Se eu tivesse enviado o cartão postal que não pude enviar nesse seu aniversário, ele começaria assim:

“Tris,

eu não vou dizer “querida Tris” ou “minha amada Tris” porque você não é e nem nunca foi uma romântica incorrigível.

Ao invés disso, eu escreveria como é bom ter estado ao seu lado todo esse tempo. Como é divertido ter ouvido suas gargalhadas e ter contado piadas que às vezes não seria engraçado para mais ninguém, mas que com você eram sempre divertidas.

Eu diria como sua amizade foi importante desde o início quando pulamos juntas naquele trem e seguramos a mão uma da outra antes de encararmos pela primeira vez os veteranos da Audácia.

Também diria como eu gostava de observar o seu sorriso, e como seria legal se pudéssemos ter tido mais tempo e menos batalhas para enfrentar no nosso dia a dia. Mas a responsabilidade que tínhamos não podia ser ignorada.

Nem por isso nos distanciamos.

Eu pensaria em todos os momentos em que tivemos, em como na primeira vez que te vi, você parecia só uma Careta sem qualidades, alguém que não conseguia ser nada além de altruísta, e que por causa da minha língua afiada de um ex-membro da Franqueza, eu só te magoaria, mas que seria bom para você saber a verdade às vezes, mesmo que ela machucasse mais do que ferro quente na pele.

Eu escreveria que não sei como nos tornamos amigas, porque éramos completamente diferentes, mas então faria sentido para mim, porque geralmente os opostos se atraem, até mesmo num quesito não romântico porque, sem ofensas, eu não consigo me imaginar namorando você, Tris. É o mesmo que cometer incesto.

[Pausa para risada]

E então nesse momento eu estaria pensando em como seria o nosso futuro. Eu talvez fazendo alguma coisa legal como cuidar de pessoas com doenças mentais depois da guerra ou até mesmo pensando em cursar algo como medicina veterinária no mundo moderno. Você ajudando as pessoas do jeito que sempre fez apesar de ter um pouquinho do egoísmo da erudição em você, mas eu te perdoo, tá? Só porque te amo muito.

E aí nós moraríamos em cidades diferentes, mas nos veríamos ao menos uma vez por ano porque não seria tão longe que não pudéssemos nos visitar. Eu teria uma filha, e ela teria o seu nome e seria exatamente como você: geniosa, corajosa e um pouco altruísta. Mas eu faria ela usar a maquiagem da Mary Kay.

[Mais risadas]

Daí eu pararia pra olhar o resultado e veria como eu não consegui dizer nem um terço de como eu me sinto em relação a você. Só que se estivéssemos cara a cara, você sorriria para mim e me abraçaria, ainda um pouco tímida porque contatos físicos sempre foram um problema pra você.

E estaria tudo bem, porque nos entenderíamos assim.

Sinto sua falta, Tris. Espero que possamos nos ver logo.

Com amor,

Christina.

O cartão postal ainda está aqui na minha mão. Fico olhando para ele todos os dias, pensando se deveria ou não enviar, embora eu saiba que ele nunca chegará ao destinatário. Sinto sua falta, Tris. Todos os dias e de maneiras diferentes. Acho que a saudade nunca aplaca, mas estou cuidando do Quatro como eu prometi que faria silenciosamente durante seu funeral.

Vamos ficar bem. Então espere pela gente, que um dia nos encontramos por aí. Onde quer que você esteja.