Anos Antes

As folhas das árvores balançavam a cada gota de chuva que as atingia, atravessava-as e saltava para a calçada; outras gotas, ainda mais ousadas, caiam direto para o asfalto e se espalhavam, juntando-se com outras que por ali caíram, seguidas de várias e várias outras, enquanto a quieta tempestade seguia. O vento agitava as folhas e galhos das árvores, no entanto, mantinha-se quieto como um predador observando a presa.

A rua era deserta, nem uma alma viva se aventurava a sair na tempestade... Ou quase nenhuma.

Protegida por toldos de uma loja, a figura trajando um longo capuz, seguia pelo famoso caminho do rato, aproveitando as beiradas, mantendo-se seca. Não é como se fosse fazer grande diferença, não para ela, uma gripe não seria nada demais. Mas, talvez, para as duas vidas na sexta que ela carregava, seria algo muito perigoso.

Havia uma luz acesa, na porta de um prédio, a figura de capuz longo, só tinha metade do rosto aparecendo, ela apressou-se e levou a cesta até a porta do prédio, tocou a campainha e correu o mais rápido que podia para longe dali, logo, sumindo na escuridão.

Após algum tempo, a porta do prédio foi aberta. Um rosto surgiu e avistou a cesta, logo, procurou nos arredores, buscando por alguém que pudesse ter deixado aquilo ali. Não encontrou alguém, olhou para a cesta e viu dois bebês, envoltos no mesmo tecido rosa.

A mulher de pé na porta hesitou, torceu o nariz e ponderou por alguns instantes. Sorriu, então pegou a cesta e levou para dentro, fechando a porta atrás de si.