Harukaze escrita por With
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
Harukaze
Capítulo 31
Queima-se em chamas, dor que bloqueia o caminho
Quero queimar a escuridão do passado
Nossos corações são, sim, infinitos
E como era bom estar de volta! Dormir em sua cama, poder andar livremente em sua casa e sem ter olhares constantes sobre ele. Haru alegrou-se imediatamente quando o pai pedira a ele que arrumasse as coisas, pois iriam para casa. Não gostou muito de Suna, além de não ter crianças com que pudesse conversar nem sair de casa sem a companhia dos pais, fazia muito calor. Calor este que não conseguia posição confortável para dormir. Muitas vezes ia para o quarto dos pais para tal efeito, alegando ter perdido o sono.
E agora, em Konoha, ele contava aos amigos o que vira por lá. Claro que não foi muita novidade, pois apenas observou Suna pela janela do quarto. Era intervalo e ambos desfrutavam do almoço embaixo da copa de um majestoso carvalho. Por alguma razão, Haru gostava de se sentar embaixo daquela árvore, ela sempre o acolhia de bom grado.
— Wow! — Souma exclamou, admirado. — Seu almoço é muito legal! Era de se esperar que Tsuhime-san caprichasse tanto. — Em seguida olhou para o seu, vendo diferença. Não que sua mãe fosse indelicada, mas um pouco mais de enfeite conquistaria qualquer um. — A mamãe nunca tem tempo.
A maioria das vezes Hideki e Souma ficavam aos cuidados dos empregados da casa, pois a mãe integrava a ANBU enquanto o pai constantemente passava noites no Departamento de Inteligência de Konoha. Se passarem mais de vinte minutos ao dia com eles, já poderia ser considerado lucro.
— Toma, eu deixo você provar. — Haru estendeu seu lanche para Souma, enquanto Hideki apenas observava analítico. Aquela característica do amigo às vezes podia fazê-lo irritante.
Souma não se fez de rogado e aceitou, dividindo o seu com o amigo também. Poucos minutos depois, os irmãos gêmeos decidiram voltar para classe, embora Haru optasse por desfrutar da calmaria um instante a mais. Claro que Iruka-sensei notaria sua ausência, porém Haru não gostava de teorias. Conhecimento era muito bom, entretanto a prática era mais proveitosa e produtiva, assim ele pensava.
O vento ameno sobrou, trazendo com eles algumas pétalas de flores. Era primavera e Haru gastava minutos infindáveis observando as cerejeiras. Talvez pedisse ao pai para plantar uma no jardim, sua mãe iria aprovar. Todavia, não sobrou apenas pétalas de flores. Um perfume desconhecido e uma presença silenciosa alarmaram Haru, que imediatamente reconheceu-a. O mesmo homem que vira no acampamento lhe encarava, sorrindo com o único olho vermelho. Os seus eram quase parecidos com o dele.
No entanto, parecia que apenas ele fosse capaz de enxergá-lo ali. Analisou quando uma menina de sua classe acenou para ele e seguiu o caminho. Disposto a render conversa, Haru se colocou de pé, reparando na diferença palpável de altura entre eles. Não se recordava de aquele homem ser tão alto.
— Pelo visto, você não mudou. — A voz grave e convicta repercutiu em seus ouvidos, igualmente sonora de outrora. — Ainda não te assusto?
— Quem é você? — Olhava para cima, tentando encontrar aberturas naquela máscara laranja.
Tobi se abaixou à altura do menino, encarando-o com o único olho a mostra. Ele não havia mudado muito nesse último mês, embora tenha crescido alguns centímetros. Talvez ele ficasse alto quando se tornasse um adulto, quem sabe?
— Apenas um amigo. — Tobi rebateu, esquivando-se da atenção de Haru.
— Não pode ser meu amigo. — O menino franziu o cenho, como se o estranho tivesse falado algo completamente absurdo. — Eu não conheço você. A mamãe diz que eu não devo falar com desconhecidos.
— Isso é uma bobagem. — Rejeitou a vontade de tocá-lo, afinal, deparar-se com outro Uchiha era um fato extremamente raro. — Sabia que você é muito parecido comigo?
Haru pareceu refletir sobre o que o estranho dissera, no entanto, cruzou os braços em sinal de incredulidade. Um sorriso fino se desenhou em seus lábios e encarou o homem, desafiador.
— Me mostre.
Tobi arqueou as sobrancelhas, retribuindo ao sorriso do garoto. Ele era esperto, já havia comprovado, todavia não esperava por uma afronta daquele tipo. O garoto, ou se preferisse poderia chamá-lo de filho, mostrava-se bastante à vontade com sua presença e tentava intimidá-lo, como se soubesse que uma hora ou outra obteria sucesso. Logicamente Tobi não cederia, afinal estava curioso para ver aonde Haru poderia chegar. Apenas ameaçou retirar a máscara, no entanto, manteve-a no lugar.
— Ah, eu não posso. — Tobi riu da cara de desapontamento do menino. — Afinal, nós não somos amigos... Certo? E eu acho que é melhor escutar o que sua mãe diz.
Haru abriu e fechou a boca um par de vezes, querendo reformular a frase que proferira no ímpeto. A curiosidade de saber o rosto do estranho encontrava-se martelando seu lado infantil, como se ele fosse um enorme prêmio ao final de uma tarefa cumprida. Como ele poderia recusar a afobação? E se sua mãe descobrisse que andava conversando com estranhos? Bom, aquele homem já o encontrara duas vezes, então passou a ser um conhecido... Certo?
— Eu... — Haru balbuciou, batendo o pé no chão em ansiedade. Olhou para todos os lados, como se procurasse por suspeitos próximos a eles. Aproximou-se do estranho e murmurou em seu ouvido: — Eu prometo não contar pra ninguém.
Tobi gostou deveras daquela atitude. Um garoto destemido, levado pelo ímpeto dos sentimentos frágeis. É verdade que dissera a Kabuto que não havia interesse em conhecer a criança, no entanto, mudara de opinião ao ter pela primeira vez com ele naquela floresta. Haru era, no mínimo, interessante.
— Verdade? — Tobi espetou a ansiedade do garoto, recebendo um aceno afirmativo de Haru. — Então, venha comigo. — Estendeu a mão a ele, oferecendo o convite.
— Pra onde? — O Yatsuki interrogou, escondendo as mãos atrás do corpo. Um gesto infantil, mas que denunciava insegurança.
— Eu vou te mostrar o meu rosto. Você vai ver o quanto somos parecidos.
— E por que não pode ser aqui? — Haru inspecionou-o com extrema atenção.
— Porque eu não quero que ninguém mais veja. Apenas você. — Tobi mexeu os dedos, incitando-o. Não havia ganho mais fácil do que iludir uma criança curiosa.
Haru sorriu com a resposta do estranho e, ainda que estivesse relutante, ele estendeu o braço e segurou a mão do homem.
(...)
— A senhora e o bebê estão muito bem, Aburame-san. — Tsuhime exclamou ao avaliar o exame que pedira há quase um mês. Como esteve fora ajudando Suna, ela tivera tempo de acompanhá-la apenas dois dias depois que regressara da missão. Inclusive o fato de Aburame Mita ter esperado por ela a inquietou.
— Fico muito feliz pela notícia. — A doce mulher sorriu, mostrando a bonita carreira de dentes brancos. — Parece que Hyiori gosta de você, ela sempre fica agitada quando escuta a sua voz.
Tsuhime sorriu em resposta e escreveu algo no prontuário de Mita. Logo dispensou a mulher, podendo, enfim, também sair para almoçar. Quem sabe tivesse a companhia de Haru? Pensando no filho, a personalidade doce havia se feito presente novamente. Todavia, ninguém lhe tirava da cabeça que o filho lhe escondia alguma coisa importante.
Caminhando pelos corredores, teve com Sakura que a avisou que Tsunade passara-lhe um trabalho extra aquele dia. Ou seja, sairia tarde do hospital ou faria plantão, o que se tornou constante. Claro que Tsuhime não se importava em fazê-lo, embora se sentisse cada vez distante da família. Agradeceu à jovem kunoichi e rumou pelas ruas de Konoha. Pela hora Haru estaria saindo da academia e talvez pudesse dividir um pouco de tempo com o filho. Kakashi também se encontrava ocupado, indo e vindo em missões cada vez mais constantes. Nem se lembrava da última vez em que dormira ao lado dele uma noite inteira.
A amante estava roubando seu marido e ela sorriu com a conclusão. Sua situação para com o hospital poderia ser considerada a mesma. Todavia, sentia-se feliz e completa diante da correria do dia a dia. Tornou-se quem desejou ser ao lado de Kakashi e Haru, e isso já era o bastante. Claro que alimentava outros sonhos, como dar um irmãozinho ou irmãzinha a Haru — ela gostaria de ter uma menina agora —, tinha certeza que o filho ficaria feliz em ter uma companhia para zelar e cuidar. Além de Kakashi, que se sentiria tão realizado quanto. Quem sabe daqui um ano ou dois?
A academia ninja invadiu seu campo de visão e percebeu que Hideki assumiu uma expressão fechada enquanto Souma agitou as mãos, não conseguindo disfarçar que algo estava errado quando a viram. Franziu o cenho levemente e aproximou-se dos irmãos gêmeos, sorrindo-lhe ao perguntar:
— Onde está Haru?
Souma remexeu-se ao lado do irmão, desconfortável, fugindo do olhar interrogativo da mulher a sua frente enquanto Hideki suspirou cansado, o ar calmo e centrado como sempre.
— Não sabemos. Viemos chamar ele, pois ele preferiu ficar um pouco mais no pátio e não quis acompanhar a gente pra classe. Só que a gente não encontrou ele em lugar nenhum.
— Como assim “não encontrou”? — Tsuhime repetiu com ironia, o coração começando a se agitar dentro do peito. Logo, Iruka-sensei fez-se presente entre eles, o semblante envergonhado e culposo. — Por favor, digam-me que é apenas uma brincadeira. — Ela implorou, imaginando o pior.
— É estranho, Haru nunca nos causa problema. — Iruka usou todo o seu tom complacente, não querendo alarmar ainda mais Tsuhime. Era visível seu desconforto, além de estar perante Tsuhime ainda tinha o fato de Haru ser filho de seu melhor amigo. — Pedi para alguns professores nos ajudarem, tenho certeza que ele está escondido em algum lugar e que logo o acharemos.
— Viu se ele estava conversando com alguém? — Tsuhime dirigiu-se a Souma e Hideki, antes agradecendo o esforço de Iruka. Os gêmeos negaram, entristecidos. — Tudo bem, eu vou procurá-lo. Avisem Kakashi, por favor.
À medida que procurava por Haru, como se ele fosse uma espécie de caça ao tesouro, Tsuhime conseguia captar resquícios do chakra do filho, o que dizia que havia um tempo relevante que ele passara por ali. E o que mais lhe irritava era não saber os motivos de Haru que o levaram a se afastar tanto. Corria pelo emaranhado de árvores, gritando o nome do filho, porém tudo o que escutava era o eco de sua própria voz. E quando mais se embrenhava mais se notava reclusa. Você soube mesmo onde se esconder, Haru. Nós vamos conversar sobre isso.
Refletiu se essa rebeldia se devia a ela. Desde pequeno mimara o filho, mas não o bastante para ele aderir a comportamentos desobedientes. O que a levava a dar razão a sua teoria de más companhias. Hideki e Souma não lhe pareciam ser garotos dados a esses tipos de conselhos, então talvez pudesse relaxar em questão a eles. As copas das árvores impediam que a luminosidade do sol atrapalhasse sua visão, e em menos do que previu encontrou uma silhueta cerca de dois metros de distância dela. Sorriu, era do tamanho exato de Haru.
Acelerou a caminhada e se esticasse o braço poderia tocá-lo. E foi o que ela fez. O menino virou-se lentamente para ela; Possuía o olhar vidrado e o Sharingan ativo. No entanto, isso foi o que menos a assustou. Reparando bem, o rosto de Haru estava traçado por grossas lágrimas que embora já secas destacavam o percurso certo. Ajoelhou-se de frente para o filho, e o puxou para perto.
— O que foi, amor? Por que você veio para cá sem avisar ninguém? — Ela impediu que mais uma lágrima escorresse. — A mamãe ficou preocupada.
— Agora eu já sei por que eu sou tão diferente do papai. — Haru despejou as palavras com desgosto, fazendo com que a mãe franzisse o cenho em confusão.
— Do que está falando, Haru?
— Eu não sou filho do papai, por isso todo mundo me olha esquisito. — As emoções fugiram de Haru, ele mal piscava os olhos como se estivesse estático.
— Quem te disse isso, querido? — Tsuhime acariciou o rosto do filho, porém o menino se esquivou. — Vamos, seu pai já deve estar procurando por nós dois. Desative o Sharingan, por favor.
Todavia, Haru não fez menção em seguir a mãe, apenas ficou parado no mesmo lugar, observando a mulher a sua frente com profunda atenção enquanto sua mente trabalhava em tudo o que ouvira do estranho. Ele não queria acreditar que sua mãe havia sido tão mentirosa, que escondesse a verdade dele achando ser o melhor. Aquilo estava errado.
“Você não é filho de Hatake Kakashi.”
“Não deve acreditar nas aparências.”
“Olhe para nós, somos iguais!”
“Tem sangue Uchiha correndo em suas veias, garoto.”
“Você é um Uchiha.”
“Você é meu filho.”
E, naquele momento, regado de dúvidas e confusões, Haru viu-se com raiva da mãe. Era um sentimento ruim e quente, que aos poucos se alastrava por todo o seu corpo. Ignorou completamente a mão que o convidava, até que Tsuhime desistiu e ajeitou a postura.
O que ela temia acontecera, restava saber como foi que nunca notara a presença de Tobi tão perto. Se não havia se inquietado, queria dizer que não existia perigo. E era impossível para ela acreditar que Tobi não fosse maldoso com o menino depois da forma descartada que ele a tratara. E para que Tobi estava procurando Haru logo agora, depois de cinco anos? Será que a paz de sua vida estava para se quebrar? Não! Ninguém iria destruir o que ela tanto lutou para conquistar. Ninguém iria afastá-la do filho. Ninguém!
— Haru, a mam...? — A frase morreu gradativamente ao ter os braços infantis enlaçando seu pescoço em um abraço apertado e triste. Retribuiu-o, mas por pouco tempo.
Logo a dor de um instrumento gelado transpassando seu corpo a desconfortou. Não conseguiu segui-la, temia ver o que imaginava. Então, Tobi corrompera o seu filho àquele extremo? Tsuhime não se importou com as lágrimas, deixou-as livres, e intensificou o abraço entre eles.
— Por que mentiu pra mim, mamãe? — A voz chorosa do filho alcançou seus ouvidos, e ela não soube o que responder. Haru afastou-se da mãe, largando a espada que criara (e sem fazer à menor ideia de como) no mesmo lugar. A roupa estava manchada com o sangue de Tsuhime.
“Eu não sei, amor... A mamãe sempre foi covarde.” Ela respondeu em mente, enquanto sentia-se tombar. O chão gramado a recebeu confortavelmente, e antes que seus olhos se fechassem ela captou a silhueta alta de Tobi atrás de seu filho. Embora não visse o rosto dele, sabia que ele estava sorrindo.
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