Blondie and Cotton Candy escrita por Boo


Capítulo 8
Capítulo 7 — Mais do que imaginava


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o atraso!
Boa leitura.



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Capítulo 7 — Mais do que imaginava

Anteriormente:

— Acho melhor darmos... Um tempo. - disse calmamente enquanto mais protestos da loira eram ouvidos. - Adeus. - E saiu andando, sem aguentar olhar para ela. Saiu, deixando com que sua ex-namorada ficasse aos prantos na rua.

[...]

Loke era culpado.

Eu acredito em você... - ambos os rapazes olharam-na esperançosos, o lábio trêmulo pronunciando o nome. - Dragneel.

[…]

Violette sabia mais do que Loke... e precisava fazer algo quanto a isso. Mesmo que seu filho a odiasse.

[…]

Natsu!

E seu súbito ato de carinho assustou o rapaz: ela o abraçou bem forte.

Lucy passava uma única mensagem com aquilo.

Você não está sozinho, Natsu.

____x____

Como dizem, o tempo passa voando quando se está com amigos, e não fora muito diferente no caso do rosado e de sua loira.

Obviamente a intimidade não é tão súbita, mas eles passaram um mês inteiro se vendo com toda a frequência possível, em grande parte para aliviar o sofrimento de Lucy. Sendo assim, o inevitável aconteceu: se aproximaram absurdamente, com tanta intensidade que Lucy já considerava Natsu seu melhor amigo – que outrora fora Loke. O rapaz começou a tentar uma reaproximação com os amigos, com muita dificuldade, e progrediu lenta e gradualmente.

Os dias que antes eram longos e tediosos agora viraram apenas pequenos em relação a diversão que tinham, e, claro, também as brigas ocasionais. Porém, segundo Levy, eles eram o casal perfeito e sua amiga era a maior sortuda da cidade por ter Natsu na palma de sua mão – por mais que não dissesse isso em frente a Natsu, jurava que o rosado nutria um sentimento maior que amizade pela amiga. Por sua vez Lucy sempre negava, e em seguia recebia um comentário pervertido e desnecessário do rapaz apenas para piorar sua situação, já que o trio se encontrava com certa frequência. Por ventura Heartfilia queria simplesmente esganá-lo, ou talvez socá-lo até o mesmo ficar inconsciente, no entanto contentava-se em apenas dizer “cale a boca”.

Depois de tantas vezes recusado, Natsu parou de tentar dormir com sua amiga, já não tinha mais utilidade tentar, afinal, ter sua amizade agora já era o bastante para o rapaz. Após tão longo tempo perdendo sua confiança nas pessoas, finalmente alguém se atrevia a enfrentá-lo. A tornar-se seu amigo. Tantos anos sendo tachado de “monstro”, “sem coração”, “frio”, “galinha”, agora valiam a pena porque este tempo de sofrimento trouxe Lucy para sua vida. Aquela que domou a fera contida no rapaz.

O conceito antes tido como a verdade suprema para o rosado, “amor rima com dor”, agora se fora, pois o mesmo havia encontrado tal sentimento raro e utópico. Não um amor romântico e nem um amor que gostaria de rotular. Gostava desta de forma amigável e intensa, e que um dia podia tender para o lado romântico, contudo, por agora, queria nada mais do que a amizade da garota, pois esse amor acalentava toda sua alma, como há muito não sentia.

E ali estava o tão famoso jovem de Magnólia, jogado de qualquer forma desleixada em sua rede, com almofadas jogadas por todos os cantos de seu quarto – deixando este ainda mais desarrumado – enquanto trocava, insistentemente, os canais de sua televisão, sendo que nenhuma das programações lhe satisfazia. Então por que diabos continuar pagando? Ah, sim, porque assim ele teria acesso a filmes sempre que se interessasse e até mesmo a canais pornôs.

Estalou sua língua, insatisfeito com o dia tedioso que estava por vir. Acordara há poucos minutos, já com uma sensação de desagrado. Olhou para baixo, vendo na cama uma garota bronzeada, as costas nuas expostas, o lençol cobrindo parcamente sua bunda. Podia ver o contorno de seus seios grandes sob seu corpo, seios com os quais ele se divertiu na noite anterior. Por mais que a jovem fosse muito atraente e tivesse feito ele enlouquecer durante a madrugada, Natsu não sentia nada por ela no momento. Seu humor parecia reduzido a lixo.

Como se não bastasse a TV não lhe mostrar nada interessante – nem mesmo nos canais pornôs – e a falta de vontade de se entreter com a garota, o clima estava propenso a pancadas de chuva de grandes proporções, chegando até a possibilidade de formar um temporal. Passou brevemente pelo jornal, que dava essa descrição. Como se eu não pudesse ver, pensou, idiotas. Irritava-se, observando as nuvens escurecidas. Ótimo. Agora nem poderia sair por conta da previsão do tempo. Teria de ficar trancafiado dentro de sua moradia.

Suspirou entediado e saiu do quarto, coçando a barba rala que se formava. Não gostava dela porque os fios eram muito irregulares, dividindo-se em fios ruivos ou castanhos e brancos, o que surpreendia-o muito pela idade. Foi ao banheiro e barbeou-se, saindo de lá para tomar café da manhã. Enquanto comia sua omelete, por um breve momento olhou para o calendário sem querer, ou quase isso. Logo, arregalou seus olhos surpreso com a data do dia.

Seu humor estava explicado. Era aquele dia. Mesmo que não quisesse sair, teria de fazê-lo por conta de um compromisso marcado há tempos e para o qual não poderia se atrasar ou adiar.

Sorriu nostalgicamente, porém amargurado. Terminou de comer e beber seu café e levantou-se. Foi para o quarto, precisava vestir alguma coisa, a não ser que quisesse fazer àquela visita apenas de cueca. Acendeu a luz ao chegar no quarto, ouvindo um resmungo. Suspirou, teria que tirar a garota dali. Balançou-a pelo ombro.

— ...Natsu? O que foi? - perguntou, sonolenta.

— Hora de ir, Chloe.

— O que? Por quê? - enlaçou o pescoço de Dragneel, juntando seus corpos. - Não seja mal. Fica aqui comigo, gatinho. - E cercou a cintura do rapaz com as pernas.

Natsu bufou e levantou-a, mantendo a posição. Chloe riu, mas ao perceber estar diante da porta de entrada enquanto esta estava sendo aberta, gritou.

— Natsu, eu ‘tô só de calcinha!

— Relaxa, gatinha. - sorriu maliciosamente. - Ninguém passa por aqui.

— Natsu! - gritou novamente quando ele soltou-a de si. - Você é um filho da puta. Me dá minha roupa!

Ele pegou o vestido e o sutiã da menina e deu nas mãos dela, antes de fechar e trancar a porta, ouvindo mais gritos. Teria deixado com que entrasse, se não ela não tivesse chamado... Respirou fundo, abrindo a porta e puxando Chloe pra dentro. Os fios castanhos moviam-se conforme ela respirava fundo, contendo o ódio.

— Posso usar o banheiro?

— Pra que? Já vi até o seu útero.

— Desgraçado! - grunhiu.

Vestiu-se com pressa e se calçou, já virando para abrir a porta, quando o rosado puxou-a para um beijo voraz. Ela tentou empurrá-lo, sem sucesso, e logo se rendeu ao beijo, puxando-o para mais perto de si com violência. Soltou-a mais uma vez, quando o ar se foi.

— Tchau. - abriu a porta para a garota, que saiu envergonhada de si mesma.

Natsu apertou a cabeça em suas mãos, por que precisava ficar assim tão mexido e emotivo quando esse dia chegava? Desde que ele encontrou Lisanna nesse mesmo dia e seguiram rumos separados, não conseguia mais aceitar esse dia. Murmurou algo, provavelmente xingando-se, e seguiu para seu quarto. Pôs a primeira vestimenta que viu, uma calça jeans e uma blusa cinzenta de longas mangas, porém não grossas.

Arrumou o cachecol sobre seu pescoço e fitou seu gato, Happy, dormindo tranquilamente sobre uma pilha de roupa suja – a qual teria de lavar mais tarde – e fez um carinho no animal de pelos exoticamente azuis. Estava na hora de acordar, afinal, para este evento teria de levar consigo o companheiro azulado. Este começou a ronronar com as carícias do dono que apenas sorria de forma tão pura quando em casa. Lentamente o pequeno animal de estimação abriu seus olhos de forma sonolenta pedindo por mais cinco minutos, obviamente negados pelo rosado que pegou-o no colo e o posicionou comodamente sobre seu ombro.

— É hoje, Happy. Não podemos nos atrasar, lembra? - falou de forma doce, com os olhos estreitados fitando gentilmente o gato confuso.

Apesar do sorriso e da gentileza, tinha uma pitada de cansaço evidente tanto na voz quanto no olhar do rapaz. Ainda que esta fosse uma data importante a qual trazia fortes lembranças positivas de volta a mente dele, era também uma data que marcava a traição de Lisanna e o início de seu ódio pelo ex-namorado de Lucy, aquele o qual não merecia nem ter seu nome mencionado. Resumindo, era um dia de fortes emoções, tanto ruins quanto boas e velhas recordações de seu passado alegre.

Abriu a maciça porta de mogno de sua casa mais uma vez, porém antes de sair, pegou seu telefone e discou um número.

Alô?

— E aí, tia? - saudou.

Diga, Natsu, estou ocu

— É que... bem, hoje é o dia. ‘Tô indo lá e pensei que talvez você quisesse vir comigo. - falou lentamente, tentando captar a reação da mulher.

Ah, meu amor. Eu sabia que teria um dia cheio, então acordei mais cedo e passei lá pela manhã. Tanto é que você verá cravos e clematites por lá. Sinto muito não poder ir com você, sabe que hoje é minha viagem.– pediu, o tom perceptivelmente triste.

— Tudo bem.

Agora não, Marshall, estou em uma ligação... O quê?! Querido...

— Eu sei, a senhora ‘tá ocupada. Bom trabalho e boa viagem. E o que acha de irmos ao cinema juntos quando voltar? Sei que não dá pra saber o que vai estar em cartaz em um mês e meio, mas...

É lógico que eu quero, Natsu! Amo você, meu menino.

— Também te amo. Tchau.

Tchau.

Um sorriso escapou de seus lábios, renovando um pouco as forças. A tia era a pessoa que mais amava no mundo e era muito grato a ela por tudo, por mais que não soubesse demonstrar tão bem. Sentia muito a falta dela, porque era uma mulher atarefada e raramente tinha tempo pra ele, especialmente quando ele era criança.

Saiu de casa respirando fundo, deixando com que o ar gélido e deprimente da cidade adentrasse em seus pulmões. Seria um longo e cansativo dia, porém não tedioso como Natsu esperava.

Dava passos largos e vagarosos em direção ao cemitério sem expressar quaisquer emoções em seu rosto, apenas a sua cara de “o que você quer?” costumeira. Várias garotas o olhavam com malicia em seus sorrisos e olhos, normal, contudo nenhuma delas lhe interessava. Como se tivesse tempo para isso justamente nesse dia. Não sabia dizer se esse amor novo que Lucy trazia bloqueava interesses maiores em outras mulheres ou se era ainda a influência que a albina de olhos azuis exercia, tomando sua alma e seu coração só para si. Estes conflitos internos lhe tiravam o sono durante noites a fio.

Ignorava a todos a sua volta, até mesmo as senhoras de idade que lhe ofereciam doces, bolos, pães, tudo grátis por ser um rapaz tão belo e ter um gato tão estranho. Estranhas eram elas que perdiam seu dinheiro dando itens gratuitamente para qualquer rapaz com uma fisionomia considerada atraente ou bonita, ao invés de fazer isso por um rapaz ou por uma jovem excessivamente gentis.

Estalou novamente sua língua negando os agrados das senhoras e ainda por cima tendo certo desprezo pelas mesmas. Idiotas. Não venham mexer comigo justo hoje, pensou de forma rude estreitando seu olhar, agora evidenciando seu aborrecimento.

Acelerou seu passo. Quanto mais rápido chegasse lá e fizesse o que tinha que fazer, mais rápido tudo isto acabaria e poderia voltar sossegado para sua casa, sem quaisquer pesos adicionais para sua consciência já confusa demais para o último mês. A única coisa que poderia piorar sua mente turbulenta agora seria...

— Natsu?

Os pelos do rapaz se eriçaram, um arrepio certamente negativo percorrendo seu corpo. Puta merda, mordeu o lábio inferior com força, que azar. O rapaz sabia de quem era essa voz doce e gentil, com um leve toque de preocupação explicita. Era Lucy. Ótimo. Agora toda aquela desordem existente antes na cabeça do rosado, voltava em um piscar de olhos. Virou-se para ela e, rapidamente, mudou de sua expressão fechada e desinteressada para um olhar de dúvida e até que levemente singelo e atento para cada palavra, ou movimento, que a loira fizesse.

A garota usava um short jeans qualquer e uma regata rosa, a qual fazia conjunto com a blusa xadrez por cima. Um tênis simples e apenas isso. Contudo o que mais impressionava Natsu não eram as roupas da menina, que ressaltavam com toda a simplicidade seu belo corpo. Não, na verdade o buquê de lírios rosa fora o que chamara sua atenção.

— Onde você está indo desse jeito e ainda com o... Happy? - a menina continuou e logo esboçou um sorriso sarcástico e brincalhão, obviamente se divertindo com a situação.

— Ahn... Eu estava... Desse jeito?

— É, essa cara amarrada, esbarrando nas pessoas e andando rápido.

— Ei! Me espiando? - brincou, ganhando tempo. Tentava arranjar uma desculpa para isso. Preferia não revelar suas verdadeiras intenções de ir ao local fúnebre chamado cemitério. - Eu estava... - enquanto isso a loira o olhava esperando por uma resposta.

O olhar inquisidor de Lucy sobre si acelerou seu coração e fez com que seu corpo esquentasse de tal maneira que o rosado cogitou a possibilidade de estar pegando fogo e isso só acontecia quando, bem, ele estava em meio a relações sexuais. A ideia de se jogar na fonte perto de si passou pela mente do rosado como sendo uma boa opção, contudo, após repensar tal coisa, achou melhor apenas ficar ali em chamas mesmo. A garota apenas continuou o fitando de forma mais intensa. Mas o que diabos ela estava fazendo? Parecia querer lê-lo e, por um instante, parecia que independente da mentira que contasse, ela saberia a verdade apenas por rebuscar com tamanho afinco em sua alma. Estaria louco? Por fim, Dragneel encontrou uma solução... aceitável.

Natsu limpou sua garganta e logo expôs um sorriso sacana, sarcástico e, também, malicioso, ou seja, sua típica expressão que conquistava todas as garotas de Magnólia. Esperava sair dessa situação com isso. Ele podia não saber, mas Lucy derretia-se inteira por tal expressão galanteadora do amigo. Teve de se segurar para não cair nos truques de sedução do mesmo, afinal, ela tinha uma reputação de difícil para manter e, pelo menos até agora, estava fazendo um bom trabalho em recusar quaisquer investidas do rosado. Mesmo assim, era uma mulher que se sentia atraída por certos homens e Natsu estava no topo da lista, ainda que não quisesse.

— Eu estava indo para a farmácia comprar camisinhas. Sabe como é. As meninas me amam e eu tenho sempre de ter certo estoque comigo. Contudo ele acabou, então estou indo comprar mais. - respondeu não fazendo deste assunto algo substancial. Happy se remexeu, de forma semelhante a uma risada.

Silêncio.

Por um segundo, Natsu realmente pensou que seu plano fora um sucesso já que a loira não dizia nada, apenas o olhava incrédula. E, logo, a mesma começou a gargalhar alto, como se aquilo apenas fosse uma grande, e ótima, piada.

— Sério Natsu? - completou, enxugando as lágrimas decorrentes da risada, e ele temeu ter sido pego. - Acho que isso pode esperar então. - O rosado suspirou imperceptivelmente, ela tinha acreditado. Podia lê-la com maior facilidade e sabia disso. - Já que te achei quero te levar comigo para um lugar. - comentou mais como uma ordem e, logo, pegou na mão do rapaz guiando-o para a direção do cemitério, a qual ele ia de qualquer maneira.

— Ei, espere, para onde estamos indo? E por que você está carregando esse buquê?

Buscava as mais variadas hipóteses para explicar isso. Lucy não poderia estar indo ao cemitério, não é?

— Você vai ver, apenas... fique quieto.

E assim ele calou a boca e apenas seguiu-a, exatamente igual a o que um cachorro faz com seu dono. Era desse modo que se sentia perto dela, em algumas situações, e odiava isso. Queria ser um igual em relação a ela, não um ser inferior... Como era.

Olhava curioso para a paisagem ao seu redor, reconhecendo cada ponto do caminho, e, como era de se esperar, eles tinham ido ao local fúnebre. Este estava vazio com apenas buquês murchos sobre as covas, apenas o coveiro andava por ali. Natsu podia sentir um arrepio percorrer suas costas, mesmo que sempre visitasse esse lugar ano após ano, a sensação de arrepios e medo passava por sua espinha deixando os pelos de seus braços e pernas de pé. O cemitério não trazia apenas desconforto por sua energia pesada, mas também dor, lembrança e, acima de tudo, memórias as quais deveriam ficar enterradas para sempre na mente do rapaz. O gatinho também se encolheu um pouco sobre seu ombro, de forma que Natsu acariciou sua cabeça. Sabia que o animal não gostava muito daquele ambiente.

Passavam pelos túmulos de forma apressada e sem dar muita atenção para o pobre homem que passava seus fins de semana ali trabalhando. Não era mais o senhor que esteve lá durante todos os anos em que Natsu fazia essa visita, por isso não se sentiu à vontade para um cumprimento, muito menos para uma conversa mais profunda com aquele homem, da maneira que tinha com o velho Carl.

Dentre as inúmeras lápides dali, podia identificar aproximadamente o local onde as de seus pais estavam, distante de si. A expressão de confusão e dúvida, antes presente no rosto do rapaz, se fora dando lugar a nostalgia e certa depressão por não ter mais seus velhos vivos. Contudo não choraria. Ele não era de chorar mais, não podia se dar esse luxo. Muito menos na frente de Lucy. Ele tinha que ser forte pelo que tinha que fazer.

Quase que por um passe de mágica, as tão preciosas memórias de sua infância voltavam à tona trazendo todos os tipos de sentimentos possíveis. Dor, perda, tristeza, raiva, alegria, amor, afeto, dentre outras ainda mais fortes e significativas que estas. Se pudesse voltar no tempo o faria apenas para ter mais dias com Igneel e Rose. Mais longas tardes nadando no lagdo e, às vezes, queimando a janta. Contudo aqueles momentos únicos e divertidos nunca mais voltariam. Nunca mais teria o beijo de boa noite de seu pai, ou até mesmo uma bronca por não ter feito a tarefa ou ter brigado na escola. Não teria o bolo surpresa de sua mãe, ou o livro de aprendizagem com erros. Nada. Não imploraria mais para Igneel parar de gritar, não rasgaria páginas do maldito livro, nem mesmo ficaria ressentido com a repreensão feita antes. Nada disso voltaria. Porém memórias não eram suficientes, elas não eram o bastante para um coração que sofreu com a perda de entes amados.

Enquanto se distanciavam daquela área familiar para Natsu, repentinamente Lucy parou de andar e ficou na frente de uma lápide. O rosado estranhou tal atitude. Saiu de trás de loira e espiou o nome gravado na pedra, tendo uma surpresa e tanto ao ler.

Layla Heartfilia.

Podia não saber muito sobre o passado da garota, porém esse sobrenome fazia com que Natsu ficasse propenso a adotar a provável ideia de essa mulher ser a mãe de sua amiga. Pensando nisso, tinha visto uma nota no jornal há muitos e muitos anos atrás sobre isso. Não sabia como tinha guardado isso na memória.

Desviou seu olhar para a face de Lucy e, onde esperava ver lágrimas, encontrou um sorriso singelo e gentil.

Certo. Aquilo o surpreendeu, e muito. Geralmente esse não era o comportamento esperado em um cemitério, onde o normal seria chorar. Contudo aquele sorriso mascarava a tristeza do coração da loira, e o rosado podia sentir isso. Sentia, assim, a si mesmo. De repente uma vontade de abraçar Lucy e nunca mais soltá-la consumiu o rapaz. Sentia a mesma dor que ela. Sabia pelo quê ela estava passando. E, acima de tudo, queria confortá-la.

Eles eram muito parecidos em diversos aspectos, e percebeu que o de mascarar seus sentimentos eram um. Com a repreensão que Jude exercia, ela deveria ser uma mestre, na realidade, muito mais habituada a isso que o próprio Natsu. Era de estranhar que pudesse lê-la com tanta destreza.

— Luce...? Você está bem? - perguntou com preocupação evidente em sua voz.

— Sim, estou ótima. - respondeu sem pressa. - Luce?

O rapaz sentiu as bochechas esquentarem e desviou o olhar. Como deixou essa escapar? Esfregou a nuca, envergonhado, antes de soltar:

— Essa é a forma que costumo me referir a você. Gosto da sonoridade.

— Também gosto. - sorriu, arrancando dele um sorriso. - Sabe, Natsu, pode parecer egoísta da minha parte, mas você poderia passar o dia comigo? Eu venho aqui duas vezes por mês e... gostaria de companhia por hoje. - perguntou quase que como um sussurro ao vento enquanto colocava o buquê de lírios sobre a cova.

— Claro. Isso que os amigos fazem... Certo? - falou meio que incerto por ser leigo quando o assunto se referia a amizades. Havia desaprendido tudo o que sabia anos atrás e estava aprendendo novamente com ela. Lucy deu uma leve risada irônica.

— Ah, sim, me desculpe, esqueci que éramos amigos.

Doeu. Sabia que não era por mal, era a dor que a loira sentia. E mesmo assim, doeu.

— Se acalme, está bem? - olhou novamente para o túmulo e para os lábios da menina, que tremiam.

Ela estava segurando o choro. Envolveu seus fortes braços ao redor da cintura fina e delicada da menina, e com um deles acariciava os cabelos loiros macios da mesma, gentil e protetoramente

— Ei, ei. Pode chorar. Chorar é algo normal. Você não precisa ser forte o tempo inteiro. - disse em um tom de voz doce e gentil.

Fazia mais de anos que o rosado não agia desta maneira sem que fosse com Happy ou, excepcionalmente, com a tia. Talvez Lucy despertasse esse seu lado protetor por ser tão frágil, apenas talvez. Ou não tão frágil. Ainda não sabia definir a menina.

Após alguns momentos de silêncio e recusa, a garota o abraçou fortemente e escondeu seu lindo rosto no peitoral definido do rapaz, se debulhando em lágrimas. Finalmente ela havia seguido um dos conselhos de Dragneel, mesmo tendendo a recusá-lo, estava sensível demais agora para voltar atrás.

— Ela era sua mãe, certo? - perguntou afagando mais e mais os fios dourados de Heartfilia, que assentiu com sua cabeça. Ele suspirou. — Eu sei como você se sente. Você não está sozinha, Luce. - falou docemente sorrindo da mesma maneira também. Era a segunda vez que Lucy observava esse sorriso, que aquecia todo seu ser. - Venha. Vou te mostrar aonde eu realmente estava indo.

Deixou uma de suas mãos na cintura da menina e guiou-a para o outro canto do cemitério, a mesma não entendo do que isto se tratava. Eu não estou sozinha, repetiu criando ainda mais carinho por Natsu. Ele não era tudo o que se falava na cidade. Sim, ele podia ser um galinha e até mesmo alguém que quebrava corações, porém, por trás dessa máscara criada pela mente alheia, o rapaz tinha um bom coração e era gentil como ninguém. Ele era gentil, carinhoso, divertido e fazia com que seu coração ardesse em chamas, além de passar a segurança a qual sempre foi necessitada por Lucy. As pessoas só precisavam retirar cada uma das camadas dessa máscara. Ou muro. Entendia a dificuldade de vê-lo por quem realmente era.

Natsu parou em frente a outro túmulo, este com cravos vermelhos e róseos. Próximo às flores, havia um desenho riscado de um dragão. Ou seria uma salamandra? O rapaz mantinha uma feição séria ao olhar para a cova. Ela, com curiosidade, seguiu o olhar deste, para o nome entalhado na pedra, e logo soube de quem se tratava.

— É o seu pai, não é? – perguntou, querendo ter certeza se sua preposição estaria correta.

Happy pulou, se aninhando sobre o túmulo, atraindo um olhar sofrido e doce de Natsu.

— Sim. Igneel Dragneel. Meu falecido pai. - falou com certa seriedade, contudo logo esboçou um singelo sorriso ao recordar-se de tantos bons momentos passados juntos a ele. O dedo em riste foi para a direita. – E essa é minha mãe.

Lucy arregalou os olhos, surpresa. Não sabia que os pais do amigo haviam falecido. Só sabia que ele sempre ficava sozinho em casa. Observou o túmulo em granito negro, com Rose Dragneel entalhado, um buquê de clematites sobre ele.

— Hoje é o aniversário de suas mortes. - a loira surpreendeu-se novamente. - Eu costumava vir aqui com Lisanna, mas depois de toda aquela confusão passei a vir sozinho. - suspirou. - É a primeira vez em anos que trago alguém para cá. Você é uma das únicas a ver isso, Luce.

Ficou estática com tal afirmação, e foi quase impossível para a menina não sentir-se especial para o rosado. Felizmente isso era mútuo. Natsu também já era uma parte importante da vida de Lucy, isso era um fato inegável para ambos. Querendo ou não, agora eles eram grandes amigos e foram a mudança em suas vidas antes solitárias e sombrias.

Tudo o que estavam precisando para deixarem de serem daquele jeito, vazio, era uma mão para tirar-lhes do fundo do poço lhe dando luz e um caminho a ser seguido.

Pode-se dizer que Natsu fez isso com Lucy e vice-versa. Agora eles não estavam mais sozinhos de forma alguma, afinal, tinha um ao outro como amigos e companheiros para coisas como comer chocolate, fofocar e ver dramas românticos dentre outros gêneros melosos e cheios de tragédias, mas também para andar de skate e bicicleta pela cidade, subir em árvores e nadar por horas.

— Obrigada, Natsu. - falou sorrindo. - Você também é um dos meus “únicos”. - completou dando uma leve risada.

Contudo, ela não sabia o efeito de tal frase sobre o rosado. Seu coração acelerou. Seu corpo novamente pegava fogo e, acima de tudo, sentiu uma felicidade inexplicável e plena, como não sentia há muito tempo.

Apertou mais a loira contra si, deixando com que a mesma sentisse o calor incomum emanado dele. Queria passar a segurança e a felicidade que sentia ao estar ao seu lado. Não. Ele queria tê-la para sempre desse jeito. Queria confortá-la como fez hoje. Queria chorar junto dela. Queria ter sua amizade ao máximo.

Não se importava de ser recusado mil e uma vezes, se na milésima segunda vez Lucy deixasse que a abraçasse e fosse seu amigo, valeria a pena. Sim, valeria muito a pena.

Uma brisa fria passou por eles fazendo com que se arrepiassem. E logo uma garoa fina começou a cair. Todavia eles continuaram ali, de forma solene e melancólica, entretanto também afetiva.

A loira tremeu de frio. Natsu olhou curioso e desenrolou seu cachecol colocando-o em Lucy, deste jeito o rapaz ficava apenas com sua blusa fina e sem quaisquer outros agasalhos. Não se importava. Seu corpo estava pegando fogo mesmo, pegar um pouco de chuva não afetaria em nada sua saúde ou algo do gênero. Nunca afetava.

Lucy o fitou com carinho e sorriu, acomodando-se no tecido grosso e ficando com menos frio.

— Obrigada, de novo, Natsu. - repetiu, porém desta vez ficou na ponta de seus pés, já encharcados pelo tênis não ser impermeável, e deu um demorado beijo na bochecha esquerda do rapaz.

Ele sentiu o local em que a menina beijara ficar quente, e logo o outro lago de seu rosto também. Pouco a pouco suas bochechas se coloriram de um vermelho vivo pelo agrado recebido, tão singelo e afetivo que não se lembrava da última vez que recebera um do tipo. Não ligou. Apenas continuou abraçado a Lucy enquanto Happy escondia-se debaixo dos dois procurando abrigo da garoa.

Amor rima com dor, porém essa dor vale a pena se o amor fizer bem.


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Notas finais do capítulo

Para quem não percebeu, em "desenho" há um link que direciona para o que seria esse desenho e no nome da Rose (puramente fictício), um que direciona para uma imagem de todos os três túmulos. A propósito, sugiro que ouçam a pronúncia em inglês de Lucy e Luce, até mesmo usando o Google tradutor, pra ver a diferença de sonoridade.
Peço desculpas por esse pequeno atraso, a vida de estudante anda longe do que eu chamaria de fácil, mas vou tentar não deixar que ocorra novamente.
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