Harukaze escrita por With


Capítulo 43
Capítulo 43


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 43

Quem sabe um dia nós conseguiremos mudar

Da mesma forma que as estações mudam

Haverá as frias noites de tristeza.

Não se esqueça: Os profundos sonhos

Não têm fim.

Fazia muito tempo desde a noite em que Tsuhime não sonhara, e acontecera. Sua mente lhe dizia que não havia concentração e relaxamento para que pudesse se entregar ao mundo dos sonhos. Da mesma forma se repetia quando Shino e ela decidiram seguir caminhos diferentes por exigência dele. Poderia atribuir àquela reação como um presságio, uma maneira pouco eficaz de lidar com a mágoa, afinal, ao acordar as emoções assumiram novamente, povoando o vácuo de seus pensamentos com memórias que não era sua intenção recordar, assim como o calor e contato.

Aos vinte e seis anos, Tsuhime ainda acreditava que só porque confiava em seus desejos que eles poderiam se tornar reais, mas Shino lhe mostrara que era apenas uma ilusão criada por ela. A realidade nascia dos sonhos, tinham reviravoltas complicadas e frustrantes, embora não pudesse dizer que a decepção a acompanhara por mais tempo que deveria. Shino poderia ter destruído todos os seus sonhos, deixando apenas cacos, fragmentos impossíveis de serem restaurados.

Contudo, Kakashi surgira para montá-los e continuar trabalhando em conjunto em seus anseios como se também os quisesse. E era grata a ele pelo sacrifício de colocar suas ambições acima das dele, escolhendo ajudá-la a realizar o que tanto ansiava. Se havia se estabelecido, confiante de que existia alguma chance para torná-los reais fora por causa de Kakashi. Ele engrandecera seus desejos mais íntimos, colocando uma pedra naqueles que se mostraram inacessíveis e lhe presenteara com outros, abrindo seus horizontes.

Além de resgatá-la, Kakashi também a amou como jamais pensara que seria e esse sentimento queimava dentro dela, irradiando por todo o seu corpo. Tivera medo de não retribuir o carinho com a mesma intensidade, mas aos poucos ela compreendeu que tudo o que tinha que fazer era amá-lo de volta. E assim Tsuhime o fez.

O beijo que trocara com Shino não abalara a certeza de que o homem de sua vida fosse Kakashi, entretanto mentiria se afirmasse que não estava desconcertada. Não estava em seus planos trair-se daquela maneira, mas ocorrera, e era sua obrigação expulsar aquelas dúvidas. A situação não deixava margem para mais erros e, portanto, ela sabia o que teria que fazer. O prazo para reaver o passado se esgotara há seis anos e, lá no fundo, ela entendia que não se importava mais. Sua vida era aquela agora e ninguém tinha o direito de estragá-la.

A perna de Haru se encontrava sobre sua cintura e com cuidado Tsuhime a afastou. O filho acalmara suas emoções e ela enxergava com clareza que não havia motivos para continuar se martirizando pelo que acontecera. Segura da rotina daquele dia, Tsuhime se levantou e tomou um banho, separando suas costumeiras roupas: Saia preta na altura da coxa, blusa branca de alças finas e botas. Porém não saiu imediatamente do cômodo. Seu reflexo lhe chamou a atenção e ela se demorou em observá-lo.

Havia olheiras ao redor dos olhos, mas não tanta, indicando que dormira poucas horas. Os cabelos negros e compridos formavam um véu em suas costas, cujo ela os prendeu em um coque frouxo, arrematando com kanzashi, adorno que usara no festival. Pensara inúmeras vezes em cortá-los e a ideia sempre se perdia, pois Kakashi e Haru gostavam dele daquele jeito. Contudo, ela alimentava o desejo de se livrar daquela imagem. Talvez fosse a causa de todo o seu azar ou isso se devia simplesmente por uma força maior, que gostava de testá-la a cada amanhecer. E ela acreditava que assim fosse.

— Não pense nisso agora. — Ela murmurou para si mesma, distanciando do cômodo.

Kakashi estava acomodado no sofá, virado de costas para ela e Tsuhime cogitou se aproximar, no entanto o ninja merecia um tempo para ele. Portanto rumou para a cozinha e adiantou o café. As aulas na Academia começariam aquele dia, já que tivera poucos danos da invasão e Iruka afirmava que as crianças precisavam se manter distraídas, então ela precisava deixar tudo pronto antes de sair.

Preparou o café, cantarolando uma música qualquer sem se dar conta de que Kakashi ouvia, compartilhando de sua ideia de se darem um espaço. Tentar conversar agora não surtiria o efeito desejado, então Kakashi fingiu que dormia e escutou a porta batendo gentilmente, indicando que Tsuhime atendera seus afazeres.

Konoha estava se erguendo aos poucos, então os barulhos de construção substituíram o canto dos pássaros. Todos se uniram para dar a vida mais uma vez a vila, trabalhando com afinco e dedicação. E o seu dever era com o hospital, embora ela não conseguisse se concentrar em mais de duas coisas. Seu raciocínio havia se perdido perante as tribulações, levando-a a martelar apenas uma questão por vez.

Sabia que deveria resolver aquele detalhe falho, não era justo se martirizar por algo que não havia como reescrever. Se quisesse tomar as rédeas novamente de sua vida teria que enfrentar seus defeitos, e o principal não estava muito longe de si. Ela não fazia ideia de que seria capaz de manter um contato importante com Shino, mas se não tentasse jamais saberia.

Talvez estivesse se precipitando, mas ela precisava reassumir a paz que perdera. À medida que sua intuição acentuava Tsuhime andava com mais confiança em direção a Academia. Não fora surpresa alguma saber que Aburame Shino tornara-se sensei, pensou até que combinaria com o jeito reservado dele e, como ele era um Chunnin, não havia outro lugar em que pudesse encontrá-lo. Quer dizer, existia sim, mas ela não queria arriscar um diálogo com Mita. Como explicaria sua presença procurando por Shino?

Então, adentrou a Academia e tomou informações com uma jovem na recepção e logo obtinha o paradeiro dele: Classe 2B – 201, que seria a de Haru quando se transformasse em Genin. Incrivelmente sentia-se calma, embora soubesse que seria passageiro. Seu ponto forte nunca foram diálogos sérios, ela odiava lidar com eles, porém tivera que tratar a situação com o respeito merecido. A porta da Classe 2B estava entreaberta, possibilitando que ela visse Shino corrigindo, provavelmente, testes teóricos de seus alunos. De cabeça baixa ele movimentava rapidamente a mão, acostumada com aquela tarefa.

Cansada de se manter imperceptível, Tsuhime deu duas batidas na porta e a deslizou para o lado. Os olhos do Aburame escondidos pelas lentas escuras se ergueram para ela, fazendo-o abandonar o trabalho e se colocar de pé. Não esperava a visita de Tsuhime tão logo, mas não reclamaria. Precisa de algumas explicações e evitou buscá-la pessoalmente, afinal, Tsuhime viria quando achasse apropriado.

Contudo vê-la exatamente como há seis anos o levara de volta àquela época onde eram adolescentes: Ela guardando segredos e ele demonstrando interesse por eles, no final os obtivera anos após, quando ele não podia mais aceitá-la. Agora, tendo-a a sua frente, cogitou se talvez devesse ter abandonado sua noiva por ela. A resposta seria sempre a mesma.

O Aburame esperou que ela caminhasse para ele, deixando-os apenas um metro de distância, o suficiente para que sentisse o perfume natural que ela exalava. Alguns fios de cabelo negro escapavam do coque, emoldurando o rosto dela e pegou-se pensando no quanto ela ainda era bonita. Porém, pelo olhar decidido e firme dissipou tais opiniões. O que a trouxera ali não foi apenas o beijo, que por sinal unia-se as suas memórias.

— Não vou gastar palavras tentando explicar o que eu fiz. — Ela começou, dispensando saudações amigáveis. Considerava que ser gentil apenas dificultaria a conversa. — A única coisa que você precisa entender é que eu vou ficar com Kakashi.

— E por que eu deveria aceitar? — Shino adiantou-se um passo, e Tsuhime não recuou tampouco apareceu mexida com sua atitude.

— Isso não é problema meu. Só estou expondo os fatos. — Ela retrucou, aquilo seria mais complicado do que aparentava. — Você foi longe demais ultrapassando os limites e agora meu casamento está ameaçado. Ao menos pensou no que aquele beijo significaria?

— Você sabe o que ele significa. — Shino rebateu, a voz carregada de raiva contida. Testemunhar tal descaso o irritava profundamente, era como se ela não ligasse mais para os momentos que tiveram. — Não se esqueça que se aproveitou da situação.

— E por acaso você fez diferente? Somos ambos culpados, Shino, e não queremos magoar as pessoas importantes para nós.

— Então por que está aqui? — As sobrancelhas finas se franziram, confusas.

— Para fazê-lo entender que não tem o direito de agir como se apenas os seus sentimentos fossem importantes! — Tsuhime acabou por alterar a voz, coisa que raramente fazia. Ela já havia se exaltado demais no passado. — Verdade que a gente teve um período legal, mas ele não vai voltar. Você seguiu com a sua vida e eu consegui construir uma família e a amo.

— Kakashi nem ao menos é o pai biológico de Haru. — Shino alfinetou e no mesmo instante sentiu o lado esquerdo da face esquentar. Os óculos caíram, exibindo os olhos castanhos que Tsuhime um dia pediu para ver. — Você é uma bagunça, Tsuhime, sempre vai ser enquanto não entrar em sintonia com seus sentimentos.

— Estou perfeitamente ciente do que sinto e quero, não ouse dizer qualquer coisa sobre Haru ou Kakashi porque você não sabe! —Tsuhime fazia um esforço tremendo para recuperar a calma. O corpo tremia e um formigamento desprendia do pescoço. Ainda tinha o Selo Amaldiçoado vivo dentro dela. — Uma família não precisa ser de sangue para ser verdadeira basta compartilhar do mesmo sentimento, o amor, que pelo visto está faltando em você.

— Quer saber mesmo saber a verdade? — Shino optou por cortá-la, dando mais um passo. A respiração de Tsuhime se chocava com a sua. — Eu amo você, deveria ter dito isso naquele dia! Eu vivi pensando que tinha feito a escolha certa, então um belo dia acordo e percebo que não foi assim. Eu perdi você, não é?

Tsuhime ouviu as palavras com certa nostalgia, que foi impossível não se recordar. O mesmo tom, a mesma pergunta reformulada e com o mesmo sentido... Então, antes que Shino dissesse mais alguma coisa, ela segurou o rosto dele entre as mãos, mirando-o nos olhos e vendo-se ali. Sorriu afável, notando que o Aburame relaxara com seu contato, embora a aura em torno dele começasse a se modificar.

— Eu também não estava pronta, mas mesmo assim deixei que você fosse. — Ela iniciou, atraindo o olhar magoado e chocado do Aburame. — Então assim como eu, você pode me libertar.

Escutar sua própria fala causou em Shino um misto de empatia e irritação, fazendo seus olhos marejarem. Estava recebendo o troco por tê-la tratado tão friamente, que se tornou incapaz de olhá-lo por mais tempo. Então, era daquela forma que ela havia se sentido? Aquela conversa estava se mostrando vingativa, invertendo os papéis de outrora.

— Então você se lembra. — Shino disse, sem disfarçar o constrangimento. Sabia o quanto a havia machucado, que não se incomodou em aceitar aquela parcela de dor.

— Certos momentos ficam fixos em nossa memória. — Tsuhime respondeu, não se reconhecendo. Apenas deixava as palavras fluírem de sua boca. — E isso não tem nada a ver com aquele dia, tem a ver com o agora.

— Eu apenas estava lá. — Ele se afastou, fugindo do calor inebriante dela.

— Sim. — Havia uma nota de vergonha em sua voz. — Eu nunca quis magoar você, Shino, nunca. Mas faz ideia de como é se sentir inútil? Fiquei em coma por um ano, perdi meu chakra e fomos atacados, tudo isso em um tempo recorde. Eu tinha que tentar pela minha família.

— Para começar só estamos nessa situação porque saiu do abrigo e, por favor, pare de arranjar desculpas, elas não vão justificar suas ações. Não somos vítimas aqui.

— Sempre somos, Shino. Pode não ser hoje, mas somos. Isso se chama circunstâncias.

Shino riu sem humor, incrédulo de que realmente escutara aquilo.

— Circunstâncias? Você é a única responsável por suas escolhas.

— Então, as aceite! Porque definitivamente não me arrependendo de nenhuma delas! — De fato a mulher que aumentava o tom de voz para ser ouvida não poderia ser ela, embora uma sensação de liberdade a dominasse aos poucos. — Você pode não gostar, mas me devolveu a capacidade de proteger meu marido e meu filho e eu agradeço.

— Isso é tudo que terei de você? — O tom chateado de Shino não passou despercebido.

— Se quiser. — Ela sorriu. — Nossos filhos são amigos, devemos saber nos comportar. Vamos tentar não estragar tudo.

— É um aviso?

— Um conselho.

— Também tenho um para você. — O Aburame se abaixou para pegar os óculos, ajeitou-os no rosto e encarou a mulher com firmeza. — Seja sincera, independentemente de seus motivos. As pessoas não gostam de ser usadas.

A garganta de Tsuhime secara e ela não perdeu mais nenhum minuto ali. O que se propora a fazer já havia sido feito, portanto ela tomou os corredores e afastou até que sentisse segura. O coração aos pulos lhe causava mal estar, ela precisava de ar fresco. Caminhou o mais rápido para o jardim, o sol quente afetando-lhe a visão, contudo, aquela silhueta encostada à parede próxima ela reconheceria em qualquer lugar. Retesou surpresa sem saber o que dizer, sua mente havia apagado todas as tentativas de se manter tranquila.

— Kakashi?

— Me desculpe. — A postura de Kakashi a intrigava, o único olho a mostra fixo em sua imagem como se quisesse descobrir algum segredo.

— Pelo o quê? — Por mais que se esforçasse, Tsuhime não conseguia entender o porquê daquele pedido.

— Eu tive que vir. — Foi tudo que ele disse, esperando que a simples frase explicasse tudo.

— Você esteve aqui o tempo todo? — Tsuhime deixou que ele percebesse sua indignação. Aquilo claramente dizia que Kakashi não confiava mais nela, que fora egoísta para não aguardar a sua vez. — O quanto escutou?

— O bastante. — Ele agradecia por seu rosto estar coberto, ou Tsuhime veria a sua satisfação. Saber que os sentimentos dela para com ele eram autênticos tirou um grande peso de seus ombros.

Tsuhime mordeu o lábio inferior, evitando que se precipitasse. Ela não deveria estar brava por aquela atitude, mas contra isso nada poderia fazer no momento. Se Kakashi queria respostas por que não as pediu abertamente? Ela estava disposta a cedê-las, sem mentiras ou enganações. Já não sabia mais discernir suas emoções tampouco sustentar outra conversa. Sentia-se esgotada.

— Eu... — Ela deu um passo em direção a ele, permitindo-se abraçá-lo. Ela não entendia por que sentia a necessidade de chorar, mas não se policiou. Apenas deixou que as lágrimas caíssem, esperando que com elas aquela mágoa esvaísse.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.
Eu adoro escrever cenas TsuShino, mas agora sabemos quem Tsuhime realmente ama.
Deixe sua opinião, crítica construtiva, sugestão... Receberei com muito carinho.
Beijos!



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