O Panóptico escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 3
Livro II: Confiança




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Konrad se sentia como se tivesse passado a vida inteira fugindo e se escondendo. Ele se lembrava vagamente de um período de sua vida anterior ao dia em que descobrira ser o Avatar e conhecera Asami, período esse no qual ele vivia livre nas ruas de uma cidade cujo nome ele não se lembrava. Mas isso fora muito tempo antes.

Se o perguntassem se ele era feliz, o menino não saberia responder. Por um lado, ele conhecera muitos lugares durante as suas viagens, por outro, nunca conseguira criar laços com outras pessoas.

Quando era mais novo, ele sempre procurava pessoas da idade dele nas ruas enquanto Asami se esforçava para vender os produtos que fabricava; eles brincavam juntos por alguns dias ou, quando tinha sorte, um par de semanas e, quando achava que estava conquistando a confiança e amizade deles, Konrad precisava deixá-los. Essa rotina só se repetiu algumas poucas vezes antes do jovem Avatar decidir que aquilo só o deixava triste e nunca mais tentá-lo.

Para afastá-lo da solidão que o preenchia, Asami lhe comprou um gato coruja enquanto passavam por Ba Sing Se. Foi o primeiro gesto realmente amigável de sua protetora e, por algum tempo, o gato coruja, Qing*, era a única prova de que Asami se importava com a felicidade dele.

Infelizmente, ele teve que se desfazer de Qing não muito tempo depois, pois a vida fugindo e se escondendo a tornavam muito infeliz. Eles a deram a uma mulher idosa, que prometeu com um sorriso que tomaria conta do animal. Embora infeliz pela perda de seu companheiro, Konrad nunca se esqueceu do gesto de Asami e passou a confiar um pouco mais nela.

Mas foi apenas dois anos depois de ter conhecido Asami que eles realmente criaram um laço.

Konrad teve um terrível pesadelo, no qual um homem sem rosto o envenenava e batia nele; sua mente e seu corpo se deteriorando juntos e lentamente. Mesmo minutos após acordar, ainda havia resquícios do fantasma da dor imensurável que sentira durante o sonho.

O pequeno Avatar se esforçou para não fazer barulho, pois, nas raras vezes em que dormia, Asami tinha o sono muito leve. Ele não queria que ela o visse naquele momento de fraqueza e pensasse que ele era um Avatar indigno. Apesar de sua determinação em não se fazer ouvir, entretanto, não demorou muito tempo antes que a mulher estivesse ao lado dele, abraçando-o e lhe perguntando porque estava chorando.

Tocado pela gentileza dela, Konrad lhe contou sobre o sonho que tivera com detalhes que surpreenderam até mesmo a ele. Para sua surpresa, Asami não o afastou e o mandou voltar a dormir; ela o abraçou com ainda mais força enquanto acariciava os seus cabelos. Quando o menino finalmente se sentiu seguro o bastante para se desvencilhar do abraço, ele percebeu que o rosto da mulher também estava coberto por lágrimas.

"Por que está chorando?" Ele perguntou, confuso.

Asami afastou-se completamente, sentando no outro extremo da cama. Ela pareceu desconcertada tanto pela pergunta quanto por ter sido pega chorando, e Konrad soube que ela estava cogitando se deveria falar sobre o seu passado. Por fim, a engenheira deixou escapar um suspiro.

"Eu também tenho pesadelos com esse homem," ela falou, por fim, sem encará-lo. "Pesadelos como esse que você teve, ou completamente diferentes."

"O que isso significa?" Perguntou o menino, aproximando-se lentamente dela enquanto a olhava com curiosidade. "Quero dizer, o que significa a gente ter o mesmo sonho?

"Isso é uma memória de Korra," disse a mulher, sua voz fraquejando enquanto as lágrimas novamente tomavam os seus olhos. "Uma memória que eu e ela, de certa forma, partilhamos."

Por um momento, Konrad estava horrorizado demais para fazer qualquer coisa. Se ser Avatar significava a possibilidade de sentir uma dor como aquela que sentira em seu sonho, ele não desejava ser o Avatar.

Então, um realidade mais urgente o atingiu. Asami chorava silenciosamente ao lado dele, escondendo o rosto em suas mãos. Ela conheceu Korra, o pensamento o atingiu pela primeira vez. Asami havia conhecido e, provavelmente, amado a Avatar anterior a ele, e era por esse motivo que ela se esforçava tanto para mantê-lo à salvo. Ela não queria que ele sofresse o mesmo que Korra sofrera.

Então, ele descobriu que, talvez, a engenheira não se importasse que ele fosse realmente feliz, mas ela certamente se importava com o bem estar dele. Asami amara o seu espírito quando ele pertencera a Korra, e agora ela estava se esforçando para manter aquele espírito em segurança.

A partir daquele momento, Konrad descobriu que podia confiar em Asami e a relação dos dois se tornou a cada dia mais próxima.

As lembranças que os dois agora partilhavam da batalha em que Korra morrera os ligaram em uma jornada contínua para fazer com que Konrad ficasse mais forte e menos suscetível aos perigos que os cercavam. Para tanto, a engenheira começou a ensiná-lo artes marciais.

Asami era uma professora exigente, mas Konrad era um aluno dedicado e persistente que amava a arte; portanto, os avanços eram praticamente diários. Todas as manhãs, a engenheira ensinava ao menino uma nova técnica, que ele praticava até atingir a perfeição.

A relação dos dois se tornou rapidamente muito íntima. Konrad deixou de guardar seus sentimentos para si e passou a compartilhá-los com Asami, que tentava sempre fazê-lo se sentir melhor e mais feliz. Eles não só compartilhavam memórias, mas também brincadeiras e jogos que extraíam um sorriso até mesmo da sempre séria e dura Asami Sato.

Alguns passaram a confundi-los com mãe e filho, e Konrad ficava feliz sempre que faziam aquela suposição. Embora tivesse medo de receber uma rejeição caso se atrevesse a mencionar esse título a Asami, ela era a única pessoa em sua vida e ele descobriu rapidamente que a amava.

No aniversário de dez anos de Konrad, a engenheira lhe concedeu um desejo que ele possuía há muito tempo, e colocou-o em uma luta de verdade. Juntos, os dois ajudaram a prender seis bandidos enquanto eles fugiam de um crime em uma cidade dentro República Unida das Nações e muito próxima da Cidade República.

A engenheira não permitiu que Konrad enfrentasse os seis te uma vez, embora ele achasse que daria conta. Ela nocauteou quatro deles, deixando apenas dois dobradores de fogo para o pequeno Avatar. Ele demorou alguns minutos para derrotá-los, mas percebeu que Asami o olhava com orgulho quando se aproximou novamente dela para os dois fugirem.

Naquela noite, a despeito do perigo de serem descobertos, ela o levou até a Cidade República pela primeira vez. Eles jantaram juntos em um restaurante próximo ao parque, de onde podiam ver uma estátua de Korra, e Asami lhe contou um pouco a repeito de suas aventuras ao lado antiga Avatar.

Naquela noite, acampando fora da cidade mais poderosa do mundo, construída por um Avatar e protegida por outro, Konrad se sentiu, pela primeira vez na vida, plenamente feliz.

Um ano depois, entretanto, ele já não se sentia tão confiante. Seu aniversário de onze anos passou sem que eles tivessem tido tempo para sequer tocar no assunto, embora Konrad estivesse certo que Asami se lembrara.

A Lótus Branca os havia encontrado e emboscado na Nação do Fogo apenas alguns dias antes, e eles só conseguiram fugir porque Konrad entrou inesperadamente no Estado Avatar ao ver sua protetora sendo nocauteada em batalha tentando protegê-lo.

Quando Asami finalmente voltou a si, algumas horas depois, eles empacotaram tudo o que tinham e saíram correndo da cidade. Não conseguiram ir muito longe, entretanto, pois, devido a falta dos cuidados adequados, as feridas da engenheira infeccionaram e ela ficou muito doente. Konrad passou o dia de seu aniversário cuidando para que a febre de Asami não piorasse.

O menino se lembrava das histórias de sua protetora a respeito de Korra, e sabia que ela fora também uma curandeira; portanto, passou os dias seguintes lendo os livros que Asami tinha sobre o Avatar em uma tentativa de entrar em contato com a Raava ou Korra. Os livros não o ajudavam, entretanto, e o menino não sabia como sequer começar a tentar na prática.

Aterrorizado, Konrad vendeu algumas coisas que possuíam e comprou um mapa e um barco, rumando para a Tribo da Água do Sul. Ele sabia que ali era perigosamente próximo da base da Lótus Branca, mas era também o local onde estavam enterrados Aang e Korra e, portanto, o local onde poderia ficar o mais fisicamente próximo possível dos dois Avatares anteriores.

Em seus raros períodos de consciência, Asami sempre lhe perguntava para onde estavam indo, e a resposta de Konrad era sempre que ele apenas estava tentando mantê-los em movimento. Ele sabia que Asami não quereria ir até a Tribo da Água do Sul, e que faria qualquer coisa para impedi-lo.

Talvez, quando estivesse curada, Asami tivesse vontade de visitar o túmulo de Korra. Após ouvir ela gritando o nome dela e fazendo juras de amor enquanto alucinava devido à febre, o menino começava a ter uma noção do tipo de amor que sua protetora sentia por sua antecessora e ficava feliz por nunca tê-la chamado de mãe.

Konrad não sabia como se sentia a respeito disso. Parte dele achava estranho, porque Korra era, de certa forma, ele, e ele não sentia aquele tipo de amor por Asami; mas uma parte de si estava aliviada, porque ele finalmente compreendia sua protetora.

Konrad optou por aportar em um ponto mais distante da tribo, para que ninguém os visse chegando. Ele esperou até que Asami acordasse e lhe serviu um pouco da sopa que ele preparava. Ficaram alguns minutos em silêncio enquanto ela se esforçava para comer um pouco, a despeito de seu apetite estar se deteriorando cada vez mais.

"Onde estamos, Kon?" Ela disse, por fim, pousando a colher dentro do prato ainda cheio. Sua voz era rouca e baixa. "Aqui está muito frio, estamos muito longe para o Norte?"

"No longe para o Sul, para ser mais exato," disse ele, sem hesitar. "Estamos em um ponto próximo ao Polo Sul."

Asami assentiu. Pela primeira vez em muito tempo, algo conseguia fazer com que seu cérebro não funcionasse direito; por algum motivo, estar ali não lhe parecia uma boa ideia, mas o sentimento de estar fisicamente próxima de Korra a preencheu completamente enquanto ela voltava para a cama e adormecia antes mesmo de terminar de deitar.

Konrad engoliu seco. Não, deixar Asami ali sozinha e desprotegida não era uma ideia inteligente, mas ele não possuía outra opção. O menino pegou duas espadas; uma delas, ele colocou próximo ao travesseiro de sua protetora, a outra ele prendeu em sua cintura. Torcia para que nenhuma das duas precisasse ser usada naquele dia, mas aprendera que devia ser sempre cuidadoso.

Ele teve que caminhar quase uma hora antes de chegar ao cemitério da Tribo da Água do Sul. O local ficava um pouco distante da cidade e estava vazio, e ele agradeceu aos espíritos enquanto caminhava por entre os túmulos, procurando pelos túmulos de Aang e Korra.

Não foi difícil localizá-los, afinal; os túmulos possuíam um grande memorial cada e estavam lado a lado. Konrad os encarou por um momento, tentando se decidir se falava com Korra ou com Aang primeiro. Por fim, ele optou por Korra, que era a sua encarnação mais próxima e já conhecera Asami.

"Korra, por favor, ajude-me a entrar no Estado Avatar de novo e curar Asami, ela precisa de nós dois," disse Konrad, ajoelhando-se diante do túmulo e fechando os olhos. "Eu não posso contar com nenhum grande curandeiro, somos apenas eu e ela desde sempre e eu não sei em quem confiar. Por favor, ajude-me a curá-la, ela era sua amiga também e ela te amava."

Houve um momento de silêncio logo após Konrad enunciar suas palavras, um silêncio que ele desejou que fosse preenchido o mais rápido possível pela voz de Korra.

"Porque você não a leva até a minha cabana, pequeno Avatar?" Disse uma voz feminina à direita de Konrad. "Eu posso não ser Korra, mas sou curandeira e também conheci Asami."

Ele rapidamente sacou a espada, voltando-se para a dona da voz. Logo percebeu que se tratava de uma mulher idosa; ela tinha o corpo pequeno e curvado, seu sorriso e seus olhos, entretanto, irradiavam uma juventude que Konrad nunca vira nos olhos de Asami. O menino soube imediatamente que podia confiar naquela mulher.

"Quem é você?" Ele perguntou, os anos fugindo e se escondendo o haviam ensinado que não devia confiar em suas emoções.

"Meu nome é Katara, pequeno Avatar," disse a mulher, seu sorriso ainda mais intenso. "E você é o nosso famoso Konrad, é claro. Venha, mostre-me onde está sua protetora e verei o que posso fazer."

~~//~~

Asami acordou em um sobressalto, sentindo o seu corpo estranho. Quase como se estivesse… flutuando. Ela olhou ao redor, procurando por Konrad e logo o encontrando próximo a uma mulher que ela conhecera apenas brevemente muito tempo antes.

"Katara," ela disse, sua voz ainda fraca e cansada. "O que…? Como…?"

"Descanse, menina," disse a mulher mais velha, e Asami percebeu que ela sorria. "Mais alguns dias, e nem mesmo eu não teria conseguido te salvar."

"Kon, você nos trouxe para a Tribo da Água do Sul?" Asami quase gritou. Ela se levantou de uma vez e, repentinamente, sentiu-se tonta novamente, tendo que ser amparada por seu protegido. "Kon, esse é provavelmente o lugar mais perigoso para nós estarmos. Por que nos trouxe aqui?"

"Você não estava melhorando, eu estava com medo que você não melhorasse nunca," disse Konrad, colocando-a de volta na pequena piscina de água espiritual onde Katara tratava seus pacientes. "No começo, a minha ideia era tentar me reconectar com Korra ou Aang, mas Katara me encontrou no túmulo deles e prometeu nos ajudar."

A engenheira encarou Katara, que se concentrava em dobrava a água em torno dela. Por algum tempo, enquanto a mulher mais velha executava as suas técnicas de cura, nenhum deles falou; por fim, quando a água em volta de Asami parou de brilhar e Katara se sentou ao lado de Konrad, a mulher mais nova se voltou para a curandeira.

"Obrigada por tudo, Mestre Katara. Sei que posso ter soado mal agradecida, mas você deve entender o que é ter que lutar para sobreviver em um mundo onde você é caçada."

Katara assentiu, ainda sorrindo.

"Você e Konrad passaram por muita coisa nos últimos anos, devo entender," disse Katara, e Asami assentiu. "Que tal se vocês passassem a noite em minha cabana enquanto você termina de se recuperar? Eu curei os seus ferimentos, mas você ainda precisa de algum tempo de descanso antes que possa voltar a correr pelo mundo, fugindo da Lótus Branca."

"Isso é muito arriscado," disse Asami, prontamente. "Nós precisamos sair daqui antes que a Lótus Branca nos encontre."

"Eles não vão procurá-los na minha cabana, Asami," disse Katara. "Além do mais, eu e Tonraq somos os únicos membros da Lótus Branca na região neste momento. Os membros que ainda restam na organização após todos esses anos, e não são muitos, estão no Reino da Terra e na Nação do Fogo, eles supõe que vocês não seriam tolos em vir até aqui."

Asami olhou nos olhos de Katara. A despeito de nunca terem se conhecido muito bem, ela confiava naquela mulher mais do que em qualquer outra pessoa viva. A engenheira não se surpreendeu com o sentimento, ela se lembrava da conversa que tivera com Iroh anos antes, na qual ele dissera que Katara e ela estavam diretamente conectadas ao espírito do Avatar, o que, na lógica, significava que também havia uma conexão entre elas.

Por fim, Asami assentiu, e Konrad deixou escapar um suspiro que a engenheira sabia significar que o menino estava aliviado. Ao perceber que sua protetora o encarava, ele estendeu a mão para ela e a ajudou a se levantar.

Asami sentia como se suas pernas fossem líquidas, mas conseguiu, de alguma forma, ficar de pé. E os três rumavam para a cabana de Katara, a engenheira andava com a ajuda de seu protegido, enquanto Konrad falava incansavelmente sobre como ele e Katara a carregaram até ali com a ajuda de Naga, a companheira animal de Korra.

A noite se passou de maneira agradável. Katara cozinhou para os três e lhes contou histórias sobre as aventuras dela ao lado de Aang que Asami conhecia, mas nunca ouvira do ponto de vista de alguém que participara delas.

Konrad aparentava todo o sentimento de adoração que ele estava sentindo e, por um momento, Asami viu através dele a Korra de muitos anos atrás, que se admirara ao observer a engenheira pilotando os carros da empresa de seu pai.

Por fim, algumas horas depois, Konrad acabou por cochilar no ombro de Asami, que, sentindo-se muito mais forte após a refeição, o levou para uma cama que Katara lhes havia emprestado. Quando voltou a se sentar diante da curandeira, ela se descobriu repentinamente sem saber o que dizer.

"Eu sei como você se sente, Asami," disse a mulher mais velha após um longo período de silêncio. "Melhor do que qualquer um, eu entendo o que é ver a pessoa que você ama em um corpo novo, desconhecido. Perceber que são vidas completamente diferentes, perceber que, embora você ainda tenha a pessoa que você ama, as coisas nunca mais serão como antes."

"Você não entende," disse Asami, sua voz transbordando a ira que ela sabia sentir, mas nunca ousara expor. "Você— você teve toda a sua vida ao lado de Aang, você teve filhos com ele que te ampararam quando ele morreu. Eu sequer pude dizer a Korra o que sinto por ela. Você nunca ficará sozinha como eu estou agora."

Katara não a respondeu imediatamente, mas Asami percebeu que ela não estava com raiva, apenas pensativa.

"Mas você não está sozinha, Asami, você tem Konrad," disse Katara, por fim. "Perder Aang foi a coisa mais dolorosa que aconteceu em minha vida, e eu achei que nunca mais conheceria alguém que me fizesse sentir completa como ele fazia. Até o momento em que realmente aprendi a conhecer Korra e amá-la. Não é a mesma coisa, mas, ainda assim, é um amor que nos completa."

Asami engoliu seco. Konrad não era Korra, faltava-lhe a confiança e determinação de sua predecessora. Ele também era um prodígio nas artes marciais, entretanto, e também gostava de jogos e tinha uma conexão especial com todos os seres vivos. Como Korra.

Ela amava Konrad. Em todos aqueles anos de solidão e dor, Konrad era a sua única luz, e Asami estava certa de que teria enlouquecido completamente sem ele.

Desde que haviam compartilhado a respeito do pesadelo que tiveram sobre Zaheer, sempre que Asami se deixava tomar pelo medo e sua mente começava a agir de uma maneira muito paranoica, seu protegido a distraía com seus jogos e os dois acabavam rindo juntos. Ele era seu protegido e seu protetor.

"Não posso perdê-lo, Katara," disse Asami, por fim.

"Eu sei, mas é egoísmo não deixá-lo cumprir sua função como Avatar," respondeu a mulher mais velha. "Sei que ele não está pronto, mas você deve levá-lo para que mestres lhe ensinem a dobrar os elementos. É parte do que ele é e, um dia, o mundo cobrará dele esse conhecimento. Você não pode protegê-lo para sempre."

"Você espera que eu me entregue à Lótus Branca? Eles vão treiná-lo mesmo contra a vontade dele e, quando ele finalmente se tornar um mestre dos quatro elementos, vão jogá-lo contra o mundo quase completamente despreparado," retrucou a engenheira. "Além disso, eles nunca mais vão me deixar vê-lo."

"Nem todos os grandes mestres de dobra estão diretamente ligados à Lótus Branca; para terra, o primeiro elemento dele, você sempre pode levá-lo ao seu antigo amigo, Bolin. Sei que ele não é um artista marcial, mas ele é um grande dobrador de terra, e um dos poucos que sabem dobrar lava."

"Bolin é parte da Lótus Branca," disse a mulher mais jovem, com um suspiro.

"Não mais. Ele e o irmão, Mako, abandonaram a Lótus Branca não muito tempo depois de você os trair," disse Katara, com um sorriso. "Aparentemente, a ideia de te caçar não os agradava."

"Mas onde viveríamos? Treinar uma dobra significa estar preso ao mestre," perguntou Asami, exasperada. "Não posso pedir a Bolin que se torne um fugitivo conosco."

"Tenho certeza de que ele ficaria feliz em ajudar vocês dois, Asami, e vocês sempre podem se refugiar no Mundo Espiritual," disse Katara, segurando a mão de Asami com força. "Nenhum membro atual da Lótus Branca ousaria procurar vocês no mundo dos espíritos, porque eles estudaram o bastante para temê-lo."

"Então, eu devo encontrar Bolin e Mako, e devemos nos refugiar no Mundo Espiritual enquanto Konrad aprende a dobrar terra e fogo," disse Asami, e Katara assentiu.

Embora não estivesse certa sobre a primeira parte do plano, a mulher mais jovem gostara da ideia de se refugiar no Mundo Espiritual. Ela nunca a cogitara pois não conhecia aquele mundo e temia que seus inimigos os encontrassem ali; mas, se a Lótus Branca se recusava a procurar no Mundo Espiritual, aquela era uma boa ideia.

"Lembre-se que você não pode protegê-lo para sempre," disse Katara, como se estivesse lendo os pensamentos de Asami.

"Eu sei que não," a mulher mais jovem falou após algum tempo em silêncio. "Mas os espíritos treinaram o primeiro Avatar, talvez eles possam treinar Kon também. Eu não posso contar com a lealdade de Bolin e Mako, há muito em jogo."

Katara a encarou por um longo período, estudando sua face com muito cuidado, e Asami teve certeza que a mulher mais velha sabia o quanto ela havia mudado em seu interior. A expressão da curandeira se tornou gradativamente repleta de dor.

"Que seja," falou Katara, levantando-se lentamente. "Mas você deve saber, Asami, que o seu espírito despedaçado um dia lhe custará caro se não for tratado, e Konrad precisa da Asami dele tanto quanto você precisa do seu Konrad."

Asami ficou sem falas observando a mulher mais velha caminhando até o seu quarto. Seu espírito despedaçado não a impediria de proteger Konrad. Ela se certificaria disso.

_________________________

* Qing é um nome chinês que significa "azul esverdeado", uma referência aos olhos da Korra.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me pela demora. Espero que o tamanho do capítulo compense a espera.

Restam dois capítulos. Haverá saltos temporais por capítulo.

Sinto muito pelo angst :/

Agradeço muito a todos que deixaram comentários! Eles fazem essa escritora muito feliz *_*

Abraços!



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