O Relógio escrita por aneurysm


Capítulo 5
A confissão




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Após deixar os homens no Rio, nós voltamos ao barco e descemos à costa até minha cidade, ao chegarmos estavam todos nos esperando, mãe pai e meu irmão, com sua mulher. Meu irmão foi o primeiro a vir me abraçar, eu aportei e ele veio correndo. Meu relacionamento com ele sempre foi muito bom, Aloysius era divertido, e extremamente sentimental, acho que por ser o mais novo, ele sempre se espelhou muito em mim, ate mesmo na profissão, que eu e meu pai o ensinamos, muito dedicado e prestativo, tinha um temperamento horrivelmente forte, mas era muito amável.
Após me abraçar ele disse: - Venha irmão, tem alguém que eu quero que você conheça.
Alice ainda estava no barco pegando suas coisas, então eu decidi apresentá-la depois e fui com ele, ele estava muito entusiasmado, e então ele nos apresentou Louise, ela parecia estar com muita vergonha, com a cabeça abaixada e os braços cruzados, ela deu um sorriso de canto de boca e eu ergui o braço para cumprimentá-la, e enquanto segurava sua mão, eu olhei para o meu irmão.
– Cara, o destino foi legal com você pelo menos desta vez - ele sorriu e disse: - Parece que com você também.
Eu tive que explicar que era só uma amiga, então eu perguntei a Al como ele tinha conhecido ela, ele disse que tinha acabado de chegar em casa e um primo nosso ligou pra ele, o chamando para ir a sua cidade pro seu casamento. Ele foi ao casamento, e durante a festa ele bebeu tanto que não conseguia enxergar as horas, então ele pediu a uma garçonete que olhasse as horas em seu relógio, que por acaso era também o seu totem, um relógio de bolso, dourado, com desenhos abstratos nas bordas, e quando ela viu o relógio ela o abraçou. Aloysius contou que só entendeu o que estava acontecendo quando ela tirou do bolso um relógio idêntico ao dele, e que depois disso ele só lembra de então ele a levou pra casa, conversou com os pais dela, explicando sobre o trabalho dela e o porquê ela teria que vir com ele. Ela veio e aqui estávamos nós, todos ouvindo essa hilariante história, infelizmente eu me arrependi muito de ter perguntado por que eu não conseguia me esquecer de Francesco e Angélika.
Aloysius me perguntou como eu havia conhecido Alice, e eu comecei a contar das minhas férias no norte, e os amigos que eu fiz, sobre como ela veio trabalhar pra mim, e como nos tornamos tão amigos.
Após essa calorosa recepção, nos ajeitamos e descansamos. No outro dia estávamos prontos para aproveitar as férias, então convidei Alice para uma caminhada, eu a levei a uma cachoeira que tinha perto de casa, em um bosque, era calmo e excelente para uma boa coversa e um banho gelado. Chegando lá, Alice ficou encantada com a vegetação, disse nunca ter visto algo tão bonito, e que o clima gélido da Rússia não a permitia uma coloração tão rica, então nos sentamos e começamos a conversar. Ela me fez uma pergunta complicada que foi realmente difícil de responder, ela não entendia o que havia acontecido entre eu e marco, mas que estava adorando e perguntou.
– Você vai me contar o que Marco te disse pra te convencer a assumir novamente o timão, e pra ficar tão feliz assim, porque a ultima vez que eu tinha te visto com um sorriso no rosto foi naquele restaurante em Copenhague. – comentou ela com o cenho franzido. – E desde então você se tornou outro homem, foram meses a fio de tristeza, eu não conseguia entender, mas depois de uma conversa com Marco você mudou, eu não conseguia entender. – ela olhou para a cachoeira. – Eu admito que senti até inveja dele, mas fiquei feliz por te ver sorrir novamente, e queria saber o que ele te disse, e mais, queria saber finalmente o que te deixou triste, afinal de contas algo te perturbou muito naquele dia em Copenhague, eu sei que tem haver com Francesco e Angelika, queria saber o que.
Foi difícil tomar coragem para respondê-la, eu fiquei olhando pra água caindo e pensando, em como eu iria dizer a ela, e se eu realmente deveria dizer a alguém, já que era algo tão difícil pra mim. Foi horrível contar a Marco, por que antes só estava na minha mente, mas quando as palavras saem da minha boca, as memórias são duras e tristes, e me machucam muito porque trazem as lembranças que eu gostaria que sumissem da minha cabeça.
Porém eu não conseguia não confiar nela, eu sabia que contar a ela não seria ruim, eu conseguia ver a verdade no rosto dela, era fácil acreditar em Alice. Então eu contei, eu disse tudo, desde o que havia acontecido em Copenhague como o que Marco me disse, e ela se manteve calada, me ouvindo todo o tempo e quando eu terminei ela sorriu e eu não entendi o porquê e ela disse: - Pois eu tenho algo pra te contar também, e um pouco estranho e não sei se você vai acreditar em mim, mas e a verdade.
“Eu tinha 16 anos quando recebi o meu totem, um colar, que tinha coisas escritas em russo dizendo, ‘o amor pertence a quem luta por ele’, eu nunca entendi o que aquilo queria dizer, mas ainda assim eu o usava como qualquer outra pessoa. Um dia eu estava sentada no banco do colégio, quando um rapaz sentou do meu lado e disse, você vai lutar por nós? Eu me espantei, olhei para o lado e o vi sentado, com um colar idêntico ao meu, com a mesma frase, eu nunca me senti tão feliz, naquele momento eu me senti completa, nada mais me faltava. E eu era só uma criança, eu tinha dezesseis anos, foi incrível, a gente ficou conversando por horas aprendendo sobre um ao outro, mas algo estava errado, no começo eu achei tão interessante, mas não a pessoa, e sim a situação. Eu estava cega pelo que estava acontecendo, mas depois de um tempo de ouvir ele falando eu comecei a achar a conversa muito chata na verdade, mas o destino não errava, então, eu comecei a imaginar que só podia ser coisa da minha cabeça, que não faria sentido não gostar dele, então resolvemos ir até a minha casa contar aos meus pais, afinal era importante, ao chegarmos à alegria nos olhos do meu pai era fascinante, eu não via ele tão feliz há anos, e ele sentou junto com a gente e começou a conversar. Perguntar sobre ele, como ele era o que fazia o que queria ser, e depois dessa longa conversa começamos a falar sobre o que queríamos da vida, sobre o que faríamos agora, mas eu estava assustada sobre achar ele chato.
“Então decidi que continuaria com meus pais, ate terminar o colégio, ele era três anos mais velho e já estava acabando a faculdade, seria o tempo deu terminar o colégio e ele a faculdade e ai construiríamos um lar. Mas o tempo foi passando e, quanto mais passava mais irritante ele se tornava, e eu insistia, eu queria gostar dele, mas algo dentro de mim não deixava, até que nos formamos, ele arrumou um emprego e nos alugamos uma casa. Nos casamos, e fomos morar juntos, mas com o tempo tudo só piorava, ele começou a ser agressivo, e difícil de lidar, e passou a beber, beber muito. Acho que ele estava percebendo meu desagrado por ele e isso só piorava as coisas, mas quanto mais o tempo passava menos eu gostava. Até que um dia ele começou a abusar fisicamente de mim, e me espancar, eu entrei em desespero, sem saber o que fazer, eu nunca tinha. Ouvido nada sobre alguém que não tenha dado certo com seu parceiro, alguém que tivesse tido dificuldades de relacionamento, ainda mais nesse nível, eu estava assustada, e em noite em que ele chegou extremamente bêbado eu fugi, fui pra casa, e contei tudo ao meu pai. Ele estava tão surpreso quanto eu, até porque ele nunca tinha ouvido falar desse tipo de abuso, nem de pessoas que não dessem certo com seus parceiros, e o mundo se tornou cinza nesse momento. Eu não encontraria respostas, então eu decidi ser a minha própria resposta, eu não poderia viver daquele jeito, eu peguei tudo que eu pude enquanto ele dormia, roubei todo o dinheiro que ele tinha guardado, joguei o meu totem fora, e peguei um trem pra Varsóvia. Lá eu encontrei o pessoal, e fiquei com eles enquanto fazia sentido, até encontrar você, e essa e minha historia. Eu estou tão na merda quanto você meu amigo, mas pra você ainda há esperança.”
Eu juro que fiquei completamente pasmo, eu não sabia o que dizer, ela simplesmente pegou toda a minha triste história de vida jogou no chão e me mostrou que eu não tinha nem em um pequeno momento chegado perto de sofrer de verdade. Naquele momento a única coisa que eu pensava era, como ela pôde aguentar, se saber que nunca será amado e ruim, imagina encontrar o amor e descobrir que nem de longe era amor de verdade. Era como se o destino estivesse fudendo as pessoas de propósito, sem nenhuma razão aparente. Eu queria muito entender o que se passava na mente dela, mas eu percebi que ela me entendia mais do que qualquer um algum dia vai, e eu era o único que havia experimentado uma fração da dor que ela sentiu.


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