Sherlock Holmes e a Expedição Perdida escrita por Carol Stark


Capítulo 6
Conversa com o Sr. Borges - Revelações


Notas iniciais do capítulo

Voltemos no tempo...



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Amazônia – Brasil

Dez meses atrás

– Vamos, seu inútil! Onde fica a tribo mais próxima? – Gritava um homem armado para o dono da Hospedaria. Tal homem era alto e forte, de olhos claros e de barba. Manejava tão bem a arma que esta parecia ser a coisa que mais sabia fazer de melhor – Já viajei e pesquisei bastante para saber que somente determinados medicamentos naturais produzidos através de conhecimentos antigos são capazes de curar as mais horrendas doenças!

– Ca-Calma! – Foi a única coisa que conseguiu proferir o corpulento e cordial Sr. Borges, dono da Hospedaria Guaraci – Não conheço nenhuma tribo!

– MENTIRA! – Esbravejou o outro enlouquecido, atirando para cima e assustando a todos no ambiente que correram a fim de proteger-se – Já vim aqui antes e sei que há uma tribo próxima! Uma das mais antigas do país conhecida por todos desta terra maldita!

Entre o desespero e a fúria, tal homem armado atirou várias vezes perigosamente em um choro louco e indecifrável aos olhos alheios.

– Minha filha... Minha filha... – Sussurrava o homem armado, entre lágrimas.

– O que acon-aconteceu com sua filha?... – Arriscou perguntar o dono do recinto.

– CALE-SE! – Com os olhos úmidos injetados de ira, pupilas e narinas dilatas, respiração rasa e descompassada, o ameaçador homem levou lentamente a arma que segurava à cabeça do Sr. Borges – Diga-me agora ou disparo esta arma em seus miolos como faço com os javalis desta mata imprestável! Esta mata que matou a minha filha (...). – Proferiu mais baixo as últimas palavras entre pesares.

O Sr. Borges preferiu viver:

– Na-nascente Rubra. Tribo Nascente Rubra. – Engoliu em seco o dono da Hospedaria sabendo que não teria mais volta. Acabara de entregar o povo mais respeitado daquelas terras e toda sua sabedoria; povo que tanto já os havia curado de doenças ainda não descobertas pela medicina nacional.

Com um rosnado gutural, o homem saiu às pressas mata adentro deixando um trêmulo e nervoso Sr.Borges ao balcão. Já maquinava o homem, como se aproximaria da então tribo sem levantar suspeitas iniciais. Sua mente borbulhava em devaneios e nebulosidades:

“Uma emboscada com uma onça. É isso! Eu, caçador, já estou acostumado a criar armadilhas... Uma onça, um dos índios em apuros e eu. Assim, ganho a confiança necessária para conseguir o que quero e descobrir a cura para a maldita doença que me tomou minha pequena... Minha filha... E não pude fazer nada a tempo para salvá-la!”

Mais um grito horrendo saiu do caçador exteriorizando a dor da perda que sentia e, ecoando por onde ele passava, apenas concretizava assustadoramente toda sua ferocidade e determinação. Continuava ele a pensar:

“Maldito dia que viemos para cá! Minha esposa não mais confia em mim e minha pequena Bárbara se foi... Tenho que esconder minhas verdadeiras intenções do grupo da expedição que trouxe comigo. Ninguém pode saber os meus planos. NINGUÉM!”

– Foi isso que aconteceu, Sr. Holmes. – Concluiu Borges aflito – A história parece se repetir! Não sei qual foi pior!

– No se preocupe, senhor. – Reconfortou-o Rita.

– Sherlock, o que diz sobre isso? As versões agora são diferentes, mas algo me diz que há fatos em comum nisso tudo.

– Sr. Borges, por favor, responda-me: que tribo exatamente é esta? – Holmes inquiriu.

– Hum, são os Nascente ou Fonte Rubra... Os Peles-vermelhas. – Respondeu Borges sem muito compreender.

– Não, meu caro. O que eu quero é que o senhor me diga o que mais sabe sobre este povo.

– Ah, bem. Quando passamos a habitar estas terras mais próximas das matas, a tribo já vivia aqui e não gostava de nossa presença, no início. Mas com o tempo mostramos respeito e deixamos claro que não queríamos nada deles.

– Conte-me mais. – Pediu o detetive – Uma tribo não se torna motivo de ameaças se não possui nada de valioso.

– Claro! Sinto-me culpado por tudo isso, Sr. Holmes! Mas antes mesmo de eu entregá-los nas mãos daquele louco, meses atrás, muitos grupos de turistas e expedições vinham para cá e exploravam essas terras. Nunca soube o que realmente buscavam ou se realmente levavam algo, mas penso que o motivo de tanto interesse é a sabedoria deste povo, dos Peles-vermelhas. O mais velho deles já nos curou de inúmeras enfermidades que nenhum médico na cidade ainda descobriu. – O Sr. Borges tomou fôlego empenhado em ajudar Holmes no que fosse preciso – As principais causas eram envenenamentos, febres e vírus.

– Compreendo. Vejo que a medicina deste lugar ainda não conhece o tanto que deveriam... – Pensou alto Watson.

Borges dirigiu-se ao doutor:

– Isto mesmo. Mas aposto que nem o médico mais experiente conseguiria tamanha habilidade como estes indígenas. – Borges respondeu deixando Watson instigado - Assim, com o tempo, estes índios se tornaram alvo de interesses de pesquisadores e cientistas. E pelo que percebi senhor Holmes, se isso lhe ajudar, aquele homem que me ameaçou, creio que era cientista e caçador, talvez, pela forma que falava algumas coisas...

– Sim, sim... Isto me é de grande valia, Sr. Borges. Muito obrigado. – Respondeu Sherlock pensativo.

– Sherlock, isto me lembra alguém... – Rita começou reticente olhando significativamente para o detetive.

– Receio que estamos nos lembrando de uma mesma pessoa, querida. – Holmes retribuiu o olhar.

– Aquela mulher! – Watson compreendeu.

O Sr. Borges olhava de um para outro a sua frente.

– De quem vocês estão falando?

– O senhor já está envolvido o bastante nisto tudo, senhor. – Preveniu-o Holmes.

– Bem, em que mais posso ajudar, então? – Inquiriu o dono da Hospedaria.

– O que aconteceu com o tal homem que o ameaçou meses atrás? – Watson questionou curioso.

– Não sei, senhor... Nunca mais o vi. – Respondeu Borges encolhendo os ombros ao mesmo tempo em que colocava a palma das mãos para cima.

– Muito bem. – Pronunciou Sherlock com o cenho franzido. Rita acariciou-lhe o ombro em sinal de apoio.

– No tiene más nada, señor, para contar-nos? – Rita questionou calmamente olhando de Sherlock para Borges que pensou por alguns segundos antes de responder:

– Sim!

Holmes e Watson o observaram ainda mais curiosos e inquietos.

– Coincidentemente, senhores e senhorit--

– Senhora, por favor. Senhora Holmes. – Rita interrompeu-o brevemente com seu sotaque espanhol mirando Sherlock por instantes. Holmes por sua vez, tomou-lhe a mão beijando-a sedutor e apaixonadamente.

Watson pigarreou.

– Mil desculpas, senhora. – Retomou o Sr. Borges envergonhado – Bem, como eu ia dizendo... Coincidentemente, o homem que nos ameaçou noite passada e ao índio, era de um bando que vivia com o louco que perdeu a filha. – O dono informou um tanto irritado ao relembrar-se do acontecido.

– Como?! – Sherlock exclamou incrédulo.

– Exatamente, senhor, ele foi o único que vi desde aquele tempo. Ele estava hospedado aqui e vi quando se aproximou dos senhores quando chegaram a minha Hospedaria, mas sempre o achei estranho... Quando de repente, ele faz o que fez! – A voz do Sr. Borges embargou discretamente.

– Iremos ayudálo, senhor... – Rita tentou acalmá-lo.

– Meu caro, - começou Watson à Sherlock – penso que Marcos Ribeiro, se este for realmente seu nome, trouxe até aqui o velho índio para ameaçar também a todos desta região como um ato desesperado para conseguir algo ou ainda, como observou Rita, por saber quem somos e conhecer nossa fama, tentar fazer com que entremos neste caso por algum motivo. – Concluiu pensativo.

– Esperem um pouco, - pediu o Sr. Borges sussurrando para que ninguém mais pudesse ouvi-lo – quem são--

Rita o encarou ao mesmo tempo em que Holmes seguia os pensamentos do amigo:

– Então, Watson, você acredita que esta recente ameaça ou foi um ato desesperado ou foi um caso pensado visando a nós. – O detetive resumiu.

– Exatamente. – Confirmou apenas, Watson.

– Um minuto cavalheiros. Quem são vocês? – Borges insistiu.

– Temos que tomar muito cuidado, Holmes – Watson ressaltou.

– Watson tiene razão, mi amor.

– Senhores, - acenou Borges para o trio a sua frente sentado à mesa – podem--

– Este é meu amigo e doutor John Watson, esta é minha mulher, a cigana espanhola Rita Valdéz, e eu sou o detetive Sherlock Holmes. Muito prazer, Sr. Borges. – Holmes respondeu finalmente um tanto impaciente estendendo uma das mãos para o corpulento homem.

À medida que Sherlock realizava as devidas apresentações, Borges ficava cada vez mais boquiaberto sem acreditar que aquele era mesmo o famoso detetive Sherlock Holmes com seu amigo Watson e a espanhola do caso da caixa dos Valdéz.

– Oh, per-perdoem-me! Não os havia reconhecido. – A expressão de Borges era mais uma vez de espanto, porém agora, um espanto não ameaçador – Li algumas poucas vezes nos jornais sobre os senhores e sobre sua família, senhora... Mas, mas não imaginava que fossem os próprios na minha humilde Hospedaria, direto da Inglaterra!

– Sem espantos, meu caro. – Sherlock fez sinal de silêncio – Pelo jeito, com este novo caso, quanto menos reconhecimentos por aqui, melhor.

– Claro. Podem deixar! – Respondeu o Sr. Borges com uma ponta de entusiasmo.

– Nossa hospedagem aqui continua, certo, Sr.? – Watson inquiriu para o dono inclinando-se para o mesmo em tom de acordo. Este respondeu:

– Sim, sim. Será um prazer, mas faço um único pedido: - Falava ansioso o Sr. Borges - solucionem este problema. Nosso povo não merece viver sob estas ameaças...

– Também lhe pedimos um favorzinho: - Holmes tomou a palavra rebatendo – Fique de bico fechado e aja como se não estivéssemos aqui, entendido? – O detetive estendeu a mão para o dono da Hospedaria – Aja e nos trate naturalmente.

– Entendido. – O Sr. Borges retribuiu o aperto de mão entre orgulho e confidência selando aquele precioso acordo com o mais famoso detetive dos últimos tempos; ali, na sua simplória Hospedaria no âmago da Amazônia.


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Notas finais do capítulo

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