Ela passou pelos procedimentos de segurança da prisão dos encanadores, atravessou várias salas até entrar em uma mais isolada, não havia mobilha, só uma mesa e um par de cadeiras que pareciam se fundir ao chão. Sentado em uma das cadeiras, de frente para ela, com as mãos presas em algemas energéticas para impedi-lo de usar seus poderes, que por sua vez estavam presas na mesa, estava o homem o qual ela foi ver. Kevin Levin.

Vê-lo depois de tantos anos foi uma injeção de adrenalina em suas veias, engraçado como depois de tanto tempo, depois de tudo que aconteceu, depois de tudo que ele fez, ele ainda causa essa reação na ruiva. Ela respira fundo para acalmar seu coração, e caminha até a cadeira vaga.

–Você vai dizer porque veio aqui, ou vai ficar me encarando?- Ela percebeu que realmente o estava encarando por muito tempo, ela não pôde evitar, o rosto dele estava diferente, mas ela não conseguiu apontar exatamente o que, mas ao mesmo tempo era dolorosamente familiar.

–Me desculpe, eu...- Ela começa a falar envergonhada, mas é cortada pela voz calma de Kevin.

–Você não precisa se desculpar para mim.- O modo que ele diz isso é tão sereno, como se ele também estivesse se desculpando. Passaram se mais uns momentos de silêncio até Gwen começar a falar.

–Eu conversei com meu pai, ele vai pegar seu caso. Ele disse que pode conseguir com que somem os quatro anos que você passou no nulificador à sua pena. Já que da primeira vez você não teve um julgamento apropriado.

–Porque você esta me ajudando Gwen?- O olhar de Kevin era pura mágoa. - Tudo que fiz foi te machucar, faça um favor a si mesma e me deixe apodrecer aqui.

–Eu vou fazer o que eu acho que é justo. -Só precisava olhar para o par de olhos verdes brilhando com determinação para saber que ela não ia mudar de ideia, ele levantou o canto dos lábios em um meio sorriso. Ela retribuiu com um sorriso suave acompanhado de um olhar compreensivo, permaneceram assim por um longo momento, até Gwen relutantemente quebra o silêncio.

–Acho que você deveria saber...- Ela fala com um quase suspiro. -Devlin esta comigo. - Ela passa a esperar uma resposta.

Devlin, seu filho, mas não o filho dela. Filho de uma mulher qualquer, filho de sua sede de poder. Droga ele nem se lembra do nome dela, ele lembra que ela era uma mulher poderosa, mas não tanto quanto a Gwen, lembra do quanto ela era bonita, mas não chegava aos pés de Gwen. Ele lembra de dormir com ela e dois anos depois voltar para tirar Develin de seus braços, lembra dela implorando para que ele não levasse o filho dela, lembra dela se matando de desgosto. Mas não lembrava o nome dela.

–Bom. Ninguém melhor que você para cuidar dele.

–Ele acredita em você Kevin, porque você não pode acreditar em si mesmo?

–Porque estou cansado de machucar aqueles que amo. Sabemos que se eu sair daqui, será só uma questão de tempo até eu voltar a velha sede de poder. Sempre soubemos.

–Não, Kevin...

–Então eu sempre soube!- Ele levanta a voz e se agita na cadeira pressionando os pulsos em cima da mesa.

–Eu sempre soube que você merecia algo melhor, sempre soube que eu ia acabar te machucando, e isso só me torna pior!

–Não, isso só prova que eu estou certa.- Ele a encara confuso.- Isso Kevin, só prova que mesmo com todas suas duvidas, todas suas inseguranças, todas nossas diferenças, você sempre tentou dar seu melhor.- Ela descansa uma mão por cima da dele, as algemas de energia tinham uma sensação fria contra a pele, mas as mãos dele estavam quentes, a ruiva sentiu ele relaxar com seu toque.

–Tem mais alguém aqui que quer te ver.- Ela fala depois de um momento de silêncio, ele a questiona com o olhar.

Gwen faz um sinal para a câmera de segurança e a porta se abre revelando o menino de dez anos que se assemelha tanto ao seu pai.

–Devlin!- Kevin não pôde evitar sorrir.

–Pai!- O menino corre para até o lado de Gwen, e ela o coloca em seu colo.

–Você esta gostando de ficar com a Gwen?- Era estranho, ele não sabia o que falar ao filho, tudo que ensinou a ele até agora estava errado.

–Sim! Ela é muito legal!- O garoto a olha sorrindo, e essa visão aquece o coração do renegado.

–É, ela é muito legal.- Kevin tinha nada menos que adoração em seu olhar.

–Pai...- O garoto chama novamente sua atenção.- Gwen contou como você era antes... divertido, forte, um herói. Ela contou histórias de como vocês se divertiram e salvaram o universo... Você acha que pode ser assim de novo?

"Eu não sei" Ele quis dizer. "Não tenho forças" Tentou dizer. "estou cansado" Ele tinha que dizer, mas ao olhar nos olhos marejados do filho e os olhos questionadores de Gwen ele não conseguiu, ao invés disso ele disse:

–Eu vou tentar.- Então as duas pessoas mais importantes da vida dele sorriram e foi como se ele visse luz pela primeira vez em anos.

–Temos que ir, o horário de visitas esta acabando.

–Tchau pai.- Devlin deu a volta na mesa e abraçou Kevin, ele queria abraça-lo de volta, mas as algemas não permitiam e nesse momento escorreram lágrimas de seus olhos.

–Tchau meu filho.- Com isso o menino sai da sala com a cabeça baixa afim de esconder as próprias lágrimas.

–Obrigado por tomar conta dele, ele é tão parecido comigo... As vezes isso me assusta.- Gwen segura sua mão novamente.

–Isso é uma coisa boa Kevin.- Ele olha a mão delicada dela sobre a sua calejada e permaneceu assim por um bom tempo.

–Eu realmente tenho que ir.- Ela diz quase sussurrando. Ele solta sua mão e ela se levanta, quando ela alcança a porta ele pergunta:

–Algum dia você vai desistir de mim?

Ela para, e se vira para encontrar seus olhos.

–Nunca.