Metamorfoseia-me escrita por Yennefer de V


Capítulo 1
Metamorfoseia-me (capítulo único)




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Satisfaça-te. Arranque do teu peito as amarguras do passado (e envenena-te com a fumaça do cigarro barato) enquanto geme que não pode pecar comigo.

Perca-te. Suma em meio ao meu corpo linear e sem seios e cheio de manchas de garota amolecada que tropeça e esbarra. Perca-te nos meus pensamentos infantis que colorem teu mundo preto-e-branco. Teu céu que já se tornou tão marcado por nuvens nubladas quanto o teu coração.

Assuma-te. Admita pecar (e que pecar lhe seja o Paraíso) e admita paixão enraivecida pelos meus monólogos monótonos sobre ser sombra de Fleur ou desejar-te para me sentir mulher apenas por tédio de uma tarde em que o sol se pôs tarde demais.

Queira-me. Tenha em mim (e comigo) uma e duas e três vezes de noites alongadas em toques e carícias proibidas. Faça-me tuas olheiras cansadas, tua garota levada por dormir de madrugada (e ignorar toque de recolher).

Possua-me. De jeito feroz ou de jeito acolhedor (que eu não conheço nenhum dos dois) e ensina-me. Ensina-me o caminho do calor humano, do toque ansioso pelo após, dos sussurros e gemidos exagerados em posse, da dança entre dois que terminam em um.

Cale-me. Beije meus lábios e faça-me para de discursar sobre os rapazes que me rondam ou os passeios matinais pelas ruas da França. Beije-me com anseio de calar meu sotaque despreparado e o modo grosseiro como discurso sobre banalidades infantis.

Acenda-me. Coloque em mim este desejo doentio que é encaixar em alguém. Atenda aos meus gracejos tolos de corpo que dança à tua frente e dentes que te sorriem de modo convidativo.

Penetre-me. Faz raspar e doer esta necessidade banal que tenho de conquistar e dominar e possuir. Parte-me ao meio sem intenção de pedir perdão.

Parta-me. Acabe com minha condição de criança e faz-me mais madura e mais experiente por tê-lo conquistado.

Trague-me. Como suga tua fumaça inquietamente por crer que lhe aliviará a dor de ser um fracasso difundido em quase herói. Seja-me. Perca-me. Usa-me. Queira-me.

Faz-me tua paranoia de não despertar para ter-me mais uma vez. Faz-me tua corriqueira inspeção de segurança em meio ao caos do mundo. Faz-me teu porto seguro e tua garota de onze anos que só quer aprender.

Acenda-me novamente. Acenda-me mais uma vez. Que nos meus olhos ardam o fogo de paixão estarrecedora que julgou jamais acender em alguém. Que eu seja a luz matinal de uma noite mal dormida. Que eu seja a chama de seu cigarro colorindo a penumbra de um quarto de sexo incessante. Que eu seja as velas que flamejam para aquecer dois corpos que se chocam sem intenção de despedida. Que a luz que se acende em mim te guie para tua nostalgia de quando era moço – respeitado, admirado e querido – e não este velhote ranzinza que só sabe dizer “não”.

Converta-me. Ao nada que é ser adulto e fadado ao esquecimento eterno pelos queridos. Ao nada que é ser julgado passo após passo de uma glória que se perdeu. Ao nada que se tornou ao escolher deitar-se comigo.

Aceite-me. Aceite-me em qualquer idade e em qualquer forma. Com meus onze anos perdidos em meninices, meus cabelos louros sem corte, meus olhos azul-anil e minha postura curva, meus vestidos sujos de lama, meus sapatos com solas gastas. Aceite-me.

Anula-me. Anula-me por completa para depois me reerguer. Como teus ossos de velhote que rangem de tão antigos e teus olhos profundos vazios de significado. Como seus dedos que tocam com medo de machucar ou teu corpo que se retrai à medida que deseja me possuir.

Acenda-me. Para que eu aqueça seus ossos frios provindos de um mundo que não acompanhei por ter nascido tarde demais.

Acenda-me.

Possuía-me. Para que encontre dentro de mim (e só assim) teu eu passado retorne ao lar.


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