Quem matou Afonso Dallas? escrita por azoo


Capítulo 20
Episódio XIX - Sofrimento Metálico


Notas iniciais do capítulo

Um episódio repleto de sangue, reviravoltas e, claro, muitas intrigas.



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I

04/01/2016, 11h32min.

ALICE SE ASSUSTOU COM AS MÃOS EM SINAL de rendição de Adriana e Eduardo, que tentavam chorar baixo. Atrás dele, um homem baixo, com um imenso vão na cabeça e várias cicatrizes pelo rosto marcado de manchas, rugas e crateras, apontava uma arma em suas costas. Havia, ainda, mais outras três pessoas mal encaradas.

— Podemos? — repetiu Jeferson, a arma em riste. — Tenho certeza de que essa festa vai ser divertida. Vocês aí dentro do quarto! Deixa a porra da orgia de lado e vem receber os visitantes! — gritou ele.

Em resposta, no pensamento, Otávio escarneceu: Orgia mesmo. Pai, mãe e a médica, junte-se ao clube.

Aos poucos, eles foram saindo. Otávio, Juliana, Robson, Melissa, Virgínia e Valquíria saíram em fila indiana e sentiram-se estarrecidos ao verem várias pistolas apontadas para eles.

— Vocês deviam reforçar a segurança. Não vi ninguém vigiando esses portões caros.

Estela, Rodrigo e Gabriela já estavam de joelhos. Lígia e Mirian os imitaram com brusquidão. Eduardo e Adriana continuavam em pé.

— Não faça nada com a gente — suplicou Adriana, com as mãos levantadas.

— De joelhos vocês aí. — Todos obedeceram. — Cadê o velho? — Sem resposta. — Cadê a porra do velho? — repetiu ele e chutou a barriga de Eduardo. Adriana chorava ao lado dele.

— Ele morreu — ousou dizer Alice. — Ele está morto.

— O quê? — exclamou o baixinho do rosto desfigurado.

— Ele está morto. Você não ouviu, não? — perguntou Robson, o sotaque mineiro soando afrontoso.

O homem atirou à queima-roupa.

Juliana sabia que isso iria acontecer.

O fato de ser inconveniente resultou em sua morte.

A bala transpassou a cabeça do homem, passando pelo início da calvície. A barba bem feita do homem maculou-se do sangue, dedos vermelhos puxando-o para o inferno.

— Não é legal ser mal educado com as visitas — gracejou, assoprando a ponta da arma teatralmente. Os olhos escuros analisaram a situação. — Então o velhinho morreu antes que eu chegasse aqui? É uma pena. Mas não virei aqui de graça. Vou levar todos vocês comigo. Mas, primeiro, que tal nos divertimos um pouco? Quem quer participar da orgia levanta a mão.

O choro sibilante era ouvido pelo cômodo.

— Então vou escolher. — Ele fechou os olhos e apontou aleatoriamente. Melissa foi escolhida. — Você. — Melissa engoliu o choro. — Biloca, leva ela pro quarto. Eu vou primeiro, enquanto você faz o que quiser com esse pessoal aqui. Mas deixa algumas putas, tipo essa loira peituda e aquelas moreninhas.

Melissa foi sendo puxada à força por Biloca até o quarto de Robson e Valquíria. Os olhos azuis-acinzentados dela estavam baços e sem esperança. Jeferson seguiu os dois.

Juliana, Mirian e Gabriela estavam com medo do que poderia acontecer com elas.

— Volte pra lá. Eu cuido dessa aqui.

— Por favor, não faça nada comigo.

O homem se despiu.

— Você pode escolher: à força ou espontânea vontade.

— Não tem a opção “me mata”? — Melissa cuspiu nele.

— Eu te mataria, sua putinha — ele limpou a saliva do rosto —, mas necrofilia é contra os meus princípios. E essa opção é pra mais tarde, depois que eu me enjoar de você. Afinal, não ia ter graça se eu te comesse sem ouvir teus gritos, não é? — Ele estava nu, o membro ereto, a arma na mão esquerda. — Não adianta tentar investir. A trava já está solta. É só eu puxar o gatilho. — Melissa estava na cama, o vestido levemente levantado. — Vai, abre as pernas. Prometo que não vou enfiar a arma.

Melissa, sabendo do perigo, obedeceu a ele. Levantou o vestido, tirou a calcinha e abriu as pernas.

II

04/01/2016, 11h33min.

MARCELO HAVIA PENSADO SERIAMENTE EM se matar. Estava na parte da casa que tinha aquela florestinha, o bosquezinho, onde Joana havia se matado. Ponderou cuidadosamente sobre repetir o feito. Sua vida não tinha mais importância. As únicas pessoas em quem podia confiar, o filho e a namorada, haviam se mostrado as piores pessoas, duas cobras tramando contra ele no próprio covil. Ele já tinha passado por tantas coisas. Ele não merecia isso. Tudo bem que ele tinha traído Adriana com Otávio, mas as circunstâncias foram diferentes. Ele havia sido coagido, o que era totalmente diferente de premeditar e manter um relacionamento duradouro sob o mesmo teto em que os três viviam.

Ele procurou por uma corda e encontrou-a do outro lado da propriedade. Teria de passar próximo do cemitério — o cemitério que me abrigará daqui um tempo. Ele estava obstinado. Iria se suicidar mesmo. Mas algo impediu que ele fizesse isso. Impelindo-o a retornar para a família, o estampido dissonou no ar. Tiro? O que isso significava? Ele correu para dentro com discrição, para evitar qualquer eventualidade. Na sua visão periférica estavam todo o pessoal da mansão prostrados aflitos, chorando, a face uma máscara de horror e medo. Havia quatro homens que ele não conhecia, que brandiam armas de fogo, a autora do barulho. Robson estava jogado no chão, sangue escorrendo de sua têmpora. Ele está morto. Marcelo viu Melissa ser levada para o quarto. Um baixinho a acompanhou e o outro deixou o recinto, voltando para o hall.

Preciso fazer alguma coisa.

Ele não podia errar, pois isso poderia significar a morte de todo mundo.

III

04/01/2016, 11h38min.

BILOCA QUERIA BRINCAR PARA PASSAR O tempo e chegar a sua vez de foder a moça de cabelos curtos. Ele olhou para o corpo caído de Robson. Fazia algum tempo que ele não pensava em fazer isso. Talvez fosse a soma de todos os fatores que o estavam contornando. A verdade era que ele, desde pequeno, era aficionado por decapitações e decepamentos. Sentia um certo prazer — até o sexual — quando via membros separados do corpo. Por este motivo, sabendo que virar um psicopata como o Dexter ou coisa assim era muito perigoso, ele preferiu se tornar um açougueiro e se deleitar quando cortava carne. Mas com humanos devia ser muito melhor.

— Esperem aqui. — Biloca foi até a cozinha e encontrou a faca. Havia várias, mas ele se interessou pela única que tinha o cabo azul e um brilho particular na lâmina. — Essa é a mais bonita.

Ele retornou para sala.

— O que você vai fazer? — perguntou um dos outros capangas.

— Observa.

Biloca, um cara grandalhão como Jorge era, pegou a faca e começou a cortar o braço do mineiro, Robson. A faca deslizava pela pele e criava um caminho vermelho até chegar a um ponto branco, o osso, onde exigia muito mais força. Ele, que já era acostumado com isso, fez sem dificuldade. Ergueu a lâmina e desceu-a com muita velocidade. O barulho era como de carne sendo amaciada, embora não fosse nada do tipo. O sangue escorria pela faca e alcançava seu braço. Ele lambeu-o, somente para saber o gosto do sangue humano de outras pessoas. O seu ele já havia experimentado e fora uma coisa tão insossa. Agora, com o de outra pessoa, as coisas eram totalmente diferentes. Era tão delicioso aquele gosto de ferrugem somado à pureza da carne humana. Havia alguns nacos de pele, os quais ele comia com voracidade e avidez.

Ele passou para o outro braço. Depois de um tempo, repetindo o mesmo movimento, enquanto o pessoal sentia asco e gastura da cena tétrica, o braço foi decepado.

— Meu tempo como açougueiro serviu pra alguma coisa. Isso é tão bom.

Ele partiu para a perna. No entanto, antes que pudesse começá-la, ele retirou as calças do homem. Pegou a faca e começou a enfiar na bunda do morto. Ele fazia o movimento sexual e sentia-se excitado. Era bom mesmo. Se estivesse em sua casa, poderia ter usado outras ferramentas, mas ele não tinha como saber se Jeferson iria deixá-lo fazer o que ele gostava.

— Ele podia gritar — disse, meio tristonho, fazendo um muxoxo.

Adriana era a que estava mais perto daquilo. Tinha medo de se mexer, mas também não queria ficar perto daquilo.

— Por favor, pare de fazer isso.

— Você tem sorte de isso não ser com você.

— Por favor, eu vou... — Ela virou-se para o lado e começou a vomitar. Todo o café da manhã despencou sobre o sangue de Robson. — Para com isso, por favor.

— Cala a porra da sua boca. Você vai ser a próxima.

Depois de o homem ser completamente desmembrado na frente deles — embora todos tivessem virado o olhar —, ele apontou a faca sangrenta e com pedaço de carne para Adriana.

— Agora, como eu disse, você é a próxima. Tadeu, atira nas pernas e nos braços dela pra ela não se mexer.

Marcelo ouviu aquilo e soube que a morte de Adriana poderia estar próxima. Ele precisava ser rápido.

— Não mate ela. Por favor, faça o que você quiser fazer comigo.

— Não, Marcelo, por favor, não faça isso.

— Por favor, pai, não faz isso!

— Vem aqui, então. Levante a porra das mãos se não quiser morrer logo.

— Talvez fosse mais conveniente pra mim do que ser torturado por um psicopata.

— Mas, se morrer com um tiro na testa, a bonitinha vai sofrer do mesmo jeito.

Os soluços abafados eram ouvidos de todos os lugares, advindos da respiração arquejante dos residentes da mansão. Lígia, enfim, rezava verdadeiramente, e não apenas uma farsa, como vinha fazendo.

— E quem me garante que se eu for no lugar dela, você não vai fazer a mesma coisa?

— Você não tem opção — afirmou ele, e riu. Os outros dois o acompanharam.

— Vem. Estou pensando se vou enfiar essa faca no teu cu. Acho que vai ser legal. Tipo, eu fiz com o morto aqui, mas ele não gritou. Tipo, você gemendo e rebolando numa lâmina. Deve ser divertido.

Até os parceiros do cara, Tadeu e Serginho, estavam surpresos com o temperamento sociopata do colega. Alice não conseguia olhar para o homem. Era pesado demais. Já havia vomitado uma vez, como Adriana fizera. Ela percebeu que os outros da família Dallas também estavam no mesmo estado que ela. Enfim, demonstravam que tinham sentimento e que podiam ser afligido por coisas como essas. Mas, nesse nível crítico, apenas demonstrava que eles podiam ser muito bem futuras pessoas como aquele cara de nome Biloca.

Marcelo estava com medo. Ele tentaria desvencilhar do homem e tentaria salvar a todos, afinal, ele não estava ali para pagar de herói, só não queria que Adriana sofresse o que ela iria sofrer se ele não tivesse impedido. Mas isso não queria dizer que Marcelo queria sofrer uma tortura com a faca de cabo azul. Parecia, contudo, que ele não tinha muitas opções, sobretudo depois que teve as duas pernas baleadas.

— Agora você não anda. — Biloca se levantou e atirou nos braços caídos de Marcelo. — E agora você não pode fazer nada.

Marcelo havia gritado tão alto que até Jeferson, que já sabia da psique de Biloca, se assustou.

Não faça, isso, cara, por favor, estou te pedindo. Por favor, estou te implorando. Eu faço qualquer coisa. Por favor. Não faça isso.

— O herói tá amarelando? Não vai proteger a princesinha ali? Quer que a putinha ali assuma seu lugar?

Marcelo lembrou-se de tudo que ela tinha feito por ele. A traição eterna com o próprio filho dele. As mentiras, os segredos, as omissões, a humilhação. Então, ele se lembrou de como a amava. Não conseguiria vê-la sofrendo qualquer coisa que fosse.

— Não — refutou ele, um brilho obstinado em seus olhos. — Deixe ela fora disso.


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Notas finais do capítulo

Peço desculpas pela demora, mas saibam que eu terminarei a história, independentemente de quanto tempo eu leve para fazê-lo.



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