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Assim que terminei de pesquisar algumas coisas desci para fazer um lanche.

Como meu personal training só volta das férias na semana que vem, essa quinta fiquei livre, Mike só chega mais tarde e o Mitchel foi pro basquete. Helena ficou em casa hoje, mas eu não quis ficar com ela, nem falei com ela hoje, sem contar o café da manhã. Pesquisei um pouco sobre a urbanização e a industrialização que são causas da globalização, agora estou faminta.

Desci as escadas rapidamente e encontrei Helena sentada à mesa. O ambiente estava incrivelmente agradável, a janela completamente aberta deixava a luz do sol entrar, quebrando um pouquinho o frio que fazia. Helena mexia atenta em alguns papéis e digitava concentrada em seu MacBook, ela passava a mão no cabelo, pondo-o atrás da orelha, olhava concentrada o notebook e tamborilava os dedos suavemente pela mesa, vez ou outra anotava algo em uma agenda e repetia o processo, involuntariamente percebi que eu tinha a mesma mania. Me senti obrigada a falar com ela.

— Boa tarde, Helena. - a cumprimentei.

— Oi, querida, boa tarde! - ela me respondeu gentil. - Como está? As dores voltaram?

— Não, estou ótima!

— Que bom! Vamos fazer um lanche? Só deixe eu arrumar essa bagunça que eu fiz aqui na mesa. - ela riu e eu a acompanhei.

Ela prendeu os cabelos em um coque frouxo e começou a juntar os papéis, fechou o MacBook e guardou as folhas em uma pasta.

— A senhora quer ajuda? - perguntei.

— Ah, não, não me chame de senhora, me chama de você mesmo, filha. Com o Mitchel eu já me acostumei, mas você é minha filhinha, era para sermos tipo "melhores amigas". - ela respondeu sorrindo nostálgica. - Já estou terminando aqui, então chame a Georgina para arrumar a mesa do lanche.

— Ok. - respondi e fui até a cozinha.

Às vezes eu esqueço o quão nova Helena é. Ela só tem trinta e dois anos e faz de tudo para ser uma mãezona, eu sei que eu deveria perdoá-la , mas ainda é difícil pra mim.

— Anna, - chamei a única que trabalha aqui que eu conheço, - quem é Georgina?

— Ah, oi, Bruna! Georgina é aquele moça mais velha e "cheinha" ali. - ela disse rindo.

— Obrigada, e desculpe não saber, é que vocês são muitas. - eu disse também sorrindo.

Georgina é tão agradável quanto as outras moças que trabalham na mansão. Acho que o modo como Helena as trata influencia no trabalho delas e, por ela ser tão gentil com as serventes, elas são tão legais.

— Enfim, eu não estou muito afim de ir não... - finalizei a história.

Eu estava contando a Helena como foi o dia no colégio e ela estava adorando. Tudo bem que eu não estava me abrindo com ela e contando todos os meus sentimentos, mas contar sobre meu cotidiano já é um grande passo. E como ela disse, adora saber como são as coisas na escola nos tempos de hoje, já que o Mitchel nunca falou nada por dizer que isso é "fofoquinha" ou "coisa de mulher", ela sempre ficou na curiosidade.

— Eu acho que você deve ir nessa festinha do Zac e da Meg.

— Greg, do Greg e da Meg, mas por quê? - perguntei interessada

— É sua primeira semana de aula e tem que fazer amigos, se enturmar, e pelo que eu me lembre essas festinhas são demais! E vocês, digo, você e o Mitchel, devem aproveitar! Eu quase não aproveitei, não que eu me arrependa, já que eu tive você e logo depois o Mitchel, mas não quero que vocês se arrependam.

— Ainda não tenho certeza, - disse pensativa enquanto comia mais um pedaço de bolo, até porque agora eu posso, já que já me matriculei na academia. - nem roupa apropriada eu tenho, como eu disse é um baile de máscaras...

— Uma perfeita ocasião para irmos ao shopping, compras de mulher! - ela disse entusiasmada prendendo outra vez o cabelo, que sempre se soltava por ser ligeiramente curto, pouco abaixo dos ombros. - Ah, Bruna, vamos?! - seus olhos brilhantes me convenceram.

— Tá, você venceu, vamos!

[...]

— Chegamos! - Helena anunciou depois de estacionar o carro.

Impossível não notar, o shopping todo iluminado chamava atenção a metros de distância, até quilômetros se duvidar, era enorme, várias lojas vistas de fora deixavam o lugar mais incrível e deformado, as lojas, assim como o shopping em si, era extravagantes, placas enormes e portas de vidro que mostravam um pouquinho do luxo que havia ali dentro deixavam-no ainda mais incrível.

Depois que aceitei o convite para sair, eu e Helena fomos nos arrumar, tomei um banho rápido e optei por um conjuntinho de saia vinho e suéter listrado combinando. Calçei um salto mais estilo inverno e peguei uma bolsa vinho combinando com a roupa, minha maquiagem foi toda baseada na roupa e prendi meus cabelos em uma trança que enrolei em um coque bagunçado. Mas não fui só eu quem me produzi, Helena também estava linda, não que isso seja uma novidade. Ela colocou uma calça jeans escura com uma blusa branca com detalhes em verde água, uma jaqueta marrom claro e um salto botinha preto, a bolsa combinava com a jaqueta e um cinto finalizada o look, ela deixou os cabelos soltos, fez uma sombra escura, mas não preta e usou um batom que eu vou querer emprestado! Nos arrumamos bem rápido pra falar a verdade, às quatro saímos de casa.

Demos algumas voltas no shopping e, cada vez mais fascinada, percebi que Helena devia visitá-lo muito, já que conhecia cada pedacinho dele. Por dentro não era tão diferente dos shoppings do Rio, mas com certeza esse era bem maior! Compramos algumas maquiagens pra Helena e brincos lindos, tanto pra mim tanto pra ela. Mas a roupa certa para a festa estava difícil.

— Essa loja é ótima! Vem, vamos entrar. – Helena disse me puxando pra a décima loja que entrávamos.

— Boa tarde, Dona Helena! – uma das atendentes cumprimentou-a.

— Boa tarde, Jennifer! Essa é a minha filha, Bruna. A gente precisa de uma roupa perfeita para um baile de máscaras moderno!

— Filha? – ela indagou. – Venham por aqui, vou trazer uns modelitos pra vocês!

— Depois eu explico a história... Ótimo, estamos loucas pra ver!

Jennifer deve ter uns vinte anos, tem longos cabelos castanho-avermelhados, parecia bem íntima de Helena e trouxe muitos conjuntos diferentes um mais lindo que o outro. Depois de muitos estilos, cores, looks e conversas, achamos o look perfeito!

— É esse! Sem sombras de dúvida, Bruna, você está linda! – dizem que elogio de mãe não conta, né?

— Realmente, você vai arrasar! Está desnumbrante! Ele foi feito pra você!

Não consegui fugir dos elogios e da insistência para que eu levasse aquele e Helena fez questão de pagar.

— Agora só falta a máscara! - Helena disse animada quando saímos da loja.

— Só? Essa vai ser a parte mais difícil, será que vende aqui?

— Aqui, não. No andar de baixo! - ela falou risonha e eu a acompanhei.

— Então vamos, né?

Encontramos a loja e era simplesmente a maior do shopping sem sombras de dúvida! Era uma loja de fantasia que vendia desde fantasia de enfermeira à personagens da Disney, todos no maior luxo! Vendia e alugava todos os tipos de acessórios que compõem as fantasias, eram tantos sapatos, luvas, coroas, chapéus, varinhas, gravatas, máscaras, anéis, colares e todos os tipos de maquiagens personalizadas que eu estava ficando maluca! Não foi difícil encontrar a máscara perfeita, era básica, mas elegante, e combinava totalmente com a minha roupa. Não duvido nada que todos os convidados venham comprar ou alugar seus adereços aqui. Novamente Helena fez questão de pagar e quis comprar, não alugar. Saímos de lá por volta de sete e quinze!

Chegamos em casa e levamos uma bronca dos meninos que ansiavam pelo jantar, mas nada que Helena não pudesse conter e fazer piadas, percebi que ela era boa nisso. Digo, fazer as pessoas darem risadas.

— O passeio foi bom, maninha? - Mitchel perguntou debochado quando estávamos subindo para os quartos.

— Pra falar a verdade foi bom sim, mas isso não quer dizer que eu a perdoei e tá tudo bem. Isso é só o começo. - acho que foi a coisa mais certa e verdadeira a dizer, porque eu realmente adorei ter passado um tempo com a Helena, mas não significa que agora em diante seremos mãe e filhas perfeitinhas.

— Um ótimo começo, no meu ponto de vista. - Mitchel respondeu sorrindo. - Boa noite, pandinha, até amanhã. - ele disse entrando no quarto.

— Boa noite, Lerdão, até.

Troquei a roupa por um pijama confortável chequei meu celular e havia mais um email da Manuela e nenhuma mensagem do Lucas. Apenas respondi as mensagens dos grupos e não toquei no assunto Lucas.

Eu poderia dizer que eu fui dormir mais leve por ter "me dado bem" com a Helena, talvez eu até tenha ido dormir um pouco melhor, mas só um pouco. Os emails da Manuela ainda visitavam meus pensamentos vez ou outra, e o sumiço do Lucas não saía da minha cabeça nem por um segundo...