Feitos de metal e sangue. escrita por Cido


Capítulo 1
Oz.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, e por favor comentem, escrever para as paredes é chato.



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A porta se abre. Sei que ainda não está na hora da terapia ou do treinamento. Dois guardas, um humano e um robô, entram e me arrastam pelos corredores brancos da base do Delta K. Aprendi há muito tempo que não posso resistir.

Durante a guerra civil da Nova Republica um dos lados do governo apelou para crianças soldados, dando assim inicio ao projeto Delta K. Até os dias de hoje crianças são selecionadas aleatoriamente e os filhos são arrancados dos braços das mães quando nascem. As crianças roubadas são levadas para a base subterrânea onde são submetidos a treinos exaustivos e lavagem cerebral, quando alcançam a maior idade essas crianças são assassinos cruéis e sanguinários.

Meu nome é Oz, e fui selecionado pelo sistema há dezessete anos. Já matei oito pessoas, incluindo um dos treinadores e dois homens importantes dos Rebeldes.

Sigo pelos corredores, escoltado pelos guardas, posso ver pelas janelas crianças com menos de dez anos olhando para uma tela onde diversas imagens dos rebeldes destruindo a cidade passam. Nunca fui influenciado por isso. Ainda acho que o governo não tem o direito de nos tirar das nossas próprias famílias, abater e amedrontar inocentes.

O guarda humano digita a senha em um painel holográfico ao lado de uma grande porta, assim que o metal desliza sou jogado para dentro. Cerca de dez jovens estão amontoados dentro da sala. Alguns tem a lateral da cabeça raspada, esses tem dezoito anos e já tiveram os chips de neutralização retirados. Outros como eu ainda possuem a marca escura do fio sobre a sobrancelha direita. Reconheço alguns dos mais jovens das sessões de treinamento e alguns dos mais velhos do refeitório. Outros eu nuca vi.

Uma porta no lado oposto da sala se abre. Uma mulher de cabelos vermelhos entra na sala em silencio, Tente. Esse é o único nome pelo qual a conhecemos, Tente. Posso ver seus braços de metal polido por baixo das mangas de renda do vestido preto. Tente é uma lenda, ela perdeu os dois braços durante a guerra. Um ano depois a própria abateu os rebeldes.

- Vocês sabem o que fazem aqui? – Ela pergunta, sua voz é tão doce que assusta.

- Não.

- Bem, talvez vocês não saibam, mas nossa terapia não funcionou com nenhum dos doze – ela diz. – Demoramos muito tempo para perceber isso, agora vocês apresentam grandes riscos para o governo e para o próprio Delta K, então infelizmente teremos que abate-los.

- Não pode fazer isso...

- Se a terapia funcionasse você saberia que essa resposta está errada, Paige.- Tente sorri – Agora tenho que ir. Foi bom trabalhar com vocês.

A porta se abre e se fecha assim que a mulher de cabelos vermelhos sai.

- Porra! Vamos ser executados!

Ficamos cerca de vinte minutos em silencio esperando algo acontecer, fomos treinados para seguir ordens, então nenhum de nós tem um grande espirito de liderança. Começo ficar inquieto. Ainda não chegou a minha hora de morrer. Olho em volta da sala.

- Não tem câmeras – digo me surpreendendo com a minha própria voz.

- E dai? – reconheço a voz rouca de Paige.

Paige tem dezoito anos, é uma das garotas mais bonitas do Delta K, a cabeça parcialmente raspada não influencia em sua beleza. Porém o que ela tem de bonita vem em dobro na forma de perigo. Há boatos de que ela foi a recruta que passou mais tempo na solitária e assassinou mais pessoas em todos os quarenta anos de projeto.

- Não estamos sendo vigiados, você já esteve em algum maldito lugar sem a porra de uma câmera filmando qualquer merda que fazemos? - Quem fala é um garoto, que seria asiático, se a Ásia ainda existisse.

- Não...

- Há um duto de ventilação, você já viu algum duto de ventilação em alguma das salas? – Pergunto sorrindo.

- Não... – Paige sorri.

Todos nos entreolham por um segundo então começamos a nos movimentam para formar uma torre humana. Por algum motivo esse foi um dos treinamentos passados quando eu tinha doze ou treze anos. Todos conhecem seu biótipo, então não precisamos de nenhuma comunicação para que a torre se erga. Fico no penúltimo andar junto com o garoto asiático. Uma garota ruiva incrivelmente pequena e magra sobe nos ombros do garoto asiático e pisa no meu rosto.

- Desculpe, você é menor que ele – diz ela desparafusando a grade do duto de ventilação com a ajuda de uma presilha de cabelo. – Cuidado ai embaixo – grita a garota jogando a grade e sumindo para dentro do duto.

O garoto asiático faz sinal para que eu suba nos seus ombros.

O duto de ventilação é quente e apertado.

- Me ajude a tirar esses cabos – diz a garota ruiva. – Não tem fios dentro, que estranho, é tipo uma corda.

***

- Sabe onde está nos levando? – alguém pergunta.

- Não tem como errar – grita Fox, a garota ruiva, um pouco alto de mais. – Acho que chegamos no fim.

Não consigo ver o que Fox faz, mas a luz do sol invade os dutos, fico sego por um segundo.

Eu nunca havia sentido o verdadeiro sol na pele, apenas o sol artificial usado no centro de treinamento, as única vezes que eu sai da base foi durante a noite. Saio para uma floresta densa e temperada.

- Então isso é o sol verdadeiro? – Alguém pergunta.

Tiro os sapatos e enfio os pés na terra, sempre quis sentir isso. A brisa, o canto dos pássaros o cheiro de algumas flores vermelhas. É como se eu tivesse morrido e ido para o céu, o que é meio impossível por que assassinos vão para o inferno, pelo menos foi isso que eu li num livro de capa preta da biblioteca.

Me assusto ao ver um holograma azul surgindo entre as árvores. Tenente aparece com seus braços de ferro cruzados.

- Vejo que conseguiram sair, assim que derem falta de vocês cada um será caçado – diz o holograma. – Os mais novos ainda possuem o chip, então peço aos mais velhos que retirem, mandei que escondessem armas na e um quite de sobrevivência com um mapa para o lugar onde devem ir para cada um na mata. Se não conseguirem achar os quites e os mapas não merecem essa missão, espero não ter errado. Continuem vivos, entrarei em contato logo.

Ninguém diz nada, apenas sinto uma pancada forte na parte de trás da cabeça. Enquanto caio consigo ver o rosto de um garoto mais velho, esse tem a cabeça totalmente raspada e um sorriso malicioso no rosto.


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