Velas e ventanias escrita por Blue Butterfly


Capítulo 4
Oh, que dia maravilhoso




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Aquele estava sendo um dia difícil. Rizzoli era durona, ela era. Sempre andava a passos duros e cabeça erguida. Nunca vacilava, nunca chorava, nunca hesitava. Sempre fora firme, forte, independente; tinha tudo o que um perfil de detetive pedia para ter. A única parte do trabalho que odiava era aquela: dar a notícia para os familiares. Era o seu ponto fraco. Sempre ficava comovida com sofrimento dos parentes. A coisa que a mantinha firme era a promessa de que fazia silenciosamente para si jurando justiça, dando o melhor de si para colocar o responsável por tanto sofrimento atrás das grades.

Era sua vez de falar. Frost havia trazido os pais da mulher encontrada no rio. Natasha McPhee, 32 anos. Estavam inconsoláveis, mas ela precisava de algumas respostas.

'Senhor McPhee, sinto muito por sua filha. Natasha tinha algum inimigo? Alguém que lhe quisesse fazer mal?' Rizzoli perguntou delicadamente. O homem balançou a cabeça.

'Não. Era uma boa filha, uma boa professora, adorada pelos alunos e pelos vizinhos. Não consigo pensar em alguém que faria mal a ela.'

'Sua filha tinha namorado?' Rizzoli tomou um gole do café que estava em cima da mesa. Cuspiu ele de volta ao copo imediatamente. Além de frio, ela se lembrou de que não era dela.

'Sim', agora era a mãe quem respondera, 'mas ele está fora do país, a trabalho. Nem conseguimos lhe dar a notícia ainda.'

Rizzoli olhou para Frost e depois novamente para os pais.

'Precisamos checar essa informação. Preciso de um nome e telefone.'

'Podemos lhe dar, mas Henry jamais machucaria nossa filha.'

'Ok, ok. Ainda assim, preciso checar. Procedimento padrão.'

A mãe fez que sim com a cabeça, os olhos azuis cheios de lágrima.

'Frost vai fazer mais algumas perguntas para vocês, alguns detalhes que talvez possa nos ajudar...' Ela se levantou da cadeira na intenção de deixar a sala, mas ela foi impedida pelo som da voz do homem.

'Detetive,' Rizzoli se voltou para o homem, 'o dia que recebemos nossa filha em casa, foi o dia mais feliz da minha vida, nós esperamos tanto... Por favor, faça pagar quem fez isso com ela.'

'O que o senhor quer dizer com 'recebemos nossa filha', senhor?' Frost já havia disparado antes de Rizzoli abrir a boca.

'Ela era adotada, detetive, ela era a razão da nossa vida.' Frost balançou a cabeça em compreensão.

'Nós vamos pegar quem fez isso. É uma promessa.' A detetive olhou fundo nos olhos do homem e durante essa troca de olhares a promessa estava selada. A morena virou os calcanhares e saiu da sala, o ódio brotando dentro de seu peito. Animais. Às vezes Jane se perguntava se aquilo tudo não se passava de uma batalha perdida. Quanto mais se lutava para colocar caras como esse atrás das grades, mais parecia que eles se proliferavam, assim como pestes. E então ela se lembrava de quantas vidas haviam sido salvas para cada um dos desgraçados que estavam agora no xadrez, ou então para quantas famílias havia levado paz através do trabalho que fazia. E tudo voltava a fazer sentido novamente; não era uma batalha vencida, era uma luta infinita em busca de justiça. E ela era boa nisso, e seus parceiros eram também. Frost, Korsak, Maura... Maura. Oh meu Deus, Maura! Combinamos de almoçar juntas!

Jane apressou o passo e chegou até o elevador, apertou várias vezes o botão com força como se isso fosse adiantar alguma coisa.

Eram 14:00h. Maura certamente a mataria com aquele bisturi afiado. Oh, droga.

'Ma!' Jane gritou quando entrou na cantina da delegacia e apressou o passo até onde a mãe estava. 'Ma, você viu Maura por aqui?'

'Jane.' Angela a repreendeu. 'Maura esteve aqui há duas horas atrás. Duas, Jane! Não foi essa educação que eu te dei!'

'Eu sei, sinto muito. Eu fiquei presa lá em cima com os pais da vítima... ' Ela estava se desculpando? Aquilo nem era culpa dela! 'Qual é!'

'Oh...' Lamentou, Angela, apoiando os braços sobre o balcão. 'Bom, eu preparei dois sanduíches natural para vocês. Vocês precisam comer direito. Você tá magra demais, Jane!'

Rizzoli jogou a cabeça para trás soltou um gemido. Angela ergueu as sobrancelhas para ela e ela se recompôs. Sabia reconhecer um olhar ameaçador.

'Obrigada, mãe. Você é ótima.' Ela forçou um sorriso. 'Hey, espera. Maura não almoçou?'

'Não, ela disse que voltaria meia hora mais tarde, mas não voltou.' Angela respondeu, empurrando um pacote com os sanduíches para a filha.

Jane sabia que a médica provavelmente havia se distraído no trabalho e perdido a hora. Temos isso em comum, ela sorriu com esse pensamento. Ela queria que as duas tivessem mais em comum além do local de trabalho, do que alguns hábitos, do que... Jane! Ela maneou a cabeça para espantar os pensamentos.

'Oh. Obrigada mãe. Te vejo em casa.' E saiu apressada, antes que sua mãe pudesse repreendê-la por algo mais.

...

Jane havia ido para o necrotério, mas encontrou a sala vazia. Ela atravessou a sala a passos lentos até chegar a sala da médica. A porta estava entreaberta e Jane segurou no puxador para abri-la, mas parou ao ver a imagem de Maura através da fresta. Ela estava sentada na cadeira, escrevendo algo. Do lado esquerdo da mesa uma imensa pilha organizada de papel descansava, do lado direito uma pilha menor e mais desorganizada. Jane supôs que Maura estava organizando a papelada que Dr. Pike sempre deixava bagunçada. Ela observou enquanto a médica analisava alguns papéis, os colocava de lado e partia para o próximo. Sem o jaleco branco Maura parecia muito pequena sentada ali no meio de tantas coisas. A loira então esticou os braços para cima, depois apoiou a cabeça com uma mão enquanto com a outra tamborilava os dedos na superfície da mesa. Os olhos passavam pelo pedaço de papel e não demorou muito até que ela esfregasse os olhos com a mão. Estava certamente cansada. E era para ser nosso dia de folga, lembrou-se Rizzoli fazendo uma careta. Droga. Red Sox havia perdido o campeonato, o dia já não havia começado bem. Depois ganhara um galo na cabeça, depois um homicídio, e agora estava dando uma de estranha observando Maura através da fresta da porta e... Rizzoli se deu conta do quanto estava ficando rabugenta de novo. Provavelmente a fome estava aumentando sua irritação. Ela ergueu o punho para alertar sua entrada à sala, mas antes que pudesse fazê-lo, a porta se escancarou.

'Jane?' Lá estava Maura, surpresa ao súbito encontro.

'Ahn...' Jane estava com a mão fechada no ar. Ela olhou para a mão, depois para Maura. 'Eu ahn...'

'Espero que essa mão erguida não seja para me bater.' Maura abriu um sorriso.

Aquela tinha sido uma piada? Jane chacoalhou a cabeça.

'Não, eu ia bater na porta, mas aí você apareceu e... Hey, 'ela acrescentou rapidamente, 'desculpa pelo almoço. Fiquei presa com os pais da vítima.'

Ela entrou na sala, entregando o pacote feito por Angela para Maura.

'Oh, tudo bem, eu estava voltando agora para cima, assim como disse para sua mãe.'

Jane ergueu uma sobrancelha.

'Maur, já se passaram duas horas.' Jane se sentou numa cadeira desconfortável que Maura insistia em deixar na sua sala por combinar perfeitamente com a decoração.

'Oh... Acho que perdi a noção do tempo.' A médica se sentou de volta na sua cadeira, desempacotando um sanduíche e entregando o outro para Jane.

'Oh, você acha?' Jane pegou o sanduíche e o mordeu.

'Bem, o relógio é uma construção humana criada para a medida do tempo, Jane, mas nossa percepção muitas vezes nos engana quando se trata de interpretá-lo, já que o processo envolve diversas variáveis, inclusive psicológicas...'

'Maura, basta dizer que você se enroscou com a papelada.'

'Eu nunca me enrosco com papelada, Jane!'

Jane sorriu satisfeita. Adorava provocar a amiga. Ela sabia melhor do que ninguém da mania de organização da médica. Maura não deixava nada para trás, nada fora do lugar, tanto no trabalho quanto em casa.

'Maur, algum exame já voltou?'

A médica se endireitou na cadeira, assumindo novamente sua posição.

'Bem, sim.'

Jane olhou para ela. 'E...?'

'O exame de sangue para toxinas veio limpo. Ela não foi drogada nem envenenada.'

'E a autópsia?'

'Terminada. Fato curioso é que ela não havia ingerido nada na ultimas horas antes de morrer. O estômago estava limpo.'

'Maura. Estamos. Comendo.'

'Também não encontrei nenhum ferimento no corpo, nenhum sinal de agulhas na pele. Nada. Tudo limpo.'

'Você não achou a causa da morte?' Jane estava espantada agora.

'Bem, sim. Asfixia por sufocação.'

'Hum!', murmurou Rizzoli, engolindo o último pedaço do sanduíche, 'Eu sabia!'

'Você supôs.'

'Acertei em cheio.'

Maura inclinou a cabeça. Não iria comprar essa discussão.

'E o interrogatório?'

'Os pais estão arrasados.' Disse a morena com tristeza. 'Filha única, adorada por todos... O namorado nem deve estar sabendo ainda, coitado.'

'Bem, esse não é um homicídio comum. Parece mais trabalho de um...' Maura se arrepiou ao cogitar a possibilidade. Elas trocaram olhares.

'Psicopata.' Completou Jane, em tom baixo. 'Também pensei nisso. O M.O. não condiz com um crime cometido por vingança, ódio ou acerto de contas.'

'O que você sabe sobre ela?'

'Hum... Era o tipo de pessoa politicamente correta. Trinta e dois anos, ensinava para crianças, namorava um bom rapaz. Era adotada.' Jane acrescentou a última parte com cuidado. Ela sabia que agora que Hope aparecera na vida de Maura, ela estava em conflito, ainda que tentasse esconder isso.

'Nada que ajude muito?' Era uma meia pergunta.

Jane balançou a cabeça em não. 'É melhor eu subir, Maur. Não temos quase nada com o que trabalhar. Frost e eu vamos visitar a casa dela agora a tarde.'

'Te espero para voltarmos juntas para casa?'

'Não, tudo bem. Nos encontramos lá.'

Jane saiu da sala ainda procurando pela chave nos bolsos, foi quando se deu por conta de que viera dirigindo o carro de Maura e não o seu. O que significava que voltaria para casa de táxi. Rizzoli odiava táxis.

Oh, que dia maravilhoso, Rizzoli.


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