_ Aquilo o quê ?
Ok, eu sei que é idiotice tentar me fazer de desentendida agora, mas não consegui achar outra escapatória.
_ Mônica Sousa, para de se fazer de desentendida! - Magali quase grita - Por que não me fala a verdade ? Você gosta dele, não é ?
Eu fico calada com os braços cruzados em cima do vestido lindo que Cebola havia alugado para mim, apenas encarando Magali que espera uma resposta.
_ Não sei o que sinto por ele, essa é a verdade. - sussurro -
As lágrimas começam a queimar meus olhos e de repente me sinto cansada, exausta. Magali suaviza sua expressão e agora me olha com carinho. Ela se aproxima e me abraça forte, logo se afastando.
_ Olha, eu não conheço o Cebola direito, mas acho que se ele te atraiu de alguma forma, ele tem alguma coisa especial. Só que ainda acho que você merece alguém que te faça sorrir e não entrar em turbilhão de sentimentos.
Eu quero gritar com ela e dizer que ela não o conhece como eu conheço. Porém ela está certa. Não posso continuar com isso. Não é justo comigo, com ele, com o DC, nem mesmo com a Carmem. Sou a grande culpada disso tudo.
_ Você tem razão. - digo com a voz firme - Obrigada.
Vou para o banheiro, tomo um banho, coloco minha camisola e deito na cama. Magá se deita ao meu lado e logo adormece, enquanto eu só consigo pensar e pensar. Eu não deveria nunca ter beijado o Cebola e não deveria ter me permitido aproximar dele. O que eu posso fazer agora ? Prometi que seríamos amigos, mas basta um segundo sozinhos e parece que tudo muda. Não posso continuar com isso. Amanhã vai ser diferente.
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Acordo um pouco sonolenta sentindo a sede percorrer minha garganta. Preciso de água. Saio da cama com cuidado para não fazer barulho e desço as escadas lentamente.
Assim que chego na cozinha, dou de cara com Carmem olhando pela janela. Por um segundo eu iria gritar, mas ela foi mais rápida e tampou minha boca. Eu passo a língua na mão dela e ela sibila a palavra: " vadia " com os lábios. Dou de ombros e pego a água da geladeira.
Carmem está me olhando com curiosidade e eu não posso evitar de achar estranho. Ela de repente me puxa pelo pulso e me leva para o jardim.
_ Ei! O que você tá fazendo ?! - pergunto confusa -
Ela fica um pouco calada e parece... Tímida ? Não, não pode ser.
_ Eu não tenho pra quem contar isso e você parece que entende um pouco de coisas água com açúcar.
Ela com certeza viu minha coleção de filmes românticos antigos. Uma garota não pode ter privacidade mais ?!
_ Olha, eu não sei como lhe dar com isso, porque nunca aconteceu, mas eu acho que... Gosto muito do Cebola.
Eu fico estática. Carmem nunca gostou de ninguém, nem mesmo de suas bonecas quando éramos mais novas. E agora ela escolhe justo o Cebola para gostar ?
_ O C-Cebola ? - não posso evitar de gaguejar -
_ Sim. Você acha que eu devia falar com ele ?
Eu fico calada. O que eu faço agora ? Uma parte de mim quer gritar: " Não! " ; e a outra: " Foda-se! Faz o que você quiser! " E mesmo eu querendo ser má com ela... Não dá. Parece que não está no meu DNA.
_ Você gosta mesmo dele ? - pergunto calmamente -
_ Sim. - ela diz simplesmente -
Eu suspiro fundo e tento manter meus neurônios funcionando. Ou talvez eu devia simplesmente sair correndo sem dar nenhuma resposta...
_ Fala. - eu dou de ombros - Fala com ele.
Tá, talvez meus neurônios não estejam funcionando afinal.
Carmem sorri e dá pulos de alegria. E sem aviso, ela se joga em cima de mim me dando um abraço. Eu fico paralisada, sem conseguir esboçar nenhuma reação para isso. Ela está realmente me abraçando ?!
_ Obrigada! - ela disse sorrindo - Sabe... Eu queria te pedir desculpas por tudo. Eu não fui muito justa com você ultimamente. - Carmem diz séria - Mas não quero que sejamos amigas. - ela acrescenta - Só não quero que sejamos inimigas. Acho que meia- irmãs está ótimo.
Carmem me lança um sorriso e depois entra para dentro da casa. Tudo bem, o que acabou de acontecer aqui ?! Ela me pediu desculpas, de verdade ?! Ela gosta mesmo do Cebola ?! Eu falei mesmo pra ela ir falar com ele ?! Eu estou no planeta Terra ?!
Entro dentro de casa ainda em estado de choque e vou para meu quarto. Deito na minha cama e tudo que quero é esquecer tudo que aconteceu.
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Eu e a Magá estamos dentro do meu carro ouvindo qualquer música agitada que toca na rádio e cantando, como se estivéssemos em um vídeo clipe. Paramos no estacionamento da escola e eu sinto o frio na barriga me atingir. Eu não tinha me dado conta do que teria que enfrentar hoje.
Suspiro bem forte e dou um passo à frente quando saio do carro. Estou usando meu vestido verde de pequenas bolinhas brancas que bate um pouco acima do joelho. Ele possui duas alças é um pequeno decote no peito. Todos ainda estão assustados com minha mudança de visual e eu tento não parecer incomodada com a situação. Mal olho para frente e Do Contra já veio correndo na minha direção. Ai não.
_ Oi... - ele diz com a voz cautelosa - Você foi embora ontem e nem me avisou... Na verdade, eu não te vi o baile inteiro. Onde você estava ? E por que não me avisou ?
Eu olho em seus olhos pretos e decido que preciso ser honesta com ele. Do Contra é uma das melhores pessoas que já conheci para ser má com ele.
_ Foi um erro. Apenas isso. - tento diminuir os detalhes - Desculpa. Posso ir na sua casa hoje mais tarde para ensaiarmos ? Um pedido de desculpas ?
DC para por alguns segundos me olhando com dúvida. Eu sorrio sugestivamente e ele é cúmplice comigo. Nós dois rimos e eu logo vejo que ele não está bravo comigo.
_ Claro! Vai ser ótimo.
Eu sorrio, mas logo desisto ao ver Cebola me observando de longe. Sinto como se fosse vomitar e por um segundo penso que vou.
_ Você está bem ? Tá pálida! - DC diz com um tom preocupado -
_ Tô... Claro que tô. - eu digo sorrindo fracamente - Vamos pra aula ?
_ Tem certeza ? - ele me pergunta calmamente -
Assinto com a cabeça e ele passa seu braço esquerdo em cima dos meus ombros me puxando para perto. Eu não me importo com a situação e logo Magali e Katherine estão ao nosso lado. Passamos por Cebola e sua guangue e o tempo parece parar. Meu olhar congela com o seu e parece que estamos sozinhos durante algum tempo. Porém logo acordo da hipnose. De volta à realidade. " Eba! ".
Entro dentro do colégio e pego meus livros no meu armário, enquanto a Magá, o DC e a Katherine entravam na sala. Eu olho pra uma foto minha e da minha mãe na minha antiga casa e logo quero voltar correndo para lá. Tudo era tão simples e tranquilo. Não havia problemas ou confusões emocionais. Era uma vida perfeita, apesar de monótona.
Fecho a porta do armário e Cebola aparece na minha frente me encarando com seus olhos mel intensos. Ele está com os braços cruzados destacando seus músculos, seus cabelos estão rebeldes do jeito que eu os toquei ontem e sua boca... Ok Mônica, que porra você está pensando ?!
_ As pessoas adoram me assustar assim. - murmuro mal humorada -
_ O que aconteceu com você ?
Franzo a testa e evito olhar para ele.
_ Como assim ?
_ Você me ignorou na hora que chegou... E ainda por cima estava abraçando aquele... - Cebola começa com raiva -
_ O DC é meu melhor amigo. Devia parar de implicar com ele. E não, eu não te ignorei. Só acho que... A gente devia se afastar.
_ " Se afastar " ? Por quê ? - ele pergunta confuso -
Me lembro da conversa com Carmem ontem à noite e percebo, que não posso fazer isso com ela. Muita pessoas iriam querer vingança nesse momento, porém eu sou diferente. Não posso fazer isso. Não posso.
_ Você devia correr atrás de alguém que realmente goste de você. - eu digo com a voz baixa - A Carmem, por exemplo.
Eu dou um passo para sair, contudo, Cebola me puxa pelo pulso e sua expressão está escura agora.
_ Está falando sério ? - ele me pergunta com a voz cortante -
_ Sim. - forço um sorriso - Somos amigos ainda.
Me afasto dele rapidamente sentindo as lágrimas me perturbarem. Parece que vão estourar meus olhos e não sei se estou preparada para essa carga emocional.
Caminho até a sala de aula e me sento ao lado de Magali. Posso sentir o olhar pesado de Cebola em cima de mim a aula toda. Apesar de estar o ignorando e tentando ao máximo prestar atenção na aula.
O sinal toca e eu não tenho fome. Não vou para o refeitório e me sento no banco do jardim da escola. Fecho os olhos deixando o vento frio atingir meu rosto, cortando meus cabelos e me trazendo arrepios. Eu poderia ficar assim para sempre. Porém uma risadinha me trás de volta à realidade e abro os olhos, os paralisando em uma garota loira e um garoto de cabelos rebeldes. Meu estômago se dobra e minhas mãos suam. Parece que o sangue saiu do meu rosto e apenas fico observando. Sei que ela está conversando com ele e por alguns segundos fico numa reza mental para ele não corresponder. Quando abro meus olhos novamente, ele está a beijando. Eu me levanto e tento me recuperar da tontura que me atingiu. Vou até o refeitório e me sento junto à Magá, DC e Katherine. Eles me fazem esquecer um pouco sobre essa loucura.
_ Você está bem ? - Magali me pergunta -
_ Claro. - respondo fracamente -
O tempo passa e já estou em casa estudando. Os livros são minha melhor companhia. Ouço batidas na porta do meu quarto e Susana entra sorridente.
_ Mônica, se arrume. Vamos ter alguém especial para o jantar hoje.
_ Tá. - respondo friamente -
Susana me olha com desgosto e sai. Eu reviro os olhos e vou tomar um banho quente. Lavo os meus cabelos e logo os seco. Eles estão lisos como sempre e ainda continuo magra. Preciso fazer algo à respeito e me lembro de que não comi nada hoje. Meu subconsciente briga comigo, mas ouço uma voizinha dizendo: " E como comer com tudo acontecendo ? ". Balanço a cabeça com minha discussão mental e coloco meu vestido rosa claro. Ele bate um pouco acima dos meus joelhos, é levemente rodado e mais colado em cima. O vestido não possui mangas e é bem elegante e bonito. Me lembro que o comprei com minha mãe e a saudade bate com tudo em mim. Mais tarde ligo para ela.
Passo um batom rosa claro e um rímel apenas. Me olho no espelho e concluo que é o melhor que posso fazer. Calço minhas sapatilhas pretas e dou um breve suspiro.
Desço as escadas e meu coração acelera assim que levanto o olhar. Todos estão sentados na mesa esperando o jantar ser servido e Cebola está em uma das cadeiras. Merda.