Inventei uma desculpa de que estava doente no dia seguinte. Precisava pensar no que estava acontecendo, e não queria a companhia de ninguém, muito menos de olhar nos olhos do príncipe. Ele era a causa de tanta confusão dentro de mim, algo que eu percebi ser novo.

Eu sempre fui muito prática: não gosta de mim, ótimo. Eu não faço questão que goste, eu não preciso de sua aprovação pra nada. Gosta: perfeito, eu tenho a sua amizade. Pronto, e sempre foi assim.

Mas Légolas me deixou confusa. Completamente, pra falar a verdade. E daí se agora ele se sente apaixonado por mim - e eu nem sei se é isso mesmo – eu não me importo com os sentimentos dele, desde o início deixei claro que essa era a minha posição.

Eu não me importo.

Enquanto remexia em minhas coisas no quarto tentando me distrair, minhas criadas traziam-me comida e chás para dor de cabeça, que eu jogava sempre fora. Não precisava de nada, apenas de ficar um pouco sozinha, com meus pensamentos voltados ao que realmente eu estava fazendo ali.

Conclusões diferentes eram formadas toda a vez que minha conversa com Légolas voltava. E a raiva foi apoderando-se de mim aos poucos.

Não consegui dormir, parece que até meu sono havia me abandonado por causa do príncipe. Meus olhos estavam fundos e vermelhos, mas toda vez que encostava minha cabeça no travesseiro, a imagem dele se formava em minha mente.

Légolas era tão bonito, que era impossível não admirá-lo toda vez que me lembrava de sua face. Seus traços delicados eram de fazer inveja a qualquer garota, principalmente humana.

Imaginei como seriam seus filhos. Provavelmente tão perfeitos quanto Thranduil e ele, com os cabelos louros e os olhos azuis, sorriso lindo e uma habilidade impecável com arco e flecha.

Sua mulher, provavelmente, teria muita sorte de ter uma família assim.

Mas o que estou pensando?

Passar o dia inteiro no quarto sozinha não era mesmo uma boa idéia. Provavelmente eu possa estar enlouquecendo e sendo precipitada. Precisava procurar Légolas antes de qualquer coisa, pois assim eu não conseguiria chegar a lugar nenhum.

Legolas não gostava de mim, apenas estava chateado com alguma coisa, e eu não dei a chance dele se explicar. Só podia ser isso.

Resolvi que desceria para o jantar. Ang e Vell ainda não haviam aparecido para me vestir, então resolvi fazer por conta própria. Enchi a banheira com água, e selecionei os óleos perfumados, dessa vez sem o de rosas, apenas violeta e lírios, que formavam uma combinação perfeita com a baunilha.

Mergulhei meu corpo inteiro, apenas deixando meu nariz de fora para respirar, e permaneci imersa durante pelo menos dez minutos. Foi relaxante, e no final estava bem perfumada.

Escolheria o vestido, sozinha. Havia muitos novos e coloridos. Ang e Vell prepararam, pois sabiam que eu ficaria no castelo até o final da seleção, pelo menos. Coisa que eu já não tinha mais tanta certeza.

Peguei o vestido amarelo e dourado que pendia sobre os outros de modo que se destacava mais. Era majestoso, leve e bem detalhado. Um pouco colado, mas ainda assim perfeito. As costas nuas, e a renda que se estendia até os pés deram um ar sexy que eu nunca achei que pudesse funcionar comigo. Não me importava de parecer que estava tentando impressionar com ele, tudo o que queria era me sentir bem.

Desci para o jantar, atrasada como muitas vezes. Todos já esperavam, incluindo o príncipe e o rei. Légolas sorria, e duvidei que ele houvesse sequer pensado sobre nossa briga do dia anterior. Thranduil estava com o olhar frio e distante, parecendo que não gostaria de estar ali, mas ainda assim tinha aquele ar de superioridade que me dava medo às vezes.

Tentei parecer discreta quando entrei, não fazendo muito barulho e querendo passar despercebida. Mas o vestido já falava por si só, e momentos depois me arrependi de colocá-lo, mas já era tarde demais. Todos os olhares voltaram-se para mim, que parei diante a mesa sem muita reação. Não estava acostumada a ser o centro das atenções, e não sabia o que fazer enquanto todos olhavam admirados.

Thranduil levantou-se. Percebi que ele nunca havia feito aquilo, pois a reverência sempre fora minha.

– Boa noite senhorita. – O rei cumprimentou-me, olhando-me da cabeça aos pés. Não esboçou nenhum sorriso, nem desaprovou. Apenas olhava enquanto eu tentava sair do lugar, já que minhas pernas paralisaram-se por completo.

– Boa noite, Vossa Majestade. – reverenciei-o da melhor maneira possível. – Boa noite, Alteza.

Encarei Légolas rapidamente. Seus olhos não desgrudaram da minha figura desde o momento em que entrei no salão. Senti um pouco de vergonha, mas passaria pelo jantar todo daquela forma, se preciso.

Sentei-me ao lado de Hangar, uma elfa tão bonita quanto o primeiro raio de sol da manhã, a fim de não ser tão percebida, mas foi em vão. Os olhares acompanharam-me e repousaram onde estava, me fazendo corar um pouco. Chamar a atenção não era bem o meu objetivo.

– Como está bonita Luzziel. – Hangar disse, surpreendendo-me de que até a mais bonita das elfas achava aquilo. – Me empreste suas servas qualquer dia desses para me preparar também.

– Como se a senhorita precisasse. – elogiei Hangar. – É uma das mais belas de todas as elfas que já vi.

– Obrigada. – Hangar tinha a voz doce. – Mas, por mais que ache isso, não tenho o mesmo jeito que você tem de encantar Légolas, ou até mesmo o rei Thranduil. – ela dizia em voz baixa.

Fiquei um pouco apreensiva sobre aquela informação. Aquilo não era verdade, tudo o que havia feito era falar demais até agora, e por um motivo simples ainda estava naquela competição.

– O que acha do encontro de Légolas de hoje? – Hangar perguntou-me, me despertando de meus pensamentos. – Eu não gosto muito dela, mas vejo que já é o terceiro entre eles.

– De quem está falando? – perguntei, não sabia qual era a escolhida de Légolas para essa noite, mas a julgar pela informação tinha uma idéia de quem poderia ser.

– Margareth. Não sabia? Pois bem, eu só tive um encontro com ele, e ela já está indo para o terceiro. É injusto. – Hangar parecia realmente triste.

– Também não gosto dela. – confessei. – Acho que tem uma personalidade forte até, mas é muito orgulhosa.

Hangar olhava para Margareth ao lado de Légolas. Seus olhos brilhavam quando o via, porém senti que ela não era capaz de conquistá-lo, pois tinha uma timidez que dava dó.

– Mas ela é realmente linda. Acho que nunca terei chances se ela permanecer aqui.

– Não diga isso. A qualquer momento, Légolas vai perceber que ela não é a escolha certa para ele. – respondi Hangar, não tendo real certeza no que estava dizendo.

– E quem acha que é a mulher ideal para ele? – a elfa quis saber.

Parei para pensar um pouco. Todas as garotas ali tinham uma chance, algumas com mais vantagens do que outras, mas Légolas não parecia que estava mesmo se apaixonando por alguma delas.

– Légolas tem dúvidas ainda, Hangar. Ele ainda não está apaixonado por ninguém. Então, acho que deveria fazer o seu melhor. Ainda há tempo, Margareth não tem seu coração.

– Tem certeza que ela não é a sua favorita?

Certeza absoluta.

– Acho que não. Ele me disse ontem que não havia... se apaixonado ainda. – menti. Não foi exatamente isso o que Légolas disse, mas Hangar parecia que gostaria de ter a chance de conquistá-lo, e não era má idéia.

– Então, acho que ainda posso ter esperança, não é?

Légolas parava seus olhos em mim. Parecia ser uma tortura toda aquela conversa das garotas ao seu redor, ainda mais com Margareth falando sem parar ao seu lado. Seus pensamentos pareciam longe, e nem sequer despertou-se deles quando me pus a olhá-lo de volta.

– Acho que deveria tentar. Mesmo. – Respondi Hangar, que sorriu largo.

Em algum momento Thranduil havia saído de nossa presença, e eu nem havia reparado. Meus olhos se encontravam com os do príncipe de minuto em minuto, e estava ficando mais constrangedor. Precisava pedir desculpas à ele, pois não aguentava aquilo.

Iria ficar até depois do jantar para conversar com ele, mas este saiu com Margareth antes mesmo de tentar falar qualquer coisa, e eu não passaria o ridículo de procurá-lo. Nem sequer faria o favor de olhar seu encontro de longe, como sempre fazia.

Eu não era sua mãe. Légolas poderia fazer aquilo sozinho.

Ia saindo do salão com as outras garotas, quando Thranduil pegou-me de surpresa. Seu rosto ainda permanecia rígido, e tive medo do que ele gostaria de conversar comigo.

Levou-me até o centro do castelo, onde pude ver uma ampla biblioteca em junção à uma sala de reuniões com uma mesa de centro com mais de cinqüenta cadeiras em volta. O que quer que ele quisesse conversar comigo, era assunto muito sério.

– Sente-se. – O rei ordenou, com a voz calma e fria. Dirigiu-se até sua cadeira e se acomodou.

Sentei-me perto dele, e permaneci o mais calma possível.

– Légolas me pediu algo essa manhã. – o rei começou, fazendo cara de poucos amigos.

– E o que foi?

Thranduil respirou. Parecia querer controlar-se da raiva que apoderava seu corpo. Seu mau humor era visível.

– Ele queria acabar com a seleção. Disse que não quer mais encontrar sua esposa em uma competição baixa e ridícula como essa. – Thranduil permanecia encarando-me o tempo inteiro, o que me causou certo arrepio.

– Eu sinto muito por isso.

– Sente mesmo? – o rei franzia suas sobrancelhas de modo que seu rosto parecia sarcástico. – Acho que essas palavras finais que ele usou bem parecidas com as que você usa, senhorita.

– São mesmo, majestade. Eu provavelmente as devo ter usado com ele ontem, quando disse que não fazia parte dessa seleção.

Thranduil levantou-se, e com passos calmos foi até a janela. Olhou para fora por um segundo e voltou-se para mim outra vez.

– Pois não funcionou. A seleção continua, senhorita Luzziel. E se quer fazer meu filho desistir, que seja para se casar com ele. Quero deixar claro, que eu não apoio a junção dele com uma humana, mas Légolas é livre. E eu realmente não quero interferir. Mas se a senhorita realmente não quer continuar, não o atrapalhe! – O rei dizia. Sua voz tão calma, que as palavras saíam aos poucos.

– Se não quer que ele se case com uma humana, porque quer que eu me case com ele? – perguntei, não entendendo bem a situação.

– Eu não quero. Você é tudo, menos uma princesa. É arrogante demais e não sabe se comportar como uma dama, por mais bela que seja. Meu filho não precisa disso, precisa de uma mulher de verdade.

Então eu não era mesmo a preferida do rei.

– Mas abri uma exceção à você. Se quiser se casar com ele, eu até deixaria. Mas só a senhorita. – o rei continuou, me enchendo com muito mais dúvidas.

– Como? Por quê?

– Não direi meus motivos. Só te alerto: se não quiser se casar com Légolas, não o atrapalhe a encontrar a elfa ideal. Agora saia, essa conversa já está mais do que clara.

Assustei-me ainda mais com a situação. Então, ou Légolas se casaria com uma elfa, ou comigo. Eu era a única exceção do rei Thranduil, mas ele não me disse o porquê.

Mas eu não queria me casar com o príncipe.

Eu não estava apaixonada por Légolas.

Quantas vezes eu deveria repetir isso para que seja realidade?