Era praticamente madrugada. As ruas estavam vazias e o vento era apenas mais um sussurro aos atentos que contemplavam a quietude da cidade. Mas a verdade é que tudo parecia estar dormindo. As casas que preenchiam os grandes e pequenos logradouros expressavam tanta melancolia que podiam até entristecer aqueles que faziam apenas uma breve caminhada sem rumo certo. Naquela noite, o único que caminhava por aquelas ruas era o ouriço azulado Sonic. Estava abatido, cansado, desfalecido. Era raríssimo Sonic se comprometer com a tristeza.

No céu, a brisa desapareceu. O grande oceano superior estava negro e os pontos brancos de muitas estrelas desapareceram, pois foram cobertos por nuvens negras carregadas de água. Apesar de ser comum que chovesse na época presente, aquele momento era uma situação nada usual. O dia todo foi quente e bastante fresco, não houve sequer uma gota que caísse. A tempestade era como uma presença esperando o momento certo de se revelar. Logo o céu se derramou em uma garoa leve, que com o tempo se fortalecia preenchendo lacunas vazias e solitárias da cidade.

Exceto pelo ouriço. Apesar de seu vazio, nem as chuvas de um ano inteiro poderiam preenchê-lo.

Em um dos edifícios mais altos de Station Square, Sonic repousava a mente em solidão. Ele não fazia menção de sair do lugar onde se encontrava, e se pudesse, ficaria uma eternidade por lá mesmo. Ele se perguntava repetidamente se havia perdido a vontade de viver, se estava desistindo. Mas não. Ele não era assim. Mas, se realmente estivesse em condição normal, se incomodaria com a chuva que mostrava a força de uma breve tempestade. Contudo, Sonic não se importava as gotas de água que entravam em contato com seu corpo, talvez nem as percebesse. E isso já era o suficiente pra diagnosticar algo de muito errado.

Após alguns breves minutos de temporal, o ouriço ouviu passadas lentas atrás de si. Não fez menção de virar-se, pois sabia que veria a imagem de quem já era esperado. Sonic não disse nada. Apenas ouviu o que ele disse:

— Venha.

O ouriço obedeceu. Mirou na imagem e foi até ela, tomando cuidado em memorizar detalhes do ambiente. Seu pensamento era claro: Poderia ser a última vez que pisaria ali.