inCOMPLETO escrita por Lorenzo


Capítulo 15
O enigma da esfinge




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Ter. 03.07.2012

 

Já estou a algum tempo em casa. Tudo continua o mesmo. Emilly me visitou uma vez, mas trocamos poucas palavras e na maior parte do tempo apenas trocamos alguns poucos olhares em silêncio e alguns suspiros profundos que indicavam nada além de tédio. Ela deve ter vindo por pena de mim. Pena é o que todos tem. Juan me visitou alguns dias. Na verdade, ele não veio apenas na quinta-feira passada pois foi ao médico e até hoje ele não me deu nenhuma resposta sobre o conteúdo do cartão, ele disse ter esquecido e eu acredito nele. Na verdade, acho que não deve haver nada de muito interessante naquele pedaço de papel sujo e amaçado.

 

— Meu bem, você não acredita em quem veio te visitar? - Tia Jaque fala e logo em seguida tosse algumas vezes, eu apenas a encaro.

 

Em seguida Lúcia entra no meu quarto. Num primeiro momento sinto vergonha. Estou usando apenas uma cueca samba canção e meu físico atlético está completamente exposto. Vergonhoso mesmo é não conseguir me cobrir com a velocidade necessária para o susto.

 

— Você lembra que fui eu quem te deu banho, certo? - ela brinca. Suas brincadeiras sempre aliviaram aquelas situações constrangedoras do hospital.

 

Vejo que não tenho nenhum motivo para aquele excesso de pudor. Ela viu coisas muito piores no hospital, então resolvo levar na esportiva e levar na brincadeira.

 

— Eu sou um menino de família, você sabe, certas coisas só depois de casados! - dou uma piscadela. Sei que Lúcia não me levaria a mal, mas tia Jaque mostra estar um pouco envergonhada com a situação. Minha tia não conhece meu lado brincalhão. Na verdade, nem eu mesmo conheço muito bem pois ele é um tanto novo pra mim.

 

— Aliviaria a sua consciência se eu dissesse que já sou casada? - ela ri um pouco e em seguida coloca um pequeno embrulho sobre o meu diário em meu criado mudo.

 

— Talvez... - penso um pouco - Espero que ele não seja ciumento. - eu rio - Você sabe, todos sabemos, sou irresistível.

 

Lúcia gargalha. Até mesmo tia Jaque se rende a risada, porém em seguida volta a tossir e sai com um semblante assustado. Acho que apenas eu notei tudo o que aconteceu ali.

 

— Acho que ela não está muito bem. - digo indicando com um meneio de cabeça a posição onde estava minha tia.

 

— Oh, meu bem... E por quê? - nossas expressões mudam num instante.

 

— Ela não para de fumar, sabe? Ela acha que eu não percebo, mas ela se isola no fundo do pomar e acha que não tenho como descobrir. Já vi alguns restos de cigarros por lá.

 

Minha amiga enfermeira arregala os olhos. 

 

— Mas alguém no estado dela não pode! Isso só vai acelerar o desenvolv... - ela para. Trava. Lúcia sai de seu devaneio e apenas me encara um pouco envergonhada. Ela sabe de algo que eu não sei.

 

— O desenvolvimento do que? - pergunto sério, tentando me ajeitar na cama.

 

— Do... Do... Do seu tratamento. Digo, isso não vai ajudar em nada em seu tratamento. Ela sabe bem. - Vejo em seu rosto o nervosismo. Tudo aquilo apenas confirma minhas suspeitas e embora remota há a probabilidade de conseguir algumas informações com ela, mas sei que não conseguirei nada se continuar tentando forçar.

 

Finjo acreditar.

 

— Sim, é verdade. E isso só pode prejudicar a sua saúde. Todos sabem o mal que faz o cigarro, é um suicídio lento e muito doloroso tanto para quem fuma quanto para os que presenciam.

 

Ela parece um tanto desajeitada. Ela não esperava que eu aceitasse sua desculpa sem pés nem cabeça, mas ela reage bem aos meus esforços de parecer inocente. Nesse momento a situação exige maestria em minha atuação. Por pena ninguém nunca vai falar nada para o menino aleijado que já tentou se matar. 

 

— Por sorte vocês tem vínculos muito fortes.

 

Não entendo o que ela quis dizer com "vínculos", porém de imediato me lembro do homem dos sapatos sujos de lama.

 

— Ele é um senhor muito solícito. - digo tentando parecer seguro.

 

Ela me encara com um olhar de estranhamento.

 

— Senhor? - ela ri - Mas que família engraçada vocês tem! - Lúcia me dá um beijo na testa, próximo ao curativo. - Nos vamos daqui alguns dias, senhor sedutor. - Ela dá um leve tapinha na lateral da minha coxa e vai em direção a porta. Não sinto absolutamente nada naquela região onde ela bateu.

 

Me restam apenas dúvidas e preciso apenas desanuviar minha mente. Destilar todos esses pensamentos confusos e tentar extrair algo de útil dessa conversa, porém resolvo esperar Juan chegar. Preciso conversar com ele sobre muitas coisas. A começar por Emilly e sua aparente indiferença - e a minha também. Já não sinto aquela empolgação pela "menina ruiva misteriosa" - e também pela minha conversa com Lúcia e sua estranha intimidade com tia Jaque, a minha "família engraçada".


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