Naquela manhã de terça-feira eu levantei mais animado, parecia outra pessoa, outra situação. Acordei mais bem disposto, querendo sair logo de casa para o trabalho e com o Eduardo na cabeça. Queria vê-lo, queria falar com ele direito. Então me levantei, tomei meu banho, preparei o café, peguei o carro e fui trabalhar com um sorriso que não estava acostumado, mas que também não me saia da face.

Chegando na loja, cumprimentei a todos, e organizei as prateleiras, e varri a loja, e foi notável o quão animado eu estava aquele dia.

_ Nossa Cássio, aconteceu alguma coisa cara? – perguntou Bruno ao me ver tão auto astral.

_ Ah cara, só acordei mais animado. Meus pais viajaram, deixaram a casa sozinha pra mim, quem não se animaria não é?

Respondi com uma expressão de felicidade, que o contagiara também.

_ Resolveu a situação com a Marcela? – ele me perguntou, acreditando que isso tivesse mesmo acontecido.

Eu não o respondi mas na mesma hora eu mudei minha expressão, fiquei sério, foi nessa hora que me lembrei de Marcela, foi nessa mesma hora que me lembrei que eu tinha um compromisso com ela, que eu devia satisfações a ela, mas a gente já não estava bem, o que eu deveria fazer em relação a ela então?

Bruno era a pessoa que eu mais confiava ali dentro, e também meu melhor amigo. Talvez eu devesse contar a ele o que aconteceu, mas tinha medo da reação dele, preferi esconder, mas eu precisava de uma orientação, eu estava totalmente sem noção do que eu deveria fazer, foi quando adentrou à loja aquele rapaz de pele morena, usava uma blusa social branca e uma calça preta, em uma das mãos carregava uma pasta com seus documentos, cabelos muito bem penteados para trás, tentando causar uma boa impressão. Era Eduardo. Entrou ajeitando os óculos e logo me avistou, e veio me cumprimentar.

_ Bom dia Cássio, como vai? – falou me olhando fixamente nos olhos e apertando minha mão. Pra quem me conhecia bem, foi notável minha mudança na presença dele, eu fiquei totalmente sem graça, sem reação. Ainda não havia aprendido a lhe dar com tudo aquilo.

_ Eu estou bem Eduardo, e você?

_ Melhor que nunca, minha noite foi boa. A Adriana já chegou?

Percebi que ele mudou logo de assunto.

_ Sim, ela já o aguarda. Por aqui por favor! – respondi indicando mais uma vez o caminho da sala dela.

Quando eu voltei, vi que Bruno novamente estava incomodado com alguma coisa. Nós éramos amigos, então era natural que um percebesse quando o outro não estava muito legal.

_ Aconteceu alguma coisa Bruno?

_ Não, só estou um pouco cansado.

_ Quer conversar na hora do almoço?

_ Podemos? – ele me perguntou de cabeça baixa, meio que na dúvida ainda se faria a coisa certa.

_ Mas é claro, somos amigos ou não somos?

Continuamos o trabalho, Eduardo saiu da sala de Adriana com um pouco de pressa, acenando pra mim, dizendo com gestos que me ligava depois, e saindo da loja.

Na hora do almoço fomos para o mesmo restaurante de sempre, as mesmas pessoas de sempre, mas Bruno e eu nos sentamos em uma mesa separada.

_ Pode falar Bruno, o que está acontecendo?

_ Olha Cássio, sinceramente não vai ser fácil pra mim te falar isso. Afinal somos amigos a muito tempo e...

_ Cara, não precisa usar rodeios comigo. – eu o interrompi, tentando fazer ele ficar mais a vontade. – Somos amigos, eu estou do seu lado para o que der e vier.

Então ele respirou fundo, passou a mão na testa, parecia suar frio, eu nunca o tinha visto daquela maneira.

_ Cássio, você não é bobo. Com certeza percebe as coisas ao seu redor. Com certeza percebe quando te olham diferente, quando te tratam diferente. E...

Eu fiquei sem entender, mas preferi não interrompê-lo outra vez para que ele não perdesse a linha de raciocínio. Foi então que saiu, tão rápido que não pude entender, foram palavras bem diretas, objetivas, claras, mas mesmo assim eu não conseguia entender. Bruno respirou fundo mais uma vez, fechou os olhos e disse:

_ Eu sou gay Cássio, e tem muito tempo que estou perdidamente apaixonado por você.

O silencio tomou conta do momento. Mais uma vez fiquei sem reação. Sinceramente era inacreditável o que eu estava ouvindo ali.

_ O que você disse? – eu o perguntei com os olhos arregalados.

_ Já tem muito tempo isso Cássio, mas nunca tive a coragem de te falar. – ele respondeu abrindo os olhos lacrimejantes. – eu sei que você está com a Marcela, mas quando me disse ontem que não estava bem com ela, eu tenho que te confessar que fiquei feliz. Pensei em te falar ontem mesmo, mas acho que não era o momento, pensei que você não entenderia, e que eu talvez estivesse tentando aproveitar da situação.

_ E porque você acha que eu não estou pensando isso agora? – eu o questionei.

_ Eu te conheço Cássio, talvez melhor do que qualquer outra pessoa daqui. Eu te noto, eu sei o que se passa dentro da sua cabeça só de te olhar. Você também se atrai por pessoas do mesmo sexo.

Meu coração batia tão rápido que pensei que ele pularia pra fora do meu peito ali naquela hora, mas Bruno é meu amigo, não precisaria esconder nada dele.

_ Você está certo Bruno, algumas pessoas me atraem sim.

_ Então, vamos nos dar essa chance? Me dê essa chance?

_ Olha Bruno, somos amigos, e assim que eu acho que tem que continuar sendo. – eu o respondi de cabeça baixa.

_ É aquele cara não é? O Eduardo? – disse isso com uma certeza impressionante.

_ Nada a ver. – eu o interrompi tentando desconversar. – ele é um cara que eu conheci domingo no Shopping, nem o conheço direito.

_ Então fique esperto com ele, cuidado, não se deixe enganar pelas aparências Cássio, eu te amo a muito tempo, e não quero que se prejudique.

Bruno disse isso levantando-se da mesa e saindo do restaurante. Nem tocou na comida, mas suas palavras me deixaram um tanto quanto preocupado, será que eles se conhecem? De onde? Muitas duvidas surgiram na minha mente.

Termine meu almoço e voltei ao trabalho, menos animado do que o início. Mas queria ver Eduardo, isso era fato. Precisava falar com ele. Então no fim do dia, eu o liguei e marcamos de nos encontrarmos lá em casa as 19:30.

No fim da minha jornada de trabalho fui correndo pra casa, arrumar as coisas para esperá-lo Eduardo que se atrasou um pouco, chegando lá as 20:00. Ele tocou a campainha e eu fui atendê-lo.

_ Desculpa a demora? – ele falou com um sorriso sem graça no rosto. Estava super sedutor, uma blusa branca apertadinha, deixando bem a mostra seus braços fortes e peitoral definido.

_ Não tem problemas, entre.

Entramos e nos sentamos no sofá da sala e começamos a conversar. Por um instante ele ficou observando o local, detalhando cada centímetro dali.

_ Então Eduardo, você conseguiu o emprego com a Adriana?

_ Sim, começo a semana que vem.

_ Pena eu não poder acompanhar seu desenvolvimento então.

_ Ta falando isso porque?

_ Semana que vem eu entro de férias. Mas a galera que ta ficando lá vai te ajudar bastante.

Ele então se aproximou e disse:

_ Por mim mandava todo mundo embora, e ficava só com você. - e chegando a boca ao pé do meu ouvido, disse sussurrando – Eu só quero você.

Me subiu um calor imenso no corpo naquele momento, minha voz não saia, meu coração mais uma vez acelerado. Foi quando me olhou de frente, me lançando um olhar de desejo, aproximou sua boca da minha, e esperou que eu o beijasse. Não teve como evitar aquele momento, nos beijamos ali na sala, e Eduardo parecia não se conter, não queria ficar só nisso.

_ Calma Eduardo, estamos só nós dois aqui, pra quê a pressa?

_ Você não sabe como eu estou te querendo hoje Cássio.

E foi ali, naquela sala que aconteceu pela primeira vez. Eduardo teve toda a paciência comigo, a euforia foi só no inicio. Ele se mostrara paciente, atencioso, carinhoso. Eu me senti bem com ele ali. Por mim o mundo podia parar naquele momento, eu poderia ficar ali o resto da vida. Foi muito bom tudo aquilo. Parecia que ele sabia exatamente o que fazer em cada momento.

Nós dois, estávamos abraçados, nus, e ele passando a mão em meu corpo que tremia a cada toque dele, ele me olhou nos olhos e foi quando ele me disse:

_ Cássio, foi muito bom pra mim cara, eu quero que isso se repita pro resto dos meus dias.

_ Como assim? – eu realmente não entendi a afirmação dele.

_ Me da uma chance? Me namora?

Eu fiquei totalmente sem reação. Totalmente sem saber o que falar, ou fazer. Não tinha palavras para respondê-lo, e acho que ele percebeu isso, então ele falou:

_ Não precisa me responder agora, você deve estar confuso, vamos aproveitar o máximo esse momento, quando você tiver uma resposta você me procura e voltaremos a falar no assunto.

Ficamos ali um bom tempo e as 23:00 ele foi embora, deixando um vazio dentro de mim. Eu já não queria mais ficar sem ele, já não queria mais ficar longe dele. A distancia me incomodava um pouco, o medo dele encontrar no meio da rua uma outra pessoa que o chamasse a atenção e não me procurasse mais.

Fiquei surpreso com o pedido de Edu, minha cabeça não parava pra pensar em mais nada a não ser no pedido que ele me fizera. Mas será que eu devo aceitar? Se eu aceitasse as pessoas não precisariam de saber que eu estava namorando um homem, poderíamos ficar guardando isso, para evitar qualquer tipo de constrangimento. “Ai meu Deus! O que eu devo fazer?” eu pensava a todo instante. E foi com esse pensamento que eu peguei no sono terminando o meu turbulento dia. Ufa! Dois pedidos em um único dia, eu acho que é muito para uma pessoa só.