O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 24
O voto que pode te mandar embora daqui


Notas iniciais do capítulo

É chegado o momento do oitavo conselho dos desbravadores. Um acontecimento que com certeza deixará uma enorme ferida no coração do grupo Lua. Enquanto isso, uma visita inesperada no grupo Sol promete abalar as estruturas de todo o jogo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/584064/chapter/24

Nas últimas meia hora antes do conselho começar, Duda resolveu falar com Janjão, que, mesmo tendo se afastado do "grupinho do mal" que se formou no grupo Lua, ainda era seu aliado no jogo.

— Tá ocupado? - perguntou Duda ao ver Janjão sentado ao redor da fogueira.

— Tô não. Senta aí - Janjão respondeu, olhando fixo para o fogo.

— Eu tô completamente ferrado. E você provavelmente já sabe disso - Duda tentava mirar nos olhos do amigo, mas não obteve sucesso.

— É, eu fiquei sabendo. Mas não se preocupa que eu não vou votar em você. Ainda tem muita gente aqui que eu quero que saia.

— Ah é? - Duda disse, espantado - Tipo quem, por exemplo?

— Tipo o Mosca, a Pata, a Vivi… Eles tão enchendo o saco com esse lance de casal e eu acho isso nada a ver - falou Janjão, com cara de quem estava escondendo alguma coisa.

— Hm… E por acaso tem alguém daqui que você tá gostando ou…

— Nem. Você tá maluco? - interrompeu Janjão - Eu só acho que existem outros motivos pra eliminar alguém.

— Tipo quais? - perguntou Duda, entusiasmado.

— Tipo querer mandar no voto de todo mundo.

— Ah, sim. Eu concordo com você. Isso é bem típico da Pata e do Mosca. E olha que eu tive que conviver com a Pata durante um bom tempo no Grupo Ar. Só eu sei o quanto aquela menina é chata - disse Duda, lembrando dos momentos ruins que passou no seu antigo grupo.

— Pode crer. Mas e você, vai votar em quem hoje? - perguntou Janjão, ainda sem tirar os olhos da fogueira.

— Provavelmente na Marian. Acho que a única forma de me manter no jogo é votando nela, já que não dá pra saber em quem os outros vão votar - Duda suspirou desiludido.

Janjão sabia que o plano do grupo Lua era eliminar Duda, mas por consideração à Bia e aos outros, decidiu ficar calado. O que ele menos queria era receber fama de traidor outra vez.

— Você tá certo. E eu acho que ela deve votar em você também, pelo mesmo motivo. Espero que a decisão seja justa, pelo menos.

— É… Justo não vai ser porque ela tem o colar, mas eu posso pelo menos tentar né. Vai que ela não usa - disse Duda, quase sem esperanças. Pelo que tudo indicava, era ele quem abandonaria o jogo naquela tarde.

— Eu só te digo uma coisa - Janjão olhou nos olhos do amigo pela primeira vez durante a conversa - Toma cuidado com essa garota. Ela sempre parece ter uma carta na manga mas, um dia, essa carta pode ser você.

Duda demorou um tempo pra digerir o que tinha acabado de ouvir. Era muito difícil, pra ele, se voltar contra a única pessoa que parecia se importar com ele em toda a competição, tirando Cris. Depois de alguns minutos contemplando o fogo, o barulho dos outros se arrumando para o conselho o fez perceber que a hora tinha chegado. Janjão levantou primeiro, completamente curado da perna quebrada, e seguiu em direção à barraca dos meninos. Antes que Duda pudesse fazer o mesmo, Marian se aproximou, sorrateiramente, e sentou ao seu lado.

— E então, o que ele disse? - Marian perguntou, se certificando de que não tinha ninguém prestando atenção na conversa dos dois.

— Ele ainda não sabe em quem vai votar, mas tá em dúvida entre o Mosca, a Pata e a Vivi - Duda respondeu com cuidado pra não ser ouvido.

— Ok. Agora, pelo amor de Deus, vê se não fala nenhuma besteira lá na hora, que talvez a gente ainda tenha uma saída - as pernas de Marian estavam tremendo.

— Mas o que você pretende fazer, afinal?

— Não sei. Mas eu tô disposta a tentar de tudo - ela falou e saiu apressada.

— Marian, espera! Pra onde você vai?

A menina se juntou aos outros e juntos seguiram para o conselho. Duda levantou devagar, ainda muito confuso com tudo que tinha acontecido naquele dia, e caminhou para o que provavelmente seria o seu fim.

A recepção foi a mesma de sempre. Bárbara esperava os integrantes do grupo Lua no centro do local, de frente para a arquibancada onde eles sentariam. Quando eles chegaram, o clima de tensão só aumentou, e a mulher ali parada não poderia estar mais contente com a situação.

— Então, pessoal, quem quer começar me explicando o que está em jogo aqui, hoje? - perguntou Bárbara dando início ao debate.

— Pode ser eu - falou Marian, erguendo o braço.

Por conta de sua trajetória controversa e de sua fama como manipuladora e calculista, todos estavam com medo do que Marian tinha pra falar. Bárbara fez um sinal com a cabeça e ela prosseguiu.

— Eu acho que hoje pode ser o dia mais importante de todo o jogo, principalmente pra aqueles que se sentem fracos e oprimidos, assim como eu - Marian fez uma pausa pra limpar a garganta - Todos aqui querem chegar o mais longe possível na competição, e essa é a hora certa pra eliminar os mais fortes. Os que mandam em todo mundo. Os grandes controladores. Hoje é um dia especial porque nós descobrimos que tem alguém entre nós que escondeu um grande segredo de todo mundo. Alguém que com certeza vai ganhar se a gente não aproveitar esse momento pra tirar ele. E pra quem não sabe, eu tô falando do Duda.

— O quê?! - exclamou Duda, chocado com o que tinha acabado de ouvir.

Todos estavam surpresos com as palavras de Marian. Principalmente porque até então ela era a maior aliada de Duda no grupo Lua.

— Eu acho que ninguém aqui é burro pra não entender que eu tô realmente sendo sincera. Vai chegar uma hora que as provas vão ficar mais difíceis. E ele sempre vai se dar bem em todas elas - continuou Marian.

— Gente! - interrompeu Bia - Não vamos cair na estratégia dela. Ou vocês esqueceram que ela tem um colar de imunidade. Ela foi capaz de enganar todo mundo e procurar sozinha pelo colar no meio da floresta escura. Uma pessoas dessas é capaz de qualquer coisa.

— É verdade, Marian - completou Mosca. - Do jeito que você tá falando, parece até que você tá querendo que a gente vote no Duda só pra não ter que usar o colar hoje.

— Mas eu juro que não achei colar nenhum. Vocês só podem ter implicância comigo! - Marian estava agora com os olhos cheios d’água - Será que niguém aqui percebe que o grupo Lua não vai existir pra sempre e que mais cedo ou mais tarde o Duda e a Cris vão ficar juntos? A coitadinha e o injustiçado. E depois disso eles vão eliminar a gente, um por um, até chegarem na final, rindo da nossa cara.

— Cala a boca, Marian! - gritou Duda, ainda sem entender porque ela tinha se voltado contra ele sem mais nem menos.

— Calma, pessoal - disse Bárbara, com a voz doce e tranquila. - Nós ainda temos muita coisa pra discutir essa noite, como por exemplo quem foi o responsável pela derrota de vocês.

— Ah, essa pode deixar que eu respondo - falou Pata, levantando a voz - Sem dúvida nenhuma foi a fresca da Vivi que demorou um século pra beber metade daquele suco que até a Maria conseguiria beber em menos tempo.

— Eeei! Não coloque o meu nome na história que nem dessa prova eu participei - reclamou Maria.

— Sabe, Pata, eu já tô de saco cheio de você me chamando de fresca o tempo todo - disse Vivi, completamente exaltada - Eu acho que você deveria…

— Ei, ei, ei! - gritou Mosca, impedindo que a discussão se prolongasse - Vocês duas parem com essa discussão boba já! Eu preciso que todo mundo faça o que foi combinado hoje mais cedo. Se a gente se voltar um contra o outro, a Marian e o Duda vão ficar e um de nós vai sair!

— Silêncio, que agora eu vou falar - disse Janjão, despertando a curiosidade de todos - Eu concordo com a Marian de que hoje é um dia pra pensar em eliminar quem mais quer mandar no grupo. O Mosca por exemplo, fica o tempo todo querendo decidir em quem cada um tem que votar. Isso sim deveria ser levado em consideração, e não o romance do Duda com a Cris, que não tem nada a ver com o jogo.

Nesse momento, Marian olhou pra Duda e fez um sinal com a cabeça. Ele retribuiu com um gesto de que não estava entendendo nada, e ela, ao invés de tentar lhe explicar alguma coisa, voltou a prestar atenção na nova discussão que havia se formado.

— Ah, tá. E quem é você pra me chamar de mandão? - Mosca precisou ser segurado por Pata pra não avançar em Janjão - Você nunca foi com a cara de ninguém do orfanato e agora quer dar uma de bonzinho? Faça-me o favor!

— Ok, gente. Acho que eu já entendi o que está acontecendo nessa equipe. Agora tá na hora de vocês irem votar. Um a um, naquela urna, - Bárbara apontou para a urna, distante de onde estavam sentados -  coloquem o voto de vocês rapidamente, que nós ainda temos algo importante pra decidir, após a eliminação.

— O quê? Como assim, algo importante? - perguntou Tati, porém nada mais foi dito.

Em seguida, Mosca chamou seus aliados pra junto de si, um segundo antes da votação. Bia pegou Janjão pelo braço, para que ele também se juntasse aos outros, mas foi impedida por Mosca, no caminho.

— Ele não - disse Mosca, olhando sério para o rosto de Bia.

Ela fez um sinal de reprovação mas mesmo assim decidiu seguir os outros. Janjão ficou pra trás junto com Marian e Duda. Diante deles, uma aliança se mostrava bastante sólida. Mosca, Pata, Vivi, Tati, Maria e Bia.

— Não importa o que aconteça, sigam com o nosso combinado. Mais tarde no acampamento a gente resolve todos os nosso problemas juntos. O importante é que um deles saia hoje, e nada mais - disse Mosca olhando para os três renegados, sentados na arquibancada.

— Gente, - interveio Bárbara - aqui não é mais o momento de se reunir. Vocês tiveram a tarde inteira pra fazer isso. Agora podem começar a votação. Mosca, você é o primeiro.

Todos foram para o seus devidos lugares, enquanto Mosca se dirigia para a urna. "Eu só espero que nada dê errado hoje," - pensou, enquanto escrevia o nome de Duda em um pedaço de papel.

O acampamento do grupo Sol estava reunido ao redor da fogueira, se aquecendo e preparando o jantar, quando foram surpreendidos por uma visita inusitada.

— Tcharan! - gritou o homem, surgindo das sombras.

— Cleber!? - exclamou Dani, observando a estranha criatura se aproximando.

— Isso mesmo. Euzinho! - Cleber parecia empolgado com alguma coisa - Eu vim aqui a pedido da Bárbara para um tarefa muito importante.

— Que tarefa? - perguntou Binho, sem saber o que estava por vir.

— Eu preciso de dois voluntários pra vir comigo - a voz de Cléber revelava um certo suspense quanto ao real motivo de sua presença ali.

— Ir com você? Mas pra onde? - perguntou Neco, com medo do homem de pé ao seu lado.

— Seja o que for, eu tô dentro - disse Janu, levantando apressada. Sua intuição dizia que aquele convite poderia estar relacionado com alguma vantagem no jogo.

— Ah, se a Janu vai, eu também quero ir - falou André, levantando em seguida.

— Eeeei! Quem disse que são vocês dois que vão com ele, posso saber? - reclamou Dani, irritada com a decisão repentina dos dois.

— Sinto muito, garotinha, mas eles pediram primeiro - alertou Cléber, voltando para as sombras e levando Janu e André com eles.

— Segura as pontas aí, Bel, que a gente volta já - disse Janu, dando um rápido abraço na amiga.

Por não ter tido coragem de revelar pra Janu sobre ter votado nela no último conselho, Bel ficou imóvel e nem sequer a cumprimentou de volta. Tudo o que ela mais queria era que Janu e André ficassem longe para que ela pudesse lidar com as suas escolhas e recomeçar seu jogo do zero.

— Tomara que seja algo ruim -  disse Dani ao ver que os três tinham desaparecido nas sombras. Ao seu redor, todos tinham voltado a preparar o jantar, imaginando o que estaria prestes a acontecer.

— Ok, eu já tenho todos os votos aqui na urna. Como de costume, antes de revelá-los, eu preciso perguntar se alguém aqui tem o colar de imunidade e quer usar agora, nesse conselho.

Todo mundo olhou diretamente para Marian, torcendo para ela usar o colar. Bia cruzou os dedos e começou a sorrir, ao ver as mãos da menina procurando algo numa bolsa qualquer.

— Um segundo, Bárbara - disse Marian, procurando o colar dentro da bolsa. - Eu tenho uma surpresinha aqui comigo.

Pata e Mosca comemoravam sem fazer barulho, satisfeitos ao verem que o plano estava dando certo. Vivi abraçou a irmã, enquanto Bia e Janjão sorriam um pro outro. Maria, por outro lado, estava tensa, imaginando que, quando se tratava da Marian, tudo poderia acontecer.

"Eu tô completamente ferrado," - pensou Duda, levando as mãos ao rosto em sinal de desespero.

— Aqui! - exclamou Marian, tirando um colar cheio de terra, de dentro da bolsa.

— É - Bárbara falou, contente por estar vendo o segundo colar de imunidade a ser usado na competição - De fato, esse é um colar de imunidade. Então, estejam todos avisados que nenhum voto…

— Peraí! - Marian estava tremendo da cabeça aos pés, com medo de estar fazendo a escolha errada. - Eu não disse que esse colar é pra mim.

A menina se levantou, segurando o colar nas mãos e passou por todo mundo até chegar onde Duda estava.

— Isso é pra você - ela falou, limpando a terra que tinha restado - Anda, coloca logo!

— O quê? Pra mim? - perguntou Duda, sem a menor ideia do que estava acontecendo.

— Exatamente. Agora fica quieto que a Bárbara vai ler os votos - ao colocar o colar em volta do pescoço de Duda, Marian sentou ao lado dele, reparando no olhar incrédulo de todos os seus colegas de grupo.

— Isso vale? - perguntou Pata, esperando que Bárbara tomasse alguma providência.

— Mas é claro que vale. O colar é dela e ela pode dar pra quem ela quiser - Bárbara mal conseguia se conter de tanto entusiasmo - Bem, como vocês podem ver, nenhum voto no Duda estará valendo, essa noite. Para todos os outros, a regra continua a mesma. Agora sim eu posso começar a contagem dos votos.

Duda respirou aliviado pela primeira vez naquele dia. Com o colar em volta do pescoço, ninguém poderia eliminá-lo. A única dificuldade era conseguir entender o raciocínio de Marian, e novamente veio em sua cabeça a ideia de que ela poderia estar sentindo algo a mais por ele.

— Primeiro voto... Duda. Descartado - disse Bárbara, rasgando o papel no meio.

— Relaxa - disse Mosca abraçando Pata, que estava começando a ficar preocupada. - Se todo mundo tiver feito como a gente combinou, a Marian acabou de cometer o maior erro da vida dela.

— Segundo voto... Duda. Descartado. Terceiro voto... Duda. Descartado - Bárbara continuava rasgando os papéis que continham o nome de Duda.

— Você acha que ela vai conseguir escapar? - Perguntou Bia para Janjão.

— Eu não sei de mais nada - ele respondeu, imaginando que algo muito errado poderia estar pra acontecer.

— Quarto voto... Duda. Descartado. Por enquanto ainda não temos nenhum voto válido para a contagem.

— Hã? - Gritou Pata, sem entender porque Duda tinha recebido quatro votos ao invés de três.

— Quinto voto... Marian.

— Você tá maluca? Por que você me deu esse troço? - perguntou Duda para Marain, apontando para o colar no seu pescoço.

Marian, por sua vez, permanecia concentrada na voz de Bárbara. Talvez aqueles fossem seus últimos momentos na competição.

— Sexto voto… Mosca.

Mosca encarou fundo os olhos de Janjão, imaginando que teria sido ele que escreveu seu nome. Enquanto isso, Maria ainda estava intrigada com o fato de Duda ter recibo quatro, ao invés de três votos. Aquilo poderia arruinar completamente o seu plano.

— Sétimo voto… Marian. Dois votos pra Marian, um pro Mosca. Restam apenas dois votos na urna - disse Bárbara, buscando o próximo papel a ser lido.

— Vivi,  tá tudo bem? - perguntou Tati, ao perceber que a irmã estava suando frio.

— Talvez eu tenha estragado tudo - Vivi respondeu, em um tom fúnebre.

— Oitavo voto… Mosca. Marian e Mosca estão empatados e faltam apenas um voto na urna - revelou Bárbara, reparando na cara de pavor de todos os integrantes do grupo Lua.

— Como assim? Quem mais poderia ter votado em mim? - perguntou Mosca, procurando pistas no rosto de cada um ali.

— Acho que a gente conseguiu - Marian falou, olhando firme para Duda.

— Falta um voto ainda. O voto que pode te mandar embora daqui - ele comentou, reparando que ela aparentava não estar com medo.

— Nono e último voto… Ual! - Bárbara não conseguiu conter o espanto.

— Fala logo! - gritou Bia, ansiosa.

— O oitavo eliminado da competição é você… Mosca. São três votos pra você, dois pra Marian e quatro descartados. Não resta dúvidas de que você foi o escolhido de hoje - falou Bárbara, sorridente, como se aquele momento tivesse valido todo o esforço pra continuar buscando o Último Desbravador do Leste.

— Como assim? Só pode ter havido algum engano! - gritou Pata, inconformada - A gente tinha combinado que seriam três votos no Duda e três na Marian. Quem foi o traidor?

— Desculpa, gente, eu achei que a Marian também ia votar no Duda, aí eu… - Vivi estava agora aos prantos.

— Eu juro que não tô acreditando que você caiu no papo dessa cobra! - os olhos de Pata estavam vermelhos de raiva - Como você é burra, menina! E por sua culpa o meu irmão agora vai…

— Agora já era - disse Mosca, segurando no braço da irmã. - Só nos resta aceitar que a Marian conseguiu o que queria, outra vez.

— Você votou no Mosca? - perguntou Bia, cravando os olhos em Janjão.

— Foi, mas eu juro que não sabia que eles também iam… - Janjão estava sem palavras. De repente, todo o esforço que fez pra provar que não fazia mais parte do grupinho da Marian pareceu ter ido por água abaixo.

— Você falou pra ela em quem ia votar? - Bia peguntou, sem saber se podia confiar em Janjão.

— Não. Mas eu comentei algumas coisas com o Duda. E depois da minha discussão com o Mosca, talvez os dois tenham assumido que eu ia votar nele. Mas eu juro que não combinei voto com ninguém - o menino estava desesperado - Por favor, você precisa confiar em mim. Eu tô falando a verdade!

Bia virou o rosto e se levantou para dar um abraço de despedida em Mosca. Janjão baixou a cabeça, pensativo, e chegou a conclusão de que Duda era tão interesseiro quanto Marian. E mais do que nunca se sentiu completamente sozinho naquela floresta.

— Você se saiu muito bem - disse Marian sorrindo e abraçando Duda.

— É, mas eu não gostei nada nada das coisas que você falou assim que a gente chegou aqui. Sobre eu e a Cris e tudo mais - comentou Duda, tentando se afastar dela.

— Nossa, como você é mal agradecido - Marian se levantou e foi até onde Mosca estava.

— Espero que você entenda que não foi nada pessoal - ela falou, recebendo os olhares furiosos de todos que estavam em volta dele.

— Eu tenho nojo de gente como você, garota, que manipula todo mundo pra conseguir o que quer - falou Mosca, enquanto caminhava em direção à saída.

Vivi permanecia chorando na arquibancada, imaginando que, se não tivesse caído na conversa da Marian, o Mosca ainda estaria no jogo. Agora nenhum dos seus amigos queria estar perto dela, nem mesmo sua própria irmã.

— Eu preciso que todo mundo volte pro seu lugar - disse Bárbara logo após Mosca ter indo embora - que eu ainda tenho uma pequena surpresa pra vocês.

Ninguém estava animado pra surpresa alguma, mas como não tinham escolha, obedeceram a ordem e voltaram a se sentar.

— Eu estou à procura de dois voluntários pra ficar de pé aqui do meu lado. De preferência, duas pessoas corajosas e dispostas a mudar o jogo completamente.

Duda se levantou imediatamente e se posicionou ao lado de Bárbara. Depois de tanta manipulação e jogo sujo, o que ele menos queria era permanecer próximo de Marian. Janjão também se sentiu tentado a levantar, mas seu instinto não permitiu, já que as coisas com Bia não estavam nada bem.

— Então, ninguém mais se habilita? - perguntou Bárbara, alegre e sorridente como sempre.

Foi então que Vivi, sem dizer uma palavra, levantou e ficou ao lado de Duda. De seus olhos ainda caíam algumas lágrimas, e mesmo assim ninguém parecia se compadecer com o seu sofrimento.

— Ótimo. Duda e Vivi, eu quero que vocês sigam por aquele caminho - a mulher apontou para um pequeno espaço entre duas árvores - O Cléber vai estar esperando vocês lá.

Os dois fizeram o que havia sido dito, mesmo sem saber o que iria acontecer em seguida. Do lugar por onde saíram, dois novos rostos, bastante conhecidos por todos, adentraram o local, igualmente sem terem a mínima noção do que estava acontecendo.

— Pois, bem. Esses são os seus novos colegas de equipe, Janu e André - disse Bárbara, apontando para os recém-chegados - Agora sim vocês podem voltar para o acampamento e aproveitar o resto da noite para se adaptarem à nova formação do grupo Lua.

— Ué, e pra onde foi a minha irmã e o Duda? - perguntou Tati, preocupada.

— Agora eles fazem parte do grupo Sol - respondeu Bárbara, imaginando o impacto que aquela mudança iria causar nas estratégias de cada um - Como vocês podem perceber, a partir de agora se inicia uma nova etapa no jogo. Tenham todos uma boa noite e até a próxima prova.

As crianças estavam chocadas com a reviravolta e em seus rostos dava pra ver que ninguém aceitou bem a chegada de Janu e André no grupo Lua. Além disso, Mosca, um dos integrantes mais fortes e influentes da equipe, e talvez até de toda a competição, tinha acabado de ser eliminado, e aquilo com certeza traria um novo rumo para o jogo.

Enquanto abriam caminho no meio da escuridão, uma estrela incomum brilhava no meio do céu, lamentando a queda dos guerreiros que já ficaram pra trás, mas, acima de tudo, renovando a energia daqueles que permaneciam ali e que estavam dispostos a lutar por uma vaga na grande final. Eles eram vinte e quatro quando chegaram, agora restavam dezesseis. E em pouco tempo seriam menos ainda. Bem pouco tempo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi seus fofos. Antes de mais nada eu queria sugerir, caso alguém não tenha entendido o que aconteceu na votação, que vocês dêem uma lida na parte final do capítulo 23, onde a Marian conversa com a Vivi. E se rolar alguma dúvida, podem me perguntar!

Eu não sei quando vai sair o prox, vcs tão muito quietos. Me avisem se ainda estiverem gostando pls.

Até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Último Desbravador do Leste" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.