Mostre-me o que é ficar sozinha

E talvez a luz da noite se torne selvagem.

Olhos de pedra choram lágrimas cristalizadas.

Eu não tenho para onde ir;

Eu não sei para onde ir.

Eu não sei se me falta algo

E se me falta, o que me falta?

Eu não sei o que aconteceu.

Por que você não volta e me diz?

.

As lembranças da última noite de outono

Foram levadas pelas chuvas do verão.

As duvidas persistem.

Não sei se sou caça ou caçador.

Mostre-me o que é ficar sozinha

E talvez a luz da noite se torne selvagem.

.

Olhos que sangram persistem em me observar do outro lado do espelho.

As palavras que me disseste um dia

Ecoam, ainda hoje, em meus ouvidos;

E as que lhe digo agora

Se perdem antes mesmo de chegarem aos seus.

Estou voando, mas não sei para onde.

O que mais eu posso querer!?

Mostre-me o que é ficar sozinha

E talvez a luz da noite se torne selvagem.

.

Eu sinto uma premonição,

Ou será uma lembrança que retorna com o sereno da madrugada.

A lua brilha tão forte diante de mim;

Mas posso ver que ela chora, pois

Sempre que o sol se aproxima, ela tem que partir,

Mesmo desejando ficar.

Mas a cada noite uma nova estrela nasce

Provando não existir amor impossível.

Mostre-me um gesto,

Diga-me uma única palavra

E eu serei o seu sol.

Ou então...

Mostre-me como ficar sozinha

E talvez a escuridão da noite se torne mais suave.

(2000)