Os vampiros que se mordam escrita por Gato Cinza


Capítulo 14
Uma porta aberta leva á muitos lugares


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo foi inspirado no penúltimo capítulo do livro Harry Potter e as relíquias da morte, onde Harry e Dumbledore conversam logo após Harry ser atingido pelo feitiço lançado por Voldemort. E Dumbledore diz a Harry no fim do capitulo que a conversa aconteceu na mente do bruxo, mas que não deixava de ser real.



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Os gêmeos Luke e Liv sentaram-se um de cada lado de Damon que estava gostando menos daquilo a cada segundo, os dois disseram que usariam a mente de Damon como uma ponte até a mente de Bonnie e que não tocariam em nenhuma lembrança no vampiro. Os bruxos deram as mãos começando a recitar o feitiço. Damon sentiu a cabeça doer e logo depois uma estranha sensação de leveza, como se flutuasse em água fria. Então tudo ficou claro e ele fechou os olhos.

Quando abriu novamente toda a sensação calma e tranquilizante que sentira segundos antes havia desaparecido. Estavam em um longo corredor estreito e cheio de portas coloridas sem maçaneta de ambos os lados até onde os olhos podiam ver. Damon olhou ansioso para Luke e Liv que pareciam tão confusos quanto ele. Liv perguntou hesitante:

– Isso aqui é... é...

– É – respondeu Luke interrompendo a irmã

– É o que? – questionou Damon querendo saber onde tinham ido parar

– A mente da Bonnie – Luke murmurou dando alguns passos á frente e parando – Mas onde ela está?

Liv tentou abrir a porta mais próxima dela. Trancada. Os três tentaram abrir algumas portas, chamavam e batiam. Mas nenhuma abria.

– Explode logo uma dessas portas – mandou Damon impaciente

– Ficou louco? Estamos na cabeça da Bonnie, não podemos explodir portas sem que haja consequências.

O vampiro apenas olhou a bruxa loura de modo assassino e ignorou por completo o que ela disse. Se aproximou de outra porta e deu um chute. A porta continuou intacta.

– Que droga Damon, está tentando...

Liv não terminou de falar, ela desaparecera.

– Temos que sair daqui – anunciou Luke olhando para todas as direções, mas antes que fizesse algo o vampiro o segurou

– Primeiro a Bonnie.

Luke desapareceu também. O vampiro sentiu-se sendo empurrado por fortes mãos invisíveis, compreendeu então o que havia acontecido com os gêmeos bruxos. Ele se concentrou. Não era a primeira vez que invadia a mente de alguém mais forte que ele.

– Bonnie, pare de lutar. Não vou sair daqui.

– Escolha sua, Damon – disse Bonnie em tom divertido

O vampiro olhou para os lados, não havia sinal da bruxa. As paredes inexistentes da mente de Bonnie pareceram se fechar ao redor dele, uma algema grossa se fechou em torno do pé do vampiro que agora já era um corvo dentro de uma gaiola suspensa no ar.

– Que insensato de sua parte querer ficar aqui, mas se assim prefere que assim seja.

O vampiro-corvo virou-se na direção da voz de Bonnie. Ela estava encostada á uma das paredes inexistentes com um sorriso moleca. Bonnie pareceu á Damon muito mais adulta do que era, tinha um semblante altivo e uma malicia reverenciável no modo de olhar. Ela se moveu lenta e majestosamente se aproximando da gaiola arrastando seu longo manto vermelho-sangue pelo chão imensamente branco. Damon tentou falar, mas sua voz foi apenas o grasnar da ave que era.

– Uma desagradável companhia á minha silenciosa existência. Mas posso usa-lo como distração até que seu corpo comece a definhar por sua ausência e tenha que retornar, ou até que enlouqueça.

Damon grasnou agitado. Então outra pessoa entrou em seu campo de visão, era outra Bonnie. Esta mantinha certo temor nos olhos, parecia menos adulta e muito mais infantil que a Bonnie que ele conhecera um dia. Esta vestia-se de preto e cinza. Ela abriu a gaiola, pegou o vampiro-corvo e o soltou no ar. Damon voltou a assumir sua aparência humana comum.

– Deixe-o ir – disse a Bonnie de preto e cinza.

– Não estou o prendendo, ele ficou por vontade própria – respondeu a outra, ríspida.

– Deve ir embora Damon, este lugar não é para você.

Ele sacudiu a cabeça violentamente. Perguntou:

– O que fizeram com a Bonnie?

A reação foi inusitada. A que vestia-se de vermelho revirou os olhos e a outra riu-se.

– Somos ID da Bonnie que você conhece

– Em idioma de gente normal isso seria?

– Identidade inconsciente. Personalidade individual. Eu interior. Ego... – respondeu a Bonnie de preto-cinza fazendo um floreio com a mão – Somos a voz interior que impedem a Bonnie de enlouquecer ou fazer besteiras.

– Embora ela quase sempre nos ignore.

– Bruxa boa e bruxa má – resmungou Damon entendendo o que elas diziam, ele olhou em volta e perguntou – Por que tantas portas? Que lugar é este?

– Minha cabeça, óbvio. As portas são apenas para evitar acesso das pessoas ás minhas... lembranças, pensamentos, segredos e tudo mais que se passa em minha mente.

A Bonnie usando trajes preto-cinza se sentou no chão encostada á uma porta cuja cor era azul-real e ficou observando. Atenta.

– O que quer Damon? – perguntou a outra Bonnie

– Quero que acorde, está em algum tipo de coma mágico. Vim leva-la novamente.

– Para que? – ela mudou de forma, se tornou Elena – Se eu, a doce, amorosa, meiga e inofensiva Elena Gilbert não preciso de Bonnie Bennett, que utilidade ela teria em sua vida, Damon?

O vampiro olhou de uma Bonnie para a outra que tinha a aparência perfeita de Elena, com um ar mais terrível e cruel que nem mesmo Katharine tinha.

– Não é pela Elena...

Damon começou a desaparecer, ele fechou os olhos mantendo-se concentrado. As Bonnies trocaram um olhar intrigado.

– Estão o puxando para fora. Não resista Damon, volte para a realidade.

– Não! Eu não saio daqui sem você.

Fora da cabeça da Bonnie

Liv e Luke haviam sido empurrados da mente da bruxa e não conseguiam voltar. Tentaram então encontrar a mente do vampiro, que se recusou a deixa-los tirar de onde estava.

– Não dá – afirmou Luke – Damon está resistindo.

– Vamos deixa-lo com a Bonnie um pouco e tentamos novamente – propôs Liv ao irmão

– A Elena vai surtar quando souber que ele está na mente da Bonnie.

– E quem disse que ela precisa saber? Invisique.

De volta á mente da Bonnie

Bonnie sentada diante da porta com o queixo apoiado nos joelhos, olhava a imensidão do vazio que a cercava. Damon não sairia sem ela e ela estava decidida a não despertar. A outra Bonnie andava de um lado para o outro olhando á cada volta para sua outra metade.

– Pare de ser teimosa e vamos sair deste lugar – pediu Damon rompendo o silêncio estranho que havia se formado entre os três

– Nos deixe sozinha, Damon, vá viver sua eternidade.

– Já disse, não saio daqui sem você. Seja lá qual for.

– Por que? Existem outras bruxas pelo mundo, encontrarão uma que seja mais forte que eu.

– Não quero outra bruxa, quero você. Preciso de você.

– Não precisa não. Agora vá embora.

O vampiro resolveu convencê-la de outro modo. Sentou-se ao lado da Bonnie de preto-cinza e lhe disse em voz baixa:

– Caroline não irá permitir que nem a Elena e nem ninguém desligue os aparelhos. E não pode ficar toda sua vida toda presa na sua mente falando com outras versões de você mesma. Precisa acordar, Bonnie.

Ela negou com a cabeça.

– Não é seguro lá fora, Damon – sussurrou – Aqui estarei protegida do fogo.

– Fogo?

– O fogo que vem de longe trazendo cinzas, medo e sangue em todo lugar, por minha culpa. É por mim que ele está vindo e vai destruir tudo que achar pelo caminho.

Damon olhou questionador para a outra Bonnie que havia parado de andar e os encarava. Ela meneou a cabeça lentamente e explicou:

– Eu estava tentando acordar. Depois de muitas tentativas senti uma brisa quente em meu rosto e abri meus olhos. Eu não estava onde deveria estar, estava na torre da igreja. Olhando para baixo, havia gritos, choros, pessoas correndo. Todo lado que eu olhava via apenas fogo, fumaça, destroços e corpos. Não sei como, mas eu sabia quem havia feito aquilo e sabia o porquê, eu estava o procurando. A criatura de fogo que tinha vindo atrás de mim. Ele destruiu a cidade e tudo que cruzava seu caminho apenas para me pegar. Então ele me achou. E eu gritei, mas ninguém viria me salvar por que não existia mais ninguém vivo e eu estava sozinha mais uma vez com um monstro...

– Não voltarei para lá – disse a outra Bonnie interrompendo a primeira – Se eu voltar ele virá atrás de mim e vai destruir tudo que encontrar.

– É por isso? Por causa de um pesadelo que não quer voltar para a realidade?

– Não foi um pesadelo, Damon, foi uma visão. Não se pode mudar o futuro, as coisas ruins que prevejo sempre acontecem. E eu não quero ter que viver a destruição do mundo que conheço.

– Então vamos embora de Mystic Falls. Eu te protegerei de qualquer coisa que vier.

A Bonnie de preto-cinza bufou voltando a enfiar o queixo entre os joelhos e cobrindo as orelhas com a mão. A outra por sua vez riu, cética.

– Não pode me proteger – murmurou a bruxa sentada ao seu lado

– Claro que posso – replicou confiante dando um sorriso em seguida – Confie em mim.

– Esse é o problema – disse a outra em pé – Eu confio em você, Damon. Confio mais em você do que já confiei em qualquer pessoa em minha vida.

Damon ficou em silêncio, em uma das raras vezes que não sabia o que dizer. Ela prosseguiu:

– Por anos precisei ser forte por mim e pelas pessoas á quem amo. Mas eu não consigo mais ser forte. Não dá. Então passei a confiar em você e isso me deixa cada vez mais fraca, mais vulnerável. Não posso mais.

Damon se levantou e deu alguns passos na direção da bruxa que se afastou desaparecendo. Ele se voltou então para a outra Bonnie ainda sentada.

– Bonnie, você tem que acordar. Não sei o que te faz sentir medo agora, mas prometo á você que nunca te deixarei sozinha.

– Fácil de cumprir sua promessa. Volte, desligue as maquinas e estará livre.

O vampiro que tentou ser paciente e gentil se irritou. Damon se ergueu e socou o ar onde deveria ser a parede que segurava a porta de cor azul-real. Mas não havia nada ali, além de vazio.

– Droga Bonnie. É tão difícil assim cooperar? Faz ideia de como sua decisão de morrer vai afetar as pessoas que te amam? Não precisa mais ser nossa amiga, mas pelo menos acorde.

– Não! – ela gritou se levantando – Não vou voltar. Acha que estou sendo egoísta por querer ficar aqui? Eu quero viver minha vida, normal ou não eu quero viver. Mas se eu voltar, ele virá atrás de mim. Morta todos aqueles á quem protegi nos últimos anos ficarão bem. Viva trarei apenas fogo, sangue e cinzas. Não me chame de egoísta, Damon, sempre coloquei a vida de todos vocês antes da minha. E morrer é a única maneira de mantê-los á salvo.

Ela fungou limpando uma lágrima solitária que não conteve a tempo.

– Eu sei – ele respondeu no mesmo tom furioso que ela – Você e seu maldito altruísmo sempre se sacrificando pelas pessoas. Nós somos egoístas, Bonnie, nós que sempre pedimos um feitiço á mais que sua capacidade, nós que sempre queremos tudo para agora e não nos importamos com o preço a pagar. Sei que não é egoísta. Mas desta vez, só desta vez. Pare de pensar nos outros, pense em si mesma. O que quer?

– Que saia da minha cabeça – respondeu a outra Bonnie surgindo atrás dele – Não pode me convencer a voltar. É perigoso para vocês meu retorno.

– E prefere ficar aqui? Escondida? O que aconteceu com a Bonnie Bennett cheia de esperanças que eu conheci? Vocês duas não podem ser tudo o que restou daquela bruxinha. Lembra-se quando me disse que era a esperança que te mantinha? O que aconteceu com aquela esperança toda?

– Hope – as duas murmuraram trocando um olhar, a Bonnie de preto-cinza disse convicta:

– Ela está protegida. A proteção de Mina não vai deixar que nada de mal aconteça a ela e os outros sabem no que estavam se envolvendo quando decidiram ficar contra Dália.

– Prometemos que íamos ajudar – disse a outra Bonnie

– Se saíssemos daqui, ajudaríamos.

– De que estão falando?

– Não é da sua conta, Damon – disseram as duas.

Fora da mente da Bonnie

Os gêmeos apareceram no quarto onde os corpos de Damon e Bonnie repousavam. Trocaram um olhar e começaram a recitar o feitiço para entrarem na mente de Damon. O vampiro desta vez nem resistiu. Rapidamente eles foram capazes de tocar a mente de Bonnie que parecia distraída e confusa.

As luzes piscaram, as velas apagaram, as janelas foram abertas por vento forte e um frio tomou conta do resinto. Então tudo escureceu.

No andar de baixo, seis pessoas se encaravam em silencio. Haviam bebido e agora não restava nada além de um constrangedor silêncio durante a espera. Caroline não conversava mais com Enzo á meses e naquele momento preferia a companhia de uma pedra á falar com Elena que havia tentado matar de vez a sua melhor amiga. Tyler estava preocupado com a capacidade da namorada em realizar um feitiço que colocou a amiga em coma. Matt estava completamente absorto em pensamentos distantes de uma época em que vampiros eram personagens de livros e filmes. Elena sentia-se vazia, tinha falhado em uma missão importante da qual não conseguia recordar. Enzo por sua vez mantinha-se concentrado nos batimentos de três corações bruxos no andar superior.

As luzes se apagaram e um som abafado foi ouvido na mansão, todos correram escadas acima para verem o que havia acontecido. Damon, Liv, Luke e Bonnie estavam inconscientes. Tyler correu para despertar a namorada e foi lançado contra a parede por uma barreira mágica invisível. Os outros também não conseguiram tocar no quarteto.

– O que está acontecendo? – perguntou Caroline desistindo de tocar nos amigos

A voz dela soou alto e grosseiro naquele silencio sepulcral do quarto. Então os bruxos gêmeos acordaram do desmaio repentino.

– Isso doeu – resmungou Luke massageando as têmporas – Liv?

– Estou bem, mas nunca mais quero repetir esse feitiço contra uma bruxa. Me sinto uma bêbada acordando em um beco depois de bater contra uma parede de espinhos.

– O que aconteceu? – Caroline perguntou mais uma vez, desta vez aos bruxos

– Bonnie estava resistindo, então a forçamos a acordar e perdemos a consciência – Luke resumiu

– Então deu certo? – a vampira loira cutucou a amiga, cautelosa – Bonnie? Pode me ouvir?

– Teria que ser surda para não escutar tanta gritaria – Bonnie respondeu divertida.

Elena deu um gritinho animado e correu para seus braços a fazendo cair para trás com o impacto. Bonnie riu, embora estivesse se sentindo um pouco pesada demais.

– Meu amor – disse Elena em tom amoroso demais – Fiquei tão preocupada com você.

– Owhh – Bonnie empurrou Elena que quase a beijou na boca – Fico realmente feliz que tenha...

Bonnie tampou sua boca com as duas mãos, por que estava falando com voz de homem? Então se olhou de baixo a cima enquanto se colocava em pé. Aquilo devia ser um pesadelo, olhou a cama onde Caroline ainda cutucava seu corpo. Passou a mão pelo rosto, foi até o espelho e ao ver o moreno de olhos azuis refletido na superfície fria do vidro gritou. Então mais uma vez tudo ficou escuro enquanto sentia aquele corpo que não era seu, desabar.


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