, mas ainda assim, ela acontecia. Como uma grande ironia.

Um dia havia se passado e todos estavam em seus quartos, exceto Amy que fora para a cozinha para preparar outro lanche: Bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Também era um dos preferidos por toda a turma.

Os materiais estavam sendo pegos, quando Amy derrubou a farinha. A sacola era frágil, e por isso, uma pequena camada de poeira formou-se que demorou a dissipar-se. Apesar do desastre que havia causado, ela chegou a rir-se com uma situação parecida que tinha acontecido algum tempo atrás. Todos haviam se esquecido do aniversário de Cream. Então, Amy correu para sua casa, e na cozinha, preparou-se para fazer um bolo. Para tentar "ajudar" no processo, Sonic e Tails disseram que iriam ajudar, pois Cream havia estado um pouco doente. Entretanto, num certo ponto da história, Amy foi atender uma ligação e os dois amigos ficaram sozinhos na cozinha. Quando a ouriça retornou à cozinha, quase teve um ataque. Estava toda cheia de farinha. Ela ficou furiosa e começou a jogar a farinha nos dois que demoraram a voltar para a realidade e cumprir a obrigação.

Amy não conseguia evitar as recordações. Tudo parecia lembra-lhe do ouriço.

...

Assim que o bolo terminou de assar, a ouriça retirou-o do forno e começou a partir os pedaços. Podia sentir instintivamente o quão delicioso e fofo ele estava. Ela então pegou os pratos, colocou em uma bandeja e seguiu à sala de pesquisa, mas por um segundo, resolveu dar uma passadinha no seu quarto. Assim que chegou a seu destino final, deparou-se com o detector de mentiras. Enquanto voltavam, ela havia pego o dispositivo das mãos de Tails pois ele tinha que retornar o N-Tornado pra nave. Acabou esquecendo de devolver. Era um desafio carregar a bandeja e o detector, mas Amy iria conseguir. De repente, a ouriça empacou. Uma ideia maluca invadiu sua mente.

Ainda segurando a bandeja, a ouriça então começou a manipular o dispositivo procurando algo desesperadamente. Seus dedos eram ágeis e seus olhos não cessavam. Quando finalmente encontrou o que queria, levou um susto e quase derrubou a bandeja com os pedaços de bolo ao chão.

Mesmo intrigada, Amy parecia bem mais alegre do que antes, como se estivesse revitalizada. Sabia o motivo. Ela havia procurado o histórico do dispositivo. Descobriu que aquilo que Eggman falou sobre ela e seus dois amigos não terem capacidade para encontrar Sonic, foi da boca para fora. Mentira, dizia o dispositivo.

Amy estava mais confiante e com maior vontade de lutar. Por um segundo, quase esqueceu-se do peso que estava em seus braços.

Obrigada, Eggman.

...

Mais tarde, Tails emitiu um chamado às amigas para uma reunião, pois iria comunicar algo importante. Assim que as duas chegaram à sala, visualizaram um sorriso determinado e claro no rosto do amigo.

— Pela sua cara, parece que temos enfim uma notícia boa no meio de tanta dificuldade. – comemorou Blaze. – Diz o que aconteceu.

Tails começou a falar com muita avidez:

— Descobri uma pista muito importante!

Isso saiu como um grande alívio para as duas. Amy, ainda estarrecida, quis saber tudo:

— Como você descobriu?

— Por causa disto! – Tails elevou seus braços e mostrou algo que até então parecia inútil. – Eu descobri o segredo da carta!


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