Ao chegar em casa naquela tarde, minha mãe disse que Marcela havia me ligado, e pediu que eu retornasse a ligação o mais rápido possível, ela parecia mesmo querer falar comigo. Marcela era minha namorada, mas nosso relacionamento já não estava tão bem, ela estava fria, já não me procurava mais, e eu também já não sentia mais falta dela. Então eu fui até o meu quarto, peguei meu celular e liguei para saber do que se tratava o assunto.

_ Marcela você me ligou?

_ É eu liguei sim. – disse ela parecendo exausta.

_ Do que se trata? Aconteceu alguma coisa?

_ Não não, estou querendo conversar com você, que horas você vai estar livre?

_ Bom são 18:45, eu estou de folga hoje, se quiser vir até aqui!

_ É então estarei aí por volta das 20:00. Tchau.

Desligou o telefone antes que eu pudesse me despedir. Eu fui ao meu armário, peguei minha toalha e resolvi tomar um banho delicioso e relaxante. Faz muito calor na cidade onde eu vivo. Depois do banho eu deitei em minha cama, semi nu, peguei o livro que eu estava lendo e retomei minha leitura.

_ Filho não vai jantar conosco? O jantar está na mesa! – disse a minha mãe batendo a porta do quarto.

_ Não mãe, Marcela está vindo pra cá, vou esperá-la, talvez ela jante comigo.

_ Como quiser. – respondeu ela indo em direção à sala de jantar.

Sempre pontual, Marcela chegou a minha casa as 20:00, foi atendida pelo meu pai que a levou até meu quarto. Eu havia dormido por causa da leitura, mas acordei com as batidas na porta. Coloquei uma bermuda e abri.

_ Oi amor, entra. – eu disse isso forçando um relacionamento frustrante.

_ Oi Cássio!

Meu pai ficou parado na porta do quarto, parece que ele não percebia que estávamos tentando ter um pouco de privacidade ali, tive que pedir licença para que ele desconfiasse. Marcela por sua vez, entrou, sentou-se na minha cama e esperou que eu fechasse a porta para que começasse a falar.

_ Bom, aconteceu alguma coisa? – eu perguntei curioso.

_ Olha Cássio, porque você não me ligou como disse que faria? Porque não me atende mais no celular? Porque não foi a minha casa comemorar nossos três meses de namoro hoje como você disse que faria cara? Porque você nunca cumpre com sua palavra?

_ Ah! Era isso? Olha Marcela, eu estou cansado, hoje é meu dia de folga, eu estava com a cabeça longe, fui me distrair no Shopping e...

_ E acabou se distraindo mais do que deveria? – disse ela me interrompendo – Cássio sinceramente está muito difícil continuar o relacionamento assim. Você nunca faz nada para me agradar, nunca está comigo nos momentos que eu preciso, nos meus momento Cássio.

_ E você está comigo nos meus? Ou você acha que eu não percebo que de uns tempos pra cá você tem me tratado como um troféu para suas amigas. O rapaz de corpinho e rostinho bonito que você namora, e que quer casar, ter filhos e constituir família e...

_ E o que? Isso é o sonho de toda mulher! Toda mulher quer uma família um dia Cássio, olha... eu quero um tempo, mas este tempo não é pra mim não, esse tempo é pra você mesmo. Pensa direitinho no que você quer, pensa em quem você quer do seu lado e quando tiver a resposta, me procura ta?

Ela disse isso com lágrimas nos olhos e fechando a porta do meu quarto. Foi embora sem se despedir dos meus pais deixando-os preocupados. Eu nunca entendi porque as mulheres choram ao fim de um relacionamento, se ela não estava satisfeita comigo, não seria melhor ela terminar com um sorriso no rosto e uma expressão de alívio?

A verdade era que eu também queria terminar, mas eu nunca havia terminado um relacionamento antes, eu sempre dava dicas, deixava pistas, palavras soltas para que a outra pessoa entendesse que eu já não estava mais tão envolvido, exatamente da maneira que eu estava fazendo com Marcela, estava indiferente por causa das atitudes que ela vinha tomando a algum tempo. Talvez ela tenha percebido que gosta de mim de verdade, e só estava tentando voltar ao normal, mas naquele momento já era tarde. Pensei que ela terminaria comigo naquele momento, mas ela não o fez, pediu um tempo mesmo sabendo que dentro de uma semana eu entraria de férias.

Aquela difícil conversa com Marcela me tirou o pouco de apetite que eu estava sentindo ao chegar em casa, então fui até a cozinha onde minha mãe já estava terminando de organizar, disse que não queria jantar, não queria conversar e não queria ser incomodado. Queria apenas dormir pois no outro dia eu trabalhava e eu precisava descansar.

_Boa noite mãe, boa noite pai, durmam com Deus. – eu disse a eles me virando e indo em direção ao meu quarto.

_ Boa noite meu filho. – meu pai me respondeu.

_ Durma com os anjinhos meu querido. – foi a fala de minha mãe.

Então deitei na cama de cabeça quente mas totalmente sem sono, e fiquei acordado quase a noite toda pensando em como tinha sido monótono meu dia de folga, em como eu poderia ter aproveitado-o mais, em como minha vida estava complicada. Fiquei olhando para o céu, pouco estrelado naquela noite, e pensando se em algum dia tudo aquilo iria mudar. E foi com esse pensamento que eu adormeci e terminei meu dia de folga.