'Que diabos aconteceu aqui?' Ele pergunta para mim como se eu tivesse todas as respostas.

'Eu vou saber?' Eu digo entredentes e aponto para o corpo a nossa frente. 'Vá ver se ela tá morta!' Eu ordeno.

'Por que eu? Vá você!' Ele teima. É coisa de irmãos, eu sei. 'Ou você tá com medo?' Um sorriso sarcástico se forma no rosto dele e eu rolo os olhos.

'Até parece.' Eu juro, o cenário parece o de The Walking Dead. Eu daria risada da minha associação, mas é a mais pura verdade. A mulher está deitada de barriga para baixo, o cabelo jogado em cima do rosto, e os dedos, Deus!, eles estão azuis. Eu afasto lentamente o cabelo loiro e coloco para trás. Ele á tão branca que que por instante acho que ela combina com o inverno, com a neve, com aquela quietitude. Ou com a morte. A pele do rosto está fria demais, e eu lamento antecipadamente por ela ter morrido desse jeito. Ela é bonita. Traços definidos, magra - eu consigo dizer mesmo ela que esteja vestindo roupas grossas, próprias para o inverno. Meu dois dedos correm para o pescoço, onde deveria encontrar a pulsação do sangue.

A luz do hospital pisca uma vez. Eu me sobressalto. Estava tão concentrada estudando a mulher que tinha me esquecido de onde estávamos, em que situação nos encontramos.

'Jane?' Ele me apressa.

Eu não tive tempo suficiente para me certificar se ela está realmente morta, então eu volto meus dedos para o ponto de pulsação e espero, sem muitas esperanças. Para minha surpresa, sinto um bombear fraco abaixo dos meus dedos.

'Oh meu Deus, Frankie.' Eu olho aterrorizada para ele. 'Ela está viva!'

Ele se apressa e corre até mim - não, até o corpo - e se agacha do lado dela. Com cuidado, nós a viramos de barriga para cima.

'Moça?' Eu chamo, segurando nos ombros dela. 'Você pode me ouvir?' Ela não mostra nenhum sinal de consciência. Eu olho preocupada para Frankie. Como vamos levar remédios e ela para casa? 'Moça?' Eu tento de novo dando um leve chacoalhar nos ombros. Nada.

'Jane, nós precisamos tirá-la daqui.' Ele diz apressado.

'E nós precisamos de remédios. Eu vou dar uma corrida pelos corredores. Frankie, embrulha ela numa coberta, tá bom?'

'Deixa comigo.' Nós nos levantamos e corremos em direções diferentes. A luz pisca mais uma vez e eu corro mais rápido, em partes porque fomos idiotas o suficientes para não trazer nenhuma lanterna, em partes porque tenho medo, e finalmente, porque quero saber o que aconteceu com aquela mulher.

O ar gelado está cortando meus pulmões e depois de alguns minutos eu diminuo o passo para respirar melhor. Pelo menos agora não estou com tanto frio. Eu jogo meu cabelo para trás e estudo o corredor a minha esquerda. Há um quarto com uma luz acessa e mais além, no final do corredor, há uma sala. Metade da parede da frente é branca, feita de material, e a outra metade de vidro. Eu sei que lá é a farmácia. Eu abro um sorriso com minha descoberta e ando tranquilamente até lá. Eu tenho certeza por causa dos formulários que consigo avistar daqui. Eu deveria ter apostado com Frankie que acharia primeiro do que ele. Haha. Eu passo em frente a um quarto e a luz mais uma vez pisca. Dessa vez fica mais tempo apagada. Eu paro onde estou e escuto um gemido. Deus, me diz que é Frankie que está próximo a mim. A luz de acende mais uma vez e eu me viro para os lados procurando pela fonte do barulho.

Ninguém na minha frente, nem atrás. Olho para dentro do quarto e alguma coisa se move em baixo da coberta. Apesar de estar com medo, ando para frente para ter uma vista total do que há lá dentro - uma das paredes obstrui minha visão.

Olhos castanhos estão quase escondidos por trás de uma toca de... leão? A menina pisca os olhos para mim, eu sei que ela está com medo.

'Eu não quero morrer sozinha.' A voz soa frágil, desolada.

As luzes piscam mais uma vez, e era só como se eu tivesse piscado meus olhos.

Deus. Isso é um filme de terror?