“Me compra um picolé”

Ela havia dito, com aquele sorriso que eu não consigo simplesmente dizer não. Não que eu não tivesse dinheiro, mas não gostava de doces – e Hinata parecia adorar eles! Mas o que eu podia fazer quando a Hyuuga sorria daquele jeito e piscava seus olhos como uma criança frágil? É claro, eu comprei o picolé de coco para ela. Ela também pediu um azedo, de limão, que eu fui descobrir depois que era para mim.

Nós no sentamos num dos bancos vazios da praça e eu tinha que admitir que havia sido uma boa ideia comprar um sorvete – ela ficava dizendo que o nome é picolé, mas é tudo a mesma coisa. Como bolacha e biscoito. A diferença é que estava num palitinho; grande coisa. Como eu dizia, havia sido uma boa ideia comprar o sorvete (ou picolé, se você prefere), porque estava calor. Aquele calor insuportável que até a fez vestir uma regata, e Hinata nunca veste regatas.

Lá estava eu, Sasuke Uchiha, aproveitando meu sorvete (picolé, picolé) azedo de limão. Minha mão estava próxima da dela, mas não tão próxima, pois estávamos suados e ela iria querer ficar limpando a mão na blusa, então não compensava entrelaçar os dedos. Olhava a paisagem de modo distraído, havia algumas pessoas caminhando com os cachorros, crianças brincando no gramado, mais um dia comum na pacata praça da minha pacata cidade.

Foi quando, então, notei alguns olhares masculinos que passavam pelo banco e paravam lá. Mas não em mim. E sim na garota ao meu lado. Ergui a sobrancelha para o primeiro que fez isso, mas pensei que talvez o decote de Hinata fosse maior do que eu tinha reparado. Quando um segundo e um terceiro fizeram isso, olhei para ela, para ver se tinha vestido algum pisca-pisca. Não que ela não fosse bonita, mas não costumava chamar atenção por causa das roupas simples.

Foi então que vi o que os fizeram grudar nela. Hinata segurava o palito firmemente na mão pálida, de olhos fechados por causa do sol forte que batia no seu rosto. Ela lambeu o picolé da base até a ponta, fez isso mais duas vezes antes de botá-lo todinho dentro da boca. E eu achava que ela tinha uma boca pequena, mas o sorvete coube muito bem lá. Os lábios rosados, macios, tocando toda a massa fria e ereta. Quando ela afastou-se do picolé, a boca estava levemente suja com uma camada branca – aquilo me fez arregalar os olhos. Mas Hinata não parou. Parecia gostar muito do doce. Muito mesmo, pois voltou a lambê-lo e botá-lo todinho na boca, suspirando um pouco.

E ai ela mordeu. Uma dentada bem forte, que levou mais de metade sorvete com ela.

— O que foi, Sasuke-kun? – perguntou, com a sobrancelha arqueada. Meus pelos estavam todos eriçados de agonia.

— Nada – murmurei, olhando para frente. Havia broxado repentinamente.

Certo, eu esperava que ela não resolvesse morder nada quando estivéssemos sozinhos.