A Peregrina escrita por Bleumer


Capítulo 18
Erarich Von Tesartir - Parte Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá, amigo leitor, venha, deixe-me contar uma história...

Quando aparecer '' ~~~ *** ~~~ '' significa que Erick assumiu a narrativa e está contando tudo do ponto de vista dele. Quando '' ~~~ *** ~~~ '' aparecer de novo significa que a narrativa dele acabou.

(Nota final importante)



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*Narrativa em Primeira Pessoa*

Dei um soco de leve no braço de Erick por ele ter me chamado de lerda.

_Ai! Porque fez isso, mulher? - Ele massageava o braço. Talvez eu tenha exagerado na força... Opa.

_Não sou lerda! Enfim, continue com a história, Erick. Qual o plano de Nabeel?

_Ele tinha informações suficientes para crer que o Jardim de Cristal existia. Seu plano era encontrar o lugar e levar todos os guerreiros do Viajante para lá. Abandonaríamos Pandora para viver no Jardim.

_O que?! Isso é impossível! Pandora é nosso lar! Além de que nenhum humano normal conseguiria usar o Portal dos Saltadores para viajar para qualquer mundo. O corpo deles não aguentaria.

_Vocês poderiam falar de uma forma que a gente entenda? Quem é Nabeel? O que é esse jardim aí? Que plano é esse? - Gimli como sempre não tinha paciência para esperar.

_Nabeel é nosso comandante em Pandora. Nosso superior. Devemos obediência a ele. - Permiti que meus olhos se cruzassem com os de Legolas... Trocamos um olhar cúmplice. Eu sabia que ele não contaria o que tinha visto perto do rio.

_O Jardim de Cristal é uma lenda de Pandora. Esse lugar seria repleto de luz do Viajante e bondade. Seria o lugar mais belo do universo e nenhum mal poderia entrar nele. E no meio do Jardim existiria uma Flor de Cristal, segunda a lenda o próprio Viajante a plantou ali. Essa flor seria a fonte de toda a beleza e luz do Jardim. Quem tocasse nessa flor seria abençoado com poder e luz. - Erick contou para todos.

_Tal lugar existe de fato? - Boromir se pronunciou. Ao que parecia ele estava impressionado com a historia.

_Existe e eu o achei. Depois daquela noite eu parti e viajei por muito tempo, tentando encontrar o Jardim, seguindo pistas. Até que cheguei ao Rio do Tempo e pulei nele.

_O que?! Você ficou louco? - Agarrei Erick pela gola do seu casaco e o balancei. - Você estava tentado se matar?!

_Calma... Calma. Até gosto desse seu lado mais selvagem que vem e puxa minha roupa, mas calma. - Erick ria da minha cara e seu comentário me fez ficar mais do que vermelha. Serio, odeio ele.

_Pare de brincadeira, seu imbecil. - Soltei sua roupa e lancei um olhar fulminante na sua direção.

_E quem disse que estou brincando, Bleumer... ? - A voz de Erick era incrivelmente profunda e quando ele falava em um tom baixo, de fato parecia um agradável ronronar. Ninguém podia negar que ele era muito charmoso.

Até que um par de braços rodeou minha cintura e me puxou para o lado, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Legolas estava sentando-se no mesmo tronco que eu e Erick, na verdade o elfo fez questão de sentar entre nós. Agora estávamos os três espremidos no tronco. Olhei para os dois e vi que eles trocavam um olhar que no mínimo podia ser considerado mortal. Sério, pareciam que lasers estavam saindo dos olhos dos dois.

_Hã... Como você estava dizendo. Você pulou no Rio do Tempo e... ? - Tentei voltar ao assunto antes que os dois se matassem.

_Bom, você conhece o Rio do Tempo, sabe que ele é um elo que conecta todos os mundos e todas as dimensões, até as que não nunca fomos de fato. É através do Rio que podemos usar o Portal dos Saltadores e viajar de mundo em mundo de uma forma segura. Já que o Portal canaliza a energia do Rio a direciona para onde queremos ir. Agora, sabe por que ninguém nunca achou o Jardim de Cristal?

_Porque ninguém foi estúpido o suficiente para mergulhar no Rio do Tempo? Para mergulhar em uma concentração absurda e bruta de energia, que desintegraria qualquer um que chagasse perto? - Usei meu melhor tom irônico para responder Erick.

_Exato! Eu fui o único que fez isso. Como sempre eu surpreendo positivamente as pessoas. - Então o imbecil, vulgo Erick, deu seu típico sorriso torto. Revirei os olhos por causa daquilo.

_E o senhor incrível pode me explicar como não morreu?

_Percebi uma leve ironia na sua voz agora, Bleumer, mas tudo bem. Então... Não morri porque Nabeel me enviou uma pétala da Flor de Cristal, foi essa mesma pétala que o fez acreditar que a lenda era verdadeira. E antes que pergunte, Nabeel nunca me contou como conseguiu essa pétala. De qualquer forma, eu segurei a pétala e pulei no Rio, toda minha concentração estava focada em pedir que a pétala me guiasse através do Rio até o Jardim. E deu certo, claro, eu quase morri, na verdade achei que tinha morrido e estava no paraíso quando vi o Jardim de Cristal pela primeira vez...

_O que você viu? Como ele era? - Minha curiosidade estava no limite, jamais achei que o Jardim existisse de fato, mas Erick o tinha encontrado... Na minha ânsia de saber mais já estava inclinada na direção de Erick, mas como Legolas estava entre nós dois, acabei ficando inclinada sobre o elfo, não me importei com isso e pelo visto Legolas também não, já que não me afastou. Mas Erick olhou para nossa proximidade e franziu a testa entes de continuar com seu relato.

_Desde criança aprendemos a história de Pandora, aprendemos sobre sua Era de Ouro e sobre os Dias Escuros. Aprendemos que o Viajante moveu-se sobre a face de Pandora, abriu a terra e costurou o céu. Ele fez a vida possível. Ele trouxe as Dádivas e sempre há simetria nestas coisas. O que aconteceu em Pandora nunca foi o começo, mas foi a razão. Compreende, Bleumer? - A voz de Erick adquiriu um tom mais suave enquanto explicava, como um professor que explica algo para seu aprendiz.

_Acho que sim... - Vi que todos da Sociedade tinham se aproximado de nós, todos queriam saber mais um pouco. Então vi o semblante de Erick mudar, seu rosto adquiriu uma expressão de paz profunda e serenidade. Ele fechou os olhos e sorriu de leve.

Senti meu coração bater mais rápido por causa disso, como se sentisse que estava prestes a ouvir algo surpreendente. Erick tomou a palavra de novo e continuou.

_Eu vi, Bleumer! Eu vi com meus próprios olhos o Jardim de Cristal... Ele era tão vasto como a própria Pandora, o Jardim crescia ambas as direções: para cima e para baixo, para o ontem e para o amanhã! Tudo era infinito no Jardim. As flores floresciam para sempre. Era sempre primavera. Toda a terra era coberta da grama mais verde que você possa imaginar, havia montanhas tão altas que não era possível ver seus picos, os lagos e rios tinham a água mais pura e cristalina que existe... E o mar... Ah, o mar parecia uma jóia preciosa de tão belo que era. A beleza daquele mar só era comparável aos seus olhos, Bleumer. - Senti minhas bochechas corarem com o comentário de Erick... Mas tentei não ligar muito para isso, eu estava maravilhada com a descrição do lugar.

Erick continuou o relato.

_Eu andei e andei sobre as flores vermelhas que nunca murchavam, uma Luz vinha da frente e criava sombras nas flores, nas sombras dessas flores havia imagens, imagens que não irei descrever aqui. Então eu vi, no centro do Jardim havia uma flor. A Flor de Cristal. Eu tentei pegá-la, mas ela me cortou com um espinho. Eu sangrei e meu sangue era Luz, Bleumer. Logo depois disso um homem apareceu na minha frente, eu reequipei minha pistola e apontei para ele, mas o homem não esboçou nenhuma reação, apenas me disse "Você é um homem morto por dentro e carrega um poder morto no formato dos mortos. Tudo o que você faz é matar. Você não pertence a este lugar. Aqui é um lugar de vida e paz.". Devo confessar que nem toda a minha incrível inteligência foi capaz de entender o que o homem dizia. Achei que ele era uma ilusão ou pior, um inimigo. Continuei apontando minha arma para ele, eu estava pronto para abatê-lo se necessário. Então eu disse "Eu não sou nada disso, sou um Anjo do Destino e Alquimista. Venho de Pandora e carrego a Luz do Viajante. E O Viajante é vida. Você é uma criatura das Trevas. Você está tentando me enganar.”. O homem apenas olhou para mim com pena e depois riu. Ele disse que eu estava errado e se ofereceu para me contar a verdade. - Os lábios de Erick ainda estavam levemente curvados em um sorriso enquanto lembrava e contava sobre o Jardim. Quem quer que fosse esse homem, tinha se tornando alguém importante para Erick. Era óbvio o respeito na voz dele quando falava dessa tal pessoa.

_Quem era esse homem? - Sam perguntou. Acho que essa era a pergunta de todos.

Erick olhou brevemente na direção de Sam antes de continuar sua história.

_Aquele homem era Lupi, o Jardineiro. Ele que cuidava do Jardim antes mesmo de Pandora existir, ele estava lá antes de o sol nascer, antes dos mares se formarem e antes das estrelas brilharem. Ele viu tudo acontecer. Lupi me contou que antes havia mais Jardineiros, que eles tinham vindo para o Jardim em veículos de Cristal e Luz, eles se moviam através dos bosques e florestas, em rios de pensamentos que cruzavam todo o lugar. Mas isso foi antes, agora ele era o único Jardineiro. Estava sozinho. Todos os outros tinham morrido.

_Como assim? Nunca ouvi falar desse Jardineiro e nem de nada disso, Erick. - Agora já estava com os cotovelos apoiados na perna de Legolas e olhando atentamente para Erick. Sua história era mais do que interessante. Mas Erick continuava lançando olhares tortos para minha aproximação com Legolas... O elfo por outro lado parecia satisfeito.

Homens... Vai entender eles...

_Não ouviu falar dele porque ele nunca foi citado em nenhuma lenda. Vou contar as palavras exatas que ele me disse, pois me lembro de tudo... Lembro de tudo do Jardim. - Erick disse.

Erick voltou a fechar os olhos e respirou fundo. Logo sua voz preencheu o acampamento que estávamos. Sua voz era clara e límpida. Era como se ele pudesse contar a história de todo o universo ali.

Então ele nos descreveu tudo...

~~~ *** ~~~

Como eu não tinha o que fazer e nem sabia o que fazer, segui o homem... Caminhamos... Não sei dizer ao certo quanto tempo passou, o tempo parecia algo diferente enquanto andávamos... Era como se eras passassem a cada passo que eu dava. Até que ele parou e olhou para trás e disse

_ Você é digno de aprender.

_ Aprender o que? Só quero sair daqui e voltar para Pandora!

_ Aprender a verdade sobre seu Viajante e sobre seus poderes. Você não poderá sair do Jardim de Cristal até eu achar que você esta pronto.

_O que? Você está louco, seu velho de merda?! Não vou ficar aqui preso com você.

_Só existe uma saída do Jardim e eu sou o único que a conhece. Enquanto não estiver pronto não poderá sair. Não poderá encontrar aquela que tem seu coração.

Nessa hora fiquei calado e comecei a observar melhor esse homem. Como ele poderia saber o que sinto? Ele iria usar isso como uma chantagem igual como Nabeel fez?

Hoje não tenho orgulho do que fiz, mas naquela época eu era tolo demais e não entendia nada. Então atirei o mais rápido possível no joelho daquele velho, meu plano era ameaçá-lo para ele me mostrar a saída. Mas meu tiro parou antes de chegar nele... A bala simplesmente caiu no chão e na mesma hora uma flor começou a crescer no lugar. O homem riu e disse.

_Você tem muito o que aprender, jovem.

_Não preciso aprender nada com você! E afinal, quem raios é você?!

_ Eu sou aquele que carrega um nome antigo. Um nome que não pode ser morto. Eu tinha irmãos e irmãs e seus nomes também eram imortais, mas As Trevas vieram e agora estes nomes vivem somente em mim. Eu penso, observo e espero, isso é o que eu faço. Eu estou só. Eu vi o universo crescer, vi Pandora nascer e a verei cair. E quando tudo chegar ao fim, quando o universo se apagar e esfriar ou esquentar e se fechar ou desfizer-se até o último átomo, eu gritarei os nomes dos meus irmãos e irmãs desafiadoramente para o infinito e viverei além do fim. Somente eu. Pois agora sou o único que lembra.

A voz daquele velho atravessava minha alma, eu sentia como se cada palavra fosse impressa no meu coração e mente. Jamais poderei esquecer isso. Um poder impressionante, um poder que minha mente não tinha capacidade de entender, emanava daquele homem... Mas era um poder puro.

_Eu não entendo... Quem é você de verdade? O que As Trevas tem a ver com isso?

_Eu sou Lupi, O Jardineiro do Jardim de Cristal. Meus irmãos e irmãs também eram jardineiros, cuidávamos desse lugar... Aqui era o lar do Viajante. Nós éramos seus filhos amados. Por muito tempo vivemos em paz, tanto tempo que o próprio Tempo não existia ainda. Mas As Trevas é tão antiga quanto o próprio Viajante... Ela sempre esteve atrás Dele. Nosso Pai nunca explicou o porquê disso. Até que um dia nosso portal foi abalado... Um vento pútrido varreu o Jardim. As Trevas estavam em nossa porta e tentaram entrar. Meu jovem, você deve entender que o Viajante sempre soube que esse dia chegaria, por isso ele me fez o mais forte dos Jardineiros, para derrotar o invencível e sobreviver ao impensável, e para olhar e olhar e refletir sobre o fato de que ainda estou aqui... Tudo morreu naquele dia, mas eu sobrevivi e aprendi com isso. Com o poder apocalíptico das Trevas. Eu conheci As Trevas no portal do Jardim e me lembro que ela sorriu para mim, seu sorriso era desesperador e belo, era a personificação da loucura, antes de devorar as flores e os Jardineiros com a Chama Negra e marcar os nomes dos meus irmãos no céu. As trevas era mais forte do que tudo. Eu lutei contra Ela com Facas de Aurora e com o Fogo Sagrado. Meu suor era uma tsunami, meus passos eram terremotos e minha respiração era um furacão, mas Ela era mais forte, então como eu sobrevivi? A resposta é que O Viajante me salvou. Eu vi quando Ele lutou contra Ela... E também vi quando Ele caiu diante das Trevas. Depois disso o Viajante foi embora do Jardim e me deixou só aqui... O que vocês viram em Pandora não passou de uma lembrança enfraquecida do que já fora o Viajante em outrora. Aquele não era o Viajante verdadeiro, não era seu poder total. Era só um fantasma do que ele tinha sido. Depois que a luta acabou as Trevas foram embora para nunca mais voltar ao Jardim. Antes de partir O viajante colocou um feitiço na Flor de Cristal, enquanto ela estiver no Jardim, nenhum mal será capaz de entrar aqui novamente... Então depois de tudo ter acabado, eu levantei. Abandonei o escudo e balancei meus ombros para que as milhares de cinzas dos meus irmãos caíssem de mim. Eu sobrevivi. Eu vi. Eu lembro. Eu estou só.

Não tenho vergonha de admitir que meus joelhos falharam e eu cai no chão sob as flores. Dos meus olhos caiam lágrimas... Mas elas eram feitas de Luz. Minha mente parecia que ia se fundir e explodir, mas não duvidei mais das palavras daquele homem... Eu tinha muitas dúvidas e o homem foi paciente para responder todas.

_Porque o Viajante foi para Pandora? Porque ele nos ajudou e trouxe a Era de Ouro para nós? – Eu perguntei.

_O Viajante estava fraco, como eu disse, ele não passava de um fantasma... Mas o que ele mais amava no universo inteiro era seu Jardim. Ele não queria que o Jardim fosse destruído em uma próxima luta contra as Trevas, então saiu daqui... Não sei porque escolheu Pandora, mas foi para lá que Ele foi enquanto esperava sua próxima luta. Pandora apenas foi o palco disso. Não tenho capacidade de compreender todos os atos Dele, mas acho que o Viajante se afeiçoou as pessoas de Pandora e decidiu ajudar e com isso levou a Era de Ouro a vocês. Mas as Trevas voltaram e Ele lutou de novo. Não sei o que houve nessa luta. E nem onde esta o Viajante agora. Mas acho que ele se arrependeu de envolver Pandora em sua batalha e por isso se apiedou e deu as dádivas para vocês. E uma missão.

_Sim... Nossa missão é ajudar a todos do universo e acabar com as Trevas.

O homem se aproximou e colocou a mão na minha cabeça, quando o olhei ele disse.

_Vocês não tem como cumprir essa missão com o poder que tem. Nenhum Anjo do Destino é capaz disso. Sua força e poder não passam de uma sombra do Viajante. Eu sou o filho Dele. Eu sou sua criação plena. Você é imperfeito.

Mesmo sentindo a verdade de cada palavra no meu coração, eu me enfureci e gritei contra o velho.

_Eu sou forte! Não sou uma sombra! Sou capaz de fazer tudo!

O homem apenas me olhou como se olhasse uma criança fazendo mal criação. Na mesma hora me senti inferior e idiota.

_Você é tolo e sua tolice será sua ruína. Mas eu posso ajudá-lo. Posso lhe ensinar sobre o verdadeiro poder do Viajante. Posso tornar-te forte. Você nunca será pleno como eu, mas terá capacidade de proteger aqueles que ama. Posso libertá-lo da prisão que vive.

_E porque você faria isso? Você nem me conhece! Nem sabe meu nome!

_Desde que pisou no Jardim eu soube tudo sobre você, Erarich Von Tesartir. Eu sou o Jardineiro, sei de tudo que acontece aqui dentro e sei de algumas coisas que acontecem lá fora. Faço isso porque sinto que devo. Mesmo imperfeitos, vocês são uma criação do Viajante... E seu planeta ainda esta ameaçado... Uma ameaça cresce dentro da própria Pandora e outra ameaça espreita entre as estrelas.

_E o que você quer em troca?

_Nada. Eu apenas penso, observo e espero... E agora você chegou. Você foi o primeiro e por isso será abençoado com meu treinamento. Quando estiver pronto, sua missão será voltar a Pandora, destruir o mal de lá e guiar os Anjos do Destino que quiserem até aqui. Aqueles que forem puros de coração serão bem vindos no Jardim de Cristal. Agora levante, Erick, temos muito o que fazer.

Eu ainda não entendia tudo, mas levantei e por décadas fui o aprendiz de Lupi.

Até que eu estava pronto e pude voltar a Pandora.

~~~ *** ~~~

Quando Erick acabou sua história foi que percebi que algumas horas já tinham se passado e eu nem notara. Ele abriu os olhos e me olhou diretamente, ignorando completamente Legolas, que estava entre nós. Seus olhos pareciam mil anos mais velhos. Eu própria sentia o peso daquelas palavras.

_O que Lupi quis dizer quando falou de uma ameaça em Pandora? - Eu perguntei e Erick suspirou, levantou e se ajoelhou na minha frente. Seus olhos agora eram tristes e na mesma hora senti que as próximas palavras dele seriam apavorantes.

_Bleumer... Você mais do que ninguém sabe como Nabeel é. Ele é mal e cruel. A única coisa que ele quer é mais poder. A missão que ele me deu era para encontrar o Jardim, depois disso ele evacuaria Pandora, deixando para trás todos os humanos, além de Anjos do Destino e Alquimistas que ele julga como fracos. Ele queria construir um mundo novo. Onde ele seria o deus e nós, seus súditos.

_Não! Isso não é possível... Milhares de vidas seriam perdidas! Pandora é nosso lar, é pra onde sempre voltamos! - eu podia ver a lógica e razão por trás das palavras de Erick, mas não queria acreditar que aquilo fosse verdade... Era terrível demais.

_Pandora não é mais segura, Bleumer! Nosso mundo há muito já morreu e nos recusamos a ver isso! Mas agora é diferente, os Demônios estão voltando a Pandora! Eles estão se reunindo na superfície do planeta enquanto nós vivemos nossas vidas de ilusão a centenas de metros abaixo do solo, no Centro!

_O que... ? Os D-demonios? - Minhas mãos estavam geladas. Aquilo não podia ser real. Não podia estar acontecendo. Não não não não! Até que senti as mãos de Erick segurando as minhas.

_Eu sei que Molly lhe contou sobre um ataque que aconteceu, mas o que ela não contou foi que aquele já era o quarto ataque em apenas três meses. Ninguém está sabendo disso. Os comandantes não querem causar pânico, então estão fazendo tudo escondido da população. Isso já acontece ha muito tempo, por isso Nabeel estava tão desesperado em achar o Jardim.

Eu me sentia dormente, como se meu corpo não estivesse ali... De uma hora para outra descobri que meu mundo estava condenado à destruição. Minha cabeça não parava de girar com tanta informação, achei que podia desmaiar, mas ouvi uma voz e ela me trouxe de volta a realidade.

_Calma. Eu estou aqui com você. - A voz de Legolas era como bálsamo para mim. Virei a cabeça e olhei dentro dos seus olhos azuis... O azul que raramente podia se ver no céu de Pandora. Acho que me apaixonei de novo por ele naquele instante... Balancei a cabeça para me livrar daquele pensamento e voltei a olhar Erick.

_E o que você vai fazer? - minha voz ainda estava um pouco trêmula.

_Bom, eu sou o único que sabe o caminho para o Jardim. Não preciso usar o Rio do Tempo, ha outra rota para lá, mas eu não compartilhei isso com Nabeel e nem vou. Então vou fazer o que Lupi me disse para fazer: Destruir o mal em Pandora, pegar todos os Anjos e Alquimistas e guiá-los até o Jardim. Lá poderemos ser livres de verdade.

_E os humanos? - minha respiração estava ficando falha, antes de Erick responder, eu já sabia a resposta no meu íntimo.

_Não existe nada que possamos fazer por eles. Eles morreriam se tentassem chegar ao Jardim e vão morrer se ficarem em Pandora. Os humanos já estão condenados. - Não existia nada além de certeza na voz de Erick.

_Como você pode dizer isso?! Você foi criado por uma Cuidadora, uma humana! Eu também fui! Todos nós fomos! Os humanos fazem parte de Pandora! Não podemos abandoná-los! - Levantei e me afastei de Erick. Eu estava com raiva e nojo dele. Como Erick poderia deixar todos para morrer?!

_Não tem outra saída! Você acha que eu gosto disso?! Acha que eu estou feliz com isso, Bleumer?! - Erick também levantou e estava gesticulando sem parar.

_E como você pode saber de tudo isso?! Você só quer se salvar e deixar o resto morrer! Você não é diferente de Nabeel! – Usei minhas forças para gritar as últimas palavras. Erick congelou quando ouviu aquilo, mas pude ver seus olhos brilharem frios... E magoados.

Na mesma hora me arrependi do que tinha dito.

_Não me compare aquele homem, Bleumer. - Erick veio andando na minha direção, sua voz era totalmente fria e desesperada. - Não me compare com um homem que a maltrata! Que a agride desde que era uma criança! Que humilha você na frente de todos!

_Cala a boca! - Eu estava desesperada. Não queria que ninguém da Sociedade soubesse do que já tinha acontecido comigo. Não queria que Legolas soubesse.

_Nabeel é um monstro! E você sabe disso! Ele já a chicoteou, queimou e a torturou incontáveis vezes! Ele trata você como uma cadela! Praticamente a obriga a se esconder naquela ExoArmadura dizendo que você é desagradável aos olhos e ouvidos! - Erick gritava todas aquelas coisas horríveis e verdadeiras para mim. Aquilo estava machucando mais do que se ele tivesse me batido.

_Para! Cala a boca!

_Ele a deixa passar fome, sede e frio só porque gosta de ver você sofrer! Quantas vezes seu corpo não ficou coberto de sangue por culpa dele?! ELE É O MONSTRO! E eu só estou tentando salvar a maior quantidade de vidas possíveis!

_CHEGA! -Ergui a mão e dei um tapa no rosto de Erick. Podia sentir meus olhos rasos de lágrimas, mas me recusei a chorar mais. - Você não tinha o direito de contar tudo isso! Não tinha... ! - Todos da sociedade agora olhavam para mim... Não quis olhar na direção de Legolas, não tinha coragem de encará-lo depois de tudo que ele ouviu.

_Bleumer, me perdoe... Eu perdi o controle... Não sei porque fiz isso... - Como se despertasse, Erick tomou consciência que tinha acabado de revelar muito sobre mim. Ele tentava me alcançar, mas eu dava passos para trás. Não queria que ele me tocasse.

Até que Legolas surgiu do meu lado e me puxou para seu peito, me abraçando fortemente. Não entendia como ele podia querer encostar em mim depois de descobrir como sou fraca... Mas agradeci mentalmente por isso. Eu me sentia bem quando Legolas me abraçava.

_Se você a magoar de novo, eu mesmo vou matá-lo, seu verme. - Até eu me assustei um pouco com a voz de Legolas... Ele soava totalmente feroz. Então ele me puxou e levou para sentar longe de onde Erick estava. Em meio ao silêncio eu e o elfo nos sentamos em uma pedra... Ele sempre com o braço envolta de mim.

Erick não protestou e nem fez nada. Apenas olhou tristemente na minha direção e de Legolas. Por fim, ele sentou sozinho no tronco de antes.

_Sugiro que ninguém mais grite. Pode ter orcs por perto, não estamos tão longe assim de Moria. - Aragorn como sempre foi a voz da razão e nos fez ficar quietos por alguns minutos... Durante todo esse tempo Legolas fazia carinho no meu braço e eu me encostei nele. Mesmo sabendo que ele não estava apaixonado por mim, não pude evitar o desejo de querer ficar perto dele. Mas as palavras de Erick não saiam da minha mente, acho que isso ficou evidente no meu rosto porque logo depois o outro Anjo disse.

_Bleumer... Foi imperdoável o que fiz. Nunca deveria ter te exposto dessa maneira. Sou um completo idiota, eu sei, mas entenda... Eu não quero que ninguém morra... Passei os últimos 100 anos pensando em uma forma de salvar os humanos, mas não existe saída... Só estou tentando salvar quantos eu puder... Não sou Nabeel. - A última frase de Erick tinha soado como uma pergunta... Eu o olhei e mesmo a uma pouca distância vi como seus olhos cinzentos estavam desesperados e magoados. Pensei melhor nele... Erick tinha o peso de um mundo sobre os ombros. Tinha o dever de salvar centenas de vidas. Ele tinha passado um século longe de todos, treinando e aprendendo... Para um dia voltar e nos salvar.

Percebi como tinha sido injusta com ele.

_Erick... Eu entendo agora. Sei que você não quer que ninguém morra. Sei que não é mal. E você não é nada parecido com Nabeel... Me perdoe pelo que eu disse. - Senti Legolas segurando minha mão, mas não olhei para ele, minha atenção estava em Erick no momento.

_Só te perdôo se você me perdoar. É pegar ou largar. - Para meu alívio, Erick deu seu típico sorriso torto e vi que o pior tinha passado.

_Te perdoou com uma condição. Quando a hora chegar, você vai lutar por Pandora. Nós dois vamos lutar pela nossa casa. Vamos salvar nosso mundo. Eu não quero desistir.

_Não vou desistir de Pandora e nem de você, Bleumer. - Não entendi a última parte... Não ia desistir de mim? Talvez ele quisesse dizer que não ia desistir de me levar para a luta em Pandora. Acabei sorrindo de leve, ele nem precisava dizer isso. Eu iria lutar de qualquer jeito. Até que ouvi uma espécie de rosnado muito baixo vindo do peito de Legolas. O olhei sem entender... Afinal, ele estava rosnando para o que? Virou um cachorro agora? Já estava pronta para provocá-lo quando vi seu olhar... Legolas e Erick trocavam olhares de puro ódio. Olhei para os dois sem entender nada... Eu tinha perdido algo? Antes que eu pudesse perguntar, Aragon se pronunciou.

_Vocês podem conversar mais amanhã, mas agora é melhor todos irmos dormir. - Sério, às vezes Aragorn parecia o pai de todo mundo. Vi que os hobbits já estavam prontos para dormir, como se nada tivesse acontecido.

_Vou dormir então. - Mesmo relutante me separei de Legolas e procurei um bom lugar para dormir, usei meu manto de cobertor e deitei. Até que senti alguém deitando ao meu lado, na mesma hora me virei assustada. - O que pensa que está fazendo, Erick?!

_Dormindo, ué. Nunca ouviu falar não? É fácil, eu te ensino. Primeiro, você deita e dep...

_E porque está aqui do meu lado? Sai!

_Porque vou dormir com você, Bleumer. - Senti meu rosto queimar de vergonha. Como assim?! Eu odeio essas brincadeiras de Erick!

_Não vai não! Sai daqui agora! - Usei minhas pernas para chutá-lo para longe, até ele segurar e apertar minha coxa desnuda. Senti um arrepio passar pelo meu corpo.

_Saia de perto dela. - De repente Erick foi levantado de uma vez por Legolas que logo depois o empurrou para trás, para longe de mim. Agora o elfo idiota estava postado na minha frente, como se me defendesse. Revirei os olhos.

_Cara, não me toque de novo. Esse é o último aviso. - Erick apontava o dedo para Legolas e pude ver que mais uma briga ia começar.

_Se eu tiver que levantar para parar a briga de vocês dois, podem ter certeza que vocês nunca mais vão andar e nem poder ter filhos. Fui clara? - Não sei qual era minha expressão, mas Erick automaticamente levou as mãos a suas partes baixas, como se a protegesse e Legolas se mexeu desconfortável. Pronto. Eles não vão brigar.

Vi que todos já estavam deitados e dormindo, Erick encontrou um lugar para dormir e deitou. Agora só tinha silêncio. Suspirei aliviada. Finalmente paz. Até que vi que Legolas sentava-se ao lado da minha "cama". Já estava pronta para reclamar com ele e dizer que ele também não podia dormir comigo, quando o senti segurar minha mão no escuro.

Fiquei corada na mesma hora, tentei puxar minha mão de volta, mas Legolas apenas segurou melhor ela e começou a fazer carinho na minha mão. Então ele fechou os olhos e eu o imitei.

Sem nem perceber cai em um sono profundo segurando a mão do elfo idiota.


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Notas finais do capítulo

Olá! Tudo bem? o/

* O que vocês acharam do Jardim de Cristal?
* Que ameaças são essas em Pandora?
* Quem odeia Nabeel levanta a mão o/
* Mandem comentários ou recomendações! :D

Gente, acho que vou parar de postar a história aqui... Não sei, não sinto vontade de continuar. Muita gente não comenta e nem nada... É melhor encerrar essa história. É, essa é a melhor decisão. O que vocês acham? E me desculpem por isso!

* Imagem do Jardim de Cristal meramente ilustrativa, só para vocês terem uma ideia.

Beijo!