Doce Sacrifício escrita por Just Another Writer


Capítulo 1
Capítulo 1 - Uma nova Aurora


Notas iniciais do capítulo

Saudações!
Cá está a primeira fic que postarei no site. Espero que gostem.
Sem mais,
Boa Leitura!



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Eu estava no terceiro ano do ensino médio quando ele entrou, lembro perfeitamente. Estávamos na sala, primeiro dia de aula, quando aquele garoto passou pela janela durante o clássico 'tour de alunos novos' para conhecer as instalações da escola. Como de costume, sempre olhávamos para aqueles que passavam para checar o que considerávamos como 'detentos'. Para os garotos da sala, olhávamos as garotas que passavam. As garotas, por sua vez, olhavam para os garotos. Naquele dia, porém, uma pessoa me chamou atenção, o garoto esguio do segundo médio que passara olhando diretamente para mim. Estava trajado com uma camisa branca sobre uma camiseta bege e uma mochila marrom nas costas. Seu cabelo loiro estava perfeitamente bagunçado, uma característica pessoal que notei dias depois. Enquanto passava pela janela que conectava os corredores à sala, nossos olhares se entrelaçaram e presenciei uma sensação estranha. Não saberia muito bem como descrevê-la, exceto como sendo uma leveza partindo de meu estômago, um sentimento de liberdade e uma sensação gélida percorrendo minha espinha. Eu não fazia idéia do que aquilo era, mas se estendeu até o final da primeira aula. Não conseguia parar de pensar naquele olhar doce, sincero e calmo. Cada segundo passou como uma eternidade enquanto o garoto passava pela janela da sala. Não sabia quem ele era, mas eu tinha que conhecê-lo!

Mais tarde naquele dia, o sinal do intervalo bateu e não pude resistir em 'fazê-lo uma visita'. Sua classe ainda não fora dispensada, o professor de matemática dava os últimos anúncios enquanto eu esperava pacientemente do lado de fora. Segundos após minha chegada o professor abrira a porta, ainda falando com a sala enquanto estendia a mão para mim. Cumprimentei-o e lhe dei um abraço pedindo um tempo para falar com a turma, tempo este que ele concedera.

– Olá, todos! - Varri a sala com os olhos até achar o garoto. Ele estava na terceira carteira da fileira central - Aos que eu já conheço, bem vindos de volta. Aos novos, – sem querer fixei meu olhar no garoto – ...uma ótima estadia e um excelente ano. Estarei a disposição de todos que precisarem, só precisam bater na porta do terceiro e ficarei feliz em lhes ajudar. – Notei o tempo que passei fixado ao garoto e desviei o olhar agora para o professor. Sorrindo eu continuei – Boas vindas também a este maravilhoso professor. Espero que vocês aproveitem o máximo que ele pode oferecer. – Encerrei com um abraço de despedida no professor e caminhei para fora da sala observando o garoto com minha visão periférica. Pude notar que sua cabeça seguia meus passos – Obrigado, gente!

***

Desci para o pátio e sentei-me numa mesa na parte dos fundos, próximo a cozinha e a cantina.

– Você está bem? – Nathalia perguntou com um tom de preocupação – Nos cinco anos que eu te conheço, essa é a primeira vez que você senta no intervalo sem ser convidado ou obrigado.

– 2015 nos trouxe novidades. – Respondi com um sorriso sem dar dicas de que não me referia a mudança de personalidade.

Nathalia pigarreou e mudou de assunto, começara a falar da nova professora de geografia. Sua voz parecia abafada e diminuía conforme eu me perdia em meus próprios pensamentos. Ao longe pude ver aquele garoto entrando no pátio enquanto conversava com Bruno, um garoto do segundo médio que, por ironia do destino, era um dos meus melhores amigos. Tudo ao meu redor tornou-se cinza e o único foco de cor era aquele estranho garoto alto que tanto me chamava atenção.

– ...não acha, Gabriel? – Nathalia perguntou com uma expressão séria

Ainda perdido em meus pensamentos, voltei minha atenção para ela e lhe perguntei – O quê?

– Sério mesmo? – Nathalia parecia inconformada – Realmente não prestou atenção em nenhuma palavra que eu disse?!

– Sim. Claro... – Respondi ainda sem fazer ideia do que perguntara – Eu só me perdi nesse finalzinho, mas não tenho dúvidas quanto isso – Lancei-lhe um leve sorriso e coloquei o refrigerante sobre a mesa enquanto me levantava – Agora, se me dão licença, vou ao banheiro e volto já.

Caminhei em direção ao banheiro, mas virei nos últimos cinco metros e fui ao encontro de Bruno, que continuava conversando com o novato. Não faço ideia de como me contive naquele momento, estava extremamente nervoso. Pude sentir minha mão suando e minhas bochechas pegando fogo. O corredor da morte ou aqueles últimos dez passos, não havia diferença, era o mesmo sentimento claustrofóbico.

– B-Bruno... – Não pude acreditar que havia gaguejado. Quem diabos estava no controle do meu maldito cérebro? Tossi para disfarçar e lhe cumprimentei

– Gabriel, olá! – Bruno respondeu com um sorriso – Como passou de férias?

– Ótimo, passei o final do ano nas montanhas – Mostrei-lhe o papel de parede de meu celular. Nele estavam meus parentes e eu em frente a um despenhadeiro - Fomos para a cabana novamente – Guardei o celular - E as suas, como foram?

– Bacana, passamos no porão de casa mesmo – Bruno riu e retornou seu olhar para o garoto – Ah, me desculpa... Gabriel, este é Thomas – Parou por um segundo e continuou - Thomas, este é Gabriel.

"Thomas, este é seu nome. Um nome diferente para um garoto diferente..."

– Tudo bem, cara? – Disfarçadamente limpei minhas mãos na calça para descarregar o suor – Bem vindo ao colégio! – Estendi-lhe a mão

– Obrigado... – Respondeu com um aperto de mão – Alguma dica para o novato? – Thomas lançou um sorriso em minha direção

"Essa voz e seu sotaque... Acalme-se!"

– Apenas fique longe da Fogazza ou ficará com óleo na mão pelo resto do mês! – Respondi com outro sorriso - Bem, foi um prazer te conhecer. Qualquer coisa, só passar lá no terceiro – Thomas fez que sim com a cabeça. Me despedi e continuei meu trajeto ao banheiro.

O banheiro da escola não era diferente de outros banheiros masculinos. Ainda que ele era visualmente bonito, com pisos e azulejos brancos, portas metálicas e os boxes de granito, o cheiro de urina pairava pelo ar. Entrei no box de número três, o único com um sistema de tranca intacto. Encostei-me na parede e segurei minha mão direita, aquela que Thomas havia encostado, pressionando-a contra meu peito. Com os olhos fechados eu lembrava do toque gelado de sua mão, seu lindo sorriso e aquela voz. Seu lindo sotaque. Abri os olhos e fitei uma bolinha de papel higiênico amassada presa ao teto. Perdi-me em meus pensamentos enquanto aquela sensação estranha voltara em meu estômago, talvez as famosas borboletas que todos falam sobre.

Analisando tudo o que aconteceu nos passados dois minutos, cheguei a conclusão que ele não era daqui. Aquele sotaque não me era estranho, mas ainda não conseguia definir exatamente de que parte era. Voltei a mim quando o sinal bateu, estava na hora de voltar para a aula. Saí do box e lavei as mãos. Olhei diretamente em meus olhos castanhos no espelho e parei por alguns segundos. Novamente passei água nas mãos e enxaguei o rosto. Fui direto para a aula após isso.

***

De volta para a sala, o resto do período correu bem, exceto pelo fato de não conseguir tirar Thomas da cabeça. Eu nunca achei que isso poderia acontecer, pelo menos não comigo. Sempre senti atração por garotas, fui ensinado que isso era o certo e, ainda que não seja uma regra, o contrário não me parecia nada correto. Porém foram aqueles olhos que me laçaram, aqueles lindos olhos castanhos em sintonia com seu lindo cabelo dourado e desgrenhado. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Naquele momento, só tinha certeza de uma coisa, estava apaixonado por Thomas.


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