Harukaze escrita por With


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Trago mais um capítulo.
Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 2

Todos choram para o céu.

Alcançam suas mãos e começam a sonhar

Eles vão sempre proteger

O céu azul que viram uma vez no passado

Os olhos amarelados se abriram, condoídos pela forte luz que adentrava pela janela. As dores de seu corpo haviam diminuído, e com esforço Tsuhime foi capaz de se sentar. Uma agulha de soro estava injetada em seu braço, e ao observar melhor o local soube que não se encontrava mais no labirinto que ela vulgarmente chamava de casa. “Estou longe dele... Finalmente consegui!” A garota comemorava consigo, deixando que as lágrimas chegassem como queriam. Sentiu os lábios se curvarem em um sorriso, ato que não acontecia desde... Desde sempre.

A sensação de liberdade a assolava, trazendo-lhe sentimentos que jamais experimentara. Porém, algo dentro dela avisava repetidas vezes: “Não se acostume. Seu pai dará um jeito de encontrá-la e levá-la de volta para casa.” Seria egoísmo desejar que, apenas desta vez, as coisas dessem certo? Talvez, para Tsuhime, seu destino fosse permanecer ao lado de Orochimaru, sendo sua fiel cobaia e chances de sucesso.

Conhecia os segredos daquele homem, herdara alguns — definitivos e adquiridos — e com eles vieram as consequências. Ela percebeu quando foi forçada a aprender ninjutsu que satisfizessem seu pai, como ele alegava: “Quero testar o quão eficiente você se tornou”. Cresceu com o exímio que seu pai ansiava; O sorriso orgulhoso nos lábios dele era incapaz de dizer o contrário, porém sabia que seus sentimentos, dores e sonhos não importavam.

Sim, Tsuhime possuía sonhos. O primeiro deles era se tornar livre, dona de si mesma — o que parcialmente estava se cumprindo. Segundo ser tão boa médica quanto Kabuto, o que ela sabia que demoraria anos até que conseguisse dominar seu falho chakra. E terceiro: Conhecer alguém especial, capaz de protegê-la e amá-la sem esperar absolutamente nada em troca. Sonhos talvez impossíveis, mas que ela ainda lutava bravamente para realizar em seus recém completados dezesseis anos.

Suspirou cansada, observando as pessoas que andavam em frente ao hospital. Invejou os sorrisos felizes e espontâneos, as mãos que se tocavam em um natural gesto de amizade. Quando foi que teve um contato assim com alguém? Tsuhime nunca teve... Não tão verdadeiro como ela gostaria. Em seus momentos fracos e debilitados em busca de chakra, quem a satisfazia era Kabuto. E, claro, sempre obedecendo às ordens de seu pai. Os beijos dele possuíam um calor ensaiado, embora quando estava nos braços dele sentia-se um pouco protegida. Mero engano. Ao final, Kabuto não dizia nada e o que importava para ele era saber que seu estado se revigorara. Sobrava apenas o frio das paredes e a certeza de que aquela seria para sempre sua rotina.

— Fico feliz que tenha acordado. — Uma mulher loira ocupou o seu lado na cama com um sorriso bonito, sincero. Tsuhime não a correspondeu, embora já tivesse se familiarizado. Seu pior defeito era se afeiçoar facilmente às presenças. — Eu sou Tsunade, a Hokage de Konoha, e você?

— Yatsuki Tsuhime... — Ela respondeu baixo, inspecionando as atitudes da mulher. Ninguém havia iniciado uma conversa de forma tão delicada como Tsunade. — Então, você é uma Sannin?

— Isso mesmo. Como sabe? — Tsunade sabia onde estava se infiltrando, e mesmo que parecesse uma pergunta natural, percebeu quando a garota se encolheu um pouco. Quase coagida.

— Eu... Eu ouvi histórias. — Simplesmente ela afirmou, desviando os olhos para qualquer ponto do quarto. Temia que ela visse ali sua mentira. — Konoha... — Tsuhime balbuciou, pensativa. — Estou mesmo longe de casa.

— Os guardas te encontraram próximo ao portão da vila. — Tsunade sem cerimônia tocou a testa da garota, comprovando a temperatura estável. — O que estava fazendo?

Tsuhime sentiu o coração descontrolar ao ouvir tal pergunta. A mulher a sua frente era a líder, a ninja mais poderosa de Konoha, como ela reagiria se dissesse a verdade? E, além do mais, ela mal sabia se poderia confiar em Tsunade a ponto de contar toda sua história.

— Eu me perdi, Tsunade-hime. — Ela foi rápida, porém tentando parecer que não havia motivos para fazer com que a Hokage desconfiasse. — Costumo sair para conhecer os lugares, as vilas, as pessoas... E acabei me distanciando demais do caminho de casa.

— Entendo. — A Hokage sorriu, retirando a agulha de soro do braço da garota. — Onde mora e quantos anos você tem?

— A senhora não deve conhecer, minha vila foi fundada há pouco tempo. — Tsuhime remexeu os dedos, em nervosismo. Os olhos amarelados, de cobra, divagando de Tsunade para a janela. Estava novamente fugindo das perguntas. — Acabei de completar dezesseis anos.

— Você já está em condições estáveis, mandarei alguém para que te acompanhe em um passeio. Espero que aproveite para descansar. — Tsunade sorriu, escondendo entre os lábios a vontade de desmenti-la naquele momento. Sabia que, desde que ela havia começo a falar, tudo não passava de invenção. Ao menos seu nome era a única coisa real na história.

— Obrigada, Tsunade-hime. — Ela agradeceu embaraçada, sem notar a insistência nos olhos castanho-claros da Hokage.

— Por que me chama dessa maneira? — Era apenas uma questão de curiosidade, afinal, poucos a tratavam daquela forma.

— Talvez você realmente seja uma Hime. — Tsuhime foi breve, não esclarecendo completamente o que a Hokage gostaria de saber.

(...)

Tsunade estava de volta, desta vez acompanhada por um rapaz alto vestido com roupas sóbrias, óculos escuros e sobrancelhas franzidas. Não aparentava qualquer interesse em porque fora designado para aquela tarefa, entretanto, era um pedido da Hokage e não poderia recusar. A mulher não havia dito absolutamente nada a seu chunnin, talvez Tsuhime pudesse se sentir intimidada.

Voltando seu olhar amarelado para as duas pessoas ali presentes, Tsuhime demorou-se um pouco mais em sua análise. Já havia o visto em algumas fotos de seu pai em uma espécie de arquivo, porém vê-lo a sua frente causou-lhe arrepios. Apesar de Orochimaru ter dado pouca importância àquele rapaz e suas habilidades, angustiava-a imaginá-lo naquele laboratório assim como ela. Seu coração disparou repentinamente ao perceber que fazia pouco mais de três minutos que o encarava firmemente.

— Este é Aburame Shino, ele vai te fazer companhia durante seu passeio. — Tsunade sorriu para a garota, de fato os traços marcantes de Orochimaru foram generosos para com ela. Os mesmos olhos, a mesma cor de cabelo, embora se diferenciassem na cor da pele.

— Obrigada. — Tsuhime jogou o lençol que a cobria para o lado e sentou-se de frente para eles na cama. Seu corpo ainda tinha vestígios de sua noite de fuga, contudo, mostrar-se fraca na frente daquele rapaz parecia-lhe uma grande ofensa. Os pés doloridos tocaram o chão, e pediu mentalmente que suas pernas suportassem seu peso.

— Não precisa ter pressa, Tsuhime-chan, você é bem vinda em Konoha. — A Hokage proferiu calma e gentil, sem notar o quanto aquele honorífico havia mexido com a garota. — Cuide bem dela, Shino.

— Sim, Hokage-sama. — Pela primeira vez ele havia falado, e sua voz era grave e sonora. Algo que Tsuhime foi incapaz de agir com indiferença. Um leve tremor percorreu-a, como se finalmente seu corpo tivesse resgatado algo muito importante. Ela só não sabia distinguir o quê. — Está pronta?

— E-Estou, podemos ir quando quiser. — Passos atrás de outro, e Tsuhime já começava a se sentir revigorada. Aquelas horas que passara no hospital foram suficientes para que todo o cansaço se esvaísse do seu corpo.

Agora, andava lado a lado com um rapaz que ela mal conseguia manter um nível de conversa. Ele parecia estranho, tão calado quanto anti-social, e aquilo não a incomodou de fato. Tsuhime vivia assim, guardando suas opiniões para si própria, embora estivesse curiosa para descobrir como era seu rosto por trás do casaco de gola alta. As sobrancelhas finas sempre franzidas, como se tudo não fosse mais do que um incomodo. Será que ela também o era?

— Desculpe-me por tomar o seu tempo. — Tsuhime exclamou, sentindo que roubava uma parte da privacidade do rapaz. Há essa hora ele poderia estar fazendo algo que realmente desejasse e não ao seu lado por causa de uma simples ordem. “Como sempre”.

— Não se preocupe com isso. — O domador de insetos continuou a caminhada com as mãos dentro dos bolsos e o rosto voltado para frente.

Tsuhime abaixou os olhos, tendo a certeza de que estava sendo completamente ignorada por Shino. Claro, ele não tinha obrigação nenhuma de se dirigir a ela, no entanto aquele tratamento trazia-lhe os piores momentos que já vivera. Assim como Kabuto, as pessoas apenas ficavam perto dela porque foram ordenadas e não justamente porque queriam. Sentiu-se sem valor, e repensou se havia tomado a decisão certa quando abandonou o seu lar. Sim, apesar de todo o terror que se habituava, lá era verdadeiramente o seu lugar.

Sem avisar seu acompanhante, Tsuhime sentou-se na grama e deixou que o vento brincasse com seus cabelos. Finalmente ela tinha o que queria, então porque se incomodava com um simples comportamento? Em Konoha nada mais era do que uma forasteira acolhida pela Hokage, e alguma coisa lhe dizia que talvez as coisas se tornassem melhores assim.

Elevou os olhos, observando com interesse os rostos de pedras. Não conhecia a história e nem o significado que possuíam, talvez fosse um memorial ou a própria história de Konoha em todos os seus anos de glória.

— Aqui é tão diferente. — Tsuhime deixou escapar as palavras, chamando a atenção de Shino que se sentou ao seu lado. — De onde eu vim, não existe nada disso. Essa tranquilidade, essa paz... É maravilhoso.

— Fala como se sua vida tivesse sido infeliz. — Shino juntou-se a conversa, sem saber muito bem a quê ela se referia.

— Digamos que eu não cresci em um ambiente como este. — Ela sorriu, tentando imaginar como havia sido a vida daqueles rostos de pedra. Todos eles possuíam traços fortes, algo que realmente fosse capaz de dizer claramente: “Nós ainda estamos aqui”. — Quem são eles?

— Aqueles são os Hokages. — Shino começou, denotando uma incrível paciência na voz. — O primeiro e o segundo fundaram a vila, o terceiro foi nomeado ainda muito jovem mais nos protegeu excepcionalmente até o último momento, o quarto salvou a vila da Raposa de Nove Caudas. Todos são grandes heróis. E, até agora, a Quinta ainda não teve motivos para se preocupar. Vivemos em um tempo de paz, e espero que continue assim. E como é a sua vila?

— Quase inabitada. — Tsuhime suspirou, a partir de agora mediria suas palavras e curiosidade. — Meu pai a fundou, mas ainda está trabalhando nela.

— Quem é o seu pai? — Uma curiosidade que Shino não pôde simplesmente ignorar. Agora olhava fixamente para Tsuhime, que mantinha os olhos levemente arregalados e os lábios entreabertos à procura de palavras. — Nós o conhecemos?

— Não, eu creio que não. — Ela exclamou apressada, por pouco não tropeçando no que dizia. Tocar no assunto Orochimaru a desnorteada por completo. Levantou-se, dando aquela conversa por encerrada e caminhou na frente dele. — Você vem? — Tsuhime estendeu a mão para Shino, não com o intuito de ele a aceitar, apenas em um gesto convidativo.

Todavia, Shino retribuiu a proposta, colocando-se de pé. Mesmo que Tsuhime não quisesse lhe contar sua história, ele não teria pressa. Percebera o quanto a incomodava desvendar ou mencionar seu passado para alguém, porém o estranho desejo de conhecê-la um pouco melhor ainda lhe apunhalava o peito.

(...)

— Estou preocupada, Shizune. — A Hokage expôs-se, os olhos perdidos como se revivesse alguma cena importante.

— Com o quê, Tsunade-sama? — Shizune aproximou-se da médica, trazendo nos braços Tonton. Não era normal vê-la tão pensativa como aparentava.

— Tsuhime... Os exames dela não foram normais. — Tsunade levantou-se, encarando a vila da janela de sua sala. — Pergunto-me desde quando ela é submetida àquelas experiências.

— Não estou entendendo, senhora. — A pupila sentou-se, esperando por explicações.

— Meu antigo companheiro de time, Orochimaru, ele ainda mantém aquele maldito laboratório. E Tsuhime é uma cobaia dele. — Foi direta, sem prolongar demais o que gostaria que Shizune soubesse. — Preciso de Jirayia aqui. Onde ele está?

— Provavelmente espiando as mulheres nas termais... — Shizune respondeu entediada, girando os olhos, como se aquilo fosse óbvio. O que não deixava de ser, afinal, Tsunade conhecia o jeito pervertido do Sannin. Ouviu um suspiro irritado da Hokage e se recompôs: — Bom, a senhora o encarregou de descobrir sobre possíveis desaparecimentos afastados da vila, talvez ele ainda esteja investigando.

— É verdade, tsc. — A Hokage deu-se por vencida, voltando a se sentar em sua confortável cadeira. — Temos outra questão a resolver: O lugar que Tsuhime ficará temporariamente.

— Está mesmo pensando em deixá-la ficar, Tsunade-sama? — Por um momento os olhos de Shizune mostraram incredulidade para com as palavras da médica. — Nós nem sabemos se ela não está aqui para outra coisa! E se essa garota for uma espiã? A senhora está sendo imprudente!

— Acalme-se, Shizune. — A Hokage fez um gesto depreciativo com as mãos, ordenando que sua pupila se calasse. — Quem manda aqui sou eu, e Tsuhime vai ficar até quando ela quiser. Eu não vou deixar que ela volte para perto de Orochimaru. — Sem perceber, Tsunade havia criado um sentimento maternal para com a garota.

— Como à senhora achar melhor. — Não havia mais o que Shizune pudesse falar, sua senhora estava decidida.

— Assim que Jirayia voltar me avise. — Ela ordenou, espreguiçando-se. — Agora, traga-me uma dose de saquê, sim? Preciso relaxar!


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Notas finais do capítulo

Obrigada a quem leu, deixe um comentário com críticas construtivas, sugestões... Tudo será bem vindo.
Até o próximo,
Beijos!



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