A bruxa ergueu o olhar distraído do livro que lia para o celular que vibrava ao seu lado na poltrona. Olhou o identificador e suspirou, ler sem ser interrompida era missão impossível. Ignorou por completo o aparelho, aquele devia ser o sexto celular que comprava naquele ano que ainda não estava nem na metade.

Seu silêncio logo foi interrompido novamente por Elena que entrou correndo na sala a tirando de sua concentração. Ela olhou brevemente para a amiga.

– O que foi agora? – perguntou desinteressada voltando á atenção para sua leitura

– O Damon está com problemas – disse a vampira esticando a mão com o celular.

“Bonnie” – era o Stefan – “Damon está se tornando humano”

A bruxa olhou para o celular de Elena, silenciosamente, ela devia estar ouvindo errado.

– O que você disse?

“Alguma coisa aconteceu com o Damon, ele foi encontrado ontem no bosque e esta sem nenhuma habilidade de vampiro”

– Como isso aconteceu?

“Não lembro” – ouviu-se a voz de Damon – “Sai para me encontrar com a Elena no domingo, mas não me lembro de nada que aconteceu depois que cheguei no Withmore College”

– Domingo? Passou cinco dias sem lembranças e só percebeu agora?

“É claro que não, acontece que só acordei ontem. Quando me acharam. Passei dias desmaiado naquele lugar até que Enzo foi enterrar alguém tropeçou no meu corpo”

Bonnie olhou para Elena que parecia que ia entrar em pânico e sair gritando feito louca.

– Como está sua sede de sangue? – perguntou aleatoriamente sem pensar muito no que dizia.

“Normal” – respondeu o vampiro, mal humorado – “Mas estou usando um canudinho, por que meus dentes normais de humano normal não são capazes de fazer buraquinhos no pescoço das minhas vitimas”

– Se quer minha ajuda, fique calmo e me ajude á saber o que aconteceu.

Podia parecer cruel, mas Bonnie por um segundo achou aquela situação divertida. Mas Damon logo a fez lembrar que tinha um lado não muito divertido em um vampiro de mais de cem anos ser “curado”.

“Calmo? Estou muito calmo bruxinha, ainda lembro-me bem do que acontece quando um vampiro é obrigado á voltar à ser humano, a Katharine teve o que? Quatro meses de vida ou foram dezesseis semanas?”

– Não há reversão para isso Damon. Se não saber o que te aconteceu não posso fazer nada por você. Tente se lembrar de algo, farei uma pesquisa nos livros de feitiços.

O tom que usava mais parecia de alguém que não estava nem um pouco interessada no assunto, e de fato não estava, tinha matéria pendente para atualizar e se corresse para Mystic Falls naquele momento para ajudar Damon, podia dar adeus as suas boas notas. O vampiro não ia morrer mais rápido se esperasse mais um dia. Retornando á sua leitura, ela se esqueceu da presença de Elena que estudava atenta a sua reação indiferente.

– Não vamos para Mystic Falls? – perguntou

A bruxa olhou curiosa para a amiga antes de responder sua pergunta.

– Não – foi a única coisa que falou

– Bonnie, o Damon está morrendo e você vai ficar ai lendo esse livro de direitos civis?

Finalmente Elena tinha tirado a concentração que ela mantinha em seu estudo com aquele comentário petulante. Bonnie fechou o livro fazendo um barulho considerável e se levantou séria.

– O Damon está se transformando em humano, Elena, eu não sou nenhuma especialista em vampiros e não faço a menor ideia de como impedir um vampiro de voltar a ser humano. Então, sim. Sim eu vou ficar aqui estudando direitos civis, por que diferente de você e seu namorado vampiro eu não vou viver para sempre com rosto de vinte anos e poder voltar a fazer faculdade daqui á cem anos. Eu sentirei muito se o Damon morrer por que ele é meu amigo, um idiota mentiroso de duas caras, ainda assim meu amigo. Mas agora eu não posso fazer nada por ele.

Irritada e confusa correu para o quarto, realmente sentiria falta do Damon. Mas não podia viver sempre para mantê-los vivos, eles um dia teriam que aprender a conviver com isso. Elena entrou no quarto.

– Bonnie, por favor. Você é a única que pode ajudar o Damon, salve ele por...

– Por você? – interrompeu Bonnie

Elena hesitou

– Sim, eu amo muito ele. E também pelo Stefan que ama o irmão e...

– Aproveita que seu amor é tão forte e vai ficar ao lado dele, afinal ele não tem muito tempo de vida caso esteja mesmo virando humano outra vez. Me deixa estudar.

Elena olhou incrédula para a amiga e saiu do quarto. Bonnie fechou os olhos e caiu na sua cama de costas, morrendo, Damon Salvatore estava morrendo. Ela decididamente precisava fazer alguma coisa, mas o que? Depois da Katharine não esperou que mais ninguém tivesse contato com qualquer tipo de cura para vampirismo. Então se lembrou dos viajantes, eles tinham achado uma saída para anular a magia das bruxas e impedir a existência dos vampiros.

– Por que está deitada ai? – a voz familiar à fez abrir os olhos.

Não viu ninguém, como sempre.

– Olá Klaus – disse ainda deitada no chão olhando as nuvens escuras que cobriam todo o céu

– Olá Bonnie – respondeu ele parecendo mais próximo, logo explicou – Estou sentado do seu lado esquerdo e seu cabelo está cheio de folhas secas.

Ela inclinou o pescoço para a esquerda, vazia. Decidiu que ia ficar ali deitada, o chão era frio e a vista de baixo parecia uma pintura em tela. Galhos escuros e retorcidos com um fundo cinza-tempestade.

– Vai chover – comentou

– É sempre assim, não tinha reparado?

Não, ela não havia reparado no céu daquele lugar. Assim como fazia tempos que não olhava o céu do mundo real, não como estava olhando naquele momento, despreocupada.

– Algum problema, Bonnie? Não está fazendo perguntas.

Ela inclinou a cabeça para a esquerda mais uma vez, imaginou Klaus dando aquele sorriso arrogante dele, como se estivesse tramando uma maldade. Percebeu que não queria vê-lo, aquilo era estranho, mas ouvir a voz do hibrido original era reconfortante quando não se precisava vê-lo com todo seu ar petulante e malvado.

– Estou apenas preocupada – disse sincera – Damon está virando humano.

– Damon... eu o conhecia?

– Ah! me esqueci, sem lembranças – Bonnie se sentou tendo uma ideia – Sabe o que é você, não sabe?

Silêncio.

– Um monstro – murmurou hesitante

Bonnie não contradisse, em vez disso comentou:

– Conversei com Elijah.

– Elijah? – o tom de Klaus foi interessado – Como ele está?

– Incomodado, menti para ele e estou o enrolando desde nossa ultima conversa.

Klaus riu.

– Tome cuidado, ninguém pode enganar Elijah por tempo suficiente sem conquistar a inimizade dele.

– Então se lembra de Elijah – afirmou a bruxa confiante.

– Lembro – percebeu-se Klaus – Elijah meu irmão mais velho, esteve comigo por quase mil anos tentando me tornar mais humano.

– O que mais se lembra? – a morena questionou curiosa.

Klaus falou sobre Elijah por alguns minutos, então não se lembrou de mais nada além do fato do irmão e ele estarem juntos á vários séculos, lembrou-se também de Rebekah, mas não foi capaz de descrevê-la fisicamente. Mas aquilo era um começo, lembrava-se que sua mãe era uma bruxa má e que tivera seis irmãos, das quais dois morreram.

– Isso é ótimo – comemorou Bonnie – Você esta começando a se recordar das coisas. Logo vai poder-me dizer como veio parar aqui.

– Eu morri, não?

– Hum – Bonnie tomou uma decisão imediata de ajudar Klaus, mesmo que fosse mais por estar muito curiosa – Elijah disse que seu corpo foi destruído e que não acharam seu coração. Também não conseguiram te colocar em outro corpo. Então quem te matou também te colocou aqui.

– Por que alguém faria isso?

A pergunta mais fácil de responder que ela tinha ouvido naquele dia.

– Por que você é Niklaus Mikaelson. Metade do mundo sobrenatural te quer morto e a outra metade quer te matar.

Silêncio.

– Klaus?

– Klaus?

– Nu, me chamo Mina.

A bruxa se levantou rapidamente da cama pegando seu celular, não havia se passado muito mais que alguns minutos, mesmo que ela tivesse passado horas conversando com Klaus no jardim. Então olhou para sua interlocutora, a ruiva, que estava sentada na cama de Caroline lendo um livro de Stephen King.

– O que faz aqui?

A ruiva deu de ombros.

– Estava caçando uma pessoa que achei que estivesse por Whitmore, mas por alguma anormalidade fui atraída para este dormitório, você estava em transe então me sentei aqui para ver o que ia acontecer...

– Eu estava em transe?

– Estava primeiro achei que estava dormindo, mas quando me aproximei seus olhos se abriram vazios, sem íris alguma.

– Hã.

Mina se levantou ainda lendo. Bonnie se adiantou, perguntando:

– Você havia mandando Stefan me seguir?

– Nu, pedi para ele manter vigilância em Él-Lir, que estava com você no mesmo dia em que fiz o pedido.

– Él-Lir? Por que ele precisa ser vigiado?

– Por que ele é um ladrão perigoso e com uma fonte de magia ilimitada.

– Ladrão de magia?

Mina sorriu balançando a cabeça.

– Da, mas não se preocupe – disse apontando á flor de pétalas prateadas no criado mudo – Se ele te deu uma harmonicus é por que te quer bem. Agora vou procurar um lugar silencioso para ler...

Ela foi interrompida por Caroline que entrou no quarto, a loira olhou as duas, desconfiada.

– O que ela está fazendo aqui?

– Uma visita, óbvio – informou a ruiva.

– Então aviso que sua visita acabou – disse Caroline autoritária – Tenho assuntos particulares para conversar com a Bonnie.

A ruiva olhou de uma para outra, intrigada. Piscou e sumiu diante delas.

– O que aconteceu Car? – questionou a bruxa sentando-se novamente

– Elena estava dando um chilique por que você simplesmente negou ajudar a múmia de olhos sedutores. Agora ele deve estar á caminho de Mystic Falls testar se o beijo de amor verdadeiro, salva a vida de seu amado Damon.

A vampira fingiu estar vomitando tirando risadas de Bonnie.

– Está sendo cruel Car, todos sabem que beijos de amor verdadeiro só funcionam com príncipes.

– E a bela donzela já transformou todos os príncipes em sapos.

As duas riram mais uma vez.

– Nossa, estou me sentindo a irmã da Cinderela – comentou Caroline – Vamos deixar os sapos quietos e voltar aos morcegos. O Stefan me contou o que havia acontecido com o Damon, é estranho que ele não se lembre de nada. Não é?

– Muito estranho, pensei que talvez alguém tivesse enfeitiçado o Damon, mas não consigo imaginar quem.

Caroline revirou os olhos

– Eu consigo imaginar milhares de pessoas com motivos para ferrarem com a vida de Damon, uma pena que nunca tive a ideia de fazer isso.

– Car!

– Sou sincera, Bonnie. Tenho muitos motivos para fazer mal ao Damon, mas apenas uma bruxa podia fazer isso. E uma que seja poderosa. Mas só conheço uma bruxa poderosa para fazer isso.

– Quem? – perguntou Bonnie curiosa

Caroline fixou os olhos na amiga, levou um tempo para Bonnie notar que a loira estava falando dela.

– Eu? Eu não faria isso. Por que ia transformar o Damon em humano?

– Esse é a falha na minha teoria, sem o vampirismo ele é inútil demais. Porem quem tem essa mania de curar os vampiros era os viajantes e eles sumiram quando você deixou de ser Ancora.

– Acha que eles voltaram? Os viajantes?

Caroline não respondeu, apenas trocaram um longo olhar silencioso. Então disseram juntas:

– Nããão

Riram

– Vamos para Mystic falls – convidou Bonnie – Damon não é minha pessoa favorita do mundo, mas se alguém quer mata-lo tenho que saber o porquê disso.

– Então nos aliamos á quem vai matar o Damon e dominamos o mundo – concordou Caroline já arrumando uma bolsa de viagens.

– Dominar o mundo?

– Não me culpe, eu assisti a um filme ruim ontem à noite e fiquei com a ideia de dominar o mundo até agora. Imagine Bonnie Bennet a bruxa mais poderosa e Caroline Forbes a vampira mais vampiresca, no controle do mundo. Eu já tenho até uma lista de pessoas que mandaria para uma viagem sem volta para o inferno.

Bonnie riu, por vinte minutos ouviu planos de um mundo perfeito caso ela e Caroline se tornassem donas da Terra. Mina estava sentada no gramado ao sol lendo, estava invisível aos olhos das pessoas, quando viu a bruxa e a vampira entrando em um carro com bolsa de viagem ela resolveu se distrair um pouco. Afinal, achar El-Lir estava se tornando um jogo tedioso, mas ele parecia ter achado uma “prietenă”.