Aos olhos da guerra escrita por maddiesmt


Capítulo 7
Capítulo 6 - Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Ressurgindo das cinzas!! Eis q volto com o cap 06 que eu fui buscar ali na galáxia mais distante e voltei a tempo de não deixar ngm desfalecer de curiosidade( assim espero).
Chega de lenga lenga e vamo ao q interessa!
p.s: Desculpem a demora meninas...mas basta saberem q eu to servindo de escrava branca no trabalho(lere,lere..vida de nega é dificil). Mas é o dizem qnt mais coisa tm pra fazer....mas fic vc escreve..e agora eu to com 3 fics pra fazer..sim eu sou louca mas n posso ignorar os insights enviados pelas forças criativas. Não se preocupem n abandonarei a estória...pelo contrário..agora q eu to inspirada msm pra continuar...enfim espero q gostem!



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Latejava de forma cruel e dolorosa. O vermelho que se alastrava pela sua pele branca revelava a violência do ato...mas o que mais o assustava não eram os danos físicos sofridos...mas sim os mentais. Vê-la apagar toda uma vida de forma tão displicente o deixava consternado.
Sabia que encontrar culpados só o faria perder tempo. E ele queria recobrar aquele tempo perdido nas memórias dela.
Tocou levemente a bochecha mas a dor que sentia não era a do pulsar da carne. Era uma dor longe das patologias biológicas e mais próxima das sentimentais. Ela o revelava a seu medo mais profundo: o do esquecimento.

FLASHBACK
O olhar confuso dela ainda estava perdido no seu. O rapaz sentiu um desespero enlouquecedor fechar a garganta e lhe deixar mudo.
–Gina...- ele tentou. A calma que ele buscava manter não se fazia presente em sua voz. E a forma vacilante com que ele tentava explicar o que estava acontecendo fazia com que os fatos parecessem pouco verídicos.
–Gina...-ele tentou mais uma vez.- Você...você está bem agora. Fique calma que você vai lembrar...você tem que se lembrar...meu amor...
–Amor?- a moça franziu a testa e apertou os olhos. Algo estava errado. Algo estava muito errado.
Ele sentiu a mão dela fugir da sua e a viu se afastar e se encolher um pouco mais na cama.
A moça aos poucos foi estreitando ainda mais os olhos....como se procurasse entender o que estava acontecendo, onde estava e quem era aquele que estava velando seu sono.
–Gina sou eu....- ele não precisou continuar. Observou os olhos da moça se arregalarem, a respiração acelerar e o rosto enrubescer.
–Ferdinando?
Como ele sentia saudade de ouvir o seu nome ser pronunciado por aquela voz tão doce...sorriu instantaneamente. Deixou uma lágrima desprender-se e mergulhou lentamente em direção a ela. ..acariciando seu rosto com as mãos livres e fechando os olhos automaticamente.
Aproximou-se de forma a misturar seus hálitos. Precisava do doce sabor que apenas os lábios dela proviam. Ansiava pelo contato que um dia os uniu pra sempre. Que o fez perdidamente apaixonado. Foi então que ela o surpreendeu...como sempre fazia na vida.
O tapa foi certeiro e forte. Pior ainda foram as palavras que se seguiram e saiam de forma fácil pela boca que um dia fora só sua.
–Oce não se aproxime de mim seu engenheirinho! – ela apontou ameaçadoramente para ele e percebeu o olhar que ele lançava sobre o seu corpo. Não era um olhar de completo desejo mas, sim, de preocupação. Foi então que ela notou as estranhas vestes que possuía. Usava apenas um roupão de seda pérola que, com os movimentos bruscos que fizera, tinha aberto mais do que deveria.
Apressou-se em fecha-lo com mais força quando percebeu que não usava nada por baixo. Onde estava? O que estava acontecendo? Que roupas eram aquelas? Onde, por Deus, havia se machucado tanto? E por fim.. o que diabos estava fazendo seminua no mesmo quarto que Ferdinando?
A moça tentou sair da cama e ir o mais longe que podia dele mas sentiu uma dor inexplicável no ventre e soltou um grito de agonia.
–Gina! Oce ta bem? Cuidado meu amor, oce não pode se mexer muito.- Ele saiu da extremidade vazia e fria da cama e a contornou para mais uma vez ficar ao lado dela.
–Oce pare de agir como se tivéssemos alguma coisa Ferdinando. Senão eu lhe meto a piaba!- As mãos se prendiam com força a cabeceira trabalhada em ferro e aço da cama que não a pertencia.
–Gina, por favor, não faz isso comigo menininha! Sou eu! Ferdinando...o seu marido.- o rapaz agora agarrava as esperanças que se esvaiam a cada olhar repugnado que ela o direcionada.
–Oce para com essas suas sandices Ferdinando! Eu vou la ser sua esposa? So se eu tivesse lelé das ideias. – Tentou novamente e, com algum esforço, conseguiu se levantar sozinha da cama. A dor presente no baixo ventre não era nada comparada a confusão que resultava em uma enxaqueca assombrosa e um enorme sentimento de não pertencer.
Sentia-se intrusa de si mesma e não entendia metade dos pensamentos loucos que tinha.
Ferdinando assistia a agonia dela sem saber como lidar com a sua própria. Via a mulher da sua vida se tornar frágil diante do esquecimento. Nunca a tinha visto tão desnorteada e saber que era o responsável por isso lhe causava repulsa.
Sim. Era o responsável. Até que se provasse o contrário ou algum culpado real aparecesse.
–Meu amor, por favor, volte pra cama. Você sofreu perdas demais. Você precisa descansar. Vem menininha?!- o pedido mais parecia uma suplica. Ele via como as pernas dela ainda tremiam, o corpo levemente inclinado para frente e as mãos posicionadas onde antes habitava a sua filha indicavam que a dor não havia passado. Ofereceu uma mão, a convidando a voltar para o repouso e apenas recebeu um olhar de desprezo.
–Eu não preciso da sua ajuda Napoleão.
–Amor...por favor...vem? Olha, a gente pode fazer assim. Oce deita comigo, a gente fica abraçadinho e eu vou lhe explicando tudinho. – tentou a técnica que usara logo no inicio do casamento, quando ela se aborrecia com ele ou quando não entendia alguma coisa e acabava se irritando por conta disso.
Ela observou a mão que continuava estendida em sua direção. Sabia que o certo era ignorar esse pedido descabido. Mas alguma coisa achava tudo aquilo muito familiar para ser ignorado. Tremeu um pouco mais deixou o corpo seguir o que lhe parecia algo automático. Estava quase encostando na mão dele quando o medo tomou conta novamente.
–Oce ta mais é besta!- recolheu a mão e a repousou sobre o colar de camafeu no pescoço. Ainda estava sobre ações corriqueiras. Não sabia o que tinha nesse tal cordão. Apenas sabia que toda vez que esse medo absurdo a atingia, o melhor a fazer era agarrar-se nele.
–Gina! Não tem problema nenhum. Eu sou seu marido menininha. Oce não lembra? Não lembra de nós?
–Não existe nós Ferdinando!- Os olhos arregalados dela deixavam transparecer a grande confusão em que ela estava mergulhada.
–Não diga isso meu amor. Por favor! Você vai lembrar. Eu sei que vai. Você se machucou e é por isso que não se lembra mas...mas eu tenho certeza que você vai se lembrar. – o desespero na voz dele a deixava duvidosa mas a situação era estranha demais para basear-se apenas em palavras de um arrogante engenheiro.
A moça desviou o olhar, levou as mãos a cabeça e de repente o mundo estava rodando. A dor no ventre persistia mais não era comparada a forte dor que lhe enviava flashes de momentos que não estavam ali na sua memória antes.
Fechou os olhos com força e apertou os ouvidos. O som estava preso em algum lugar no seu cérebro. Era uma mistura de risos, gritos, choros , tiros, estrondos e um amontoado de ruídos irreconhecíveis. Algumas imagens acabavam se formando em seus olhos fechados. Via sangue, via a vila ao amanhecer, uma pequena muda de árvore, uma multidão desesperada e um par de olhos azuis que logo a deixaram pela escuridão novamente. Sentia um misto de sensações abraçar e viajar pelo corpo. Arrepios na nuca, tão familiares e tão distantes. O coração acelerado e prestes a cansar de bater. Um medo súbito de abandonar o que quer que fosse. Náuseas de origem desconhecida. Uma impressão de perda que lhe desesperava de maneira inumana. A única certeza que tinha em tudo isso era que tinha perdido a razão em algum lugar desconhecido. Estava ficando louca.
Antes que acordasse desse breve passeio pela confusão mental em que se encontrava, teve uma ultima lembrança vaga e incoerente. Engoliu em seco com a sensação de um liquido morno lhe molhar as coxas. Olhou para as próprias pernas e não identificou nada fora do lugar. Mas antes que pudesse ter absoluta certeza, piscou mais uma vez. E de repente não estava mais no quarto e sim em um campo totalmente destruído. Lembrou da sensação mais uma vez e viu o sangue escorrer por entre suas pernas. A agonia tomou conta novamente. Precisava salvar alguma coisa. Precisava, desesperadamente, que aquele sangramento parasse ja que ele lhe dava a impressão da morte iminente. Não necessariamente sua. Mas de algo muito importante dentro de si. Mais uma vez a dor no ventre a fez lembrar que não estava totalmente recuperada e ela cambaleou até ser aparada pelos braços fortes de alguém.
–GINA! Meu amor! Fala comigo! Por favor!- O corpo dela ainda estava mole em seus braços mas ele podia ver que ela não estava desmaiada. Apenas tinha perdido as forças. Ele aproveitou que ela ainda estava perdida em algum lugar na memória e a carregou de volta a cama, respirando fundo a cada estalo que sentia nos ferimentos do corpo que reclamavam seu esforço. Continuou abraçado a ela e fazia questão de reafirmar o seu amor em cada frase dita. Fazia questão de se comprometer a arrumar a bagunça feita. Precisava tanto quanto ela, acreditar que tudo ficaria bem.
–Eu vou cuidar de você meu amor! Eu te amo! E nós vamos superar tudo isso você vai ver! Eu prometo que tudo vai ficar bem.- perdeu a conta de quantas vezes sussurrou essas mesmas frases hora mergulhado no cabelo dela, hora em seu ouvido.
A ruiva continuava em estado de choque e mal ouvia o que lhe era dito. Estava concentrada em manter a respiração enquanto se perdia em episódios que se acumulavam e se misturavam em seu cérebro. Até que as cenas se acalmaram novamente e ela percebeu onde estava e quem estava ao seu lado. Sentia os braços protetores dele a abraçarem delicadamente. Os beijos ternos eram dados em seus cachos e rosto. Desde quando ela se deixava envolver por Ferdinando daquela forma tão intima? Não se lembrava de um dia ter permitido tal atrevimento mas, ao mesmo tempo, tudo aquilo parecia agradavelmente correto. Balançou a cabeça com força e se livrou dos braços dele.
–Mai o que oce pensa que ta fazendo?!
–Calma meu amor!
A moça ja estava fora da cama e em pé novamente. Ferdinando suspirou em claro sinal de frustração. Pensava, realmente, que havia conseguido.
Ela andava de uma lado a outro como se estivesse enjaulada em pensamentos e confusões. Não aguentava essa incerteza toda e ele não ajudava em nada a chamando tão docemente por nomes amorosos demais. Ele tentou chama-la novamente e ela explodiu.
–Ferdinando, oce faça um favor sim? Não me chame mais de amor!
–Mas Gina você é...- ele não queria acreditar na realidade de não te-la e antes que pudesse continuar foi cortado novamente.
–Não interessa o que oce fala que eu era antes de tudo isso! O importante é o que eu sou agora! E eu sinto muito Ferdinando mas, no momento, eu não sou o seu amor!
A frase obteve efeitos, sobre ele, maiores que o tapa.
O rosto de Ferdinando anuviou-se de forma que ela pode sentir que alguma coisa estava realmente errada. Ele estava verdadeiramente triste e ela não sabia bem o por que.
–Oce não pode ta falando sério!
–Tão sério que se oce se aproximar de mim de novo...oce vai ser um homem morto!- o queixo erguido em claro sinal de ameaça o lembrava do desafio que foi conquista-la. Seria isso mesmo? O recomeço de uma batalha ja travada?
Gina observou a esclera do rapaz revelar vasos sanguíneos. Não sabia ao certo se a vermelhidão de seus olhos significava cansaço ou proximidade de lágrimas. Na certa a primeira opção, ja que se recusava a pensar que Ferdinando um dia chorou na vida. Não por sua causa, pelo menos.
–Gina....meu...- ele ia chama-la novamente. Mesmo sabendo da ameaça que ela tinha feito.
–Nem comece Ferdinando...- um dedo apontado e ele sabia que ela estava falando sério.
Ainda assim, se aproximou mais uma vez e a surpreendeu puxando – a para um abraço forte o suficiente para deixar o seu perfume grudado na pele dela.
A moça ficou paralisada. Pensou em se debater contra ele mais o calor do corpo do rapaz era tão reconfortante que ela cedeu.
–Eu não vou desistir de você menininha...Nunca! Você pode não lembrar agora mais eu sei que um dia tudo vai voltar a ser como era antes. – os sussurros em seu ouvido a faziam arrepiar. Por que seu corpo respondia tão drasticamente a cada ação dele?
O engenheiro sentia a seda fina da camisola, colar nas curvas da mulher. Como sentia falta daquele corpo escultural que o enlouquecia. Ousou fazer pequenos círculos com os polegares na direção onde suas mãos estavam repousadas: na cintura dela. Percebeu que a moça estava estática. Não o abraçava mas também não o repelia. Pelo menos até o momento. Era sua chance. A chance que estava esperando para traze-la de volta a realidade. Levou uma das mãos a nuca da esposa e se afastou o suficiente para olha-la nos olhos. Fez um breve carinho no pescoço e massageou a nuca dela com apenas uma mão. Apertando os pontos certos e tensos. A viu fechar os olhos e aprovar o toque. Decidiu que a única forma de traze-la de volta era lembra-la de como haviam começado tudo. E mergulhou em direção aos lábios dela.
Absorta e totalmente fora de si, Gina estava sentindo uma maré de sensações relaxantes e deliciosas a cada toque de Ferdinando em seu corpo. Iria permitir que ele continuasse se seu ego não fosse tão mais forte e orgulhoso e, então, afastou-se quando faltava apenas um dedo de ar para que seus lábios se encontrassem.
–Oce me deixe Ferdinando! Me deixe!- Com essas palavras ela deixou a segurança dos braços dele para o labirinto da casa que não conhecia. Dava passos incertos e ainda vacilantes em direção a algum lugar que a privasse da companhia dele. Precisava ficar sozinha. Precisava se encontrar em meio a tudo isso.
Logo descobriu uma porta no final do corredor bagunçado e se trancou. Ainda conseguia ouvir a voz suplicante dele a chamando por nomes carinhosos para que o ouvisse, para que voltasse a repousar e para que tentasse se acalmar. Ela não faria nada disso. Não enquanto ele a estivesse rodeando com tanta sede e outros sentimentos que ela sequer conhecia.
–Gina! Gina Abra a porta por favor! Gina me ouça...não é bom você ficar fora da cama. Volte e eu juro que lhe deixo em paz até você recuperar a memória. Gina!!
Ela deixaria que ele cansasse de falar. Sentia as lágrimas descontroladas invadirem a palidez do seu rosto. Não sabia ao certo por que estava chorando mais precisava liberar aquela tensão toda. Deixou o corpo deslizar pela parede fria de porcelana do banheiro elegante e se encolheu no chão. Cingindo as pernas e deixando a cabeça repousar nesse abraço.

FIM DO FLASHBACK

O rapaz teria ficado la para sempre se assim fosse a vontade dela. Mas deixou que Renato e Juliana o convencessem a voltar para o quarto que lhe foi destinado e repousar. Trariam noticias assim que a obtivesse e isso ja fazia quase uma hora. Aproveitou esse tempo para indagar o que havia feito de errado e o principal... quem também havia errado.
–Ferdinando?- a professora entrava com certo cuidado no quarto onde o engenheiro tinha sido deixado.
–Como ela esta?- Seco. A voz quase inexistente saia fina e amargurada.
–Bom. – ela analisou como colocaria as verdades a disposição dele.- O Viramundo conseguiu fazer com que ela saísse do banheiro e a convenceu a deixar que Renato a examinasse. Ele está fazendo isso agora.
Ferdinando pensou que não podia sentir ainda mais dor. Mas ouvir que o violeiro estava ganhando a confiança que era destinada a ele o fez querer vomitar.
A pontada deixava de ser apenas em seu coração e agora lhe doía toda a alma. Parecia um veneno que corria demais pelas suas veias finas.
–E como você está meu amigo?- a doçura na voz fez o engenheiro duvidar da raiva que nutria por ela.
–O que ocê pensa que está fazendo Juliana? Não...a pergunta é o que ocê pensava que estava fazendo?- os olhos se voltaram para ela com uma carga enorme de desapontamento.
Aturdida, a moça resolveu que o lado oposto do quarto era mais bem vindo do que a proximidade, no momento. Conseguia sentir ressentimento e decepção na voz e expressões do amigo.
–Olha...Ferdinando eu... eu...
–Não se de ao trabalho de se desculpar. Oce sabe que não vai adiantar.
–Então me diga o que você quer que eu faça?- os ombros espremidos mostravam que ela estava desconfortável com a situação.
–Eu quero que me explique Juliana! Eu quero que me explique que tipo de amizade você tinha pela minha mulher quando permitiu que ela fizesse uma insanidade dessas! Você devia ser a consciência dela e não se deixar levar pela sua loucura!
–Meu amigo. Me perdoe. Mas você conhece a Gina. Ela não ia desistir. E eu...eu também queria encontra-los.- ela pousou uma das mãos no pescoço. Sentia os músculos ficarem tensos. Não gostava de discursão...mas la estava ela, navegando por uma.
–E você não pensou nas consequências?
–E você pensaria?- uma sobrancelha arqueada. Não gostar de discussões não significava não poder se defender.
–Isso não vem ao caso. Não fui eu que deixei o meu melhor amigo em frangalhos.
–O que você esta querendo dizer?
–Que mais uma vez Juliana, oce pensou no seu próprio umbigo! Oce permitiu essa estupidez por que também queria estar com o seu amor!
–E você também não queria?!
–Não! Não assim!- Ferdinando ja estava de pé e a olhava com uma raiva flamejante nos olhos.
–Para sua informação doutor engenheiro. Você não foi o único que teve perdas.- partiria para a realidade dos acontecimentos. Não podia se deixar ofender dessa maneira injusta.
–Estou ciente das nossas situações professora.
–Então espero que saiba que não existem vencedores nessa casa.
–Não. Mas existem culpados.- a voz rasteira dele dava a impressão de uma falsa calma que logo seria perdida.
–Você quer parar de me tratar como se eu fosse um traidora?!
–E não é isso o que você é?!- mais uma oitava a cima do permitido e ele estaria gritando.
–NÃO!- a moça, agora sem peruca loira e ainda com o uniforme sujo do exercito, não aguentou a pressão da discussão e deixou claro que não concordava com esse julgamento todo.
–Me desculpe mas eu não sei enxergar outro ponto.- teimoso e irredutível. Ele estava irreconhecível aos olhos da amiga.
–Saiba senhor engenheiro que se não fosse pela Gina. Você e o Zelão estariam mortos.- Jogaria assim. Despejando verdades.
–Eu preferia estar!
–Você não sabe o que diz!
–Eu sei! Eu preferia que eu estivesse morto a viver uma situação dessas. – As mãos foram jogadas, nervosamente, na testa. Estava claro que Gina não era a única confusa da casa.
–Ferdinando...não fale besteiras.- a professora estava indignada com o pensamento do engenheiro.
–Eu não estou falando nenhuma inverdade.- voltou-se para ela com ainda mais tristeza na voz.
–Eu estou sofrendo tanto quanto você! Ou você acha que não me doi ver a Gina tão confusa? Você acha que eu estou feliz Ferdinando? O meu marido corre o risco de nunca mais andar!- As mãos estendidas na frente do corpo revelavam a suplica para faze-lo adquirir o bom senso novamente.
–E EU PERDI A MINHA FILHA! – Não aguentou. Tirou da garganta o nó que a estava fechando.
O silencio que tomou o quarto logo apos o grito de desabafo do rapaz foi o suficiente para fazer com que as lágrimas, antes presas, caíssem em ambos os rostos.
–Eu...eu..- a professora balançava veemente a cabeça. Não esperava por isso apesar de já desconfiar do resultado da aventura.
–Eu perdi a minha filha Juliana! E o amor da minha vida....nem lembra o quanto é importante pra mim! Eu preferia estar morto mas vivo na memória dela. Eu preferia ter explodido naquele maldito lugar a ter que conviver com a ideia de que talvez ela nunca lembre de mim, de nós. Eu seria uma alma feliz se ela chorasse a morte de alguém que ela amasse. Ela teria para sempre uma memoria viva de mim...e agora...agora eu não tenho mais filha...eu não tenho mais mulher...então me diga Juliana...de que adianta viver?- a voz falhou nas ultimas frases. Eles estava se afogando nas lágrimas que não paravam de cair.
–Você sabe muito bem que, mesmo que eu tenha tentado impedir, ela viria do mesmo jeito. E se por um acaso não viesse, ela não saberia lidar com a informação da sua morte. Você sabe tão bem quanto eu o quanto que a Gina é forte em muitos quesitos. Mas quando se trata de você...ela é....diferente.- a voz paciente da moça tinha voltado. Sabia que precisava manter a calma diante das grandes perdas que o amigo sofrera.
–Ela suportaria...eu sei que sim. E você como amiga deveria ter tido a decência de não incentiva-la.
–Ferdinando...ouça...não vamos nos alterar. Vamos acabar falando o que não queremos.- ela tentou se aproximar novamente mais notou que ele fechou o punho e tremeu como se tentasse manter a voz baixa e não explodir novamente.
–Eu sei muito bem o que eu tenho para lhe falar. Eu quero que você se afaste. De mim e da Gina.
*
E, pela primeira vez desde que recebera o diagnóstico que o colocara em uma viagem constante ao futuro, Zelão tinha ficado sozinho. As palavras do médico e ex namorado de sua mulher ainda ecoavam em sua mente. Uma rase de palavras complicadas que terminariam em uma conclusão arrasadora: Não voltaria a andar.
FLASHBACK

O médico continuava a avaliar as costas do capataz. Estava ciente dos olhares preocupados da esposa do homem deitado a sua frente. No entanto, mesmo com o passado que os rondava ou as possíveis mágoas ainda presentes, Renato não tinha nenhum sentimento que não fosse pena ou qualquer coisa perto disso, quando deu o diagnóstico.
– Eu lamento muito mas pelo que estou percebendo, creio que o Zelão acabou sendo vítima de um “ Trauma raquimedular entre as vertebras T12 e L1 que ocasionaram um possível choque na medula espinhal.”
A moça de olhos azuis arfou com o susto da noticia e logo depois caiu desolada na poltrona perto da cama.
As lágrimas e expressões da mulher deixavam Zelão ainda mais nervoso. Não tinha entendido uma palavra...mas qualquer que fosse a sua doença, sabia que era grave. Não estava acostumado com esses termos médicos cheios de frescura e, na verdade, sentia falta da objetividade da mãe nessas situações.
–Eu sinto muito.- o médico colocou Zelão na posição de antes. O deixando deitado de barriga para cima e olhando para o teto.
–Oce pode me dizer o que está acontecendo?
Renato lembrou-se que não estava em um hospital e muito menos conversava com entendedores de assuntos tão específicos.
–Bom, Zelão eu vou tentar ser sincero e claro. Esta bem?- O medico tinha um olhar escurecido e temerário que deixava o paciente ainda mais aflito.
–Oce fale logo doto!
–Os danos foram maiores do que esperávamos meu caro, veja. Com a explosão vários destroços foram lançados e um deles o atingiu no ombro assim como algum outro objeto menor atingiu o braço de Juliana. O caso é que, você é o sobrevivente que mais próximo estava da bomba. Ela lhe arremessou por vários metros o que ocasionou um trauma em suas vertebras. Esse trauma, pelo que posso perceber, foi forte o suficiente para lesionar a sua medula espinhal resultando, assim, em um caso de paralisia. Eu sinto muito meu caro mas, ao que tudo indica, você nunca mais poderá voltar a andar.
Ali estava ele. O medo que havia perdido há anos atrás havia voltado em formato de dependência física.
–Tudo bem meu amor...nos vamos...nos vamos nos adaptar você vai ver.- A voz da esposa era doce e confiante, mas ele não tinha certeza de que era isso que precisava no momento.
–E só isso?- Zelão não se deu por satisfeito. Sabia que existiam complicações maiores do que o simples fato de não voltar a andar ja que não sentia absolutamente nada até certo ponto do corpo. Além do mais, a proximidade da esposa, o fazia lembrar que suas obrigações como marido poderiam estar comprometidas.
–Não. Eu temo que não.
–Como pode haver mais coisa?!- A voz de Juliana estava embargada e ela não sabia se conseguiria manter esse fio de voz que sumia diante dos soluços.
–Diga!- o paciente pediu.
–Eu não creio que seja o momento para..
–DIGA!- a voz forte, os olhos arregalados e os punhos cerrados deram ao médico a certeza de que, senão fossem pelas pernas imóveis, seu corpo ja estaria no mínimo a 3 palmos do chão, sendo carregado pelo colarinho pelo doente.
–Eu temo que suas funções inferiores estejam comprometidas.
–Quais?- Zelão tentou encorpar uma voz mais indiferente, sem muito sucesso.
–Todas elas.
–Meu deus! Não nos torture mais e diga logo o que quer dizer Renato!- Dessa vez foi a paciência de Juliana que se esgotou.
–Zelão pode apresentar perda em várias funções além das motoras. Ele também pode apresentar um déficit de ordem excretora e, possivelmente, uma disfunção sexual.
–Não pode ser- um murmúrio de voz indicavam que ela ja tinha consciência da realidade cruel.
–Eu, sinto muito mesmo Juliana, mas nessas condições, a possibilidade da geração de um filho é quase nula.

FIM DO FLASHBACK

Zelão realmente agradeceu ao fato de Gina ter despertado e estar aparentemente fora de si. Não que ele desejasse algum mal a mulher de um de seus melhores amigos, mas pelo menos as atenções se desviaram.
Renato teve que pedir para Juliana tentar tira-la do banheiro em que ela se encontrava dando, assim, a oportunidade que Zelão queria de ficar sozinho com seus pensamentos.
Ignorava os gritos e suplicas que vinham do outro compartimento da casa. Estava surdo para o exterior. Apenas vagava entre seus deveres, escolhas e o realmente desejava.
Era simples pensar em seus mais profundos sonhos. Queria sua mulher sempre ao seu lado, sendo sempre daquele jeitinho independente que o fazia apaixonado. Queria uma dúzia de filhos que corressem pela casa e que ele ensinaria a cavalgar. Desejava ardentemente aquela felicidade que tinha, antes de tudo começar, de volta e para sempre.
Mas não a teria mais. Nunca mais. Isso por que estava certo dos deveres que lhe cabiam. Não seria egoísta de mantê-la presa a um moribundo. Alguém que não conseguia vestir as próprias calças. Alguém que dependeria sempre da sua ajuda para tomar banho, se alimentar e até evacuar. Alguém que nunca lhe daria o que ele sabia que ela mais queria, um filho. Não, não poderia ser egoísta ao ponto de transformar a mulher da sua vida em uma eterna enfermeira.
Estava decidido. So não sabia ao certo como dizer a ela. Não sabia direito nem como afirmar para si mesmo que seu casamento tinha chegado ao fim.
*
O dia estressante passou rápido demais para quem pensou que ele seria eterno.
Viramundo se virava em ajudar Renato e manobrar alguma coisa no fogão, coisa que tinha aprendido com a esposa quando viajavam em turnê.
Pegava alguns itens da dispensa rica e abandonada e criava qualquer coisa que fosse comestível, não necessariamente apetitosa, ja que uma coisa é aprender e a outra é ter talento.
Zelão ainda buscava um meio de contar a nova resolução para a amada mais a via tão triste devido a alguma discussão sem sentido que tivera com Ferdinando que decidiu que, pelo menos por aquele dia, ainda encenaria o papel de marido adoentado.
Renato, que tinha olheiras maiores do que um médico deveria permitir, verificava a situação de todos e, entre os intervalos, deixava uma ou duas lágrimas caírem sem razão especifica.
Ferdinando havia tentado, mais vezes do que era possível contar, falar com a esposa mais essa estava irredutível. Seguiu o conselho do amigo e, mesmo que a contra gosto, deixou que ela descansasse e tentasse, por si mesma, lembrar de tudo. Deitou-se na cama que lhe foi designada e manteve os olhos azuis fixos em algum ponto no teto e, pela primeira vez em muito tempo, rezou. Rezou como fazia quando pequeno, quando desejava muito algo que não era seu. Não estava muito fora da sua realidade infantil. Queria a esposa de volta....mas no momento...ela não era sua.
Gina estava no quarto ao lado. Mantinha a porta trancada por via das duvidas. Não confiava nas verdades ditas por pessoas que ela mal conhecia ou lembrava-se de conhecer. Tudo parecia uma grande mistura de confusões. Não tinha sono e decidiu pensar sobre tudo. As mãos ainda seguravam fortemente o camafeu enquanto as costas estavam encostada na estrutura de ferro delicadamente retorcido que era a cabeceira da cama e as pernas cobertas pelos lenções de algodão. Teve que se apropriar de algumas peças do guarda roupa do quarto em que estava e se surpreendeu ao encontrar tudo o que detestava. Vestidos espalhafatosos porém bastante elegantes. O que ela não daria por algumas boas calças. A dona do quarto era um pouco mais baixa mas nada que fosse realmente notável. Decidiu que teria que lidar com isso. Pelo menos por essa noite ja que no dia seguinte, na certa, voltaria para casa. Vestiu uma camisola qualquer de longas mangas e tecido fino. Uma peça que estava escondida no fundo da gaveta e era simples o suficiente para ser bem quista por ela.
Agora que tudo estava em silencio novamente. Ela não deixava de sentir aquele senso de perda dentro de si. Tinha certeza, perdera mais do que a memória apesar de não saber exatamente o que.
Numa dessas suas tentativas de lembrar do que havia deixado pra trás, as mãos nervosas acabaram por abrir o pequeno camafeu preso no cordão. Ela se espantou. Não pensava que aquela simples joia também guardasse segredos e o que encontrou ali dentro a fez perder a respiração.


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