Túmulo das sete almas ~Hiatus~ escrita por Sol


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Primeiro Dia
      15h 10min (pm)

 

— Luc! Luc! – Ouvi minha mãe me chamar, mas simplesmente permaneci onde estava, parado, encarando aquela bailarina. — Menino vem logo... No que está pensando? - Ela me chacoalhava.
No que eu estava pensando? Talvez em mim, talvez em Jessie... Jessie...
Jessie fica linda enquanto chora...
Minha mãe começou a me puxar, certamente falava sobre como eu estava distraído e precisava aprender a me concentrar melhor.
Quase tropecei nos degraus da escada, ou será que tropecei?
Jessie fica linda enquanto chora...
Jessie fica linda enquanto chora...
Rapidamente cheguei a sala, tentei focar em algo, se me desesperasse eles perceberiam... Eu tinha noção disso, mas subitamente se tornou difícil pensar.
Vi meu pai distante, ele olhava para o chão e parecia sério, também vi minha mãe se aproximar de Charles, ele estava... Chorando?
Aquilo me despertou por completo, meu amigo estava ajoelhado no chão, com as mãos no rosto, ele chorava muito, chorava de soluçar.
Corri até ele e me ajoelhei ao seu lado; eu não tinha o que dizer.
Isso me irritava, eu queria dizer algo para consolá-lo, mas não sabia o que dizer. Assim como eu queria parar de pensar em Jessie chorando, mas não podia. Nunca me senti tão inútil.
Esperei que ele se acalmasse um pouco e o deixei respirar, minha mãe trouxe um copo de água.
— O que houve? – Perguntei, ainda esperando ele se acalmar.
— Ele... Ele vai tirar ela de mim. – Charles respondeu entre lágrimas, estava tentando se controlar e respirava fundo, bebendo a água.
Minha mãe se sentou ao lado dele e o abraçou
— Vai tirar minha mãe de mim... Vai leva-la para longe. Meu avô já permitiu.
— Pai ele pode fazer isso? – Perguntei, ele apenas suspirou e me olhou com ternura, depois deu de ombros e balançou a cabeça como se não soubesse, mas ele certamente sabia, só não queria falar agora e piorar a situação.
— Ele veio pedir para que Charles pudesse passar uns dias aqui. Enquanto resolve tudo e depois...
— Voltar e me abandonar em algum orfanato ou na rua e sumir pelo mundo. – Ele tinha voltado a chorar, eu não sabia o que fazer, só podia observar aquela cena em silêncio.
— Ele apenas disse que depois iria embora, mas não disse nada sobre te abandonar. – Meu pai corrigiu seriamente.
— Não disse para vocês, mas para mim sim e várias vezes.
— Calma! Meu pai não vai deixar ele te abandonar. Não é pai? – Olhei para ele com ar de súplica, eu não tinha o costume de pedir nada a ele, mas aquele pedido não era só por mim, era pelo meu melhor amigo, ele não poderia negar ou ignorar, Charles praticamente cresceu nessa casa, meu pai sempre o tratou bem, já disse várias vezes que o via como um filho, ele não poderia negar.
— Eu cuido disso Charles. – Ele disse por fim e eu consegui abrir um sorriso.
— Viu? Vai dar tudo certo. – Sussurrei, ele me encarou e depois encarou meu pai.
— Obrigado. – Murmurou, minha mãe o ajudou a levantar.
— Scott deixou algumas roupas, por que não vai tomar um banho, se acalmar e quem sabe dormir um pouco? - Ela propôs e ele aceitou. — Vem, vou arrumar um lugar para você naquela lixeira que o Luc chama de quarto.
— Mãe! – Protestei e Charles sorriu, o que me aliviou um pouco, minha mãe o puxou para cima, ela sempre gostou de puxar as pessoas e falar ao mesmo tempo. — Ah... – Me virei para meu pai, estava prestes a agradecê-lo quando ele saiu sem mais nem menos. — Pai espera... Eu... – Fui ignorado, ele seguiu para o escritório e fechou a porta. — Obrigado pela atenção... Como sempre. – Resmunguei me jogando no sofá, minha mente parecia mais bagunçada que meu quarto. Pensei na mãe de Charles, ela sempre foi uma boa pessoa; tinha paciência com Scott e isso já era muito para um ser humano comum. Ela e minha mãe passavam as tardes juntas quase todos os dias, o que dava a mim e Charles muitas horas a toa para fazer bagunça.
Já o avô dele, esse eu detesto, sempre que o velho estava de visita Charles aparecia aqui em casa fugido, ou então me ligava implorando que eu e Jessie fossemos pra lá.
Não era pra menos, o homem conseguia irritar qualquer um, reclamava de tudo, brigava com o genro a cada dez segundos e vivia mimando Scott, por ser filho de outro homem, já com Charles a história era outra, implicava com tudo o que o menino fazia, reclamava do jeito dele de se vestir e dizia que ele não fazia nada para ajudar em casa e que não trabalhava, considerando que Scott era pelo menos sete anos mais velho e não servia para nada.
E não pense que Jessie e eu escapávamos, era só a gente a aparecer que o homem ia reparar no que estávamos fazendo, volta e meia reclamando que estávamos atrapalhando ele a ver novela.
Uma vez Jessie estava fazendo um curativo em mim, o velho chegou e começou a dizer que ela estava fazendo e errado e Jessie se irritou tanto que jogou o pacote de curativos na cara dele. Acho que nunca vi aquele homem esbravejar tanto na vida.
Pelo menos depois ele parou de encher a paciência dela.
— Ah! Droga de vida! – Com tantos problemas minha cabeça já estava quase explodindo, se ao menos Jessie estivesse aqui... Mas ela não estava porque um louco psicopata a levou e ainda ousa deixar cartas!
— Ai meu Deus as cartas... Minha mãe... Meu quarto... Arrumar...
Sai correndo e subi as escadas na velocidade da luz, minha mãe no meu quarto, certamente vai arrumar alguma coisa e certamente vai reconhecer a caixa.
Abri a porta e entrei apavorado...
— Mãe isso não- Parei de falar quando ela me encarou, por sorte ela ainda tentava tirar o colchão e nem tinha chegado perto da caixa e da carta, que eu larguei no chão.
— Isso o que?
— É... – Comecei meio sem jeito e ouvir uma risada baixa e controlada atrás de mim, era Charles, ele deveria ter saído do banho a tempo de ver meu drama desnecessário. — Eu ia dizer que não era necessário trabalhar sozinha não é mesmo? Espera que eu limpo a área, não vai me custar nada afinal. – Disfarcei e comecei a jogar a bagunça para de baixo da cama.
— Se é isso que chama de arrumar. – Ela resmungou e continuou puxando o colchão, dessa vez com a ajuda de Charles. Rapidamente peguei as ‘‘provas do crime’’ e as enfiem embaixo do meu travesseiro. Com tudo limpo me sentei na cama e sorri. Depois de um tempo meu amigo fez o mesmo, só que sem a parte do sorriso. — Bem é isso ai, dorme um pouco Charles, vou acordar você antes do horário da janta, Scott disse que sua mãe vai ir embora amanhã a tarde e vou pedir ao meu marido para leva-lo para visita-la de manhã.
— Obrigado. – Ele parecia sincero e forçou um sorriso, que não durou nem dois segundos.
— De nada querido... Luc não perturbe o sono dele e arrume o que fazer ou durma também. Ontem você dormiu tarde e sei que hoje você vai enrolar também, então pelo menos durma um pouco agora!
— Tudo bem! – Concordei emburrado e ela saiu. — Você tá com o olho vermelho! – Comentei e Charles jogou o travesseiro em mim.
— Não uso drogas caso queira saber. – Reclamou e eu taquei de volta.
— Mas você estava chorando. – Consegui dizer antes de levar outro travesseiro na cara.
— Nossa que grande observação. – Ele reclamou e notei que estava recomeçando a chorar.
—Eu quis dizer que ainda está chorando.
—Não to!
— Está sim! – Retruquei cruzando os braços e ele me imitou fazendo bico.
— Não to!
— Charles ele vai tirar a sua mãe de perto de você, pode chorar, quanto mais se ressentir por dentro vai ser pior. – Pronto isso foi o suficiente para ele desabar.
— Por que as pessoas têm que me odiar tanto? – Ele perguntou entre lagrimas, sufocadas pelo travesseiro.
— Eu não te odeio. Meu pai não te odeia e nem minha mãe. – Repliquei, mas ele balançou a cabeça. — Está questionando minha amizade?
— Não... É claro que não, eu só quero dizer... Todos se afastaram de mim depois daquilo... Eu já disse que não fui eu... – Ainda chorando ele começou a socar o travesseiro. — Por que é tão difícil acreditar em mim? Eu nunca machucaria minha irmã e nem meu pai...
— Hey, não esqueça que o próprio juiz acreditou em você e o inocentou, ele entendeu que foi um engano. – Tentei acalmá-lo.
— Ele Luc. Ele... E se seu pai não tivesse me defendido? Minha família se voltou contra mim por causa do que a Kelly disse, mas ela entendeu tudo errado, todos entenderam errado. E eu que fui o injustiçado ainda acabei perdendo todos... Mas que droga! – Ele voltou a chorar. — Da minha família... A única que acreditou em mim... Foi a minha mãe. E agora... Se eles a levarem embora... Vão poder me humilhar como querem!
— Não fala assim, eu estou do seu lado, minha família também está.
— Até quando Luc? – Ele perguntou de súbito e eu prendi a respiração por um segundo. Eu sabia do que ele falava, de algum jeito sabia. Olhei para a caixa de musica. — Luc... Não estamos levando isso tão a sério quanto deveríamos.
— Eu estou, estou com medo. – Me defendi.
— É isso o que esse louco quer, não vê o que aconteceu a Jessie? Ela sumiu Luc. Sumiu! Mas que droga e agora esse imbecil quer levar você, e ai? Como eu fico? Já estou lutando para acreditar que ela ainda está viva.
— Não diga uma coisa dessas nem brincando! – O repreendi e ele olhou para a porta, secando as lágrimas.
— Não estou brincando. Estou falando sério, não pense que é o único sofrendo por tudo isso. – Aquelas palavras me atingiram em cheio, porque eram verdadeiras, porque eu realmente não conseguia imaginar outros sofrendo como eu.
— Desculpa. – Pedi com sinceridade. — Mas eu não vou desaparecer.
— Como pode ter certeza?
— Eu estou tentando ser otimista! – Dessa vez quem estava começando a chorar era eu, peguei a caixa e o recado e entreguei a Charles, que leu tudo rapidamente. — Estou tentando... Estou tentando não me trancar no meu quarto e passar os dias chorando e imaginando o que aquele imbecil pode estar fazendo agora mesmo. Entende isso? Estou tentando não enlouquecer.
— Eu realmente entendo! – Ele respondeu olhando nos meus olhos e eu sabia que era verdade, só quem o conheceu antes e depois do ‘acidente’ sabe o quanto ele mudou, e o quanto ele sofreu, poucos sabem que sua insensibilidade em momentos inoportunos vem de quase um ano sem consegui sequer sorrir minimamente, quem dera dizer uma única palavra. Pois foi assim que ele ficou por meses e mais meses, sem dizer e nem demonstrar nada. Ele realmente me entendia.
—Droga é melhor pararmos antes que venham saber se estamos brigando. – Comentei e ele sorriu.
— É... Aqui... Amanhã, pode ir ver minha mãe comigo?
— Claro!
— Sim e... –Ele sorriu de novo e apontou para a caixa de musica que agora havia sido empurrada por mim para um canto bagunçado ao lado do guarda-roupa. — Tente não sonhar com o terrível Max’ Steel!
— Vai dormir logo seu insensível, com essas coisas não se brinca sabia?
Ele apenas deu de ombros e se jogou da minha cama para o colchão.
— Boa noite e tente não sumir. Não se preocupe, não vou tacar fogo no seu quarto enquanto dorme e nem tentar te sufocar, não quero parar em um tribunal de novo.
— Bom saber. – Murmurei fechando os olhos. — Já tem psicopatas de mais na minha vida, e trate de dormir, minha mãe vai querer você bem acordado para a janta.
Ele riu, eu encarei o teto e resolvi ir até o meu notebook pesquisar algo útil!


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Notas finais do capítulo

:p



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