Sherlock Holmes e a Expedição Perdida escrita por Carol Stark
Notas iniciais do capítulo
Voltemos no tempo...
Amazônia – Brasil
Dez meses atrás
– Vamos, seu inútil! Onde fica a tribo mais próxima? – Gritava um homem armado para o dono da Hospedaria. Tal homem era alto e forte, de olhos claros e de barba. Manejava tão bem a arma que esta parecia ser a coisa que mais sabia fazer de melhor – Já viajei e pesquisei bastante para saber que somente determinados medicamentos naturais produzidos através de conhecimentos antigos são capazes de curar as mais horrendas doenças!
– Ca-Calma! – Foi a única coisa que conseguiu proferir o corpulento e cordial Sr. Borges, dono da Hospedaria Guaraci – Não conheço nenhuma tribo!
– MENTIRA! – Esbravejou o outro enlouquecido, atirando para cima e assustando a todos no ambiente que correram a fim de proteger-se – Já vim aqui antes e sei que há uma tribo próxima! Uma das mais antigas do país conhecida por todos desta terra maldita!
Entre o desespero e a fúria, tal homem armado atirou várias vezes perigosamente em um choro louco e indecifrável aos olhos alheios.
– Minha filha... Minha filha... – Sussurrava o homem armado, entre lágrimas.
– O que acon-aconteceu com sua filha?... – Arriscou perguntar o dono do recinto.
– CALE-SE! – Com os olhos úmidos injetados de ira, pupilas e narinas dilatas, respiração rasa e descompassada, o ameaçador homem levou lentamente a arma que segurava à cabeça do Sr. Borges – Diga-me agora ou disparo esta arma em seus miolos como faço com os javalis desta mata imprestável! Esta mata que matou a minha filha (...). – Proferiu mais baixo as últimas palavras entre pesares.
O Sr. Borges preferiu viver:
– Na-nascente Rubra. Tribo Nascente Rubra. – Engoliu em seco o dono da Hospedaria sabendo que não teria mais volta. Acabara de entregar o povo mais respeitado daquelas terras e toda sua sabedoria; povo que tanto já os havia curado de doenças ainda não descobertas pela medicina nacional.
Com um rosnado gutural, o homem saiu às pressas mata adentro deixando um trêmulo e nervoso Sr.Borges ao balcão. Já maquinava o homem, como se aproximaria da então tribo sem levantar suspeitas iniciais. Sua mente borbulhava em devaneios e nebulosidades:
“Uma emboscada com uma onça. É isso! Eu, caçador, já estou acostumado a criar armadilhas... Uma onça, um dos índios em apuros e eu. Assim, ganho a confiança necessária para conseguir o que quero e descobrir a cura para a maldita doença que me tomou minha pequena... Minha filha... E não pude fazer nada a tempo para salvá-la!”
Mais um grito horrendo saiu do caçador exteriorizando a dor da perda que sentia e, ecoando por onde ele passava, apenas concretizava assustadoramente toda sua ferocidade e determinação. Continuava ele a pensar:
“Maldito dia que viemos para cá! Minha esposa não mais confia em mim e minha pequena Bárbara se foi... Tenho que esconder minhas verdadeiras intenções do grupo da expedição que trouxe comigo. Ninguém pode saber os meus planos. NINGUÉM!”
– Foi isso que aconteceu, Sr. Holmes. – Concluiu Borges aflito – A história parece se repetir! Não sei qual foi pior!
– No se preocupe, senhor. – Reconfortou-o Rita.
– Sherlock, o que diz sobre isso? As versões agora são diferentes, mas algo me diz que há fatos em comum nisso tudo.
– Sr. Borges, por favor, responda-me: que tribo exatamente é esta? – Holmes inquiriu.
– Hum, são os Nascente ou Fonte Rubra... Os Peles-vermelhas. – Respondeu Borges sem muito compreender.
– Não, meu caro. O que eu quero é que o senhor me diga o que mais sabe sobre este povo.
– Ah, bem. Quando passamos a habitar estas terras mais próximas das matas, a tribo já vivia aqui e não gostava de nossa presença, no início. Mas com o tempo mostramos respeito e deixamos claro que não queríamos nada deles.
– Conte-me mais. – Pediu o detetive – Uma tribo não se torna motivo de ameaças se não possui nada de valioso.
– Claro! Sinto-me culpado por tudo isso, Sr. Holmes! Mas antes mesmo de eu entregá-los nas mãos daquele louco, meses atrás, muitos grupos de turistas e expedições vinham para cá e exploravam essas terras. Nunca soube o que realmente buscavam ou se realmente levavam algo, mas penso que o motivo de tanto interesse é a sabedoria deste povo, dos Peles-vermelhas. O mais velho deles já nos curou de inúmeras enfermidades que nenhum médico na cidade ainda descobriu. – O Sr. Borges tomou fôlego empenhado em ajudar Holmes no que fosse preciso – As principais causas eram envenenamentos, febres e vírus.
– Compreendo. Vejo que a medicina deste lugar ainda não conhece o tanto que deveriam... – Pensou alto Watson.
Borges dirigiu-se ao doutor:
– Isto mesmo. Mas aposto que nem o médico mais experiente conseguiria tamanha habilidade como estes indígenas. – Borges respondeu deixando Watson instigado - Assim, com o tempo, estes índios se tornaram alvo de interesses de pesquisadores e cientistas. E pelo que percebi senhor Holmes, se isso lhe ajudar, aquele homem que me ameaçou, creio que era cientista e caçador, talvez, pela forma que falava algumas coisas...
– Sim, sim... Isto me é de grande valia, Sr. Borges. Muito obrigado. – Respondeu Sherlock pensativo.
– Sherlock, isto me lembra alguém... – Rita começou reticente olhando significativamente para o detetive.
– Receio que estamos nos lembrando de uma mesma pessoa, querida. – Holmes retribuiu o olhar.
– Aquela mulher! – Watson compreendeu.
O Sr. Borges olhava de um para outro a sua frente.
– De quem vocês estão falando?
– O senhor já está envolvido o bastante nisto tudo, senhor. – Preveniu-o Holmes.
– Bem, em que mais posso ajudar, então? – Inquiriu o dono da Hospedaria.
– O que aconteceu com o tal homem que o ameaçou meses atrás? – Watson questionou curioso.
– Não sei, senhor... Nunca mais o vi. – Respondeu Borges encolhendo os ombros ao mesmo tempo em que colocava a palma das mãos para cima.
– Muito bem. – Pronunciou Sherlock com o cenho franzido. Rita acariciou-lhe o ombro em sinal de apoio.
– No tiene más nada, señor, para contar-nos? – Rita questionou calmamente olhando de Sherlock para Borges que pensou por alguns segundos antes de responder:
– Sim!
Holmes e Watson o observaram ainda mais curiosos e inquietos.
– Coincidentemente, senhores e senhorit--
– Senhora, por favor. Senhora Holmes. – Rita interrompeu-o brevemente com seu sotaque espanhol mirando Sherlock por instantes. Holmes por sua vez, tomou-lhe a mão beijando-a sedutor e apaixonadamente.
Watson pigarreou.
– Mil desculpas, senhora. – Retomou o Sr. Borges envergonhado – Bem, como eu ia dizendo... Coincidentemente, o homem que nos ameaçou noite passada e ao índio, era de um bando que vivia com o louco que perdeu a filha. – O dono informou um tanto irritado ao relembrar-se do acontecido.
– Como?! – Sherlock exclamou incrédulo.
– Exatamente, senhor, ele foi o único que vi desde aquele tempo. Ele estava hospedado aqui e vi quando se aproximou dos senhores quando chegaram a minha Hospedaria, mas sempre o achei estranho... Quando de repente, ele faz o que fez! – A voz do Sr. Borges embargou discretamente.
– Iremos ayudálo, senhor... – Rita tentou acalmá-lo.
– Meu caro, - começou Watson à Sherlock – penso que Marcos Ribeiro, se este for realmente seu nome, trouxe até aqui o velho índio para ameaçar também a todos desta região como um ato desesperado para conseguir algo ou ainda, como observou Rita, por saber quem somos e conhecer nossa fama, tentar fazer com que entremos neste caso por algum motivo. – Concluiu pensativo.
– Esperem um pouco, - pediu o Sr. Borges sussurrando para que ninguém mais pudesse ouvi-lo – quem são--
Rita o encarou ao mesmo tempo em que Holmes seguia os pensamentos do amigo:
– Então, Watson, você acredita que esta recente ameaça ou foi um ato desesperado ou foi um caso pensado visando a nós. – O detetive resumiu.
– Exatamente. – Confirmou apenas, Watson.
– Um minuto cavalheiros. Quem são vocês? – Borges insistiu.
– Temos que tomar muito cuidado, Holmes – Watson ressaltou.
– Watson tiene razão, mi amor.
– Senhores, - acenou Borges para o trio a sua frente sentado à mesa – podem--
– Este é meu amigo e doutor John Watson, esta é minha mulher, a cigana espanhola Rita Valdéz, e eu sou o detetive Sherlock Holmes. Muito prazer, Sr. Borges. – Holmes respondeu finalmente um tanto impaciente estendendo uma das mãos para o corpulento homem.
À medida que Sherlock realizava as devidas apresentações, Borges ficava cada vez mais boquiaberto sem acreditar que aquele era mesmo o famoso detetive Sherlock Holmes com seu amigo Watson e a espanhola do caso da caixa dos Valdéz.
– Oh, per-perdoem-me! Não os havia reconhecido. – A expressão de Borges era mais uma vez de espanto, porém agora, um espanto não ameaçador – Li algumas poucas vezes nos jornais sobre os senhores e sobre sua família, senhora... Mas, mas não imaginava que fossem os próprios na minha humilde Hospedaria, direto da Inglaterra!
– Sem espantos, meu caro. – Sherlock fez sinal de silêncio – Pelo jeito, com este novo caso, quanto menos reconhecimentos por aqui, melhor.
– Claro. Podem deixar! – Respondeu o Sr. Borges com uma ponta de entusiasmo.
– Nossa hospedagem aqui continua, certo, Sr.? – Watson inquiriu para o dono inclinando-se para o mesmo em tom de acordo. Este respondeu:
– Sim, sim. Será um prazer, mas faço um único pedido: - Falava ansioso o Sr. Borges - solucionem este problema. Nosso povo não merece viver sob estas ameaças...
– Também lhe pedimos um favorzinho: - Holmes tomou a palavra rebatendo – Fique de bico fechado e aja como se não estivéssemos aqui, entendido? – O detetive estendeu a mão para o dono da Hospedaria – Aja e nos trate naturalmente.
– Entendido. – O Sr. Borges retribuiu o aperto de mão entre orgulho e confidência selando aquele precioso acordo com o mais famoso detetive dos últimos tempos; ali, na sua simplória Hospedaria no âmago da Amazônia.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O que acharam? COMENTEM e divulguem!!