Eu me lembro como se fosse hoje o dia em que eu o conheci, era por volta das 14:45, eu estava sentado na praça de alimentação do Shopping quando ele distraído se esbarrou em mim e me olhou pedindo desculpas sem graça, e eu nem o respondi, pra mim ele era só mais um na multidão, dei-lhe apenas um sorriso e continuei ali sentado olhando-o seguir em frente, parecia procurar alguma coisa ou alguém.

Eu trabalho com vendas e naquele dia estava de folga, e para passar o tempo eu costumo ir ao Shopping, ver gente, eu observo muito as pessoas, e naquele dia fiquei ali sentado umas duas horas direto no mesmo lugar, sozinho, parecia que ninguém notava que eu estava ali até aquele rapaz se esbarrar em mim, pediu desculpas e saiu, e eu jurava que se ele me visse na rua em uma outra oportunidade com certeza não se lembraria do meu rosto.

16:30 acho que já estava na hora de ir embora, então levantei-me e caminhei em direção a saída, foi quando ouvi alguém gritando:

_ Ei rapaz! – quando me virei me deparei com o mesmo desconhecido de antes – Cássio o seu nome não é?

_ Sim! – respondi totalmente surpreso ao vê-lo me chamar pelo nome, é que geralmente as pessoas nunca me chamam pelo nome.

– Você deveria ser mais atento com suas coisas, esqueceu seus documentos em cima da mesa onde estava sentado – disse o cara que eu nem conhecia, estendendo a mão e entregando-me todos os documentos intactos.

_ Obrigado! – eu disse a ele, virando-lhe as costas e dando meus primeiros passos em direção a porta.

_ Olha! Você não sabe onde estão precisando de gente para trabalhar? É que eu estou desempregado e estou precisando muito de um emprego. – perguntou-me o rapaz.

_ Sei sim! Qual o seu nome?

_ Eduardo. Muito prazer.

Ele parecia ser muito educado, não falava alto, tinha a pele morena, sobrancelhas grossas, olhos e cabelos pretos, usava óculos. Realmente me passou a impressão de que estava interessado em um emprego, eu dei o endereço da loja onde eu trabalhava e disse para procurar pela Adriana, a responsável pelo setor de RH.

_ Muito obrigado Cássio, farei isso amanha bem cedo! – falou isso com uma expressão de felicidade que eu particularmente não estava acostumado a ver nas pessoas dali.

_ Que isso, agora eu preciso ir, está na hora do meu ônibus!

_ Você ta indo pra onde? – ele me perguntou.

_ Centro! – respondi rápido, mesmo sabendo que não era pra lá que eu iria.

_ Quer uma carona? Estou indo pra lá também.

_ Não, eu acho melhor não. Eu não quero incomodá-lo, vou de ônibus mesmo. E eu já estou em divida com você por causa dos documentos.

_ Incômodo? Imagina! Vamos lá, é caminho mesmo!

Ao insistir muito acabei indo, fomos conversando do Shopping até o centro, isso daria uns quarenta minutos de carro, e nesse tempo eu descobri que ele tinha a mesma idade que eu, estava a um mês na cidade, morava com os pais, era solteiro, filho único, me disse os esportes que fez, quantas namoradas teve... acho que em quarenta minutos me contou toda a sua vida, e eu simplesmente ouvi.

Eduardo me deixou no centro e seguiu seu caminho. Eu fiquei pensando como pode alguém confiar tanto em uma pessoa que acabara de conhecer? Achei estranho, eu tinha certeza de que nunca mais iria vê-lo, afinal a cidade era grande e ele seria como qualquer outra pessoa que não haveria me notado, e não se lembraria de mim em uma outra oportunidade.