Quinze minutos antes de ir embora, todos juntos arrumamos a sala de aula. Peço para que, em ordem, todos arrumem suas mochilas e se sentem em seus lugares. O sinal toca. Antes de saírem, todos me dão um abraço. Lucy é a última a vir, pois sabe que iremos sair passear juntas.

–Vamos, tia Stella?

–Claro, minha querida. Só espere um pouquinho que eu vou arrumar minhas coisas, okay? Depois falamos com sua mãe.

–Tá bom.

Nós trocamos sorrisos. Arrumo minhas coisas rapidamente, pois não quero que a mãe de Lucy, a Lindsay, aquela moça linda que conheci hoje, fique preocupada com a demora de Lucy. Como assim, moça linda? Sim, claro... Ela é linda. Mas por que eu coloquei isso no meio? Deixe isso pra lá, Stell. Você tem que se apressar para sair com uma linda garotinha chamada Lucy.

Após guardar tudo, levanto-me e a pequena se aproxima.

–Já guardou tudo, tia?

–Sim, meu anjo. Nós já podemos ir.

Novamente sorrimos e saímos da sala. Quando chegamos no portão para sair, vejo que todos os pais já se foram e Lindsay está agoniada. Quando vê Lucy, corre para perto dela e a agarra nos braços.

–Por que demorou tanto, Lucy Messer? Eu fiquei preocupada.

–Foi minha culpa, me desculpe. –eu digo me aproximando.

Ela parece se assustar, mas logo se recompõe. Olha para mim gentilmente e sorri. Retribuo de imediato.

–Não precisa se desculpar. Está tudo bem. Por que demoraram?

–Eu vou sair passear com a tia Stella.

Lindsay olha para Lucy.

–Quem deixou você sair?

–Ah, mamãe. Por favor, deixa?! Eu quero muito sair com a titia.

–Hum, deixa eu ver... Claro que pode, meu amor.

Como ela consegue ser tão linda? Aquela voz doce conversando com sua filha... Isso me deixa perdida em pensamentos.

–EBAA! Obrigada, mamãe.

Lucy dá um beijo em sua mãe e corre até mim.

–Vamos, tia Stella?

–Claro, meu amor.

Olho para Lindsay. Ela parece gostar do entusiasmo de Lucy. Por que não convidá-la para ir conosco, não é mesmo? É uma boa maneira de nos conhecermos. Podemos ser amigas... Ou mais! PARE, STELLA! Você é uma mulher muito bem casada.

–Não gostaria de vir conosco, Lindsay?

Ela parece pensar por um momento. Seu celular toca.

–Só um momentinho.

–Claro.

Ela atende o celular. Depois de alguns segundos ao telefone, ela desliga e olha para mim. Que olhos lindos.

–Eu gostaria muito de ir, Stella. Mas eu tenho um compromisso agorinha mesmo.

Merda. Bosta. Porra. Todos os palavrões desse mundo. Que raiva que eu fiquei agora. Vamos disfarçar, não é? Ninguém precisa saber que você ficou puta da vida. Sorrio.

–Claro. Outro dia, talvez. Lucy sabe o caminho de casa, certo?

–Sabe sim.

–Eu levo ela de noite, okay? Não se preocupe.

–Okay, obrigada, Stella. Até mais.

Ela sorri e manda um beijo para a filha. Depois que ela some de vista, olho para Lucy e sorrio.

–E aí, pequena, vamos?

–VAMOOOS!

Rimos. Seguro sua mão e, correndo, vamos para meu carro. Abro a porta de trás para Lucy e coloco o sinto nela. Fecho a porta e vou para o banco do motorista. Ligo o rádio.

–De que música você gosta, Lucy?

Esperava ouvir Galinha Pintadinha, ou Xuxa... Mas sua resposta me surpreende.

–Gosto de Bon Jovi.

–BON JOVI?

Ela ri.

–Sim, tia. Minha música preferida dele é Because We Can.

–Sério, pequena? É minha música preferida dele também. Eu amo Bon Jovi!

–Que legaaaal.

Sorrio. Pego o meu cd Because We Can e o coloco.

–Vamos cantar, Lucy?

–Vamos.

–I don't wanna be another wave in the ocean

I am the rock, not just another grain of sand

I wanna be the one you run to

When you need a shoulder

I ain't no soldier

But I'm here to take a stand

BECAUSE WE CAN!

Nós rimos ao gritar a última frase da música. Nunca cantei tão alegremente Bon Jovi com alguém. Chegamos ao nosso destino.

–É aqui, Lucy.

–Aqui? Sério?

–Sim, por quê? Não gosta daqui?

–Não é isso... É que essa é a padaria preferida da minha mãe. Ela me traz aqui todo final de semana pra comer bolo.

–É mesmo?

Ah, que legal. Eu e Lindsay temos o mesmo gosto. Acho que podemos ser boas amigas mesmo. Até agora, tudo ocorreu bem!

–Sim. Nós sempre pedimos...

–Não vai me dizer que vocês pedem bolo de morango e chocolate?

–Na verdade só o de morango. Você pede os dois?

–Sim, sim. Gosto de misturar.

–Fica gostoso?

–Sim. Vou pedir pra gente hoje, okay?

–Tá bom.

Saio do carro e vou pegar Lucy. Tranco o carro e, juntas, entramos na padaria. Peço para que ela escolha uma mesa enquanto eu faço os pedidos. Ela assente com a cabeça. Depois que faço os pedidos, procuro Lucy e vou me sentar ao seu lado.

–Ótimo lugar, querida.

–Você gostou, tia Stella?

–Adorei.

Conversamos um pouco sobre a escola. Ela parece muito feliz em estar aqui. Os bolos chegam, junto com dois copos de limonada. Agradeço o garçom e ele sorri, logo depois, se retira. Olho para Lucy e depois corto um pedaço de cada bolo.

–Abra a boca e feche os olhos, Lucy.

–Tá bom, tia.

Ela faz o que peço e eu coloco um pedaço de cada bolo em sua boca. Ela começa a mastigar e abre os olhos.

–É muito gostoso, tia. Minha mãe vai adorar.

Eu sorrio.

–O que você acha de virmos aqui, nós três, amanhã?

–Acho ótimo. Queria que você fosse minha mamãe também.

What the fuck? Como assim: Queria que você fosse minha mãe também? Eu não posso ser mãe da Lucy. Eu sou casada, acho que ela é também. Isso fica voando em minha mente. Imagino eu e Lindsay juntas, cuidando de Lucy. Como seria? Uma coisa eu sei... Seria maravilhoso!

–Como assim, Lucy?

–É que meu papai não fica muito em casa. Acho que seria mais legal ter duas mamães. Você não quer casar com minha mamãe?

Fico paralisada. O que dizer para essa menininha tão linda? Que eu não quero casar com a mãe dela? O que é mentira. Okay, eu confesso... Acho que estou apaixonada por Lindsay. Não sei se é paixão, pois nunca senti nada por mulher alguma. É estranho definir, entende? Nunca me relacionei com mulher alguma. Tenho que dar uma resposta para Lucy... Mas qual?

–Olha, Lucy...

Meu celular toca. OBRIGADA, SENHOR!

–Só um momentinho, Lucy.

Ela afirma com a cabeça e volta a comer os bolos. Olho no visor do celular. Putz... Esqueci de avisar Mac que chegaria mais tarde hoje. É ele. Tenho certeza que vai me dar uma puta de uma bronca. Resolvo atender.

Ligação On.

Stella: Oi, querido.

Mac: Oi, amor. Onde você está? Por que não veio pra casa ainda? Aconteceu algo?

Stella: Acalme-se, querido. Desculpe não te avisar... É que eu resolvi sair passear com uma nova amiga.

Mac: Nova amiga? Sua amiga é mais importante que eu? Sério, Stell? Está indo para a balada?

Eu rio. Percebo que ele fica confuso no outro lado da linha.

Stella: Mac, querido... Ela é minha aluna. Resolvi levar uma menininha de sete anos para comer um bolo aqui na minha padaria.

É incrível como eu falo que o que eu gosto é meu, inclusive a padaria.

Mac: Ah...

Stella: Quer vir? Eu e ela acabamos de começar a comer o bolo. Posso pedir algum salgado pra você, já que eu sei que você não gosta de doce.

Mac: Okay, estou indo. Quero conhecer sua amiga nova.

Stella: Estamos esperando.

Ligação Off

–Por que você chamou ele de querido, tia Stella?

–É que ele é meu marido, querida.

Percebo que ela fica chateada com a notícia. Ela falou com os olhinhos marejados.

–Oh, meu anjo. Desculpe a titia?

–Eu queria que você casasse com minha mamãe.

Eu tento fazê-la sorrir, porém ela abaixa a cabeça e chora. Pego-a no colo e faço carinho em seus cabelos macios.

–Não chore, querida. Quem sabe um dia, né?

O QUE EU DISSE? Ela levanta toda sorridente.

–Você vai se casar com minha mamãe então?

–Não sei, querida. Vou pensar, tá bom?

Ela assente com a cabeça novamente.

–Meu marido está vindo te conhecer. Não brigue com ele, está bem? Ele é muito legal.

–Mas ele é seu marido, mamãe.

Mamãe. Ela me chamou de Mamãe.